Os Loriguenses na Guerra do Ultramar


Na ideia de documentar-se um período da história de Portugal, que em certa forma, todas as famílias loriguenses a ela ficaram ligadas, vamos aqui registar os testemunhos em sínteses de relatos e registo, de todos esses loriguenses que passaram pela Guerra do Ultramar, período da nossa história que durou cerca de 15 anos de luta armada e que veio a culminar no desmoronamento do império português de colonização.
São testemunhos de uma geração loriguense que na idade mais importante das suas vidas, eram obrigados a lutar por uma causa, por simplesmente serem portugueses, que fazem parte também da história de Loriga, por isso, solicita-se a todos aqueles que queiram colaborar nesta ideia, fazerem chegar alguma da documentação mais relevante, para que assim fique para sempre registado na memória e para a posteridade, tendo ainda esta ideia como principal objectivo numa homenagem a todos aqueles loriguenses que viveram este período dificil da nossa história.
Na ideia e como objectividade, em que os relatos e registos aqui documentados se fixem na originalidade, serão também mencionados os alcunhas das pessoas e das famílias, para uma melhor identificação, tendo em conta ainda que os alcunhas popularmente conhecidos, que sempre existiram, existem e existirão em Loriga, fazem parte da cultura do povo loriguense de que todos nos orgulhamos
.

- Adelino M.M Pina
-António Brito Calado
-António Brito Mendes
-António Cardoso Matias
-António Dias de Brito
-António José C.Leitao
-António José Caçapo Brito
-António Moura Pinto
-António Pinto Nunes
-Carlos Alves Brito

-Carlos Félix de Moura
-Carlos Florêncio Palas
-Carlos José Brito Moura
-Carlos Lucas Antunes Fernandes
-Carlos Mendes da Costa
-Eduardo Alberto Caçapo de Brito
-Gabriel Lopes Pina
-Joaquim Zacarias F. de Brito
-José Alves Oliveira
-João da Silva Pinto

-José Brito Calado
-José de Moura Carreira
-José Gouveia
-José Mendes de Pina
-José Nunes Dias
-José Reis Fernandes Leitão
-José Pinto Lages
-Mário Moura Pires
-Nuno M.A.Pereira
-Viriato Simão Mendes


Apontamentos de Registo da Guerra do Ultramar

Primeiros Loriguenses na Guerra do Ultramar

As primeiras mobilizações de loriguenses para as Colónias Portuguesas por motivo da Guerra do Ultramar aconteceram, quando começou a luta armada em Angola precisamente a 4 de Fevereiro de 1961.

Angola:
Alfredo Moura Pina

António Alves de Oliveira
Carlos Alberto Brito
Fernando Mendes Moura
Fernando Pereira Alves
António Ferreira Penas
Carlos Alves de Jesus

José Prata Alves
Armando de Brito Simão

Também no ano de 1961 foram mobilizados para a Índia (Goa, Damão e Diu) onde estavam quando a República da Índia invadiu esses territórios portugueses, no dia 18 de Dezembro de 1961, ficaram então prisioneiros de guerra durante algum tempo.

Índia:
Emílio Jorge Reis Leitão
José Brito Ribeiro
Carlos Moura Leitão
António Alves Luís

Vítimas da Guerra do Ultramar

De maneira alguma se pode também esquecer, os loriguenses vítimas do conflito armada da Guerra Colonial, que constam da Lista inserida no monumento erguido em memória dos militares do Concelho de Seia, vítimas desse conflito. Numa homenagem singela aqui recordamos, registando os nomes do loriguenses vítimas da Guerra do Ultramar.

Mário Antunes Romano *
(Vítima de doença relacionada à sua campanha - Falecido em 21.11.1965 já em Lisboa - sepultado em Loriga)
(* Não consta da Listagem Oficial dos mortos em campanha do UItramar)
Carlos de Moura Fernandes
(Vítima de acidente viação - Falecido em 31.12.1965 - sepultado em Malanje-Angola)
António Santos Moura
(Vítima de doença - Falecido em 2.3.1968 - sepultado em Sacavém)
António Mendes dos Santos

(Vítima de acidente viação - Falecido 2.11.1973 - sepultado em Loriga)
Carlos Augusto Pereira Figueiredo **
(Vitima por motivo do naufrago do navio onde viajava, num rio junto à costa de Moçambique, o seu corpo nunca foi encontrado, considerado como desaparecido - Ano de 1961)
(* Não consta da Listagem Oficial dos mortos em campanha do Ultramar)
Manual Brito Rega ***
(Vítima de acidente de viação - Falecido 5.3.1975 - sepultado no Cemitério de Seia)

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** Vítima de doença, pelo facto de ter falecido já em Lisboa, não consta da Listagem oficial dos mortos do Ultramar.
** O seu corpo nunca foi encontrado, sendo considerado como desaparecido pelas instâncias militares.
*** Está inserido na Lista dos mais de 300 mortos em campanha, que não foram sepultados na terra da sua naturalidade. Na Lista oficial consta como tendo sido sepultado no cemitério do concelho em Seia, nunca tendo sido divulgado pelas instâncias militares o número da sepultura.

Lá longe onde o Sol castiga mais.....


Testemunhos dos Loriguenses na Guerra do Ultramar


Viriato Simão Mendes *
Comissão em Macau 1956 -1958

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa em 1956, tendo assentado praça no Regimento de Artilharia Pesada Nr.3 na Figueira da Foz, onde também tirei a especialidade de condutor de pesados. Ali estive nesta bela cidade junto ao mar, o meu tempo do serviço militar decorria dentro da normalidade portanto sem problemas de maior.

Na altura ao entrar para a tropa ainda o nosso país não se confrontava com a chamada Guerra do Ultramar, no entanto, dentro do pouco que se ia sabendo era já notório uma certa agitação politica, de qualquer maneira nessa época na mente de todos nós ao entrarmos para a vida militar, era somente poder passar o tempo obrigatório estando perto da terra e da família, que neste meu caso Figueira da Foz de certa forma não era assim também muito longe e por isso parecia-me estar com uma certa tranquilidade.

Ano 1956
Dia da entrada para a vida milita
(Figueira da Foz)

Estava ali já alguns meses, quando no princípio de Fevereiro de 1956, uma inesperada notícia chega até mim, ao ser informado da minha mobilização para Macau, mobilização determinada nos termos de rendição individual. Foi na verdade com surpresa que recebi essa notícia, assim como, para a família que para além disso passou a ser também uma preocupação, até mesmo em Loriga foi uma surpresa geral visto que na altura a mobilização para as colónias portuguesas não era uma prática comum.

Ano 1956 - Foto tirada em Lisboa no Depósito de Tropas do Ultramar, no dia 10 de Fevereiro, com três colegas também mobilizados, véspera da nossa partida.

Ano 1956 - Foto tirada em Lisboa no Terreiro do Paco, com o loriguense António Farrancha

Nesse tempo Portugal ainda não se debatia com o chamado flagelo da Guerra do Ultramar, conflitos nas nossas colónias espalhadas pelo mundo não existiam, a presença militar nas nossas colónias ultramarinas resumia-se de certa forma a um aspecto militar como cumprimento administrativo, de qualquer forma a minha mobilização para uma das nossa colónias passou durante largo tempo a ser o tema das conversas na nossa terra.

Depois dos dias de licença para me despedir da família, fui enviado de imediato para Lisboa para o Depósito de Tropas do Ultramar, aguardando ali pela viagem, o que aconteceu em Março de 1956, embarcando a bordo do navio "Índia" tendo como rota o Mar mediterrâneo, para atravessar o Canal do Suez, tendo passado ainda pelo Sirilanca, Índia, Ceilão Singapura, Hong Kong e finalmente Macau, onde desembarquei no dia 22 de Abril de 1956

Ano 1956 - Navio "Índia" no dia da partida

Foto 1956 - Vista de Macau na época, em grande plano sobressai as famosas Ruínas de São Paulo que são uma referência da cidade de Macau, ruínas que perteceram à antiga Igreja da Madre de Deus e do adjacente Colégio de São Paulo, importante complexo do século XVI.

Se por um lado eu e os meus colegas íamos angustiados por termos que ir cumprir o serviço militar para tão longe, do outro lado do mundo como se dizia na altura, foi também uma experiência que ficaria marcada nas nossas vidas, passei e conheci países, cidades e outras culturas que nunca me tinha passado pela cabeça que visse alguma vez a conhecer.
Povos diferentes com os mais diversos usos e costumes, gente que viam em nós os colonizadores com um certo poder de privilegiados, ao mesmo tempo que também já pensavam que chegaria o dia de eles também se tornarem diferentes.

Ano 1956 - Foto tirada na Índia com colegas de viagem

Ano 1956 - Foto dia 7.Abril tirada
na cidade Vasco da Gama na Índia

Chegados a Macau de imediato entrei em serviço começando assim a minha comissão, que mesmo parecendo que o tempo não passava, o meu tempo de tropa em Macau foi decorrendo bem e sem sobressalto algum, como minha primeira missão foi ser destacado durante 9 meses, para no Farol da Guia, depois fui condutor dos Oficiais e Sargentos, mais tarde passei a ter como outra missão a levar a comida à prisão civil, que se veio a prolongar todo o restante tempo até ao fim da minha comissão.

Ano 1957- Tirada no Hóspital de Macau

Ano 1957 - Todos os militares na altura em Macau,
foto tirada no Dia de Natal desse ano

Ano 1957 - Manuel o nossso "Mascote" da Unidade

Ano 1957 - Profissão de Fé em Macau
junto da altar da Nossa Senhora de Fátima

Ano 1957 - Macau junto do altar da Nossa
Senhora de Fátima com um colega e o
nosso "Mascote" Manuel

Ano 1957 - Macau, Gruta do Camões

Na época o cenário de guerra não existia em qualquer das províncias do ultramar, a nossa presença nesta longínqua colónia para lá de outro mundo era uma presença autoritária num recanto do império português além-mar, neste meu caso e por lá andando dois anos tenho a consciência que contribuí com algum tempo da minha mocidade em prol da Pátria nessas terras que se diziam também ser Portugal, ao mesmo tempo, que tenho ainda hoje a convicção de ter também contribuído para o bem-estar dessas terras e suas populações.

Ano 1957 - Macau procissão das velas da Nossa Senhora de Fátima

Ano 1957 - Macau um dia de belo descanso

Tendo completado os 2 anos de comissão, nos finais de Abril de 1958, estava já à espera da ansiada viagem do regresso. Chegou finalmente o dia há muito esperado e no princípio do mês de Maio desse ano de 1958, embarco em Macau a bordo do navio "Niassa" só que nunca esperava ter uma viagem tão longa como veio a acontecer.

Ano 1958 - Cidade da Beira (Moçambique)

Saímos de Macau tendo como destino a Hong-Kong, onde estivemos parados, depois o destino foi Moçambique, mais propriamente à cidade da Beira onde estivemos também parados, dali o ietenerário foi até à cidade de Lourenço Marques, capital de Moçambique onde estivemos alguns dias, ali me encontrei com os conterrâneos Eduardo Melo, Albano Pereira e novamente com o António Farrancha, com o qual me tinha encontrado em Lisboa antes de eu embarcar para Macau.

Depois a paragem seguinte foi a cidade do Cano na África, onde também estivemos uns dois dias. No seguimento da viagem e depois de dobramos o Cabo Bojador, com a entrada no Oceano Atlântico o nosso destino foi a cidade de Lobito em Angola, onde ali estivemos mais dois dias, ali me encontrei com o nosso conterrâneo Manuel Pinto "sapateiro". Daqui e ainda na costa de Angola a paragem seguinte foi a bela cidade de Luanda onde também estivemos três dias.

Depois da saída de Luanda e quando pensávamos que a viagem seria directa a Lisboa, uma nova paragem ainda se tinha que fazer, desta vez na Argélia norte de África, onde estivemos três dias, depois daqui isso sim a que foi directamente a Lisboa, onde cheguei no dia 24 de Junho de 1958, tendo o total da viagem sido de 54 dias, ao longo dela vinha-me por vezes à ideia e me cheguei até a convencer que esta minha viagem de regresso nunca mais ia chegar ao fim.
Assim, para registo devo dizer que depois da minha chegada a Lisboa me deu para contabilizar todo o tempo desde que tinha partido dois atrás, assim aqui neste meu testemunho registo a impressionante soma de 2 anos 8 dias 6 horas, da minha campanha por terras do Ultramar.

Nota Complementar

Passados cinquenta anos desta parte da minha vida, que passei como militar, lá muito longe ao serviço da pátria, na altura um procedimento raro de cumprir o tempo da tropa fora do nosso cantinho aqui na Metrópole, desafiado para aqui também dar meu testemunho, aqui estou a fazê-lo com uma convicção forte de ter cumprido com o meu melhor numa terra, que apesar de tudo e depois de dois anos ali passados, me deixou muitas saudades.

Devo dizer ainda que no meu tempo por vezes, íamos por rumores tendo conhecimento, que politicamente nem tudo ia bem, relacionado coma as nossas colónias, por isso com a minha mobilização ainda pensei que fosse por isso, no entanto, pouco mais de dois anos passados depois do meu regresso, a agitação passou a ser uma realidade culminada com o assalto ao Santa Maria, invasão de Goa Damão e Diu e o conflito de Angola, tudo isso o principio da Guerra do Ultramar, que hoje posso dizer que tive sorte de ter cumprido o serviço militar antes.

Já agora compete-me aqui também registar que Macau, foi a última província a deixar de pertencer a Portugal, passando para Região Administrativa Especial da República Popular da China, na madrugada do dia 20 de Dezembro de 1999, deixando a partir desse dia de pertencer ao nosso país, que a colonizou durante mais de 400 anos. No entanto, por aquilo que conheci enquanto lá estive e por aquilo que hoje sei, a presença portuguesa irá sempre manter-se enraizada naquela terra que foi Portugal e hoje é terra chinesa.

* Viriato Simão Mendes (2017)


Carlos José Brito Moura *
Comissão em Angola 1972 - 1974

(Posto militar - Cabo)

Fui alistado no dia 20 de Junho de 1970, quando fui à inspeção a Seia ocorrida nas Instalações dos Bombeiros Voluntários de Seia, assim como também a todos os conterrâneos nascidos em 1950. Como se diz na gíria ficamos todos apurados. Alugamos um autocarro e como não chegou, também foram alugados carros de aluguer.

Entrei para a vida militar em 27 de Julho de 1971, incorporado no 3º turno com destino ao Regimento de Infantaria nº 12 na cidade da Guarda. No dia de apresentação e ao responder a tudo quanto fui questionado; o Sargento ao registar as minhas habilitações de antigo aluno do Seminário dos Capuchinhos de Gondomar, olhou para mim e me disse: Tenho para mim que te vais safar com uma boa especialidade. Obviamente que fiquei surpreendido e também satisfeito. Nos primeiros dias da minha vida de recruta, fiquei a saber que a incorporação a que pertencia iria contribuir com um militar para os serviços religiosos. Assentei praça na semana da Festa de Nossa Senhora da Guia, e como crente e devoto, sentia que a nossa Padroeira era uma estrela incandescente e presente que guiava os meus passos e as minhas aspirações.

Ano 1971 - Guarda - Foto do meu grupo de recrutas no RI 12, sou o oitavo na primeira fila a contar da esquerda

Ano 1971 - Guarda - Recruta instrução

Transferi-me no dia 26 de Setembro para o Regimento de Infantaria nº 6 no Porto para tirar o curso de Auxiliar do Serviço Religioso. Frequentamos o referido curso 20 militares. No decorrer do curso e à medida que o tempo ia passando, recebíamos a informação de que os últimos 12 classificados eram de imediato integrados nos batalhões que entretanto se preparavam para rumar para as Províncias Ultramarinas (Colónias). Felizmente, com a classificação que obtive permitiu-me ir para o Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, situada na Encarnação/Lisboa no dia 19 de Novembro. Recebi as guias de marcha para viajar de comboio da estação de S. Bento no Porto para Santa Apolónia/Lisboa e o pré de dois escudos e cinquenta centavos. Em Santa Apolónia apanhei o autocarro para a Encarnação e paguei três escudos e cinquenta centavos. É só para constar que a Instituição Militar não me deu o suficiente para chegar ao Quartel. Fui promovido a 1º cabo em 13 de Novembro de 1971.

Muito sinceramente, comecei a mentalizar-me de que o Ultramar não iria fazer parte do cumprimento do meu serviço militar que supostamente me estaria destinado. Normalmente quem não fosse integrado em batalhões, dificilmente seria mobilizado. Mas, obviamente, que não somos nós que marcamos o rumo dos acontecimentos e o que parecia inevitável aconteceu. O Vicariato Castrense de Portugal decidiu reestruturar a Delegação da Capelania Mor das Forças Armadas em Angola e mobilizou de uma só vez os restantes oito militares que frequentaram o meu curso. Este facto foi único na história de mobilizações de Auxiliares do Serviço Religioso.

Embarquei no aeroporto de Figo Maduro num Boeing 707 dos TAM (Transportes Aéreos Militares) com destino a Luanda - Angola, no dia 13 de Março de 1972 em rendição individual com destino à C C S do Quartel-general de Luanda. Fui colocado na Igreja de Jesus de Luanda - Igreja Militar.

Ano 1972 - A Igreja de Jesus de Luanda (Igreja Militar) foto esquerda interior (1972) foto direita fachada 2013)

Ano 1972 - Luanda - Horário das missas nas igrejas militares de Luanda

Por feliz sorte fui colocado na Igreja Militar de Luanda. A Igreja de Jesus é um edifício religioso católico do século XVII, localizado em Luanda. Construída a partir de 1607 como uma Igreja do Colégio dos Jesuítas, é a mais antiga do centro histórico de Luanda. Com a ocupação holandesa em 1641, o colégio foi transformado em residência do Governador e a Igreja serviu de Parlamento e Conselho Governamental. Com a reconquista pelos portugueses em 1648, voltou a ser Igreja. Abandonado pela maior parte do século XIX foi reconstruído e renovado em 1953.Foi desde o ano de 1962 a 1975 a Igreja Militar e é, desde 1978, a Catedral da Arquidiocese de Luanda. Situada na parte alta da cidade está interligada com os edifícios da Arquidiocese de Luanda e com o Palácio do Governador de Angola (hoje Palácio do Governo da República Popular de Angola)

Foi nesta Igreja e na Chefia do Serviço de Assitência Religiosa, um edificio que faz paredes meias, que desempemhei a minha missão. A assistência religiosa não se confinava apenas e só aos militares, funcionava também como uma Paróquia. No minimo eram celebradas duas missas diárias e no fim de semana quatro. Realizavam-se também funerais, baptizados e casamentos. Era muito desejada pela sociedade luandense para celebrações matrimoniais. Os horários do funcionamento da Igreja, não eram compatíveis com os horários da C C S do Quartel General da Forças Armadas. Por tal facto tive que no primeiro mês após a minha chegada, tratar da burocracia militar para me desarranchar ou seja deixar de habitar no quartel. Hospedei-me na "pensão Transmontana" junto ao bar das Ingombotas, próxima da Igreja do Carmo e Parque Militar.

Ano 1972 - Luanda - Horário na Igreja de Jesus

Enlace matrimonial de António Alves Pereira Júnior (TONECA) e Benilde Pereira, ele filho dos loriguenses: António Alves Pereira e Laurinda Ascensão Pinheiro. Celebrante D.André Muaca, Bispo de Auxiliar de Luanda e Bispo de Malange, auxiliado por mim Carlos José.

Ano 1972 - Luanda
Foto esquerda, momento da cerimónia matrimonial - Foto direita, Festa de casamento no restaurante Restinga à entrada da Ilha de Luanda (Da esquerda para a direita José Paixão primo do noivo, eu Carlos José, António Paixão primo do noivo e um primo Luandense do noivo Toneca

Enquadrado nas funções que desempenhei, também fui catequista. Aos sábados, pelas 18,00 horas, uma hora antes da missa vespertina, a catequese funcionava para os filhos dos militares e outros jovenzinhos. Recordo o Capelão Major Manuel Pires de Campos, acompanhei-o várias vezes ao Centro de Leprosaria da Funda no Cacuaco em Luanda, a levar assistência religiosa e humanitária aos doentes. Estas acções eram partilhadas com os Missionários Espiritanos.

Ano 1972 - Luanda - Leprosaria da Funda no Cacuaco

Recordo o Capelão Capitão Alberto de Carcavelos (da Ordem dos Missionários Capuchinhos) já falecido. Nas missas de exéquias, as suas homilias mais pareciam um hino de entrada na Pátria Celestial dos militares que pereceram em terras ultramarinas. Recordo o Capelão Capitão Dr. Almeida um dos mais directos colaboradores do Reitor da Igreja. Recordo com muita saudade os meus superiores o Capelão Major João das Neves Bento já falecido e o Capelão Chefe Tenente Coronel Dr. José Domingos Alves Cachadinha, Reitor da Igreja de Jesus.

Ano 1972 - Luanda - No Jardim do Palácio, momentos antes do início de uma celebração litúrgica.

Ano 1972 - Bar da Portugália na baixa de Luanda, nos primeiros dias da minha chegada a Luanda (José Eugénio, meu colega, conterrâneo António Pinto Nunes (Tó Moita) eu e um colega do A.P.Nunes, estes a quatro meses de terminarem a comissão.

Ano 1972 - Luanda - Confraternizando numa festa de aniversário com Anabela Sarmento, uma jovem muito piedosa e presença permanente juntamente com a sua família nas devoções e celebrações litúrgicas.

Foram muitos os cursos de especialidades e formações dos três ramos das Forças Armadas. Embora não tenha tido uma especialidade propriamente virada para o cenário de guerra colonial, não deixou de ser de extrema utilidade. Os capelães e seus auxiliares, foram um testemunho de gratidão aos militares de todos os escalões que dispensaram à assistência religiosa a mais valiosa colaboração e o mais eficiente apoio.

Efetivamente, os capelães sacrificaram dedicada e generosamente consagrando o melhor da sua vida à assistência humana moral e religiosa de todos os soldados de Portugal. Que pede as Forças Armadas ao capelão? Pois, que seja padre, que seja um autêntico homem de bem, que dê aos nossos militares as forças inesgotáveis da Religião e Moral, que, graças à sua presença e ação, o militar seja melhor militar, mais consciente e digno, mais responsável e mais humano. A missão do capelão é útil onde quer que se encontrem militares. No entanto, a sua presença é mais necessária onde se avoluma o sofrimento e as preocupações dos homens e se definem os ideais que irão orientá-los na vida. Assim, a sua presença será mais necessária e útil nas zonas de combate e mais isoladas, nos hospitais, nas prisões e nos Estabelecimentos Militares de Ensino. No meio das maiores dificuldades e sacrifícios, privados de todas as comodidades, rodeados de emboscadas, tantas vezes com perigo da própria vida, os nossos abnegados, valorosos e tantas vezes heroicos militares com os seus dedicados e generosos capelães têm a fé suficiente para, desde 1961, data da eclosão da guerra colonial em Angola, terem erguido com o seu trabalho, dedicação e esforço e quase sempre com o seu dinheiro, centena e meia de capelas, que são o testemunho da ação civilizadora e missionária de Portugal e do seu Exército, que, no meio de uma guerra que lhe é imposta, não deixa ofuscar o sentido espiritual da sua missão.

Ano 1972 - Luanda - Estátua de Vasco da Gama na Marginal

Mons. Cónego Dr. Cachadinha

Monsenhor Cónego Dr. José Domingos Alves Cachadinha, um principe da Igreja Portuguesa e Angolana. Ocupou lugares destacados inclusivé na instalação da Universidade Católica de Luanda sendo o seu principal impulsionador, Presidente da Fundação Evangelização e Culturas na comemoração dos 5 séculos de Evangelização de Angola, (hoje Fundação Fé e Cooperação) fundou paróquias no Huambo - Angola e inclusivé a paróquia do Imaculado Coração de Maria em Danbury, cidade dos Estados Unidos. Nesta data apesar da idade ainda faz parte da reitoria da Universidade Católica de Angola como Vice-Reitor e Diretor da Biblioteca.

Ano 1972 - Luanda - na Marginal

Ano 1973 - Luanda - Grelha de partida do Autodromo Internacional de Luanda

Ano 1973 - Luanda - Cidadela Desportiva do Futebol Clube de Luanda em construção

Ano 1973 - Luanda - Piquenique no Miradouro da Barra do Cuanza

Ano 1973 - Luanda - Correia de Pinho e afilhados

Ano 1973 - Luanda - Miradouro da Lua com Madrinha Micaela e afilhados

Tive o orgulho de ter sido condecorado e louvado. Condecorado - com a Medalha Comemorativa das Campanhas das Forças Armadas em Angola 1972 - 1974. Contabilizando os prós e os contras ao ter participado naquela guerra, possibilitou conhecer África. Pessoalmente, considero um privilégio, e quem bebeu água do rio Bengo, ficou definitivamente apaixonado por aquele país. Regressei à Metrópole a 8 de Maio de 1974, tendo passado à disponibilidade em 5 de Junho de 1974.

Ano 2013 - Loriga - Eucaristia de Acção de Graças no dia da Inauguração do Monumento aos Combatentes do Ultramar em Loriga

A Biblia através livro do Êxodo (16:35) diz-nos que: quarenta anos foi o tempo que o povo de Israel esteve no deserto, após sair do Egito e esperavam o momento de tomar posse da terra prometida, chamada Canaã. Dentro desta perspetiva cristã, quarenta anos depois, em Loriga, no dia da Inauguração do Monumento Aos Combatentes do Ultramar, assumi com imensa alegria, reviver e corporizar algumas funções que fazia como Auxiliar do Serviço Religioso, na Cerimónia da Bênção do Monumento e na Missa em Ação de Graças na Igreja Paroquial. Transcrevo as palavras proferidas no início da Santa Missa:
"Estamos reunidos nesta Igreja, que nos viu nascer para a vida da graça, para vivermos e participarmos na celebração da Eucaristia. Vamos agradecer a Deus pelo dom das nossas vidas e pela generosidade com que partilhamos os seus bens, em benefício da nossa sociedade. Agradecemos de um modo muito particular o nosso regresso para junto dos nossos familiares e amigos. Regresso da missão que nos confiaram quando ainda muito jovens. Fomos chamados a " Servir a Pátria", como combatentes na guerra do Ultramar. Lembramos todas as vítimas, os militares que perderam a vida, muitos deles com certeza, nossos camaradas, e muito particularmente os que pertenceram a esta comunidade. Lembramos também os deficientes e todos aqueles que no silêncio sofrem dos traumas que a guerra colonial lhes causou. Neste dia e no altar do Senhor participemos nestes sagrados mistérios para que possamos acolher e compreender a misericórdia divina e retribuir com amor e generosidade à infinita bondade de Deus".

* Carlos José Brito Moura (2015)

Nota Complementar

Aqui registo " Retalhos da minha vida militar". Rendo homenagem a todos aqueles que tombaram no solo sagrado de Àfrica em particular de Angola. Tenho plena consciência que dei o melhor de mim mesmo, por aquela terra e o seu povo. Cumpri com dignidade e dedicação o serviço militar e também a vertente do serviço com dimensão de promoção da fé em Jesus Cristo. Estas e outras fontes de vida como seja: a Família, o Seminário dos Missionários Capuchinhos, os Escuteiros, a Cultura Operária, a minha mulher Fernanda e o meu filho Tiago, ajudaram a fomentar e estimularam acções de voluntariado, solidariedade, dedicação e serviço. Características que foram fundamentais para servir de bom grado durante largos e bons anos o Movimento Associativo e Instituições de Loriga (Desportivas, Culturais, Recreativas, Musicais, Cooperativistas, Eclesiais e Assistenciais)


António José Caçapo de Brito *
Comissão em Angola 1972 - 1975

(Posto militar - Capitão Miliciano)

Fui alistado no dia 26 de Junho de 1968, quando fui à inspeção a Seia, assim como muitos outros do meu ano de nascimento 1948. Lembro-me de todos de Loriga, que fomos à inspeção a Seia nesse ano, apenas ficaram 3 livres, todos os outros e eramos bastantes, ficaram apurados como se dizia na gíria.
Na altura que deveria ser incorporado para a vida militar, estava a tirar o Curso Superior de Psicologia (Licenciatura em Psicologia Clínica), profissão que exerci sempre e ainda hoje continuo a exercer na cidade de Viseu. Por esse motivo, fui pedindo os respetivos adiamentos, que levou por isso, a ser só incorporado no ano de 1972, mais precisamente no mês de Outubro.

Entrei para a vida militar em 9 de Outubro do ano de 1972, tendo como destino Mafra - Escola Prática de Infantaria para frequentar o 1º. Ciclo (cadetes) 1 estrela do curso de Oficiais Milicianos (Curso de oficiais milicianos), que se prolongou até ao dia 22 de Dezembro desse mesmo ano.

Ano 1972 - Mafra - Escola Prática Infantaria (Recruta)

Frequentei depois o 2º. Ciclo (cadetes) 2 estrelas, tendo terminado o mesmo em 24 de Março de 1973, no dia seguinte dia 25 de Março, sou promovido a Aspirante Miliciano de Infantaria. Nessa mesma noite viajo para Luanda (Angola) num Boeing dos TAM (Transportes Aéreos Militares) já como Alferes Miliciano, a fim de fazer um estágio de 4 meses, como adjunto de Comandante de Companhia, tendo seguido concretamente para Luma Cassai no Leste de Angola.

Ano 1973 - Mafra - Escola Prática Infantaria

Ano 1973 - Luma Cassai, foram quatro meses que li estive como Adjunto de Comandante de Companhia

Ano 1973 - Contatos populacionais (Ação Psico) introduzidos nas forças armadas portuguesas, era uma prioridade na qual os oficiais tinham por obrigatoriedade ser os primeiros a dar a cara

Ano 1973 - Ações em prol da comunidade era uma necessidade

Ao fim dos quatro meses (Julho de 1973) regresso à Metrópole, já como Tenente Miliciano, voltando novamente para Mafra (EPI) para então tirar o curso de promoção a Capitão (CPC) na Escola Prática de Infantaria. No final do mesmo sou então naturalmente promovido a esse posto.

Já como Capitão fui para o Regimento de Infantaria 14 em Viseu, onde estive como Adjunto de Comandante da Companhia do então Capitão Silva. Em Fevereiro de 1974, sou mobilizado, tendo seguido para a cidade de Évora (Regimento de Infantaria 16) unidade mobilizadora onde foi constituído o Batalhão de Caçadores 4617, sendo ali ministrada formação e instrução de especialidade. Por falta de instalações suficientes o Batalhão foi deslocado para o CIM (Santa Margarida) onde se acabou de constituir e onde foi ministrada durante duas semanas Instrução Operacional, a qual não se chegou a completar em virtude do Batalhão receber ordens de embarque antecipado, após o "Golpe Militar" das Caldas da Rainha em 16 de Março de 1974.

Recordo também que quando fui para Angola, nessa altura já tinha dois irmãos a fazerem comissão no ultramar, o meu irmão Cassiano (já falecido) em Moçambique e o meu irmão Eduardo em Angola, curiosamente no Leste onde me venho a encontrar com ele. Juntamo-nos assim os três irmãos na guerra colonial, que de certa maneira num contexto militar, não poderia ser, mas aconteceu. Podemos assim pensar, quanto não seria o sofrimento de um pai e de uma mãe, ao verem 3 filhos no Ultramar.

O Batalhão de Caçadores 4617, como era natural, era composto por quatro Companhias, CCS, 1ª. Companhia, 2ª. Companhia, cujo comandante era eu e 3ª. Companhia. Recordo que nessa altura eu era o Capitão Miliciano mais novo do Exército Português.

A minha Companhia embarcou num avião Boeing 707 dos TAM (Transportes Aéreos Militares) pois nessa altura e desde de há dois ou três anos atrás, o transporte das tropas era feito por este meio. Partimos no dia 6 de Abril de 1974, tendo chegado a Luanda na madrugada de 7 de Abril, ficamos instalados provisoriamente no Campo Militar do Grafanil em Luanda.

Ano 1973 - Já como Capitão

Ano 1973 - Alto Chicapa, momentos de operacionalidade

Ano 1973 - Já como Capitão

Dá-se então o 25 de Abril de 1974 (Revolução dos Cravos) e caso curioso, nós só tivemos conhecimento do acontecimento no dia 27 de Abril. É caso para perguntar. Porquê?.. Mas não vale a pena especular!.. O que é verdade é que no dia 27 de Abril de 1974 em Luanda, no Anfiteatro da Força Aérea houve um a reunião de todos os oficiais. Pergunta-se novamente: Porquê?.. E ficamos por aqui.

A minha Companhia é enviada para o Alto Chicapa, com o Comando do Batalhão a ficar por Dala, tudo isto na região do Lunda Leste de Angola.
A partir de então passamos a ter uma atividade intensa. Patrulhamentos ofensivos; Contatos populacionais (Ação Psico); Deteção destruição de material deixado pelo I.N; Movimentos administrativos e logísticos; Proteção aos trabalhos da JAEA (Junta Autónoma de Estradas de Angola) etc. etc..

Devo realçar que a divisa do emblema da minha Companhia era
"Conduta Brava e em Tudo Distinta". Dentro deste lema procurou-se sempre que a humanidade, a personalização, a verdadeira relação entre todos os elementos fosse autêntica empatia independentemente dos cargos, postos ou galões. Na minha Companhia, só havia uma cozinha e um refeitório igual para todos. A comida era igual para o Soldado, Furriel, Alferes e Capitão.
Eu como Capitão e Comandante conversava com os todos os militares, havia uma grande amizade por todos aqueles com quem passei a privar, sendo um grande amigo de todos os meus subordinados fossem eles Oficiais, Sargentos ou Praças.

Em Novembro de 1974, o nosso Batalhão é sediado em Henrique de Carvalho (Saurimo) no distrito do Lunda, possuindo uma área aproximada de 13.500 Km² englobando quatro concelhos e seis circunscrições. Com a minha Companhia ser colocada em Lucapa com dois grupos de combate e com mais dois grupos de combate a ser colocados em Cacolo.

Foi de facto de relevo a atividade da minha companhia por onde passou, a boa harmonia com as tropas Catanguesas, refugiadas em Angola e sediadas em Veríssimo Sarmento foi um facto marcante, nomeadamente na estreita colaboração com o famoso General Matanael dessas tropas. O grande apoio que tivemos da Companhia de Diamantes de Angola, em cujo território nós estivemos sediados, foi também significativo e marcante.
Também foi bem marcante quando abrimos a Escola Secundária da Diamang em Lucapa,
"Escola Para Todos", onde eu era analogicamente "Reitor" da mesma escola, com todos os poderes administrativos, económicos e pedagógicos. Era uma maneira também de mostrar e fazer uma nova psico/social.

Já num ambiente da revolução militar concretizada na Metrópole, a atividade operacional da minha companhia decorria dentro do programado, só que entretanto, começa-se a verificar-se alterações, tendo a ver com a sequência dos Acordos de Alvor. Em Janeiro de 1975, surge a Declaração Conjunta de cessar-fogo e a autorização de entrada dos Movimentos Independentistas no território, tendo em vista auto determinação e independência do mesmo. Aos poucos fomos tendo a noção de que algo estava a mudar, de certa maneira passamos a viver também numa expetativa grande.

Os Movimentos de Libertação de Angola eram o M.P.L:A. (Movimento Popular de Libertação de Angola), o F.N.L.A. (Frente Nacional de Libertação de Angola) e a U.N.I.T.A (União Nacional para a Independência Total de Angola). Estes movimentos eram os únicos e legítimos representantes do povo angolano.

Ano 1974 - Lucapa, com alguns dos militares da minha companhia a posar para o retrato

Ano 1974 - Lucapa, os militares també têm que comer

Foi bem visível a ideia já existente de procurar-se que os Movimentos de Libertação tivessem um clima de atuação igualitário e não discriminatório. Não posso também esquecer que uma vez por semana eu almoçava com os chefes dos 3 Movimentos à mesma mesa e que a minha casa ou mesmos os aquartelamentos eram "guardados" "vigiados" por patrulhas mistas. Resumindo, o meu Batalhão foi um dos últimos bastiões do exército português por aquelas terras, decorria então o processo da independência, com o exército português a começar a sair da província, deixando assim para trás terras ditas portuguesas com muitos séculos de história.

Ano 1974 - Lucapa, Com o meu Alferes de operações a idealizarmos serviço no aquartelamento

Ano 1974 - Cidade do Luso, com o meu irmão Eduardo Alberto em pé, e com o Fernando "Ginásio" e Tó Vicente agachados

Como nota de registo devo o dizer que no Natal de 1974, tive o privilégio de ter a minha mulher a passar o Natal comigo, estava na altura em Lucapa. Também nesse ano me encontrei com o meu irmão Eduardo Alberto, também ele no Leste de Angola, mais precisamente na cidade do Luso, onde estava a cumprir a sua comissão, assim como, também me encontrei com outros conterrâneos como o foi o caso com o Fernando Amaro Santos (Fernando Ginásio) hoje está na situação de invisual e utente no Lar da Nossa Senhora da Guia em Loriga e o António Dias Brito (Tó Vicente), em que tiramos umas fotos para registar esse nosso encontro.

Em 25 de Maio de 1975, o nosso Batalhão foi rendido pelo Batalhão de Cavalaria 8322/74, deslocámo-nos para Luanda, onde ficamos instalados na prisão da ex. GEI (São Paulo/Luanda) com vista a efetuar o espólio e aguardar embarque de regresso para Portugal. Tive o orgulho de ter sido condecorado e louvado - com a Medalha Comemorativa da Campanha das Forças Armadas. Regressei à Metrópole no dia 13 de Agosto de 1975, tendo passado à disponibilidade três semanas depois, ou seja dia 30 de Agosto.

* António José Caçapo de Brito (2013)

Nota Complementar

Tenho ainda presente na minha recordação o lema da minha Companhia, "Conduta Brava e em Tudo Distinta". Deus ajudou-nos e todos os elementos da minha Companhia regressaram à Metrópole com vida e saúde, por isso ficar feliz. Tenho orgulho de ter cumprido com as minhas obrigações. Não fui herói, mas fui Homem… Não fui voluntário, mas fui obrigado….Enfim, foi um capitulo da minha vida que cumpri com dignidade, para com uma terra e para com um povo.


Carlos Lucas Antunes Fernandes *
Comissão na Guiné 1967 - 1969

(Posto militar - Cabo)

Entrei para a tropa na 2ª. Incorporação de 1967, concretamente em Março desse ano quando dei entrada no Quartel da CICA 4 em Coimbra.

Ano 1967 - Os meus primeiros tempos da tropa (recruta) Coimbra

No mês de Maio seguinte, tive como destino Sacavém para ali tirar a especialidade de Mecânico Auto. Ali estava eu bem, foram uns belos tempos, na altura nem sonhava que viria a ser mobilizado. Ali estive até Julho desse ano de 1967.

Ano 1967 - Sacavém a tirar a especialidade

Depois da especialidade voltei de novo para Coimbra, tendo como estino desta vez o RAL 2 em Coimbra, onde estive até sair a minha mobilização em Agosto de 1967, tendo seguido em Setembro de 1967 para o Regimento de Cavalaria 8 em Castelo Branco, onde fui inserido no Esquadrão de Cavalaria 2350, que tinha como destino a província da Guiné.

Embarquei para a Guiné a bordo do navio "Kuanza" em Outubro do ano de 1967, chegando a Bissau tivemos como destino Bafatá, onde na verdade passei grande parte da minha comissão.

Ano 1967 - A bordo do navio "Kuanza" em pleno alto mar

Ano 1967 - Já no meu aquartelamento (Cavalaria) em Bafatá

Estive destacado em Piche durante três meses, um local não muito agradável, percorri parte do norte da Guiné, foram muitas as operações efetuadas algumas delas levaram dias e noites, sendo o que mais custava era de termos que dormir no chão e em qualquer recanto, por vezes sítios bastantes perigosos, que não se sabia como íamos acordar na manhã seguinte.

Ano 1968 - Numa operação, (região de Piche) por sinal um dia terrivel que não pude mais esquecer

Ano 1968 - Em Piche, momentos para descontrair com o CarlosMSantos (Carlos "Barbas" já falecido)

Ano 1968 - Algures, ao serviço da comunidade

Ano 1969 - Bafatá, Formados à espera da visita do general Spinola

Como estava sempre em movimento, tive o agradável privilégio de me encontrar com muitos conterrâneos, o Carlos "Barbas" (já falecido) o Carlos Ramalho, o Zézito "italiano", o Tonito Melo, o José Dias (já falecido), o João da "Clara" e também com o Zé da "Balázia" o Zé Ramos (já falecido) o José "Grilo" e Tonito "Vaquitas" só que com estes últimos quatros conterrâneos que menciono, o nosso encontro não foi registado com foto. Era sempre agradaveis os nossos encontros com a malta da terra, recordava-mos Loriga, cada um dizia as últimas notícias e novidades que se iam passando pela nossa terra, muitos desses nossos encontros eram festejados com alguma bebidas a escorrer pelas nossas gargantas e pelo meio umas boas "migas".

Ano 1968 - Com o Zé Augusto Dias (já falecido)

Ano 1968 - Com o Tonito Melo

Ano 1969 - Bissau, já no meu final da minha comissao com a malta da terra - da esdquerda para a direita - Zézito "italiano"; Carlos "Barbas" já falecido; eu o Carlos Ramalho e o João da "Clara")

Ano 1968 - Bafatá, distribuição do correio e depois o momento de concentração para ler as cartas da família e dos amigos

Ano 1969 - Bafatá, Dia da Cavalaria, foi festejado em festa e com rancho melhorado

Ano 1968 - Bafatá

Ano 1969 - Bissau à civil pela cidade

Passei por alguns perigos, principalmente, muitas escoltas que fiz por sítios de muita intervenção, onde era constante o arrebentamento de minas, lembro-me também de um grande ataque ao nosso aquartelamento, que estivemos sempre em perigo até terminar todo aquele bombardeamento.

Apesar de estarmos sempre expostos aos ataques, às emboscadas e em trajetos de picadas com muitas minas, o meu esquadrão teve de certa forma alguma sorte, ao ter apenas contabilizou duas baixas, que tiveram a ver com a explosão de material de guerra.

Ano 1968 - Bafatá, queda dum Helicóptero junto ao aquartelamrento

* Carlos Lucas Antunes Fernandes (2013)

Nota Complementar

Regressei à Metrópole no meio do ano de 1969, passando de imediato à disponibilidade. Penso ter cumprido o meu dever para com uma terra e um povo. Posso também dizer que tive a sorte a proteger-me, gostei da África e da sua magia, por isso quando regressei à Metrópole, resolvi regressar ao continente africano, para trabalhar, só que dessa vez para Moçambique, uma aventura de muito pouco tempo, pois, pois pouco tempo depois regresso novamente à Metrópole para então ir para o Luxemburgo, onde me radiquei até hoje.


Eduardo Alberto Caçapo de Brito *
Comissão em Angola 1973 - 1975

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa na 4ª. Incorporação de 1973, mais precisamente em Maio desse ano, quando dei entrada no Regimento 12 Guarda.

Em Agosto desse ano 1973 segui para Coimbra, para tirar a especialidade de enfermeiro, tendo ficado pronto, como se dizia na altura, em Novembro desse mesmo ano fui colocado em Santa Margarida e logo a seguir, no mês seguinte, sai a minha mobilização tendo como destino a província de Angola, sendo inserido no Batalhão de Infantaria 4517.
Foi uma mobilização, um quanto ou tanto inesperada que surpreendeu a mim e a toda a família, tendo em conta de já ter dois irmãos em comissão no ultramar, o Cassiano em Moçambique e o António José, capitão Miliciano em Angola e assim nos juntamos os três na Guerra do Ultramar, que num certo contexto militar isso não podia acontecer, mas na altura parecia já valer tudo para o regime e para o poder militar.

Ano 1973 - Primeira foto na tropa

Ano 1973 - Durante a semana de campo (recruta)

Entretanto, dá-se a revolução do 25 de Abril e quando pensava que vinha alterar a minha mobilização, ainda antes do fim do mês de Abril embarquei para Angola, a bordo de um avião da TAP Boing 747, (nessa altura o transporte das forças militares para a África, já se procedia de avião) chegando a Luanda, tivemos como destino o Quartel do Grafanil (onde se concentrava a grande maioria dos Batalhões e companhias em transição) ficando ali naquele quartel dois meses.

Ano 1974 - Primeira foto em Angola (Cangamba)

Ano 1974 - Primeiras noites em Angola o dormir era pouco

Ao fim de dois meses em Luanda, o meu Batalhão foi destacado para o Leste de Angola, para Cangamba, por sinal fomos render o Batalhão ao qual pertencia o conterrâneo Victor Moura, que estavam em fim de comissão.
Quatro meses depois fui destacado para a cidade do Luso (hoje cidade do Luena) para fazer serviço no Hospital Militar e Civil desta cidade, onde então sim, passei a desempenhar uma missão também bem penosa de tratar dos feridos e acompanhar e auxiliar o também penoso serviço de autópsias.

Foi sem dúvida um serviço de grande escala, ao qual me tive que habituar, de princípio não foi muito fácil, mas aos poucos me fui habituando a esta nova realidade na minha vida a trabalhar em hospital, onde nem me quero lembrar do que passei e do que fui obrigado a fazer

Ano 1975 - Na cantina, um momento de descanso para saborear uma boa cerveja

Os 14 meses do resto da comissão passados no hospital Militar do Luso, portanto não estando na chamada guerra ofensiva, tive assim o privilégios de praticamente andar vestido à civil, poucas foram as vezes que usei a farda militar durante esse tempo, sentindo-me por isso mais confortado e ao mesmo tempo com sorte.

Ano 1975 - Quando não estava de serviço, também havia algum tempo para desfrutar de algum descanso passeando pela cidade do Luso

No Luso tive o privilégio de me encontrar com conterrâneos, como foi o caso de estar quase em sintonia com o António Dias Brito (Tó Vicente), também ele sediado num Quartel desta cidade, no destacamento do PAD, unidade de manutenção de viaturas militares. Estive também com o Fernando Amaro Santos (Fernando Ginásio) hoje está na situação de invisual e utente no Lar da Nossa Senhora da Guia em Loriga e ainda também me encontrei com o Mário Benito (família do Zé Bonito).
O meu irmão António José, capitão miliciano e também ele em comissão na zona Leste de Angola, veio-me visitar e assim nos juntamos os quatro loriguenses, num registo bem recordado tirando até algumas fotos para assinalar.

Ano 1974 - Ladeado pelo Fernando "Ginásio" (esquerda) hoje invisual a viver da Casa do Repouso da N.S.Guia e o Tó Vicente (direita) por altura do Natal do ano de 1974, que passamos juntos.

Ano 1974 - Cidade do Luso encontro de serranos loriguenses, da esquerda para a direita,
Fernando "Ginásio, eu, meu irmão António José e Tó Vicente

Ano 1974 - Cidade do Luso, com o Fernando "Ginásio" e Tó Vicente agachados. De pé eu e o meu António José

Entretanto, o processo da independência está a ter forma, fruto da revolução do 25 de Abril, apanhados nessa embalagem, o meu Batalhão tem ordens de regresso à Metrópole que ocorreu em Novembro de 1975, precisamente cerca de quatro meses antes da data da independência de Angola e 20 meses depois da minha partida para aquela província ultramarina.

* Eduardo Alberto Caçapo de Brito (2013)

Nota Complementar


Tive a sorte de ter feito uma guerra de retaguarda, apesar de o serviço de enfermeiro, que sendo um trabalho nobre foi de facto verdadeiramente desgastante, passei situações que foi preciso ter muita coragem passa as superar, tendo por isso a consciência tranquila de tudo o que fiz foi do melhor que estava ao meu alcance.


José Reis Fernandes Leitão *
Comissão na Guiné 1968 - 1970

(Posto militar - Capitão Miliciano)

Fui incorporado no serviço militar em Mafra, no 1 de Setembro de 1957, tinha então nessa data 22 anos, na altura ainda não havia a guerra do Ultramar o que só veio acontecer alguns anos depois, quando os grupos armados para a independência das províncias ultramarinas, desencadearam a guerrilha contra o colonialismo português. Passei à disponibilidade em 10 de Outubro de 1959.

Fui durante seis meses soldado cadete, como se dizia na altura. Por portaria de 1 de Abril de 1959 fui promovido a Alferes Miliciano, contando a antiguidade desde 1 de Novembro de 1958. Por portaria de 1 de Dezembro de 1966, fui promovido a Tenente Miliciano, contando a antiguidade desde a mesma data. Em 1967, mais precisamente a 18 de Novembro e também por portaria, fui nesse dia promovido a Capitão Miliciano, contando a antiguidade desde essa mesma data.

Ano 1968 - Primeira foto já em terras da Guiné

Entretanto, levando a minha vida civil dentro de uma certa normalidade, moviam-se em mim certos sentimentos de injustiça, revolta e discordância, era mais que evidente que na minha maneira de ser, olhava o regime com uma ideia e opinião contra, que me valeu começar a ser olhado e a ser referência nas listas da PIDE, passando a ser mencionado como pertencendo ao PCP.
Fui interrogado, torturado e preso durante nove meses, primeiro na prisão de Aljube cerca de dois meses e depois mais sete meses na prisão de Caxias, quando finalmente fui a julgamento fui defendido pelo advogado Dr. Francisco Sousa Tavares, que deu autêntico nó cego ao pide que serviu de testemunha, sendo eu então absolvido.
Nessa altura cheguei a ponderar a hipótese de ir para França ou Argélia, onde estavam muitos dos contra o regime e que não concordavam com a guerra colonial, nesses tempos eram muitas as vozes que se ouviam, nomeadamente de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, que eu próprio subscrevia nesta quadra.

Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não.

A crescente ideia dentro de mim de cada vez mais contra o regime, fazia-me ver esse regime cada vez mais autoritário, via também já uma Guerra do Ultramar em muitas frentes, que ao contrário da propaganda do regime, sabia que os militares que todos os dias partiam para as províncias ultramarinas, não iam defender o país, pois Portugal situava-se na Europa, o que se estava a fazer era defender interesses alheios a saber: diamantes, café, cacau, açúcar, madeira, petróleo e outros.

Com o regime a ficar cada vez mais enfraquecido perante as opiniões internacionais, mas também cada vez mais a querer vincar a sua soberania nas suas colónias, a necessidade de mais homens para as forças militares era um dado real, nomeadamente, de patentes de comando para o terreno, por isso, a necessidade de recrutar oficiais já na vida civil, o que aconteceu comigo ao ser convocado para frequentar o CPC em 24 de Julho de 1967.

Fiquei sempre com a ideia que eu era referenciado como "suspeito político" ficando ainda mais com essa convicção, quando em Março de 1968 fui mobilizado por imposição para a província da Guiné (um dos piores cenários da guerra colonial) para onde segui em 23 de Abril de 1968, a bordo de um quadrimotor da Força Aérea, pois foi considerado necessário eu ir antes da minha companhia, para receber o material que ia ficar à minha responsabilidade. Já íamos no ar quando fomos informados que um dos motores tinha deixado de funcionar, o que pudemos confirmar através das janelas e vimos que um dos hélices estava mesmo parado.
Uma certa angústia instalou-se a bordo, com o regresso novamente ao aeroporto já a processar-se, para diminuir o risco de aterragem foi necessário o avião dar mais algumas voltas sobre Lisboa para consumir a maior parte do combustível. Já em terra e quando telefonei à minha mulher a dar conta do que se tinha passado, ela nem queria acreditar que eu não lhe estava a telefonar a dar notícias da minha chegada à Guiné, mas sim a telefonar-lhe de uma cabine anónima do aeroporto da Portela.

A minha companhia foi destacada para Buba, zona de muita intervenção militar, foi sempre uma azafama de guerra com que diariamente tínhamos de viver. Nessa altura naquela zona a maioria das operações desencadeadas contra as nossas tropas, eram orientadas superiormente pelo então capitão cubano Pedro Rodriguez Peralta, que veio depois a ser capturado por pára-quedistas na "Operação Jove".

Capitão Pedro Rodriguez Peralta

As voltas que o mundo dá e como se costuma dizer, como o mundo é mesmo pequeno. O capitão Pedro Rodrigues Peralta, na altura com 32 anos, era capitão das forças armadas de Cuba ao serviço do PAIGC quando, em 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, foi capturado pelos militares portugueses, mais precisamente pelo Furriel para-quedista Ragageles, da companhia para-quedista BCP 12.
Ao ser capturado, foi também gravemente ferido, sendo transportado para o Hospital Militar Principal em Lisboa, onde ficou detido até Setembro de 1974. "Viu" a revolução dos cravos das janelas da cadeia. Sei que uma das enfermeiras que o tratava era de Loriga, com a qual veio a casar e com ele foi para Cuba depois de serem resolvidos os acordos da sua libertação ao ser trocado por um cidadão norte-americano preso em Havana (Cuba), alegadamente agente da CIA, Lawrence Lunt.. Segundo sei também, dessa relação nasceu um filho, que segundo creio vive hoje em Loriga, terra da sua mãe.

Foto de Pedro Peralta, ladeado pelos dois militares portugueses que o detiveram, em 1969

Muita sorte eu tive nos ataques que sofri no aquartelamento de Buba, igualmente muita sorte tive nas emboscadas sofridas e também a muita sorte de não ter pisado nenhuma mina nas numerosas vezes que me deslocava a pé, bem como, a felicidade de nunca ter sido atingido por qualquer das doenças características dos países africanos.
Durante a minha comissão não cheguei a disparar um tiro, mesmo em situações em que estive debaixo de fogo, mas, como é evidente, não podia impedir que os soldados sob o meu comando se defendessem.
Esta minha opção de não disparar um tiro, enquanto lá estivesse teve muito a ver com a conversa mantida com o meu colega e amigo, o poeta Ferreira Guedes, a quem confidenciei o drama que estava a viver em ir fazer a guerra colonial com a qual não concordava e ele me disse -
"Acho que deves ir e tenta não fazer nada de que te possas envergonhar"

Ano 1969 - Em Buba, registos dos bombardeamentos quando fomos atacados com tiros de canhão

Penso ter cumprido na medida do possível, esse objetivo e disso é testemunho as três punições com que fui contemplado, respetivamente dez, vinte e dez dias de prisão disciplinar agravada, ou seja no total 40 dias, que iria implicar com a perda do comando.
Todas essas punições tiveram a ver com o facto de não cumprir ordens recebidas, por isso, não atingido os objetivos previstos nas operações vindas das altas chefias, dando eu como argumento me ter
"perdido", mentiras que em certas situações foram detetadas quando havia controlo aéreo e que o comando facilmente comprovava, pois a companhia que eu comandava não estava onde devia estar, de acordo com a operação.
Houve ainda uma outra operação, estava eu em Farim, em que pura e simplesmente me recusei a efetuá-la que consistia em efetuar uma operação do lado de lá da fronteira com o Senegal, jogando eu com o argumento que as coisas podiam correr mal e com o facto de podermos eventualmente ficar prisioneiros e nessa altura seriamos dados como
"desaparecidos em combate". Curiosamente, recusando-me a efetuar esta operação, não sofri dessa vez qualquer punição.
Depois da terceira punição foi-me retirado o comando da companhia, fiquei quase exclusivamente a oficial de reabastecimento em Buba (digo quase, porque em algumas situações era eu o oficial mais graduado e, como tal era eu o comando militar daquela localidade, conforme aconteceu quando fomos atacados por um ataque em grande escala orientado e comandado pelo capitão cubano Peralta).

Ano 1968/69 - Em Buba, sem dúvida que as crianças são sempre as grande vítimas da guerra

A nível comunitário tenho orgulho do que fiz, que me proporcionaram momentos gratificantes. Implementei no K3 (Farim) aulas para os miúdos da "tabanca" ideia que mereceu elogios do General Spínola. Arranjei a prestação dos cuidados médicos de enfermagem a toda a população daquela zona. Inventei um "jornal de parede" extensivo aos militares e população, em que além de prosa minha, havia também recortes de jornais e revistas que me eram enviados da Metrópole.

Ano 1969 - Buba, mais gente da comunidade também sofredora da guerra

Por motivo das punições que recebi, nunca tive direito a férias, como por norma qualquer militar deve ter, por esse motivo, a minha mulher foi passar férias à Guiné (Farim) o que aconteceu no mês de Outubro de 1968.

Ano 1969 - Farim, quando a minha esposa me foi visitar

Devo já agora também acrescentar, que defendi sempre os meus homens, evitei severas punições, como o caso de danificação de material de guerra, por vezes por descuido outras vezes no decurso de bebedeiras, outro caso também grave quando um dos militares a fazer um rally com uma viatura GMC, ficou atolada no lodo, que foi uma trabalheira para dali a tirar e ainda mais outra situações menos graves, mas que tinham sempre direito a punições.

Ano 1969 - Buba, no Cais vendo o horizonte

Ano 1969 - Buba, confortando as crianças

Ano 1969 - Buba, no Cais posando para o retrato

Tive a sorte por meu lado de regressar inteiro como se costuma dizer na gíria, tive a mesma sorte de não ter morrido algum militar que eu tivesse comandado, embora houvesse naturalmente a lamentar vários feridos, alguns com alguma gravidade. No entanto, quanto aos traumas psíquicos, esses nunca podem ser contabilizados.

Regressei à Metrópole a bordo do navio "Carvalho Araújo" que estava na lista já algum tempo para ser abatido ao efetivo, por estar muito velho, no entanto, como era para transportar tropas e como a tropa é carne para canhão, continuava ao serviço. De qualquer maneira portou-se muito bem nessa sua viagem para Lisboa, onde desembarquei em 27 de Maio de 1970, foi um momento de grande emoção. Vinte e cinco meses após o meu embarque para a Guiné (quando a comissão normal naquela província era de dezoito meses) quase sempre no mato e sem direito a férias (por causa das três punições), regressava assim e por fim à nossa Lisboa.
Passei à disponibilidade em 2 de Julho de 1970, respirando então finalmente de alívio e também por finalmente passar á vida civil.

Ano 1970 - Navio "Carvalho Araújo

* José Reis Fernandes Leitão (2013)

Nota Complementar

Ao ficar definitivamente para trás aquela guerra, fico com a ideia de que muitos sobre o meu comando podiam também desejar não ter que disparar um único tiro que fosse, a diferença é que eu podia fazer qualquer coisa, pois exercia funções de comando e a grande maioria tinha que cumprir ordens.
Em resumo, aquela guerra quando terminou para mim, de positivo ficaram apenas algumas amizades que se foram fazendo, esquecer o que passei nem sempre foi fácil, os cenários de guerra que por mais que se tente esquecer ou colocar de parte, vêm sempre ao de cima. Por isso, a partir de então passei aproveitar cada dia como se fosse o último.

Nota de Registo

1º. "Encontro dos Loriguenses Combatentes no Ultramar"
- O discurso que faltou ser lido -

Quando do 1º. "Encontro dos Loriguenses Combatentes no Ultramar" realizado no passado dia 27 de Julho de 2013, estava nos planos do nosso conterrâneo e amigo loriguense, José Reis Fernandes Leitão, ex. Capitão Miliciano, que fez a sua comissão na província da Guiné, de fazer um discurso, que, aliás, levava já preparado para ler momentos antes de ser servido o almoço de confraternização, mas que, por motivo da falta de aparelhagem de som, facto que o deixou com um sentimento de frustração por não ver concretizado esse seu desejo.
Discurso que merecia ser lido nesse dia a todos os ex. militares e suas famílias ali presentes, que hoje aqui na minha Página, me prezo a colocar na íntegra, indo assim ao encontro do desejo do nosso conterrâneo Zeca Leitão, como assim é conhecido no meio loriguense.

Julho 2013 - No dia do Convívio

CAROS CAMARADAS, CAROS CONTERRÂNEOS, CAROS AMIGOS

Desejo em primeiro lugar agradecer a presença das entidades autárquicas e religiosas que nos honraram com a sua presença no nosso convívio e lembrar igualmente aqueles que tiveram menos sorte que nós e não puderam regressar para junto dos seus entes queridos.
Agora, relembrando tempos passados, permitam-me recuar até ao ano de 1964 quando a PIDE irrompeu pela minha casa com a alegação - falsa - de que eu era membro do Partido Comunista. Em vão protestei a minha inocência quanto a essa acusação, assumindo, isso sim e sem rodeios, que era oposicionista ao regime de Salazar.
Talvez para me castigarem por tamanha "heresia", fui levado para a sede da PIDE, onde fui submetido à tortura da privação de sono, ficando de pé, consecutivamente, durante 60 horas. Depois fui transferido para a prisão do Aljube, onde estive em regime de isolamento durante dois meses.
Entretanto tinham sido presos 30 estudantes e a PIDE, talvez por eu ser trabalhador/estudante, resolveu juntar-me a eles para efeito de organização de processo a levar a tribunal. Fomos todos para a prisão de Caxias, onde permanecemos sete meses, tempo que demorou a instrução do volumoso processo. Para o julgamento todos os advogados se ofereceram graciosamente e a mim coube-me o Dr. Francisco de Sousa Tavares (entretanto já falecido) que deu um autêntico "nó cego" ao pide que servia de testemunha de acusação, sendo eu naturalmente absolvido.
Obviamente a minha carreira profissional sofreu algum atraso, que mais se acentuou quando, quatro anos mais tarde, fui novamente chamado a cumprir serviço militar - e digo novamente pois já tinha cumprido o serviço militar "normal" de 57 a 1959 - desta vez para o curso para capitão, que concluí com êxito, sendo mobilizado para a Guiné, um dos piores cenários de guerra e, ainda por cima, com a etiqueta de "suspeito político".
Nessa altura, cheguei a ponderar a hipótese de ir para França ou Argélia, que então acolhiam os que não concordavam com a guerra colonial. Era o tempo em que se ouviam as vozes de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira e outros, com as suas canções de resistência bem conhecidas, de uma das quais lembro esta quadra
Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não!
Face ao dilema que estava a atravessar, pedi a opinião das pessoas que entendi melhor me poderiam ajudar e foi decisiva a do meu colega de trabalho e amigo, o poeta Ferreira Guedes que me disse:
" Penso que deves ir, mas procura não fazer nada de que te possas envergonhar!"
Na ida para a Guiné, num quadrimotor da Força Aérea, apanhei um susto valente quando um dos hélices deixou de funcionar, obrigando-nos a regressar a Lisboa, não sem antes se gastar quase todo o combustível, de molde a permitir uma aterragem em relativa segurança.
Ao chegar à Guiné, era minha firme determinação não disparar um tiro que fosse e creio ter cumprido na medida do possível esse objetivo, pois tive três punições com um total de 40 dias de prisão disciplinar agravada, todas por ter optado "perder-me", evitando assim a morte certa de uma boa parte desses militares. É certo que, com essa atitude, também corri sérios riscos de poder ser fuzilado mas tive a sorte e eventual mérito de nunca me ter recusado a sair e ter dado alguma credibilidade à minha versão do ocorrido nessas operações que, de algum modo, atenuaram a sua gravidade.
Com a opção de não disparar um tiro, é evidente que não podia estar a pedir aos militares que comandava para fazerem o mesmo e nas emboscadas e ataques ao aquartelamento (o mais difícil de todos, em Buba, orientado superiormente pelo capitão cubano Pedro Rodriguez Peralta) dei o meu melhor e, com muita sorte à mistura, não houve qualquer baixa entre os militares que comandava, embora houvesse a registar vários feridos.
E as voltas que o mundo dá... Esse capitão cubano veio posteriormente a ser ferido com alguma gravidade e capturado, sendo internado no Hospital Militar Principal, onde conheceu uma enfermeira por quem se apaixonou e teve descendência e o curioso é que ela era de Loriga...
Outra situação em que corri grande risco foi a de ter de entrar no paiol de munições, no qual se encontrava um explosivo plástico chamado 808 que estava como que "a suar" e eu tinha aprendido que isso era sinal de iminente detonação. Por isso, houve que transportá-lo com mil cuidados para um local onde essa detonação não causasse quaisquer estragos humanos ou materiais.
Naquela guerra, também depressa me apercebi que os oficiais do quadro permanente faziam a chamada "guerra do ar condicionado" - salvo raras e honrosas excepções - enquanto que os oficiais milicianos (nomeadamente os capitães, feitos à pressa, como era o meu caso) eram invariavelmente enviados para o mato!
Muita sorte tive igualmente em não ter accionado nenhuma mina ou armadilha, quer nas vezes em que me desloquei a pé (a maioria) quer em viatura. Ou de não ter contraído nenhuma doença característica dos países africanos. Ou de ser picado por algum mosquito portador de qualquer doença. Ou de morrer de sede (às nossas tropas, sem eu saber bem porquê, não eram fornecidos cantis!). Ou de ...
(nestas reticências cabem milhentas hipóteses que podem acontecer de mal a uma pessoa na situação em que me encontrava!)
Outra situação que recusei liminarmente foi a de efectuar uma operação do lado de lá da fronteira com o Senegal, pois tinha sido alertado que se ela fosse mal sucedida, seríamos dados como "desaparecidos em combate" e as nossas famílias nem o enterro nos poderiam fazer!
Quanto a boas recordações, para além de algumas boas amizades, posso referir o ter implementado aulas para os miúdos da tabanca mais próxima do aquartelamento, iniciativa que mereceu elogios do Gen. Spínola, ciente como estava que aquela guerra não se ganhava só com a força das armas. Com os jornais que me eram enviados da Metrópole, pus à disposição dos militares e população um jornal de parede, lembrando-me que um deles aludia à chegada do homem à Lua...
Por causa das punições que sofri não tive direito a férias e também, em vez dos 18 meses de serviço, acabei por ter de cumprir mais sete e assim só então embarquei de regresso à Metrópole no navio "Carvalho Araújo", o qual, por sinal, já estava no "Mar da Palha" para ser abatido... Mas portou-se muito bem e para mim e para todos os militares que me acompanhavam o dia da chegada a Lisboa - 27 de Maio de 1970 - foi sem dúvida um momento de grande emoção. Estava (finalmente!) finda a minha aventura na Guiné!
A terminar e como meditação sobre a inutilidade daquela guerra, deixo-vos com este poema de Reinaldo Ferreira:
Receita para fazer um heroi
Tome-se um homem
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto!
Aos militares que comandei desejei-lhes que, no regresso à vida civil, "pudessem finalmente e em paz fazer algo de construtivo". Reitero agora esse voto!
Um abraço para todos do
a) José Leitão (2013)


José Alves Oliveira *
Comissão em Angola 1969 - 1971

(Posto militar - Soldado)

Ano 1969 -A minha primeira foto de militar, tirada na Ponte de Santa Clara - Coimbra

Sou natural de Loriga onde nasci em 15 de Agosto de 1947, filho de João Mendes de Oliveira e de Urbana Alves Pereira, sendo mais conhecido no meio loriguense por "Zé Ruas". Tal como muitos outros rapazes da minha idade, saí de Loriga com apenas 11 anos de idade, tendo como destino Lisboa.
Fui chamado para a tropa na penúltima incorporação de 1968, assentei praça no dia 5 de Agosto desse ano, tendo como destino CICA 4 (Centro de Instrução de Condutores Auto) em Coimbra, Fiz primeiro exame psicotécnico para ver se tinha aptidões para condutor, como eu preenchia todas as condições, lá fui para condutor, aliás como os meus dois irmãos mais velhos, que também tiraram a recruta na CICA 4. Ao principio não foi fácil, pois os monitores não eram nada meigos, mas com o tempo lá me fui habituando.

Ano 1969 - O pelotao da minha recruta, eu estou no lado esquerdo na fila do meio

Depois de sete semanas fiz o Juramento de Bandeira, tendo então seguido para o Regimento de Infantaria 6, na cidade do Porto, onde tive logo uma grande surpresa, se em Coimbra, uma cidade tão bonita, o quartel era tão sujo, basta saber, que o refeitório era no depósito da gasolina, a cidade do Porto que na época era uma cidade relativamente suja, o quartel RI.6 era um esmero, que nos podíamos até mirar no chão, a minha especialidade foi também sete semanas, o tempo que estive na bela cidade do Porto
Logo após ter terminado a especialidade, fui mobilizado para Angola, seguindo para a cidade de Abrantes, tendo sido integrado na Companhia 2460 do Batalhão 2859, que ali estava a ser formado.

Ano 1969 - O navio Vera Cruz no momento que partia de Lisboa

No dia 11/01/1969, parti para Angola no paquete Vera Cruz, foi dura a despedida, embora eu fiz um truque para não ser tão duro, logo que chamaram para a formatura, ao que se seguia a entrada para o barco, eu disse para os meus familiares, que depois da formatura me viria despedir, só deram conta e disse adeus quando ia já a entrar no barco. A viagem durou 9 dias até Luanda, onde estive uma semana no Grafanil. Quartel muito conhecido, pois era ali que se concentravam os Batalhões e Companhias, quando chegavam e partiam de regresso à Metrópole.

Ano 1969 - Primeira foto em terras de Angola
logo após chegar ao Grafanil, tempo de lavar a roupa

Ao fim de uma semana o meu Batalhão teve como destino o norte de Angola, zona de Nambuangongo, a minha Companhia foi ainda mais para o norte onde ficamos sediados numa fazenda de café chamada Quixico, uma região rodeada por montanhas a toda a volta, logo assim que ali chegamos e ainda a companhia que íamos render não tinha partido, quando se deu um ataque tremendo, logo ali tivemos para azar de todos nós uma baixa, com a morte de um nosso camarada.

Ano 1969 - Foto tirada no Caxito que ficava a 100Km, de Nambu

Ano 1969 - Quixico onde ficou sediada a minha Companhia 2460

Existia neste nosso acampamento uma velha capelinha em honra da Nossa Senhora de Fátima, pela qual tinha muita fé, para ocupar o tempo pedi autorização para me ocupar dela visto precisar ser restaurada, disponibilizado todo o material de pintura e limpeza, entreguei-me de alma e coração e assim consegui recuperá-la tornando-o mesmo funcional.

Ano 1969 - Quixico,capelinha de N.S. de Fátima, exterior.

Ano 1969 - Quixico, capelinha de N.S. de Fátima, interior

Não sei se foi por motivo de me ter dedicada tanto à capelinha, que um dia fui abordado pelo padre capelão, onde ele me disse para eu tomar conta de algumas homilias, eu nem queria acreditar, pois se em pequeno não me deixaram ir para o seminário, o que eu queria, agora tinha ali uma proposta para fazer as vezes de padre, bom talvez não seja bem assim, mas o padre disse como só podia dizer missa ali uma vez por mês, porque tinha outras quatro companhias para dizer missa, sendo um domingo para cada companhia, assim ficaria eu incumbido ali de fazer alguns acto da igreja, na verdade assim foi, depois de ter a capela toda arranjada, comecei a fazer algumas coisas, comecei por rezar o terço todos os dias, ao principio era olhado de revés, mas depois comecei a ver todos detrás de mim a pedir se podiam rezar comigo, claro que não me importei, até gostei.

Ano 1969 - Quixico,com o olhar no horizonte

Ano 1969 - Quixico, grupo de condutores que eram umas máquinas.

Ano 1969 - Quixico, os pensamentos nos levam longe

A vida ia correndo e parecia estar tudo muito mais calmo, dava tempo para fazer-mos coisas, com exemplo, colegas meus da companhia, foram construindo na parada um monumento com o emblema do batalhão e onde figurava o São Judas Tadeu o nosso patrono, que depois de terminado me pediram para eu o pintar, o que o fiz, ficando um belo trabalho, que hoje muito gostaria de saber se ainda por lá se encontra e ainda está em pé.

Ano 1969 - Quixico, Os construtores de monumento ao patrono do Batalhão, São Judas Fadeu

Ano 1969 - Quixico, eu junto do monumento, gostaria de saber se ainda existe

Ano 1969 - Algures no norte de Angola acabando a construção de
uma jangada para as viaturas atravessarem o rio

Ano 1969 - Tranquilo dentro de um rio que nesse momento
não sabia que estava infestado de corcodilos

Ano 1969 - Quixico, tempo de uma "miga" com condutores e mecanicos da minha companhia

No primeiro Natal que passamos em Quixico, resolve-mos e fizemos uma peça teatral, que se traduziu de êxito, assim como, teve uma sessão de fados que até deu para eu próprio também cantar o fado, sem dúvidas iniciativas e criatividades que por lá tínhamos, neste caso para passarmos o Natal melhor longe da família, em terras em que o sol queimava mais.

Ano 1969 - Quixico, momentos da peça teatral, por altura do Natal

Ano 1969 - Quixico, momentos dos meu dotes de cantar o fado

Ao fim de pouco mais de um ano, a minha companhia foi transferida para Malange, mais precisamente para Marimba, tudo isso também no norte, aqui era ainda mais calmo e mais monótono, durante cinco meses fui o condutor do Comandante, por isso, passei a fazer muitas viagens a Malange.
Se no Quixico havia pouco que fazer, aqui em Marimba então não havia nada, sendo condutor do comandante, nem sempre todos os dias era preciso sair com ele, passei a ter um certo tempo disponível, que aproveitava para me dedicar aos animais ou então a pintar sinais indicadores, para serem colocados em cruzamentos, bem como, fizemos mais um monumento num destacamento, sendo eu também o pintor, tudo isso trabalhos interessantes e dignificantes, que meu deu muito prazer fazer.

Ano 1970 - Marimba, tempo de pintar e ao mesmo tempo de laser

Ano 1970 - mais um monumento pintado por mim

Como ia muitas vezes a Malange como condutor do Comandante da minha companhia, também passei a ser afortunado de me vestir por lá à civil, que dava para passear, assistir a espetáculos e poder tirar algumas fotos para poder hoje recordar. Na realidade Malange era uma cidade muito bonita, com jardins de sonho e uma piscina onde fui muitas vezes nadar.

Ano 1970 - Malange, Simone de Oliveira, quando foi
ali cantar para os militares

Ano 1970 - Malange, monumento a Salazar, quando da sua morte
no verão deste ano, foi coberto de muitos ramos de flores

Ano 1970 - Malange, Mara Abrantes, quando foi
também ali cantar para os militares

O tempo ia passando e estava-se aproximar-me o final da comissão, que parecia contarmos os dias as horas e os minutos, as saudades da família eram já muitas, ia pedindo à Nossa Senhora de Fátima que o resto do tempo passa-se bem depressa.
Até que o dia esperado chegou numa manhã, quando finalmente chega a nova companhia que nos vinha render, escusado será dizer que foi uma alegria imensa e pouco tempo depois lá seguimos viagem para Luanda, de regresso ao quartel do Grafanil, para esperarmos pelo navio que nos viria trazer de regresso à Metrópole.

Ano 1970 - Malange, últimas fotos em Angola

Ano 1970 - Para me recordar

Ano 1970 - Malange, mais uma das últimas fotos

Ano 1971 - o navio Uíge que me trouxe de regresso à Metrópole

Adoeci ainda no Grafanil, mas fiz-me forte e nem dei mostras de doente, com receio de que não pudesse fazer a viagem de regresso, que tanto ansiava.

Assim, no dia 28 de Janeiro de 1971, embarcamos de regresso no navio Uíge, com a viagem a demorar mais três dias do que para lá, com a chegada ao Cais de Alcântara em Lisboa no dia 10 de Fevereiro, onde toda a família me esperava o que foi uma festa.

* José Alves Oliveira (2012)

Nota Complementar

Dentro da normalidade penso que a minha comissão e o meu dever cumprido correu bem, se me perguntam se gostei muito de conhecer Angola, claro que gostei, só que não como militar. Já quando andava na escola tinha certa adoração a essa terra pela geografia, tinha até decorado toda Angola, sabia os rios, as serras, províncias, etc.
Fui obrigado a conhecer essa parte da Pátria, que nos diziam que era também Portugal, porque fui também obrigado a isso ao ser enviado para lá, e assim apesar de tudo tive o previlégio de a conhecer.
Tenho a plena consciência que dei o melhor de mim por aquela terra lá longe, onde ficaram dois anos da minha mocidade e recordações, sim essa terra muito longe do nosso pequeno país na europa, uma terra que nos marcou e podermos mesmo dizer "terra onde o sol queimava mais".


Mário Moura Pires *
Comissão na Guiné 1971 - 1973

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa em Julho de 1970, na chamada terceira incorporação desse ano, tive como destino a cidade de Elvas onde assentei praça e tirei a especialidade de atirador de cavalaria. Tendo permanecido nessa cidade alentejana 5 meses.

Ano 1971 - A bordo do navio "Uíje"

Em Janeiro de 1971 fui transferido para Castelo Branco, onde permaneci até ao meio desse ano, entretanto, tinha já saído a minha mobilização tendo como destino a província da Guiné.
Fui incorporado no ER 3431 (Esquadrão de Reconhecimento de Cavalaria). Embarquei para a Guiné no navio "Uíge" no dia 15 de Agosto de 1971, com chegada a Bissau no dia 23 desse mesmo mês, tendo permanecido nesta cidade cerca de uma semana.

Ano 1971 - Bissau com o José Pereira (Zézito italiano) e o Zé Gouveia (Zé Bentinha)

Em Bissau quando da minha chegada encontrei-me com os conterrâneos, José Pereira (Zézito italiano) e o Zé Gouveia (Zé Bentinha) celebrando este nosso encontro com uma jantarada e pelo meio recordarmos a nossa Loriga. Segui depois para Ximé numa fragata da marinha e depois daqui segui em coluna para Bafatá, onde o meu Esquadrão de Reconhecimento ficou sediado e onde me mantive um ano. Foi um ano de intensa actividade, daqui de Bafatá fazíamos protecção às colunas para Piche, Beruntuma (fronteira com o Senegal) e Pirada, onde soube que ali tinha feito comissão o nosso conterrâneo José Augusto Rosa.

Ano 1971 Bafatá - No meu Destacamento junto do Emblema do Esquadrão feito por mim

Ano 1971 Bafatá - Um dia de descanso que me vesti à civil

Fiz parte da minha comissão numa Zona muito complicada e de muita intervenção, fazia fronteira com o Senegal e a Guiné Conacri, países que segundo se sabia era locais de refugio dos grupos inimigo e, durante esse tempo que ali permaneci, o meu Esquadrão de Reconhecimento 3431, participou em algumas operações de combate, lembrando-me de uma delas feita de noite, que nos marcou profundamente, ao termos tido uma baixa (a única do meu Esquadrão) com a morte do meu colega, soldado Camacho, como assim o chamava-mos e também termos tido um ferido grave, ao ter um dos nossos companheiros perdido um dos braços, a golpe de catanada.

Ano 1971 Bafatá - O meu Grupo do Esquadrão (ER 3431)

Ano 1971 Bafatá - Em missão de protação a uma coluna

Ano 1971 Piche - Numa Missão de Reconhecimento

Ano 1971 Bafatá - Com os meus camaradas na hora da refeição

Ano 1971 Bafatá - Preparando o material de guerra

Ano 1972 - Beruntuma -Junto da Fronteira com o Senegal

Ano 1972 Bafaté - Para comer melhor recorria-se à caça

Ano 1972 Saltinho - Numa Missão de Reconhecimento

Ano 1972 Bafatá - Na enfermaria por ter apanhado o Paludismo

Ano 1972 Bafatá - Com o António Santos (Alvoco da Serra e o Lopes (Moimenta da Serra)

Ano 1972 Piche - Hora de os guerreiros comerem

Ano 1972 Bafatá - Tempo para um convívio e uma "Miga"

Ano 1972 - Algures na Guiné missões por água e terra

Ao fim de 12 meses de comissão em Bafatá, fui transferido para a lha Formosa, uma das muitas ilhas que fazem parte dos arquipélago da Guiné, onde permaneci 9 meses, onde completei os 21 meses que já levava de comissão. Ali me encontrei com o nosso conterrâneo José Fonseca.

Ano 1972 - Na ilha Formosa com o José Fonseca

Ano 1972 - Algures com o Tó Cabral

Ano 1972 - Com uma arma apreendida proveniente da China

Ano 1972 - O momentos de dar noticias à família

Ao fim desses nove meses na Ilha Formosa fui transferido para Bissau, onde completei o resto da minha comissão e aguardei embarque de regresso, que tardava a ser marcado. Em Bissau estes últimos meses de comissão foram já bem melhores. Ali me encontrei com o conterrâneo o António Palas (Pirola), mas não registamos em fotografia este nosso encontro.
Regressei à Metrópole no dia 12 de Outubro de 1973 a bordo do navio "Niassa" regressando enfim, à Metrópole.

Ano 1973 - Foto de família do fim da comissão

* Mário Moura Pires (2012)

Nota Complementar


Passei grande parte da minha comissão em zona de intervenção e perigosa na província da Guiné. Apesar de tudo posso considerar-me ter tido sorte, só que completei cerca de 27 meses de comissão, quando por norma pertencia estar naquela província 18 a 20 meses, mas o poder militar a que mandavam e por isso estávamos à vontade dele e do respectivo serviço orgânico, que ao fim e ao cabo quem saía depois prejudicado éramos nós os soldados.


António Cardoso Matias *
Comissão em Angola 1966 - 1968

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa no dia 3 de Abril de 1966, tive como destino a cidade de Coimbra para ingressar no CICA para tirar a recruta que desde já era um complemento para a especialidade de condutor. Fui depois para o Regimento de Cavalaria Nr.6 no Porto para então sim ter o treino "treino de condução nocturna em estrada e no mato".

Ano 1966 - Coimbra, primeiros dias da tropa

Depois de pronto como se dizia na gira militar, no mês de Agosto seguinte fui colocado no RAL 1 (Regimento de Artilharia Ligeira Nr.1) e foi ali que fui mobilizado para Angola e em 11 de Setembro sou incorporado no Comando de Agrupamento 1978, que tinha como destino aquela Província Ultramarina.

Ano 1966 - Coimbra, o meu pelotão da recruta a possar para a foto família

Ano 1966 - Porto, Na instrução para condutor auto

Ano 1966 - Coimbra ainda durante a recruta (primeiros tempos)

Ano 1967 - Emblema do Comando Agrupamento 1978

Já integrado no Agrupamento ainda tivemos instrução ligeira e depois foi-nos dado a licença de mobilização de 26 de Setembro até 5 de Outubro e a e a 10 de Outubro fomos considerados em condições de embarque. No entanto, até ao dia do embarque, 23 de Novembro houve instrução operacional para conhecimento do nível de preparação militar geral. Veio a perceber-se mais tarde que a "preparação militar no grupo a que eu estava integrado era bastante deficiente", e este comentário registado pelo comandante da minha unidade era extensivo aos Batalhões e companhias do Comando de Sector de que fazia parte.

Ano 1966 - Luanda - Campo do Grafanil (altar num tronco dum embondeiro

Ano 1966 - Luanda - Campo do Grafanil primeiros dias da chegada

Embarcamos para Angola a bordo do navio "Vera Cruz" no dia 23 de Novembro e chegamos a Luanda no dia 02 de Dezembro de 1966. Fomos transportados para o campo militar do Grafanil, aonde estivemos acampados até ao dia 13 de Dezembro.
Como apontamento adicional posso dizer que foi nesses dias e no Grafanil que esbocei aquilo que viria a ser a minha profissão
"fotógrafo". Quando cheguei ao Grafanil quis mandar para a família uma fotografia e não havia fotógrafo, aí pensei e melhor o fiz, comprei a minha primeira máquina fotográfica, uma kodak INSTAMATIC 50. Tirei fotografias a mim mesmo e fotografei amigos que mais tarde viriam a ser clientes. A seu tempo comprei um ampliador e mais ferramentas. Montei com a respectiva autorização do comandante da unidade o meu pequeno "Laboratório" para revelar as fotografias.

Quibaxe; Fazenda Tentativa, próximo do Caxito; Ambrizete, actual N'Zeto e Toto, foram os principais cenários do teatro de guerra que vivi em Angola na minha comissão que foi desde Novembro de 1966 a Novembro de 1968.

Ano 1967 - Toto, Aquartelamento da unidade

Ano 1967 - Ambrizete, serviço "Porta de Armas"

Ano 1967 - Ambrizete, o Lago a Natureza e eu

Ano 1967 - Ambrizete, tempo para beber umas boas "Nocal"

Ano 1967 - Ambrizete, descança o guerreiro tendo ao lado a fotografia da namorada

Ano 1967 - Ambrizete, no Bar do Aquartelamento "sai mais um copito para esquecer que se está longe"

Ano 1968 - Ambrizete, Convívio o Bernardino eu e o Sousa

Ano 1968 - Ambrizete, Um dia de convívio com colegas

Ano 1968 - Toto, depois de uma caçada o "Petisco" crecendo o troféu para a fotografia

Tive sempre a paixão a esculpir com o gesso, até mesmo em Angola e quando tinha tempo disponível dedicava-me a isso. Fiz vários trabalhos entre eles o Logotipo da unidades, que me deu imenso gosto elaborar, depois mais tarde esse Logotipo foi moldado em bronze e cimento.

Ano 1967 - Ambrizete, esculpindo em gesso o Logotipo da Unidade

Ano 1968 - Fazenda Tentativa, posar para a foto

Ano 1968 - Ambrizete, a embalsamar um pequeno corcodilo

Ano 1968 - Toto, junto ao Lago Toto onde fui tirar fotografias

Ano 1967 - Algures numa encruzilhada de "picadas" (estradas)

De certa maneira posso-me considerar de ter sido um soldado cumpridor dos meus deveres, por isso, ter sido reconhecido todo o empenho dedicado ao trabalho que me era destinado. Foi com certa satisfação ter sido agraciado com louvor que aqui também registo.

LOUVOR (transcrição)
"Louvo o Sold. António Cardoso Matias, porque servindo há 21 meses nesta província, sempre demonstrou óptimas qualidades de carácter, camaradagem, educação, bom senso e total dedicação ao serviço. Chamado a colaborar na Secção OP/INF. Como desenhador, nos múltiplos trabalhos de que foi encarregado, sempre depositou a melhor boa vontade, os seus conhecimentos e a sua habilidade.
Por tudo quanto fica dito, é o Sold. MATIAS bem digno do presente louvor, da estima e admiração dos seus camaradas e do justo apreço dos seus superiores."

Ano 1968 - Quibaxe, as criancas sempre presentes com a nossa protecção

Ano 1968 - Quibaxe, as bananas também matavam a fome

Ano 1968 - Quibaxe, sentado em cima de um "bunquer"

Ano 1967 - Ambrizete, foto tirada nos preparativos para o Natal

Fomos rendidos em Outubro de 1968, pelo Comando de Agrupamento Nr. 2956, pouco tempo depois rumamos para Luanda para embarcamos de regresso à Metrópole,

Ano 1968 - Algures pelas "picadas" de Angola, já na viagem de regresso para Luanda, para se embracar para a Metrópole

Embarcar-mos em Luanda no dia 21 de Novembro de 1968 a bordo o navio "Vera Cruz" curiosamente o mesmo barco que nos tinha levado para Angola. Chegamos a Lisboa ao cais da Alcântara no dia 2 de Dezembro de 1968, curiosamente também dois anos depois de termos desembarcado em Luanda para o inicio da comissão. Ao chegarmos a Lisboa fomos encaminhados para a unidade mobilizadora RAL 1, onde então sim passei á disponibilidade.

* António Cardoso Matias (2011)

Nota Complementar

Fiz o meu dever cumprido em prol de uma terra e de um povo. Foi na vida militar e lá em Angola que descobri a outra fase da minha vida ao me dedicar à fotografia que foi importante para a minha comissão, pois paralelo com o serviço militar, montei um pequeno laboratório de fotografia amador. Desenhou-se aí aquela que seria a minha profissão após a desmobilização. Fui durante os trinta anos seguintes, fotógrafo de artes gráficas após os quais me reformei.

Antes a minha vida profissional foi na indústria Textil, tanto em Loriga como em Lisboa, desde 1958 até Abril de 1966, quando então entrei para a tropa. Pelo meio ainda frequentei a Escola Industrial Afonso Domingues, que me fez formar ainda mais para a vida.


João da Silva Pinto *
Comissão em Moçambique 1967 - 1969

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa 1966, na 3ª. Incorporação desse ano (Julho) tive como destino o Quartel do CICA 4 em Coimbra tendo tirado a especialidade de Condutor. Recruta e especialidade levou-me até Novembro altura que passei a ser Condutor Motor Auto Rodas. Passando depois para o Porto onde estive algum tempo.

Ano 1966 - Nos primeiros tempos de tropa

Ano 1966/67 - Mais fotos ainda dos primeiros tempos de tropa (Recruta e Especialidade)

Em Abril de 1967 sou mobilizado seguindo em Maio para a Amadora onde fui integrado no Batalhão 1918, na Companhia CCS, que estava destinado para comissão em Moçambique e para a região do Niassa
Só embarcamos para Moçambique no dia 3 de Agosto de 1967 a bordo do navio "Niassa" e tal como sabíamos o nosso destino foi a zona do Niassa. Apesar de pertencer à CCS do Batalhão fui muitas vezes para as Companhias 1413 e 1414, as companhias operacionais do Batalhão, onde estive como adido.

Ano 1967 - Zona Niassa em plena operação

Ano 1967 - Primeira foto tirada em Moçambique

Ano 1967 - Preparados para as operações

Estive em várias regiões de Moçambique, uma vez integrei uma marcha de L. Marques para "Tenente Valadi" uma distância de cerca de 4.000Km, que percorremos em 24 dias e 24 noites.
Estive em várias operações, lembro-me até em 1968 véspera da Páscoa termos sido atacados às 23 horas, estivemos 1h45 minutos debaixo de fogo, uma das situações mais perigosa e complicada, mas que felizmente para mim tive sorte.

Ano 1967 - Num dia de partida para uma operação

Ano 1967 - Posar para a foto antes de uma operação

Ano 1967 - Preparar o campo para se ter visibilidade

Ano 1967 - Prontos para mais uma operação

Ano 1967 - Numa das operações e já de regresso ao Aquartelamento matou-se um Gazela que depois serviu para termos "rancho melhorado"

Fiz serviço durante também algum tempo a percorrer as companhias de operações transportando o material para projectar cinema para essas companhias, cheguei andar cerca de 500 Km numa semana.

Ano-1967 - Descanso dos guerreiros

Ao fim de cerca de ano e meio na Zona do Niassa, o meu Batalhão foi transferido para Malema, também zona de intervenção. Estive ainda em Ribaué onde estive cerca de 1 ano terminando ali a comissão.
A Companhia CCS à qual pertencia não teve baixas, o mesmo não podemos dizer das outras companhias operacionais do meu Batalhão que tiveram significativas baixas, felizmente a mim tudo correu bem e com sorte nada sofri.

Ano 196 - Nampula descarregando um avião com mantimentos

Ano 1968 - Com os meus camaradas num dia descanso

Ano 1967 - Envio de correio desejando uma Páscoa Feliz

Ano 1967 - À espera de correio da família

Ano 1967 - Postal de Boas Festas enviado à família

Um dia em Nampula encontrei-me com o conterrâneo Joaquim "Pistola" e como não podia deixar de ser era sempre com alegria quando encontrava-mos amigos e conterrâneos.
No termo da comissão encontrei-me com o Zeca "Moita" e com o António "Pistola" este já falecido
. Em L. Marques encontrei-me com o Horácio Varão e com o Pedro da Lapa que me foi ali visitar.
Também me em Vila Trigo de Morais encontrei-me com o António "Farrancha" e com o Eduardo Melo e também com o Manuel Félix.

Ano 1968 - Com mais alguns camaradas a posar para a fotografia

Ano 1968 - Mais um momento para escrever à família

Regressei à Metrópole no dia 12 de Setembro de 1969, embarcamos no porto de Nacala a bordo do navio "Niassa" a viagem até Lisboa durou 30 dias, desembarcamos no porto de Alcântara no dia 11 de Outubro.

Ano 1969 - O navio "Nissa" atracar em Lisboa no dia do meu regresso

Ano 1969 - No barco pela costa de Moçambique

* João da Silva Pinto (2011)

Nota Complementar

Cheguei à Metrópole ao cais de Alcântara em Outubro de 1969, um dia radiante de sol que nos deu as boas vindas em Lisboa, fazia precisamente 26 meses que dali tínhamos saído, para cumprirmos um dever por terras Moçambicanas, que o fizemos com toda a determinação e que muito fizemos por um povo e por uma terra que nos diziam ser portuguesa, quando na realidade era uma terra africana.
Percorri aquele país de norte a sul, tive a felicidade de para mim ter corrido tudo bem, o mesmo não puderam dizer outros meus camaradas que partindo não mais regressaram.


António Pinto Nunes *
Comissão em Angola 1970 - 1972

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa 1969, sendo chamado para a 3ª. Incorporação desse ano (Julho) tendo como destino o Quartel de RI.7 em Leiria onde tirei a recruta.
Após a recruta de duração de cerca de dois meses, em Setembro fui enviado para a cidade Torres Novas, incorporado para tirar ali a especialidade de atirador de Artilharia pesada.

Depois de terminada especialidade e antes de ter terminado o ano, fui enviado para o RAL1 em Lisboa, tendo sido colocado com adido eventual em Sacavém Aquartelamento do Material de Guerra, onde me mantive até Abril de 1970.

Em Abril desse ano fui mobilizado tendo como destino a província da Guiné integrado num Companhia de Artilharia. Entretanto, a minha companhia ao qual eu pertencia seguiu para a Guiné, ficando eu na Metrópole, até que depois saiu a ordem de eu embarcar para a Angola em sistema de rendição individual.

Embarquei para a Angola em Julho de 1970 a bordo do navio "Príncipe Perfeito", nessa altura integrado primeiro numa Companhia de Caçadores dum Batalhão de Caçadores, mas depois e já em Luanda, tive como destino a Companhia de Artilharia 2671, sediada na zona Norte/Leste de Angola, região bem ao norte de Henrique de Carvalho, mais precisamente para o Aquartelamento de Mussuco onde também estava situada uma Missão Católica de freiras.

Mussuco estava situada bem junto à fronteira com o Congo, onde estive cerca de 18 meses, integrado nessa companhia CART 2671, tendo efectuado muitas missões de reconhecimento, com algumas intervenções a nível de combate, mas felizmente no que tocou a mim nada sofri.

Ano 1970 - Em Mussuco (Zona Norte de Angola)

Ano 1970 - Em Mussuco com a população local

Ano 1970 - Em Mussuco no Unimog das operações

Ano 1970 - Mussuco com alguns camaradas

Tivemos também muita intervenção em serviço das comunidades locais, nomeadamente construções de pontes, guarda a missões católicas e outras operações mais ou menos relevantes.

Ano 1971 - Zona de Mussuco construção de uma ponte

Ano 1971 - Zona de Mussuco matando a sede

Ano 1971 - Zona de Mussuco pronto para o combate

Ano 1971 - Quartelamento de Mussuco um momento de divertimento

Ao fim de cerca de ano e meio nessa zona, vim para a cidade de Luanda, onde estive cerca de dois meses, então sim tive o privilégio de encontrar o Tó "Rifona" com o qual passei a encontrar-me com ele regularmente. Pena foi não termos tirado uma foto para registar estes nossos encontros.

Ano 1972 - Aquartelamento de Santa Eulália (Zona Norte de Angola)

Ano 1972 - Em Santa Eulália posar para a fotografia

Ano 1972 - Em Santa Eulália, local onde repousaram combatentes

Ano 1972 - Em Santa Eulália, tratar das crianças

Quando pensava que ficaria por Luanda até ao termos da minha comissão, visto já estar com 20 meses, sou enviado desta vez para o norte, para integrar outra Companhia de Artilharia na zona de Santa Eulália, onde me mantive no resto da minha comissão, mais de 5 meses e tal, ultrapassando em muito os dois anos normais de comissão. Finalmente foi grande a alegria, quando ao fim desses 6 meses e tal, me foi dado ordens de regressar a Luanda para regressar então à Metrópole.

Ano 1972 - Dia de folga, com um colega de Aveiro

Ano 1972 - Dia para escrever à família

Ano 1972 - Dia para dar atenção às crianças

Ano 1972 - Um dia de convívio com os meus camaradas

Regressei à Metrópole em fins de Setembro de 1972, regresso efectuado de avião, pois nessa altura já era o meio de transporte dos militares nas comissões ultramarinas. Tendo feito de comissão mais cerca de três meses, por motivo de a minha comissão ser rendição individual que implicava na espera de transporte, que se prolongava por vezes por semanas e meses.

Ano 1972 - Muito perto de regressar à Metropole

Ano 1973 - No ano seguinte depois de ter regressado, voltei a vestir o camuflado no dia da Festa de São Sebastião, cumprindo assim dessa forma uma promessa que tinha feito antes de partir.

Ano 1972 - Quando regressei à Metropole

* António Pinto Nunes (2011)
(1948-2015) **

Nota Complementar


Apesar de ter passado grande parte da minha comissão na zona norte de Angola, local sempre de intervenção, posso dizer que tive sorte, devendo registar que as companhias por onde passei, tiveram baixas significativas tanto a nível de combate como de doença.

** Falecido em 27 de Março de 2015


Joaquim Zacarias Fernandes de Brito *
Comissão na Guiné 1972 - 1974

(Posto militar - Soldado)

Introdução

Sou natural de Alvôco da Serra, localidade vizinha da vila de Loriga. Fiquei ligado a esta hospitaleira vila Loriga, pelo casamento com Maria Natália Prata e, que a partir de então passou a ser mais uma minha terra de adopção, pela qual também passei a ter um carinho especial e passei gostar dela como todos os loriguenses dela gostam. Neste enquadramento, junto-me aos loriguenses nesta rubrica Guerra do Ultramar, para aqui também registar a minha passagem por essa guerra, tendo em conta de me encontrar muito ligado a esta linda vila de Loriga.

Ano 1971 - Viseu, meu Pelotão na recruta

Fui à inspecção em 4 de Junho de 1970, tinha então 18 anos, como não podia deixar de ser, fui apurado. Entrei para a tropa no ano seguinte, tendo assentado praça na última incorporação desse ano, mais precisamente no dia 18 de Outubro de 1971, tendo como destino o RI.14 na cidade de Viseu. Como curiosidade quero aqui recordar que o meu ordenado na recruta (pré como de dizia na tropa) foi de 7$50.

No princípio do ano de 1972, segui para Abrantes para tirar a especialidade de Atirador de Infantaria, após a especialidade tirada fui de imediato mobilizado e também de imediato fui fazer parte do I.A.O. em Santa Margarida. Gozei os 10 dias de licença mobilizadora, recebi 400$00 e ali estava eu pronto para seguir viagem.

Ano 1971 - Minha Caderneta Militar

Ano 1972 - Embelema do meu Batalhão

Ano 1972 - Chegada à Guiné

Fui mobilizado para a Guiné, incorporado no Batalhão de Caçadores 3883, ficando a pertencer à Companhia 3546 e colocado no 4º. Grupo de combate. Embarquei em Lisboa de avião em 23 de Março de 1972 para Bissau. Quando cheguei fui para Bolama de Barco, estando lá alguns dias para acabar de tirar o I.A.O.

De Bolama fui de barco para o Xime, e segui de coluna para Piche (zona leste) permanecendo nesta zona vinte e sete meses, repartidos entre Piche, Ponte Caium e Camanjabá (para fazer segurança à ponte e às colunas que seguiam para Camajabá e Boruntuma), bem como, intervi em muitas operações por toda aquele mata da zona leste.

- Piche - era o local aonde estava sediado o meu batalhão, passaram por lá vários conterrâneos (Zé Gouveia, Tó Ribeiro, Mário Pires e o meu amigo António Santa de Alvoco da Serra.
- Ponte Caium - Uma ponte com quatro abrigos, dois à entrada no sentido de Piche e dois à saída no sentido Camajabá, com equipamentos de defesa ( morteiros 120, 81, 60 e metrelhadoras).
- Camajabá - Destacamento já com alguns civis, tendo como missão (patrulhamento, fazendo segurança à abertura da estrada para Boruntuma e protecção dos civis).

Ano 1972 - Ponte de Caium - Onde tinhamos os abrigos e respectivas coberturas

Ano 1972 - Ponte Caium (uma jangada improvisada)

Ano 1972 - Abrigo em Camajabá

Ano 1972 - No mato sempre protegido

Ano 1972 - Em Camajabá vala de protecção, caso de ataque

Ano 1972 - Andava sempre bem acompanhado

Ano 1972 - Ponte de Caium, Morteiro 120

Ano 1972 - Camajabá, à saída de um pontão

Ano 1972-1973 - Os guerreiros também dormem, na cama ou em qualquer lugar

Nesta fotografia aqui documentada, tenho ao meu lado o "Shoné" o cão meu fiel amigo, nosso mascote (este cão merecia ser condecorado, estava sempre presente na linha de combate e foi ferido gravemente) algumas vezes salvou a vida de muitos de nós.

Passei quase a totalidade da minha comissão na Leste da Guiné, bem dentro da zona de Intervenção, longe da civilização e em contacto permanente com o perigo que espreitava a todo o momento, sempre armados até aos dentes, como se dizia na gira, porque a nossa defesa eram as nossas armas, as nossas permanentes companhia, que temos a plena consciência de nos terem sido bem úteis nalgumas das muitas operações efectuadas, algumas mesmo bem complicadas.
Era em Piche que estava sediado o meu Batalhão, a minha rotina era uma constante actividade entre Piche, Ponte Caium, Camajabá. A minha Companhia estava em Camajabá aonde tinha por missão fazermos segurança à abertura da estrada, para Boruntuma construída pela Tecnil.
Volto novamente para Piche, aonde estava sediado o meu batalhão e a rotina era vira o disco e toca o mesmo (quando não estava riscado). Entretanto vim para Bissau pensando que a minha missão estava cumprida, mas enganei-me …

Ano 1972 - Com a minha lavadeira

Ano 1973 - Piche,
Com o meu amigo Zé Santos da Guarda
(Casado com uma Loriguense)
junto à população local

Ano 1972 - Ponte de Caium, num dia de folga

Ano 1973 - Comendo a ração de combate com o
amigo Mateus, numa operação, para os lados
do rio Corubal.

Ano 1973 - Com os meus amigos Mortágua, Oliveira e Ferreira,
brindando não sei ao quê.....

A maior parte do tempo da minha guerra, foi sempre metido no mato, pensando eu muitas vezes "que mal fiz eu para merecer este castigo". Sou daqueles que estão incluídos naquele patamar que podem dizer com angústia "comi o pão que o diabo amassou".
O meu Batalhão foi bastante afectado com baixas, só na minha Companhia tivemos seis, por isso, se pode ver a constante actividade a que éramos sujeitos e zona de guerra onde estavamos.

Entretanto, chega o ano de 1974 e dá-se a Revolução dos Cravos, os ecos do dia 25 de Abril chegam também até nós, a expectativa é enorme e ansiedade ainda é maior, nota-se o cheiro da liberdade, mas continuamos atentos, mesmo até com atenção mais desdobrada. Pensa-se que muito pode mudar, estou no final da comissão e tarda o regresso, que parece a continuação do pesadelo.

Ano 1973 - Em Piche, com o meu grande amigo Mateus de Santiago do Cacém

Ano 1973 - Em Camajabá, conviver com os animais era nosso quotidiano

Ano 1973 - Em Camajabá, em frente ao abrigo (eram estas as nossas instalações)

Ano 1972 - Postal de Boas Festas - Chegou à Metrópole um mês depois

Em Bissau estive-mos novamente em permanente actividade, a nossa missão consistia fazermos a segurança às principais e mais importantes infra-estruturas da cidade.
Certo é, que as comissões militares na província da Guiné, por norma eram de um período compreendido de 17 a 21 mês, no entanto, o meu Batalhão ficou 27 longos meses, que me parecia nunca ter mais fim.

O momento mais feliz que tive, foi quando o pesadelo acabou ao receber-se a mensagem que dava conta do meu regresso à Metrópole, com a viagem de avião programada para o dia 23 de Junho de 1974. Só acreditei finalmente terminar todo esse pesadelo, que me acompanhava à mais de dois anos, quando por fim fiz o espólio no RAI.1, (Encarnação) em Lisboa, saindo a porta de armas à civil (nem olhando para trás) finalmente me senti livre tal como um passarinho.

Nota complementar

Este meu registo são alguns dos meus escritos em papel, que os posso rasgá-los e esquecê-los.…( ninguém me perguntou se eu queria ir para a Guerra, fui obrigado a aceitar) como tantos outros.
Mas na minha memória jamais os apagarei, vendo ao meu lado sucumbir companheiros e eu sem lhes poder valer. A eles presto a minha sincera homenagem.
Dou Graças a Deus, por ter regressado, para junto de todos, que ansiosamente aguardavam a minha chegada.

O que é a guerra?.. "Uma profissão de bárbaro em que a arte consiste em se ser o mais forte em dado ponto." (Conde De Ségur)

* Joaquim Zacarias F. de Brito (2011)


Carlos Félix de Moura *
Comissão em Angola 1967 - 1969

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa na última incorporação do ano de 1966, foi no dia 25 de Outubro, que dei entrada no RI12, para tirar a recruta. Fui depois para Amadora tendo como destino o RI1, onde fui tirar a especialidade de atirador de infantaria.

Ano 1967 - Amadora final da especialidade

Ano 1966 - Caderneta Militar

Em 22 de Fevereiro do ano de 1967, terminei a especialidade e logo no mês seguinte fui mobilizado, sendo integrado no Batalhão 1908 Companhia 1674, tendo como destino a província de Angola, para onde embarquei no dia 15 de Abril desse ano, a bordo do navio "Vera Cruz" com a chegada a Luanda no dia 24 desse mesmo mês.

Ano 1967 - Chegada a Bom Jesus (Angola)

Fomos colocados no Grafanil (Luanda) quartel onde eram sediadas os Batalhões e Companhias, que acabavam de chegar a Angola. Poucos dias depois fomos deslocados para o norte para Bom Jesus, cerca de 300 Km. de Luanda, onde estive um ano.Era uma zona muito isolada, principalmente no tempo das chuvas, tínhamos sempre problemas de abastecimento, que obrigava a ser efectuado por avião.
Foram muitas as operações efectuadas naquela zona, muitas verdadeiramente cansativas, passamos muito tempo pela mata, mas felizmente a sorte protegeu-me conseguindo superar todas as dificuldades.

Ano 1967 - Bom Jesus, momentos de abastecimento por via aérea

* *

Ano 1967 - Bom Jesus, Aquartelamento no meio da mata

Ano 1967 - Bom Jesus, um dia de camaradagem

Ano 1967 - Registo de dias de operações algures pelo norte de Angola

* *

Ano 1967 - Por vezes era só de Helicóptero, o meio de transportes para sair do Bom Jesus

Ano 1967 - Registo os meus dotes musicais

Em Abril de 1968, o meu Batalhão foi deslocado para o sul ficando a minha companhia sediada em Novo Redondo. Então sim, estávamos muito melhores e quando parecia que tudo ia bem, passado apenas dois meses de ali estarmos naquele local, fui castigado juntamente com um Alferes, tendo sido enviado para o Leste de Angola, Alto Cuíto zona da frente de guerra, onde passei todo o restante tempo da comissão.
Esse castigo deveu-se, que quando estávamos na Vila D. Maria, perto de Novo Redondo, eu e o Alferes fomos a uma (tabanca) num "Kimbo" (Sanzala) tentar comprar galinhas. Entretanto o Comandante formou todo o Batalhão, onde só faltávamos nós, ao chegarmos, o Alferes ainda me disse "para dizer que era o condutor dia" só que o Comandante não engoliu a peta, fomos castigados e tal como disse enviados para a frente da guerra, onde comi o pão que o diabo amassou.

Ano 1967 - Foto do "Zé LóLó junto a uma "Berliete"

Ano 1968 - Novo Redondo um dia de passeio e de laser

Fiz muitas operações por terras do Lesta de Angola, por vezes de dias e dias pela mata. Lembro-me que numa dessas operações que fizemos e quando estávamos já bastante cansados, sentamo-nos naquilo que pensávamos ser um tronco, de repente começa a mexer, na verdade era uma enorme Jibóia, que aqui documento em foto, apanhei cá um susto que durante dias não me esqueceu. Reagi-mos de imediato a lai vai fogo matando-a, que veio depois a servir de refeição aos nativos locais de uma Sanzala ali bem perto.

Ano 196 - Com a Jiboia após a termos morto

Uma outra complicada situação quero aqui relatar. Um dia eu e um camarada ao terminarmos o serviço resolvemos ir à caça para a refeição, não avisa-mos ninguém pouco depois avistamos uma gazela e lá vai fogo, os tiros foram ouvidos no Aquartelamento, de imediato foi montado uma operação de defesa, pensando que fosse um ataque, o que valeu foi um dos nossos colegas num local do aquartelamento mais bem colocado, nos ter avistado com a gazela às costas e nos ter reconhecido de imediato no preciso último momento em que estavam para disparar. Felizmente tudo acabou em bem para esta atitude irreflectida, claro, que não nos livramos de uma grande descompostura pelo nosso comandante.

Ano 196 - A famosa Gazela que nos ia custando a vida

Levei da Metrópole um cão, que se revelou um autentico soldado, só que era racista, não podia ver um africano, manifestava-se logo e queria logo atacar. No entanto. Era um verdadeiro vigilante e quando pressentia alguma coisa, não ladrava mas fazia tudo para se fazer compreender que algo se passava, acabou por morrer mordido por um bicho.

Encontrei-me com o conterrâneo "Zé LóLó" tendo registado esse encontro com a foto que em cima registo, ele junto a uma "Berliete".

Regressei à Metrópole no navio "Vera Cruz", precisamente o mesmo barco que me tinha levado para Angola. Desembarquei em Lisboa no dia 3 de Julho de 1969, um dia lindo radiante de sol que nos deu as Boas-vindas.

* Carlos Félix de Moura (2011)

Nota Complementar

Regressei feliz e contente, tendo feito mais três meses de comissão do que era supor, tudo relacionado por ter sido castigado e mandado para o Leste da Angola, apenas e simplesmente por ter ocorrido aquela situação quando estava na região do sul em Novo Redondo, ao me ter ausentado do Quartel, juntamente com o Alferes, sem autorização. Penso no entanto, que o que levou a ser-mos assim severamente castigados, foi por nessa altura já estar a vigorar com certa rigidez a chamada guerra psicológica, com o RDM a ser mais regido na sua aplicação ao militares a cumprirem as comissões nas Províncias Ultramarinas.


Gabriel Lopes Pina *
Comissão em Moçambique 1971 - 1973

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a recruta mo RI14 (Viseu) no dia 20 de Outubro de 1970, ficando portanto muito perto de Loriga. No principio do ano de 1971 fui transferido para o BC5 em Campolide Lisboa, para tirar a especialidade de Transmissões de Infantaria.

Nesse mesmo ano de 1971 fui mobilizado pelo RI15 de Tomar, tendo como destino a província de Moçambique, mais concretamente METARGULA distrito do Niassa, para ali chegarmos utilizamos o barco, comboio, camião e lancha visto que era uma ilha.

Ano 1970 - Primeiros tempos da minha vida militar

Embarquei para Moçambique em Outubro de 1971, viagem efectuada no navio "Niassa". Sabendo que nesse mesmo barco embarcou também o António José (Senhora Ilda do talho) marido da Lúcia Lucas, levei cinco dias para o encontrar. Na maioria das noites dormi ao relento, pois o sitio recomendado e destinado na viagem era do pior que possam imaginar.

Ano 1971 - "Niassa" o barco da viagem

Adeus terras da Metrópole
Que eu vou pró Ultramar
Não me chorem, mas alegrem-se
Que eu hei-de regressar

Ano 1971 - Quadra muito usual na época

Na altura o meu primo Tó Rifona estava em comissão em Luanda (Angola) como se sabia que os barcos para Moçambique faziam normalmente escala nessa cidade, a minha tia Palmira (sua mãe) pediu-me para lhe levar umas chouriças, que me prontifiquei levar. Já no decorrer da viagem diziam-me que havia um cheiro nauseabundo no sítio da minha bagagem, na realidade isso acontecia, verifiquei e eram então as chouriças que se estragaram e deitavam esse cheiro, foi tudo deitado ao mar e até os peixinhos se devem ter queixado com tão horrível presente.

Ano 1971 - Quartelamento de Metargula

Ano 1971 - No meu posto de serviço sempre activo

Ano 1972 - Momentos de pensamentos para a Irene (namorada)

Ano 1972 - O guerreiro posando para o retrato

Na chegada a Lourenço Marques, eu e o António José fomos dar um passeio, nisto vejo o Carlos "Verdasca" com um familiar, dei conta da minha visão ao António Zé e ele nem queria acreditar. Entramos no Restaurante e era mesmo ele na companhia de um familiar, ofereceram-nos o jantar, apanhamos uma bebedeira que confundimos uma chaminé de uma padaria com o barco, o que nos provocou um atraso que quase impedia a continuação da nossa viagem, lá baixaram uma escada de corda e lá seguimos ainda entrar no barco.

Ano 1972 - Refeitório (hora do "tacho")

Ano 1973 - Exposição de minas dos mais variados formatos, já desactivadas e que tinham estado activadas para aleijaram muitos de nós

Ano 1973 - Não sendo aviador mas era capaz de colocar
no ar aquele gerigonça do avião

Ano 1973 - Testando o avião vendo ao longe o horizonte,
da Metrópole, só apetecendo fugir

Ano 1972 - A falar para a rádio (envio de mensagem)

Ano 1972 - Mina anti-carro ainda activada trabalhos de desactivação

Passei uma comissão sem grandes atropelos o meu maior medo era que acontecesse alguma coisa ao António Zé, pois do sitio onde me encontrava via os ataques ao quartel dele, e por via rádio recebia muitas vezes más noticias.
Fizemos a viagem juntos até aquela zona em Moçambique, estivemos em comissão muito próximo um do outro, por estranho que pareça não tivemos oportunidades de encontrarmo-nos. Mas na única oportunidade que isso aconteceu passei por ele e não o reconheci, pensei que tivesse abalado, quando os meus colegas me disseram que ele estava barbudo como o Pai-Natal e por isso não o reconheci.
Por falta dessas oportunidades não tenho por isso registo de fotografia com o António Zé (talho).

Ano 1972 - Os guerreiros também merecem descansar


Nota complementar

Regressei à Metrópole em Outubro de 1973, precisamente dois anos da minha chegada ali, para cumprir o meu dever. Tive a felicidade de para mim ter corrido tudo bem, o mesmo não poderão dizer outros de uma guerra que nem sabias muito bem o porquê de existir e à qual demos parte do nosso precioso tempo da nossa juventude. Passei à disponibilidade em 16 de Novembro de 1973

* Gabriel Lopes Pina (2011)


José Mendes de Pina *
Comissão em Moçambique 1963 - 1966

(Posto militar - Soldado)

Assentei praça em 5 de Maio de 1963, no RI 5 nas Caldas da Rainha, juntamente como o António José Leitão e o António M. Pereira (Cebola). Fui depois para Mafra tirar a especialidade de Transmissões de Infantaria, que durou um pouco mais de dois meses, onde me encontrei novamente com o conterrâneo António José Leitão.

Ano 1964 - Com dois camaradas vaidosos por estramos em pose

Fui mobilizado pelo RAL.1 em Outubro de 1963 tendo como destino a província de Moçambique, para onde embarquei no navio "Niassa" em 23 de Novembro desse ano.
Fui incorporado na Companhia 561 do Batalhão 562, que foi sediada em Tete (Furancunco), uma zona que no primeiro ano de comissão não teve movimentação de guerrilha, que só se veio a manifestar já no segundo ano em 1965, nessa altura já tínhamos uma certa experiência, bem conhecedores e integrados a nível ambiental na região, que foi muito importante e fundamental para um meio de controlo eficaz a todos os níveis.

Ano 1964 - Trabalhos comunitários construção de estradas

Ano 1964 - Trabalhos comunitários o do centro
é o meu cunhado J. L. Martins que vive em Loriga

Tinha como camarada e com a mesma especialidade José Luís Martins conhecido pelo (bigodes) também natural do nosso Distrito da Guarda. Este camarada pede-me para lhe arranjar uma madrinha de guerra. Aconselhei a minha irmã Isabel, daí ter nascido o casamento e hoje ser meu cunhado, que veio a ser o obreiro para a construção do prédio "Cor-de-rosa" no Bairro das Penedas" em Loriga, onde se radicou, depois do regresso da França, onde ele e minha irmã estiveram emigrados durante alguns anos, onde ainda lá vive a filha e netos.
Com estávamos numa Zona em que a guerrilha não era expressiva, a nossa comissão foi praticamente toda ela dedicada ao serviço de Psicossocial em prol da população autóctone, que para além de muitos trabalhos em construção e conservação de estradas e povoações, algumas das operações de actividade operacionais efectuadas eram em missão de reconhecimento. Também fazíamos alguns espectáculos dirigidos à população civil, onde muitas da vezes coloquei os meus dotes artísticos, por isso ser conhecido por "Pina do Diabo".

Ano 1965 - Limpeza das armas

Ano 1965 - O meu Pelotão da Companhia 561

Os aerogramas era o meio de correspondência grátis para os militares, muito utilizado para se corresponder com a família e com outros camaradas. Para o efeito todas os aquartelamentos, batalhões, companhias, destacamentos etc., tinham um número SPM (Serviço Postal Militar) o da minha companhia tinha o número 1794. Apenas como registo e para recordar, aqui transcrevo um aerograma, que guardo como recordação e que enderecei ao António José Leitão em 22/09/1964, que cumpria a comissão na província do Zambeze.

Alguns apontamentos da transcrição deste aerogranma

Para: António José Leitão 1º Cabo nº 1484/63 SPM 1694
De José Mendes Pina Soldado nº 966/63 SPM 1794

"Furancungo 18/06/1964: Amigo António José cá recebi o teu estimado aerograma e nele vi tudo quanto me dizias, o que mais estimei foi a tua saúde, eu também graças a Deus com boa saúde. António José recebi o teu aerograma foi coisa que nunca esperava fiquei muito contente ao receber o teu aerograma pois ao menos já me fico a corresponder com mais um amigo da terra……….. Já que te escreves com o "Rápido" e o Ferrão pedia-te o favor de me mandares as direcções deles. …. Eu também me escrevo com o José Fontes e para já te envio a direcção. José Pinto Fernandes 1º Cabo Enfermeiro nº 2253/63 SPM 1814 etc.. etc.. etc.."

***

Regressei à Metrópole no dia 4 de Abril de 1966, viagem efectuado no navio "Quanza" completando em Moçambique 28 meses de comissão ultrapassando em muito os normais dois anos que pertenciam.


Nota Complementar

Regressei do Ultramar com o dever cumprido, de muito ter feito a favor das populações locais e ao mesmo tempo de ter regressado em bem. Voltei a Loriga para o meu trabalho na fábrica de lanifícios Nunes & Brito, dentro de mim começou a surgir a ideia de emigrar o que aconteceu em 1969, numa rocambolesca viagem para a França, por culpa de um passador, que é caso para dizer, "comi o pão que o diabo amassou" mas consegui ir em frente, talvez preparado ainda com muita da minha força dos meus tempos do Ultramar.
Deixei a França em 1994, regressando a Loriga, explorei o Café Neve, e entretanto reformei-me. Hoje continuo levando uma vida saudável com longos passeios pelos caminhos rurais da nossa Loriga, que não deixo de assinalar com montinhos de pedras, para que outros não se percam nos matagais.

* José Mendes de Pina (2010)


José Brito Calado *
Comissão em Moçambique 1971-1973

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa em 5 de Julho de 1971, assentando praça em Coimbra no RAL 2 CICA4, onde também tirei a minha especialidade de Condutor de pesados. Fui mobilizado logo a seguir de tirar a especialidade, tendo como destino a província de Moçambique para onde segui em 16 de Novembro de 1971.

Ano 1971 - Coimbra, tempos da recruta

Ano 1971 - Coimbra, dia do Juramento de Bandeira

Ano 1971 - Coimbra, meu pelotão da recruta

Ano 1971 - Coimbra, Com alguna camaradas da recruta

A viagem para Moçambique foi já efectuado de avião, nessa altura, o transporte dos militares já se estavam a realizar via aérea, bem como, o regresso também foi efectuado por essa via, assim era evitada a longa viagem de navio, que para aquela província ultramarina chegava a durar cerca de doze a quinze dias.
Cheguei a Moçambique tendo ficado sediado na bela cidade da Beira, tendo a especialidade de condutor, como é fácil de compreender e estando numa cidade, estava sempre em actividade, tendo a maioria das minhas missões sendo desencadeadas a favor comunitário, a nível das localidades e suas populações.

Ano 1971 - Cidade da Beira, o avião que me transportou

Ano 1972 - Moçambique, com uma das viaturas que conduzia

Ano 1972 - Moçambique, numa operação algures por terras Moçambicanas - curioso já ser tirada a cores esta foto

Na Beira encontrava-se também a fazer a comissão o conterrâneo José Jorge, que era Policia Militar e com o qual me encontrava, no entanto, não tenho o registo em fotografia. Tive uma comissão por terras Moçambicanas, que de certa maneira poderei dizer não ter sido muito má, o mesmo não podem dizer muitos de outros nossos camaradas que nem todos tiveram sorte.

Ano 1972 - Perto da Beira, numa operação

Ano 1972 - Perto da Beira, ao serviço da comunidade

O meu irmão António passou na cidade da Beira em Outubro de 1973, quando da sua viagem de barco para Macau, onde cumpriu a sua comissão. Estando eu nesta cidade da Beira, lamentavelmente não nos encontrarmos por falta de alguma informação que não chegou até mim, nomeadamente de pessoas lá na Beira.

Ano 1972 - Beira, Com a viatura que conduzia

Ano 1972 - Beira, com um macaquito

Ano 1973 - Beira, usando os meus dotes de culinários

Nota Complementar

Decorria o Ano de 1973, quando com alguma surpresa recebi a notícia da mobilização do meu irmão António, para a província de Macau. Segundo se sabia não podiam ser mobilizados dois irmãos, no entanto, isso aconteceu na minha família, eu estava em Moçambique e o meu irmão é também mobilizado, só que o destino dele foi para o longínquo Macau, onde fez os dois anos da sua comissão. Por isso se pode compreender, se leis existiam não eram para todos.

* José Brito Calado (2010)


António Moura Pinto *
Comissão em Angola 1974-1975

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa em 20 de Outubro de 1973, na Guarda onde fiz a recruta que terminei em 3 de Janeiro de 1974, seguindo no dia seguinte para Lisboa com destino ao BC.5 (Campolide) para tirar a especialidade de Transmissões e onde fiquei até Junho desse ano.
Entretanto, acontece o 25 de Abril a chamada Revolução dos Cravos, começando então a viver-se uma nova era em Portugal, começou até já a ser imaginativo em muitos, que com a mudança politica, provavelmente iria ficar suspensa o envio das tropas com destino ao ultramar português.
Certo que nada disso se passou e, em Junho sai a minha mobilização, com destino Angola, tendo em 1 de Julho seguido para Santa Margarida, no sentido de ser integrado na Companhia de Cavalaria 8440, tendo-me ali mantido cerca de um mês.
Em 1 de Agosto de 1974, embarquei para Angola num avião da TAP, nessa altura os transportes de tropas já estavam a ser efectuadas via aérea, terminando aquele calvário do transporte por barco, que por norma demorava cerca de 10 dias até chegar àquela província portuguesa.

Chegamos a Luanda, tendo a viagem decorrido em cerca de 8 horas, logo à saída do avião veio-nos o cheiro de África, por momentos parecíamos surpreendidos, que ainda oito horas atrás estávamos em Lisboa e ali estávamos nós para enfrentar o desconhecido.
Tivemos com destno o norte de Angola, ficando a minha Companhia 8440, sediada na Fazenda da "Maria Fernanda" (Carmona) numa zona bem a 100% operacional e ondei nos mantivemos durante 4 meses.

Ano 1974 - Destacamento "Fazenda Maria Fernanda" norte de Angola

Ano 1974 - Embelema da Companhia

Ano 1974 - Norte de Angola com colegas

Ano 1974 - Noma operação norte de Angola

Foram várias as operações militares em que entrevi, praticamente todas elas de reconhecimento, no entanto, a minha Companhia registou 4 baixas mortais, todas elas motivadas por acidente. Uma das mortes aconteceu mesmo ao meu lado, quando a "Berliete" em que viajávamos apanhou um buraco, que projectou o nosso furriel e o fez cair e ser de imediato apanhado pelo rodado da viatura, ficou gravemente ferido mas morreu logo depois.

Ano 1974 - Norte de Angola, no posto de vigilia

Ano 1974 - Norte de Angola, escrevendo dando noticias á família

Ano 1974 - Norte de Angola, uma viola para matar saudades

Ano 1974 - Norte de Angola, o dever de proteger a população

Ano 1974 - Norte de Angola, missão e dever de proteger a população

Ao fim de quatro meses no norte, fomos transferidos para Nova Lisboa (hoje Huambo) para o Quartel 21, onde estivemos também cerca de 3 meses (Novembro 1974 a Fevereiro 1975).
Durante a minha comissão não tive a sorte de me encontrar com colegas militares loriguenses, no entanto, em Nova Lisboa (hoje Huambo) encontrei-me com o senhor António Moura Pinto, que ali estava radicado, em Luanda encontrei o nosso bem conhecido conterrâneo José Paixão que ali vivia e trabalhava.

Ano 1975 - Nova Lisboa, sempre atendo com o dever de vigiar

Ano 1975 - Quartel 21 em Nova Lisboa, como é de reparar, curioso é já ter algumas fotos a cores que na época era um luxo

Os ecos da independência já se faziam sentir, as negociações já estavam a decorrer, nós sentíamos já esses efeitos, por isso era um viver de expectativa e de certa ansiedade, mesmo parecia já termos sempre presente que já não seria por muito mais tempo que iríamos estar em Angola.
De Março a Outubro de 1975, fomos enviados para Benguela, mais ao Sul de Angola, onde passei os restantes 8 meses da comissão, quando nessa altura já estava em curso as transferências das unidades militares portuguesas para os Movimentos Revolucionários.

Ano 1975 - Benguela, momentos de divertimento

Ano 1975 - Benguela, gozar um tempo de praia

Ano 1975 - Benguela, lendo as revistas da ocasião

Ano 1975 - Benguela, gozar o merecido descanso

Ano 1975 - Benguela, posar para o fotografo

Ano 1975 - Benguela, com um meu camarada dia de "farra"

Regressei à Metrópole em 26 de Outubro de 1975, regresso também efectuado de avião, precisamente quinze dias antes do dia 11 de Novembro de 1975, o dia que foi proclamada em Luanda a independência de Angola.

* António Moura Pinto (2010)

Nota Complementar

Pertenci a um dos últimos bastião da campanha da guerra colonial, passamos a nossa comissão em terras de Angola já debaixo da Liberdade que tinha surgido com o 25 de Abril, por esse motivo notamos sempre uma grande tensão que não sabíamos como iria terminar.
Ouviu-se dizer que o nosso exército perdeu a guerra que se arrastava acerca de 14 anos, mas não é verdade, a guerra se foi perdida foi pelos políticos de antes e depois do 25 de Abril, nós o militares demos tudo o que tínhamos e parte das nossas vidas com sacrifícios e privações, mas com a certeza de termos contribuído para o progresso dessas terras angolanas e suas populações.

Regressamos ao nosso cantinho na Europa, cientes do dever cumprido, nessa altura vivia-se também pelo nosso país tempos conturbardes, fruto de uma definição que levou algum tempo a impor-se.


António Brito Calado *
Comissão em Macau 1973-1975

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa em 6 de Fevereiro de 1973, tendo assentado praça no Regimento de Infantaria 14 em Viseu. Depois de completar a recruta fui transferido para Évora para tirar a especialidade de atirador de artilharia de "obuses" 8-8 e 14.
Após ter tirado a especialidade fui promovido a primeiro-cabo tendo sido transferido para o RAL1- Rotunda da Encarnação em Lisboa, onde vim a ser mobilizado.

Quando se entrava para a tropa, nessa altura, na mente de todos nós, estava sempre presente a ideia de que ao sermos mobilizados lá iríamos parar a Angola, Moçambique ou Guiné, as três frentes da guerrilha. Por conseguinte foi com enorme surpresa ao ser mobilizado para Macau.

Ano 1973 - A bordo do navio "Timor"

Depois da confrontação de ter com destino o longínquo Macau, seguiram-se os dias de ansiedade e ao mesmo tempo uma enorme curiosidade, ao mesmo tempo numa certa expectativa de como me iria dar do outro lado do mundo bem junto à China, países de outras culturas, de usos e costumes bem diferentes da Europa e África.

Ano 1973 - O "Ti António Farias" a fazer-me a última barba antes da partida para Macau

Ano 1973 - Procissao de S.Sebastião já mobilizado

Dizia-se na altura, que existia uma lei, que dois irmãos não se podiam juntar a cumprir comissão no Ultramar, só que parece que essa lei não era para todos, porque o meu irmão José ainda estava a cumprir a sua comissão em Moçambique e eu fui também mobilizado.

Ano 1973 - Viseu, primeiros dias de tropa, na foto lado direito está também o meu cunhado António

Embarquei para Macau no navio "Timor" em Outubro de 1973, sabíamos que iria ser uma viagem de cerca de um mês com escalas em vários portos ultramarinos. Uma dessas escalas foi na cidade da Beira (Moçambique) onde se encontrava o meu irmão a cumprir a sua comissão, por isso, até levava comigo uma encomenda. Só que por motivos imprevistos e ainda por falta de colaboração de algumas pessoas, não foi possível o ver, o que me marcou para sempre e muito lamentei.

Ano 1974 - Macau, Cartão de Livre trânsito usado em Macau

Ano 1973 - Évora, a tirar a especialidade

Ano 1974 - Macau, ainda tempo para acrobacia

Chegamos a Macau em Novembro de 1973, ficamos sediados no Quartel da Guia o ponto mais alto de Macau, desde logo notamos a diferença tal como esperavamos, na realidade estavamos noutro mundo, noutras terras, com outras gentes e outros usos e costumes, que nada parecia fazer lembrar a Europa.

Ano 1974 - Macau, Dando tiro de salva (Quartel da Guia)

Ano 1974 - Macau, Com o Tenente Graca na festa do Natal no Quartel

Ano 1973 - Dili-Timor, escala nesta cidade ainda houve tempo para um jogo de futebol

Ano 1974 - Macau, descanso do guerreiro

Ano 1973 - Macau, pouco tempo depois da chegada

Ano 1974 - Macau, "taxista" à moda chinesa

Ano 1974 - Executante de timbalão na Fanfarra Militar

Ano 1974 - Macau, junto do famoso casino desta cidade

Ano 1974 - Macau, futebol Futsal entre oa camaradas

Ano 1974 - Macau, o famoso monumento de referência desta cidade

Ano 1974 - Macau, era assim o porto-mar

Regressei à Metrópole em Maio de 1975, onde já há um ano se vivia a liberdade depois da revolução dos cravos no 25 de Abril de 1974. Viemos encontrar o país um pouco confuso e ainda sem um rumo definido. Quando partimos de Macau, tinha-mos já conhecimento que em Timor também já se estava a viver uma certa instabilidade de fraqueza, que veio a culminar, quando logo a seguir de o governo português ter dado a independência nas outras províncias ultramarinas, forças militares indonésias invadiram a 7 de Dezembro de 1975 aquela antiga colónia portuguesa, que eu conheci e a passei a recordar por ter ali passado, quando fui para Macau..

Nota Complementar

Não estive nas províncias com o cenário de guerra. A minha comissão em Macau resumia-se numa presença militar numa da província do império português além-mar, neste meu caso bem lá longe. Contribuí com algum tempo da minha mocidade a favor da Pátria, em terras que se diziam também ser Portugal, que apesar de terem usos e costumes diferentes, estou convicto de em certa forma, termos também contribuído para o bem-estar dessas terras e suas populações.

Recordo que Macau foi o último bastião do império português, passando para Região Administrativa Especial da República Popular da China, nos primeiros momentos da madrugada do dia 20 de Dezembro de 1999, deixando a partir desse dia de pertencer a Portugal que a colonizou durante mais de 400 anos. No entanto, por aquilo que conheci enquanto lá estive, estou certo que algo da presença portuguesa se manterá para sempre enraizada naquela antiga província portuguesa hoje terra chinesa.

* António Brito Calado (2010)


Carlos Alves Brito *
Comissão em Angola 1967-1969

(Posto militar - Soldado)

Assentei tropa na Guarda em Abril de 1967, onde fiz a recruta. Fui depois para Amadora para o Regimento de Infantaria 1, onde tirei a especialidade de armas pesadas (MG) de Artilharia.
Fui mobilizado em Setembro de 1967, tendo seguido para Torres Novas para ser integrado na Companhia de Artilharia 1764, do Batalhão de Artilharia 1928 "Os Arietes", que tinha como destino a província de Angola, para onde embarcamos no navio "Niassa" no dia 10 de Outubro desse ano, tendo desembarcado em Luanda no dia 22 desse mês.
Alguns dias em Luanda no Quartel do Grafanil e no dia 29 foi efectuada a viagem do nosso Batalhão com destino para a região São Salvador, norte de Angola, ficando a minha Companhia 1764 sediada em Pangala zona fronteiriça com a RDCongo.

Tinha-mos a responsabilidade de uma área extensíssima (um losango com eixos de 50x40 Km.), sem informações houve que desenvolver um esforço de cobertura com saídas permanentes em normalizações e emboscadas de tal ordem, que durante o período se consumiram cerca de 18.000 rações de combate em 16 meses.

Ano 1967 - Simbolo do Batalhão 1924

Ano 1967 - Acampamento de Pangala

Ano 1968 - Numa operação algures no norte de Angola

Ano 1968 - Perto de Pangala com meus colegas Lopes e Raimundo

Não foi só na zona da nossa responsabilidade que fazíamos operações, como também, executamos outras várias operações e algumas de grande duração na falda W da Serra da Canda, o que granjeou à Companhia o cognome de "Os Arietas do Canda"
Mesmo assim a actividade da minha Companhia por aquela paragem do norte de Angola, não se limitou no campo operacional, apesar do pouco tempo disponível para outras actividades, mesmo assim, executamos várias obras que contribuíram para o nosso bem estar e das populações, como foi o caso da instalação eléctrica, esgotos (reparação sanitárias), tanques para a lavagem de roupa, cozinha, captação de água, postos de vigilância (reparação de alguns e feitos outros), colocação de arame farpado etc..

Ano 1968 - Pangala, ao serviço da comunidade

Ano 1968 - Pangala, serviço de Rádio único contacto com o mundo

Ano 1968 - Pangala, hora do banho no rio

Ano 1968 - Pangala, lugar simbólico que construímos no nosso aquartelamento

Em Março de 1969 fomos transferidos para Beu, passando a minha Companhia 1764, a ter a responsabilidade de uma ZA totalmente diferente de onde estávamos. Com uma área aproximada a 5.000 Km2 (aproximadamente a área do Minho) e uma população na ordem das 20.000 almas dispersas por cerca de 120 Sanzalas, houve que nos adaptarmos à nova área o que não foi fácil.

Ano 1968 - Pangala, lavando a roupa

Ano 1968 - Pangala, os lençois já lavados

Ano 1968 - Pangala, água potável

Ano 1969 - Beu, Com os colegas da secção

Ano 1969 - Beu, Fazer a "tosquia"

Ano 1969 - Pangala, num Gipe a precisar de reparação

Ano 1968 - Pangala, perto do aquartelamento

Apesar de termos estado sempre em Zonas de grande intervenção, a minha Companhia apenas teve duas baixas, com a morte de dois dos nossos colegas por acidente, aliás, o total da baixas ocorridas no nosso Batalhão foram 5 e todas elas de acidente. Dois na minha Companhia 1764, dois na Companhia 1763 e um na Companhia 1765.
Quando termina-mos a comissão, todos os da minha Companhia chegamos à conclusão de nos dar-mos por felizes de só terem morrido dois dos nossos colegas, tendo em conta a campanha de muitas operações pelos matos, frequentes colunas de reabastecimento por perigosas "picadas", com várias missões de risco e combate e também de muitas rações de combate que tivemos que comer, não há dúvidas que a minha Companhia foi feliz.


De regressei à Metrópole e ainda em Luanda encontrei-me ali com o Tó Pina, filho do senhor Joaquim Almas e em Dezembro de 1969 chegava a Lisboa a bordo do navio "Império".

* Carlos Alves Brito (2010)

Nota Complementar

Quando cheguei à Amadora encontrei-me com o amigo Adelino Pina "Palha" na altura já mobilizado e prestes a embarcar com destino a Angola, de onde eu acabava de chegar.

Só depois de já estar na Metrópole, a que comecei a recapitular todo o passado desde há dois anos para atrás, quando do meu embarque de Lisboa, como que parecia estarmos a dar um "salto" para o desconhecido e como iria decorrer a nossa permanência em Angola.
Nessa dúvida que tínhamos à partida e que pairava em todos nós sobrepunha-se numa certeza, de que estávamos dispostos a dar tudo por tudo, a oferecer o melhor do nosso esforço e boa vontade, do nosso poder e saber, fosse onde fosse e fosse em que circunstâncias fossem, em prol da Paz e do Progresso de Angola e Portugal. Realizamos impossíveis, ultrapassando-nos a nós próprios, sofremos sacrifícios inumeráveis, suportamos privações de toda a ordem, mas a fundamental missão que nos foi confiada cumprimo-la, temos a certeza disso, com honra e galhardia e orgulhosamente atingimos o termo de dois anos de comissão em plena consciência do dever cumprido.


António José Cabral Leitão *
Comissão em Moçambique 1963-1966

(Posto militar - Cabo)

Entrei para a recruta na Caldas da Rainha em Maio de 1963 juntamente com o Zé Pina (Sabanico) e o António Pereira "Cebola". Um quartel impecável novo com boas louças das Caldas, muita limpeza e também muito suor durante toda a recruta. Dali parti para Mafra para tirar a especialidade, foi um tremendo choque, quartel velho, escuro, húmido, com uma taxa de ocupação tremenda e muito má comida. Ali me encontrei com o Zé Alberto Urtigueira e também e uma vez mais com o Zé Pina "Sabanico".
Tinha a especialidade de transmissões. Todas as estradas daquela região de Mafra foram por mim calcorreadas de arma e rádio na mão em muitos exercícios intermináveis, muita fruta surripiamos por todas aquelas quintas de noite e de dia. Como era de esperar depois da recruta e feita a especialidade fui mobilizado, sendo enviado para Cavalaria 7 na Ajuda. Depois foram dez dias de instrução nocturna entre a Trafaria e a Fonte da Telha, para estarmos prontos para a guerra colonial.

O meu Batalhão era o 571, do qual também faziam parte o Abílio "Rápido" e o António Ferrão. Embarcamos no dia 10 de Outubro de 1963 no navio "Pátria", mas só soubemos que o nosso destino era Moçambique, quando estávamos em pleno alto mar.

Ano 1963 - Partida de Lisboa do navio "Pátria"

Ano 1963 - Emblelema do Batalhão

Ao fim de 10 dias uma paragem em Luanda, e então sim sintimos pela primeira vez o cheiro da África. No outro dia seguimos viagem para Moçambique onde chegamos no dia 28 a Lourenço Marques, tendo aí ficado o António Ferrão, que como era condutor, ficou ali para se treinar no trânsito pela esquerda e nós lá seguimos ao longo da costa com destino a Nacala.
Ao desembarcarmos em Nacala aguardava-nos uma terrível trovoada tropical, que nos obrigou a refugiarmo-nos debaixo do comboio ficando com as nossas malas de cartão desfeitas. Nova viagem de comboio de longas horas até Iapala e depois novo transbordo desta vez para machibombos.
Por caminhos lamacentos e cheio de buracos atravessando rios e riachos e pontes e pontões lá chegamos finalmente. Tendo o Abílio "Rápido" ficado no Alto Molocué onde ficou a sua companhia 568, a 1ª. do Batalhão, seguindo eu para Mocuba onde fcou sediado o Comando do Batalhão -
"Mocuba terra de raça onde os caminhos se cruzam e a Zambézia se abraça".

Ano 1963 - Hospital de Mocuba

Ano 1964 - Mocuba com um Tigre

Ano 1964 - Mocuba dando noticias à família

Ano 1965 - Mocuba fui Àrbitro num desafio
futebol Norte-Sul (1-3) auxiliares Juvenal e Barros

Ano 1964 - Mocuba no refeitório

Ano 1964 - Mocuba ano da Taças das Taças que o Sporting ganhou

No Alto do Molocué havia um Hospital de Leprosos onde estava um loriguense Artur Pinto, na altura Frade. Em Mocuba vivia o loriguense António Ribeiro e estava ali sepultado o seu irmão Fernando Ribeiro que tinha morrido num acidente de motorizada, assim como, também vivia ali um senhor irmão do senhor João Galvão de Valezim, que sendo comerciante de sapataria era muito popular e muito entusiasta de desporto local como árbitro e dirigente. Tinham duas filhas muito simpáticas, que frequentavam a vida social local.
Felizmente na zona onde estava-mos sediados, a guerrilha foi pouco expressiva, aliás, desde que chegamos e durante um ano ainda não se tinha manifestado, o que só aconteceu já no meio da nossa comissão, nessa altura toda a nossa experiência e ambientação à região foi de facto fundamental para levarmos sem problema o resto da comissão. No entanto, o meu Batalhão registou dois colegas mortos, um de doença e outro de acidente.

Ano 1964 - Ponte Lugela com António Ferrão

Ano 1964 - Mocuba lendo o Jorna "A Neve"

Ano 1964 - Ponte Lugela sobre o rio Lugela

Ano 1965 - Mocuba assistindo a um jogo de futebol

Ano 1964 - Mocuba servindo na Messe dos Oficia (Dia de Festa)

Ano 1965 - Quilimane apoiando a Académica de Coimbra de visita a esta cidade

Ano 1965 - Despedida ao Sargento Pereira

Ano 1964 - Mocuba Uma Sanzala vizinha

Ano 1964 - Mocuba Limpeza às camas (caça aos Percevejo)

Na altura na região nasceram duas crianças gémeos siameses, tendo a noticia circulado bem depressa, os médicos militares e locais viram-se assim perante uma situação, que na altura os meios ainda não eram avançados, para fazer a operação de separação. Foi levada a efeito a operação por um grande médico de Moçambique auxiliado pelos médicos militares, na realidade, era uma situação muito complicada e de alto risco. A operação veio a confirmar esse risco, terminou sem êxito com as crianças a falecerem pouco depois.

Foto das crianças gémeos siameses

Quando fomos para o Ultramar e começamos a nossa comissão, na altura, ainda não se usavam os fatos camuflados, que só os viemos a ter já íamos com mais de um ano de estarmos em Moçambique.

Ano 1965 - Mocuba, confraternização com os meus camaradas

Ano 1965 - Mocuba, quando começamos a usar o camuflado

Se para Moçambique tínhamos ido três loriguenses, eu, António Ferrão e Abílio "Rápido" na viagem de regresso viemos seis, pois também regressaram connosco o Alferes José Carreira hoje no Brasil, o António Simão agora na América e José Fontes emigrante na Holanda.
Na viagem de regresso passamos pela Beira, eu e o António Ferrão tínhamos à nossa espera o nosso conterrâneo Zé Ferreira filho da senhora Júlia, na altura a prestar serviço militar na Força Aérea. Fomos também visitar o senhor Ramiro, casado com a senhora Filomena Moita, que trabalhava nos caminhos de ferro, que nessa altura já ali se encontrava sozinho, visto que a sua mulher e filhas já algum tempo que tinham regressado para Loriga.
O barco fez escala em Luanda, aproveitamos e visitamos alguns conterrâneos, o senhor Albano Neves e esposa, o senhor José Amaral e encontramos também o Guilherme Firmino, que nos levou a casa da sua prima D. Aurora Prata, que não só teve a gentileza de nos convidar para o almoço, como nos mostrou a linda cidade no seu "Carocha" .
Chegamos a Lisboa no dia 1 de Março de 1966
.

Último convívio realizado em Sines 02/05/2009
Hoje os convívios anuais estimulam os tempos passados cheios de recordações.

***

* António José Cabral Leitão (2010)

Nota Complementar

A minha guerra começou em 1962, quando os nascidos em 1942 se juntaram em Loriga, para o dia da inspecção.
Nesse ano houve a primeira inovação, pois o António "Abelha" resolveu alugar uma camioneta para o dia da inspecção, seguindo-se uma segunda inovação, de pela primeira vez, que eu me lembre, não houve foguetes à chegada a Loriga, porque todos concordamos que tendo começado a guerra em Angola o mais provável era a nossa mobilização para as várias frentes que se pensava que viessem a surgir noutras colónias. O dinheiro que se havia de gastar nos foguetes foi gasto num beberete na cave do Café "Neve" do "Ti Zé Maria".

Regressamos ao nosso cantinho na Europa, após cumprirmos a missão que a Pátria pedia para sacrificarmos as nossas vidas, fizemos as nossas famílias sofrer, ganhamos amizades e eternas, que hoje os convívios anuais estimulam.
Nós não perdemos a guerra, demos tempo a que os políticos de antes e depois do 25 de Abril, pudessem resolver o conflito a bem da Comunidade Lusíada. Conseguiram-no?.. "Cada um terá a sua resposta a História ainda não foi escrita...."


António Brito Mendes *
Comissão em Angola 1967 -1969

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa em 3 de Maio de 1966, fiz a recruta na Carregueira linha de Sintra. Fui depois tirar a especialidade de Rádio Telegrafista ao Porto onde estive até Agosto.
Depois da especialidade fui colocado em Sacavém a dois passos de casa, onde ia dormir a quase todos as noites. Para isso tinha diariamente a respectiva autorização. Só que um dia pensei que não valia a pena estar a pedir a autorização, desenfiei-me, pois foi um erro, correu mal e fui apanhado em falta. Tendo então apanhado 10 dias de detenção que foram suficientes para não ser promovido a Cabo com me competia, o que penso ter sido uma injustiça, só por causa de apanhar esse castigo.

Fui mobilizado em Abril de 1967 e no mês seguinte embarquei no navio "Angola" com destino a Angola, fui em rendição individual, por isso mesmo, a minha comissão só começou a contar quando cheguei aquela província ultramarina.

Estive no Zala norte de Angola, sendo incorporado na companhia de caçadores 1582 pertencente ao Batalhão de Caçadores 1892. Mais tarde seguimos para o Leste de Angola onde fiz todo o resto da comissão.

Ano 1968 - Posto Rádio em Hemrique Carvalho.

Ano 1968 - Posto Rádio de destacamento de Chiluage.

Foram muitas as operações efectuadas por terras do Leste de Angola, apesar de termos tido alguns problemas, felizmente tudo correu bem à minha companhia e mesmo aos pelotões nos quais também estive integrado. Lembro-me até de um dia termos tido um tiroteio infernal em Cangamba, mas felizmente não tivemos baixas nem feridos.
O mesmo se não poderá dizer das outras companhias do Batalhão 1892, que durante a comissão tiveram 3 baixas, mas nenhuma delas em combate, uma de acidente e as outras duas por doença.

Ano 1968 - Com um Pelotão em patrulha de reconhecimento no Dala.

Ano 1968 - A transmissão de ocorrência
em plena operação algures no Leste de Angola.

Ano 1968 - Em Chiluage com o Alferes Pinto de Sousa
comandante do destacamento.

Ano 1968 - Em Chiluage com um Pelotão da Companhia
Caçadores 1582, num momento de descanso.

Só me lembro ter encontrado um conterrâneo loriguense, creio que foi em Balacende, só que não me recordo já bem do nome, mas penso que se chamava António Cardoso, infelizmente não registamos esse nosso encontro em fotografia.

Ano 1968 - Em Henrique Carvalho com dois dos meus melhores Amigos Miguel (Penacova-Coimbra) e Costa do norte.

Ano 1968 - Na cidade do Luso (hoje Luena)

Ano 1968 - No destacamento de Chibuage, o Pelotão num momento de descanso com o Comandante Alferes Pinto de Sousa a tocar viola.

Ano 1968 - No Descamento do Cangamba, refrescando as gargantas para matarmos a solidão e o isolamento.

Ano 1968 - Na passagem de nível na cidade do Luso (hoje Luena) na estrada que seguia para Henrique Carvalho. Conhecia esta cidade muito bem onde ia muitas vezes em serviço de escolta.

**

Regressei à Metrópole em Julho de 1969 (nesse mês descia na Lua o primeiro homem - Neil Alden Armstrong), a viagem de regresso foi no navio "Vera Cruz" que demorou 9 dias de viagem até Lisboa. Cumpri 26 meses de comissão, as companhias por onde andei já tinham regressado por terem terminado a comissão, mas eu como era de rendição individual ainda andei integrado por outros lados até terminar o meu tempo. Por isso, ter tido mais dois meses e tal de comissão quando o normal pertencia 24 meses.

* António Brito Mendes (2010)

Nota Complementar

Poderia ter sido pior a minha comissão de serviço na guerra do Ultramar, como era Telegrafista tive que alinhar em muitas operações pela mato e muitas das vezes estar destacado em destacamentos isolados, em que o único contacto que tínhamos com outros lugares era através das comunicações pela via Rádio Telegrafista.
No entanto, marcou a minha vida militar aqueles 10 dias de detenção, quando o sistema era lesto a castigar, mas era lento a dar o valor e não reconhecendo como valor o tempo que passamos nas nossas comissões, muitas vezes em operações pelos matos desconhecidos e a convivermos de perto com o perigo e porque não mesmo com a morte.

António Brito Mendes
(Rádio Telegrafista)


José Nunes Dias *
Comissão em Moçambique 1966-1968

(Posto militar - Soldado)

Fui para a tropa em Abril de 1966, assentei praça em Coimbra, depois da recruta o meu destino foi o Porto onde tirei a especialidade de condutor. Ao terminar a especialidade tive como destino Lisboa, para na Fábrica de Braço de Prata, onde fiz serviço de impedido. Ainda nesse ano de 1966 fui mobilizado para Moçambique, para onde embarquei em Outubro no navio "Império".
O meu destino foi o norte de Moçambique, integrado na Companhia de Caçadores 1618 conhecida como "Toupeiras da Selva". Quando chegamos a Moçambique seguimos ainda de barco até ao Porto Amélia e depois fomos para a região de Cabo Delgado - Mutamba dos Macondes (Mueda).
Foram muitas as operações que realizamos pelas terras do norte de Moçambique, foi nessa altura que teve iniciou o conflito em Moçambique. Durante a permanência naquela região tivemos 5 baixas sofridas em combate e ainda uma outra morte de mais um colega (este por acidente morto por um colega) e também tivemos 3 feridos 2 em estado muito grave.

Ano 1966 - Acampamento de Mutamba dos Macondes.

Ano 1966 - No "meu" camião para o transporte em operações.

Ano 1967 - Alguns momentos de operações algures no norte de Moçambique.

Em Mueda encontrei-me com o nosso conterrâneo Joaquim "Pistola" e depois mais tarde também me encontrei com mais dois nosso conterrâneos o António José da "Maria Teretesita" e também com o Carlos Melo. Um encontro também muito saudade foi aquele quando me encontrei com o senhor Ramires, radicado em Moçambique, marido da senhora Filomena Moita e pai da Irene, Lurdes e Zeca Moita, todos eles na altura já a viverem em Loriga. Destes encontros aqui descritos, infelizmente não tenho o registo fotográfico.

Ano 1967 - Numa picada perto do Mueda.

Ano 196 - Simbolo da nossa Companhia.

Ano 1967 - Num momenmto de divertimento.

Ano 1967 - Com o meu amigo "Chico"
um macaquinho encantador.

Ano 1967 - Caçamos uma cobra que andava por ali tão perto.

Ano 1966 - Com os meus dotes de alfaiate,
arranjando a minha roupa.

Com 5 baixas sofridas pela nossa companhia em combate e com a morte de mais um colega (este por acidente morto por um colega) e também 3 feridos 2 em estado muito grave, dava direito sermos transferidos para zonas mais calmas, o que veio a acontecer com a mudança para o Dondo perto da Beira, onde permanecemos cerca de 13 meses, os últimos da comissão.
Já na Beira tivemos ainda uma outra baixa de um colega, natural de Penafiel, ao ser comido por um crocodilo quando tomava banho num rio. Uma situação que nos chocou muito e que levou algum tempo a sarar esta
ferida.

Ano 1967 - A prevenção era essencial para nos mantermos sempre em vigilância, fosse qual fosse a especialidade que tivessemos.

Ano 1967 - Operação de evacuamento com o Helio em plena mata depois de um ataque.

Ano 1967 - Com o meu amigo "Chico"

Ano 1967 - Grupo dos Condutores da Compahia 1618 (Toupeiras da Selva).

Ano 1967 - Costuma-se dizer em Loriga
o que tapa o frio tapa o calor.

Ano 1968 - Até serviço de secretaria fiz

Ano 1967 - Na pista de aterragem no norte de Moambique

Regressei à Metrópole a bordo do navio "Niassa" em Dezembro em Dezembro de 1968, ao fim de mais de dois anos de comissão, tendo sentido bem no fundo o termo guerra.1968,

Nota Complementar

Com a especialidade de condutor nem tudo era fácil, o primeiro ano na zona de intervenção, o constante rotineiro do transporte de colegas para as zonas de combate, era de estar sempre em constante aviso, no entanto, dou-me por feliz ter tudo terminado bem para mim, o mesmo não o podem dizer as famílias dos meus colegas que tombaram em combate e dos outros meus colegas feridos.

* José Nunes Dias (2010)


Carlos Mendes da Costa *
Comissão em Angola 1971 -1973

(Posto militar - Soldado)

Entrei para a tropa na Guarda em 1971 tendo tirado a especialidade de atirador. Logo após tirar a especialidade fui mobilizado no Batalhão 3856 passando a pertencer à Companhia 3440. O destino do nosso Batalhão foi Angola para onde embarcamos no navio "Vera Cruz" em Setembro de 1971.
Chegados a Angola fomos para a "Funda" zona de Catete, onde tiramos ainda um outro i00. Para depois sim seguirmos para a região do Leste de Angola, uma das zonas, na altura, mais activa militarmente. Estivemos muito tempo em Chimbila.

Estive sempre praticamente em campanha de guerra. Foram muitas as comissões pelo mato, normalmente todas elas bem sucedidas. Devo confessar que alguns tiros me passaram ao lado por vezes muito perto, mas graças a Deus tive sorte.

1971 - Com o José Freire de Brito do Muro-Vide

1971 - Com a minha arma inseparável com o diagrama e respectivo cartucho balista

1971 - Numa operação em "Bico do Pato" (Lumege)

Tenho para mim o momento mais marcante quando no dia 1 de Maio de 1972, morreram 9 dos nossos camaradas pertencentes à companhia CCS do Batalhão, que caíram numa emboscada e foram apanhados desprevenidos. Primeiro uma granada de fumo para logo de seguida um fogo infernal de todos os lados que não deu hipótese de reacção e assim perdemos os nossos colegas. Nessa altura a minha companhia estava também em operação nessa zona e foi com grande tristeza e revolta ao termos conhecimento do que se tinha passado com os nossos camaradas, da companhia CCS do Batalhão.

1972 - Com o veiculoo chamado arrebenta minas

1971 - Fotografia antes de partirmos para uma operação.

1971 - Em Barraca (Catete).

1972 - Em Chimbila.

1971 - No navio "Vera Cruz" na ida para Angola.

1972 - Com o meu colega Manuel Martins da Silva (de camuflado)
natural de Apólia, que morreu junto a mim perto do Dala,
saltou do "Unimogue" para salvar todos os seus camaradas.

1972 - Junto do monumento dedicado aos tombados em combate.

O melhor tempo que passei da minha comissão foi quando estive no Luso (hoje Luena) a passar um mês de férias, por ter recebido um prémio do "O soldado mais bem comportado da companhia".
Foi um mês inesquecívelmuito e bem passado, onde me encontrei com o amigo Adelino "Palha" o Cabo Pina como assim era muito conhecido por toda a cidade. Passamos belos momentos e a quase todos os dias tínhamos as nossas "Migas". Nessa estadia na cidade do Luso estava adido à Enfermaria militar no Hospital da cidade, fazendo serviço de
"maqueiro" ocupação que me marcou por ter que conviver com feridos e mortos.

Um dos encontros com gente de Loriga que eu recordo com emoção, foi quando eu e o Adelino Pina "Palha", encontramos o senhor António Benito, motorista da Tecnil e da JAE, que trabalhava na construção de estradas. Recordo as palavras quando me viu "Ó Lóló dum raio também andas por aqui".
O "Ti António Benito" era já uma pessoa castiça naquela região, ele deslocava-se para todo o lado sem precisar de escolta, era já muito conhecido. Na altura chegou-m a dizer "Estou com ideias de regressar para a Metrópole, porque aqui já me anda a cheirar muito à pólvora". Pois ele sabia o que dizia, porque na realidade passado poucos anos tudo modificou. E ele regressou mesmo, segundo creio em 1975/76.

1971 - Com um "Cafeco" a minha lavadeira da roupa.

1971 - Na cidade do Luso com o amigo Adelino Pina a refrescarmos a garganta.

1971 - O navio "Vera Cruz" que me levou para Angola.

Regressei à Metrópole em 12 de Dezembro de 1973 viagem de avião, demoramos cerca de 8 horas em contraste com a ida que demoramos 9 dias de barco.

Nota Complementar

Passei uma comissão em sobressalto, as missões militares sucediam-se umas atrás às outras e nos primeiros anos de regresso à Metrópole, pareceu-me viver sempre comigo tudo por aquilo que passei, o barulho das armas a disparar sempre na minha mente e imaginação que me parecia lembrar estar ainda na África, tudo isso parecia custar a desaparecer.
Recordo aqui um episódio que passei ainda em 1990, portanto cerca de 15 anos depois de ter regressado da guerra. Estando eu a trabalhar em Israel numa fábrica de Textil, um dia quando aviação israelita andava em manobras, aquele barulho de guerra fez-me por momentos voltar a Angola e quando dou por mim estava escondido debaixo de uma das máquinas onde me refugiei, como muitas vezes aconteceu quando em Angola caiamos debaixo de fogo inimigo.

* Carlos Mendes da Costa (2010)


António Dias de Brito *
Comissão em Angola 1973-1975

(Posto militar - Cabo)

Assentei praça em Agosto de 1972 no CICA 4 em Coimbra. Fui mobilizado para Angola e viajei para essa província ultramarina no ano seguinte 1973, viagem de avião, pois a partir do ano anterior eram assim o meio de transporte dos militares.
Fui para o Leste de Angola para a cidade do Luso (hoje Luena) com destino ao PAD, instalada nesta cidade, unidade de manutenção de viaturas militares.
Curiosamente ao chegar a esta cidade eu parecia-me já familiarizado com ela, ainda em Loriga e em conversa com o Adelino Pina (Palha) que tinha acabado de chegar daquelas paragens, deu-me praticamente a conhecer a cidade do Luso, porque também tinha sido ali que cumpriu a sua comissão.

Tive a minha guerra como militar de retaguarda, devo dizer que tive a sorte de ter passado uma boa comissão. No entanto, reconhece que tal sorte não tiveram outros meus camaradas de tropa, principalmente os que andavam em operações, por aquilo que via quando recebíamos na unidade as viaturas bastantes danificadas por motivo das explosões de minas.

Ano 1973 - Descanso do guerreiro.

Ano 1973 - Na unidade junto ao refeitório

Ano 1974 - Ajuda comunitária

Ano 1974 - A posar para a fotografia

Encontrei-me com alguns conterrâneos que aqui registo alguns desses encontros com fotografias. Já sabia que estava radicado nestas paragens do Leste de Angola o senhor António Benito, motoristas da Tecnil na construção de estradas. Um belo dia encontrei-me com ele e como se poderá adivinhar foi uma festa. Foi pena não ter registo de fotografia desses nosso encontro.
Era já uma pessoa muito conhecida, sabendo-se até que se movimentava por todo o lado sem escolta, numa maneira prática de se ter consciência que os nosso inimigos eram dele amigos.
Voltou para a Metrópole também nessa altura do meu regresso e poucos anos depois faleceu.

Ano 1974 - Com o Fernando "Ginásio" hoje invisual a viver da Casa do Repouso da N.S.Guia, o Eduardo "Boto" e eu, por altura do Natal que passamos juntos.

Ano 1974 - Cidade do Luso encontro de serranos loriguenses
Fernando "Ginásio, Eduardo "Boto" e seu seu irmão António José e eu.

Ano 1974 - Cidade do Luso Fernando "Ginásio e eu, agachados.
De pé os irmãos "Boto" Eduardo e António José que era capitão.

Ano 1974 - Na cantina como coelgas refrescando as gargantas.

Ano 1974 - Num jardim da cidade do Luso com um colega.

Ano 1974 - No Sanzala "Kimbo" Mandrebo em convívio com a comunidade.

Ano 1974 - Com o meu amigo Jamba.

Ano 1973 - Com o Fernando "Ginásio" a passear-mos numa rua do Luso.

Ano 1973 - No rio Luena os "Cafecos" a banharem-se.

Durante algum tempo fiz parte do Canto Coral da igreja local. Uma ocupação complementar que tanto eu como os meus camaradas gostamos imenso de ter, que nos fez estar espiritualmente sempre com Deus e importante nesta fase das nossa vidas.

Ano 1973 - Grupo do canto Coral da Igreja local.

Nota Complementar

Regressei à Metrópole em 25 de Abril de 1975, também de avião uma depois de ter acontecido a revolução dos cravos e a queda do regime fascista. Quando saí de Angola em alguns lados já estava em marcha alguma confusão que veio a culminar com a guerra civil, que viria assolar durante muitos anos aquela província.


António Dias de Brito
1º. Cabo do PAD cidade do Luso (hoje cidade do Luena)

* António Dias de Brito (2010)


Carlos Florêncio Palas
(1948-1991)
Comissão em Angola 1970-1972

(Posto militar - Soldado)

A morte arrebatou à vida era ainda muito novo, apenas com 43 anos. Foi um combatente da Guerra do Ultramar, fazendo a sua comissão por terras de Angola. Aproveitando esta rubrica "Guerra do Ultramar" quero aqui homenagear a memória de meu pai, com estas fotos que a família guarda religiosamente e com muitas saudades. Recordo que o meu pai assentou praça em Aveiro e foi para Angola em 1970.

* Maria da Guia Pala Coutinho

Ano 1969 - Em Aveiro ainda na recruta com o Pedro "Santinho"

Ano 1970 - Já em Angola desmantelamento de uma mina.

Ano 1970 - Nos primeiros tempos em Angola.

Ano 1970 - Ainda nos primeiros tempos em Angola.

Ano 1971 - Na cidade do Luso (hoje Luena)

Ano 1971 - Na cidade do Luso com o Adelino "Palha".

Ano 1971 - Acompanhado com a lavadeira como era costume nos militares

Ano 1971 - Com os seus camaradas em trabalhos no acampamento.

Ano 1970 - Em serviço de solidariedade para com a comunidade local.

Ano 1970 - Em operações. militares pelas terras do Leste de Angola.

Ano 1971 - Foto no Aquartelamento no Leste de Angola.

***

Nota Complementar *

Fui amigo do Carlos que o recordo com saudade. Está em mim ainda presente o dia que fomos à inspecção (1968) e a nossa alegria de termos ficado apurados. O Carlos "Pirola" como popularmente era assim chamado era daqueles verdadeiros amigos, que nos deixam algo e o Carlos deixou-nos aquela maneira própria de brincalhão, a sempre contagiante boa disposição e ainda a sua bondade.
Quis o destino que o encontrasse em Angola, quando cumpria-mos a comissão por terras do Leste dessa província. O Carlos estava de passagem pela cidade do Luso (hoje Luena), inclusive, durante toda a nossa comissão em Angola estivemos sempre em contacto um com outro, através da correspondência que regularmente trocava-mos. Lembro até que no ano de 1970 o Carlos fez parte com a sua assinatura na carta que enviei, ao senhor Padre Barreiros, numa mensagem recordando a Festa da Nossa Senhora da Guia, que depois o senhor padre teve a amabilidade de ler na cerimónia da missa nesse dia da Festa da Senhora da Guia.

Carlos Florêncio Palas
(1948-1991)
**

A sua passagem pela cidade do Luso, deu-se porque a sua companhia estava exausta de tanto lutar pelas terras do Leste, ao fim de muitos meses, por isso e merecidamente, foram transferidos para zona menos perigosa e foi nessa movimentação de mudança que com ele me encontrei nessa cidade, onde eu cumpria a minha comissão e assim passamos uns belos momentos de convívio e de amizade, que ficaram registados nas nossas vidas através das fotografias que tiramos e que fazem hoje parte de recordações e saudade.
Lembro os seus relatos impressionantes das operações pelo mato, vivendo diariamente lado a lado com o perigo, por isso ele e os seus camaradas tinham sempre presente o que era muito usual em guerra, o lema de
"viver um só dia de cada vez".
Foi um choque, quando em 1991, estando eu em terras distantes soube do falecimento do amigo Carlos, que nos deixou cedo demais. Veio-me à recordação os nossos tempos de meninos, de adolescentes e depois homens. Mais chocante foi que ao voltar a Loriga, meses mais tarde, notar a falta do amigo Carlos
"Pirola", aquele vazio da sua presença, aquele sorriso e o abraço de amizade que nos unia e que a partir de então deixamos de dar.

* APina (2010)

** Falecido em 27 de Dezembro de 1991


José Pinto Lages *
Comissão na Guiné 1968-1970

(Posto militar - Soldado)

Assentei praça em Vila Real (Trás os Montes) no 23 de Outubrode 1967 em Vila Real de Tràs os Montes no R.13 com o número mecanográfico 082057/67.
Passei depois pela Póvoa de Varzim no 1ºGrupo C.A.M., seguindo para o Batalhão de Telegrafistas em Lisboa, com passagem pelo B.C.5 em Campolide.
Tirei a especialidade de cozinheiro, fui mobilizado para a Guiné em Maio de 1968 tendo embarcado em 11 de Agosto de 1968, no navio "Uige".
Fiquei em Bissau capital da Guiné onde me mantive durante toda a comissão. Posso considerar de privilegiada a minha comissão na província ultramarina na altura a mais complicada militarmente falando.
A minha especialidade era cozinheiro sendo o meu local de luta a cozinha e as minhas armas as panelas e tachos. Fui depois escalado para o Depósito de Géneros de Abastecimento, que como se pode compreender passei a estar ainda melhor, então sim estava nas minhas
"sete quintas".

Ano 1968 - Descascar as batatas, fazer a comida, ensinar os mais novos e ter as panelas e tachos sempre aprumados e esmerados, era o lema que se tinha que ter.

Estando eu na cidade de Bissau, ponto central das movimentações militares na Província da Guiné, escusado será dizer que me encontrei com muitos amigos e conterrâneos e assim podemos passar belos momentos dos quais tenho gratas recordações. Um outro conterrâneo com quem me encontrei foi com o Zé "Bentinha" só que não tenho o registo de fotografia.

Ano 1969 - Com o José Brito Ramos (falecido em Março de 1994) foi meu cunhado e com quem passei belos momentos na Guiné e, do qual tenho gratas recordações. O Zé Ramos, era sem dúvida diferente, em que a sua sempre boa disposição contagiava todos os seus colegas e amigos.

Ano 1969 - O Carlos Ramalho, eu e o João da Clara

Ano 1969 - Eu com o Carlos "Verdasca"

Ano 1969 - José Augusto Dias, José de Canas, eu e um amigo do Zé Canas

Ano 1969-Eduardo Domingos, Tonito Melo, eu, Zé "Canas" e Carlos "Verdasca"

Ano 1970 - Bissau, junto de um monumento

Ano 1969 - Numa "Miga" com os meus camaradas

Nesse período da minha comissão, a Guiné era na altura, a província ultramarina mais complicada da Guerra do Ultramar, segundo se sabe era onde se registava mais baixas para o exército português, quase diariamente isso acontecia. Era governador e comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, o General António Spinola, que apesar das tentativas para minorar a situação, parecia que nada a fazia alterar.
Em Bissau era corrente ouvir-se os mais variados relatos das lutas travadas pelos matos, muito significativo eram as comissões junto das fronteiras dos países que faziam fronteira, inclusivamente, o nosso exército por várias vezes chegou a fazer incursões para lá do limite da fronteira, o que criou mesmo alguns dissabores ao governo português
.

Ano 1969 - Também eram um dever o serviço à Comunidade local.

Ano 1969 - Em serviço ocasional e momento de posar para a fotografia .

Ano 1969 - Em serviço ocasional

Ano 1969 - Numa "Miga" com uns amigos.

Ano 1960 - O navio "Uige" que me levou à Guiné.

Nota Complementar

Regressei à Metrópole mais própriamente ao R.S.S. em 3 de Outubro de 1970. Infelizmente nem todos tiveram a sorte que eu tive, em fazer a comissão sem preocupações e sem necessidade de andar pelos matos, no entanto, devemos recordar todos aqueles outros que não tiveram tal sorte.

José Pinto Lages
Soldado 241 (1967-1969)

* José Pinto Lages (2010)


José de Moura Carreira *
Comissão em Moçambique (1964/1966)

(Posto militar - Alferes Miliciano)

Dei entrada na Escola Prática de Infantaria Infantaria - EPI, no dia 20 de Janeiro de 1963 em Mafra, a fim de iniciar o Curso de Oficiais Milicianos - COM, o que me forçou a abandonar os estudos no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, onde fui calouro com o Engº Carlos Jorge Reis Leitão, loriguense, destacado técnico da Junta Autônoma de Estradas, a quem devemos, em grande parte, a construção da Estrada que da Portela do Arão que segue para a Torre.
O Serviço Militar Obrigatório, acrescido de uma inusitada situação vivenciada nas antigas Colônias, então denominadas de Províncias Ultramarinas - por razões meramente eufemísticas - arrancava-nos dos nossos sonhos, forçando-nos a defender interesses outros, no mais das vezes escusos. Após seis meses de intensiva preparação militar e de uma especialização em Transmissões de Infantaria, fui promovido a Aspirante a Oficial Miliciano, em Julho desse mesmo ano, tendo sido designado para permanecer em Mafra, onde deveria dar uma Recruta, aos soldados recém entrados naquele quartel.
Para quem estava habituado a uma vida de estudante, e pouco afeito a atividades físicas, afora uma úlcera duodenal hemorrágica que me perseguia desde os 17 anos, foi um tempo difícil, que a memória teima em não esquecer. Não bastasse a úlcera, que não foi suficiente para me livrar do Serviço Militar, em uma Junta Médica, fui vítima de uma Pleurisia, quando nas Manobras Militares de fim de Curso, o que me obrigou a passar exatos 100 dias no Hospital Militar da Estrela. Volvidos esses 100 dias, recebo ordens para, novamente, me apresentar em Mafra. Lá chegando, fui informado que deveria seguir, de imediato, para Évora, mais propriamente para o RI-16, onde o meu Batalhão aguardava embarque. Ledo engano, o Batalhão de Caçadores 558, ao qual me deveria juntar, havia partido de Tavira para Lisboa, na manhã desse mesmo dia, a fim de embarcar no Niassa, rumo a Moçambique, no dia seguinte, pela manhã, informação que me foi repassada pelo Oficial de Dia, Tenente Varão, quando a ele me apresentei na Sala de Oficiais, pelas 14 horas desse 22 de Novembro de1963.

Simultaneamente à informação de que o Batalhão estava a caminho de seguir viagem para Moçambique, escutamos, todos os que na Sala de Oficiais se encontravam - através da Emissora Nacional - uma notícia que haveria de abalar o Mundo. O Presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy havia sido brutalmente assassinado, em Dallas.
Com a partida do Batalhão, entrei de licença, por 10 dias, a fim de me despedir dos familiares, e adquirir o fardamento próprio do Ultramar. Decorrido o prazo da Licença, retorno a Évora, e, uma vez lá, passo a aguardar embarque, o que viria a ocorrer a15 de Janeiro de 1964, no navio Império.
De 22 de Novembro de 1963 a 6 de Janeiro de 1964, permaneço em Évora, com a obrigação de cumprir alguns "Oficiais de Dia" , algumas "Rondas", afora a lavratura de um "Inquérito de Corpo de Delito" que me coube levar a efeito, pelo menos enquanto lá estive.
Em Évora, posso afirmá-lo, levei uma vida mansa. Aproveitei para conhecer a cidade, seus Museus e Igrejas, e, por que não dizer, algumas belas e gentis moças eborenses, tão do agrado da gente da minha faixa etária.
No que respeita a acomodações, o quarto destinado aos oficiais, no RI-16, era amplo. Tinha duas camas, duas mesinhas de cabeceira e dois armários. além de uma mesa que servia de secretária Fui o segundo a ocupá-lo, pois já lá estava o Aspirante Milº António, que por coincidência era de Sazes da Beira, e, como havia frequentado os Seminários do Fundão e da Guarda, conhecia, praticamente, todos os estudantes seminaristas de Loriga. Senti-me, logo, desnecessário será dizê-lo, em casa. Pouco, bem pouco, foi o tempo que convivemos, pois, em menos de 10 dias seguiu para o Ultramar, mais propriamente para a Guiné. Ao retornar do Ultramar, soube pela minha tia Aurora - que havia conhecido a Mãe do Aspirante António, creio que num dos Cursos de Cristandade - que ele havia sido morto em combate, na Guiné. Que o Senhor Deus o tenha em paz, lá onde se encontra!
Um soldado, conhecido pelo nome de Loriga, fazia parte do contingente do RI-16. Logo que soube que eu estava de Oficial de Dia, no dia seguinte à minha apresentação, dirigiu-se a mim, contando as peripécias que havia aprontado, razão pela qual fora punido pelo Capitão Comandante da sua Companhia, punição essa que o impedia de sair do quartel por um sem-número de dias. Logo entendi a sua intenção e apressei-me a assinar uma "Autorização de Saída", não sem que antes lhe determinasse que não me colocasse em "check", de vez que eu estava desfazendo as ordens do Capitão.
Foi sempre gente fixe, esse tal soldado Loriga, que, hoje, volvidos mais de 46 anos, não consigo identificar. O capitão, de castigo, colocara-o no Rancho, que, a meu ver, era onde mais se trabalhava, no quartel. Do soldado Loriga, não mais tive notícias, exceto pelo fato de haver dito ao meu saudoso tio Zé Moura, que o Aspirante Carreira havia sido um "gajo porreiro", com ele, quando serviu no RI-16.

A viagem, não fosse o mau tempo que pegamos de Lisboa para a Ilha da Madeira, e do péssimo que tivemos ao dobrar o Cabo da Boa Esperança - para nós mais Bojador que da Boa Esperança, por razões óbvias - não deixou de ser maravilhosa, face o inusitado da mesma, pese embora o destino final e a saudade que carregávamos na alma.
Funchal, São Tomé, Luanda, Benguela, Moçamedes e Cape Town foram as cidades a que aportamos, antes de chegarmos a Lourenço Marques, hoje, Maputo. Em São Tomé encontrei o Furriel Milº Crisanto, um colega de Colégio, em Coimbra, que lá cumpria a sua Comissão. Em Luanda, um emissário do meu saudoso primo António Moura (ex-dono da Cabana do Pastor e da Albergaria Nª Sª do Espinheiro, que se encontrava fora daquela cidade, a serviço), procurou-me para me entregar um belíssimo isqueiro Ronson, gravado com o meu nome, o qual, ainda hoje, enfeita uma das estantes de minha casa. Em Luanda, como de praxe, reunimo-nos no Café Paris, ponto de encontro do pessoal dos diversos Cursos de Oficiais Milicianos, onde obtivemos as primeiras e mais consentâneas informações da Guerra em Angola, já que as que eram publicadas, nos jornais, não nos mereciam confiança. Em Cape Town - cidade bastante desenvolvida, com traços acentuadamente europeus - meio desconfiados e temerosos, observávamos, de longe, aquelas esculturais mulheres negras, já que o rígido Apartheid assim o impunha, conforme prévia orientação, recebida, no navio, de tarimbados tripulantes, afeitos à arte da sedução.

Chegado a Lourenço Marques tive como destino o Norte da Província, mais exatamente, a Mueda, Cabo Delgado, a uns 60 km de Tanganica, hoje Tanzânia. Em decorrência do exposto, deveria viajar, dentro de três ou quatro dias, no mesmo navio Império, até Porto Amélia, onde aguardaria a chegada do Niassa, que trazia duas Companhias de Caçadores, a CCaç 607 e a CCaç 613, que integrariam o Batalhão de Caçadores 558, do qual eu viria a ser o Oficial de Transmissões, Batalhão de Caçadores 558, cujo lema era "Forte, porém Justos". E assim foi. Novamente embarco no Império, rumo a Porto Amélia, com escalas na cidade da Beira, Ilha de Moçambique e Nacala.
Em Porto Amélia, banhei-me pela primeira vez nas águas do Índico, na enorme e bela baía de mesmo nome. Ainda em Porto Amélia, comecei a sentir os primeiros calafrios do que viria a ser uma fortíssima malária que quase acabou comigo, não fora os cuidados e a competência profissional do, então Alferes Miliciano Torres dos Santos, médico da CCS do Bat. Caç 558. Após uma semana em Porto Amélia, hoje Pemba, novamente embarco no Niassa, que me levaria a Mocimboa da Praia, último porto antes da minha chegada a Mueda, o que ocorreu no dia 22 de Fevereiro de 1964.

Vista aérea do Quartel da Mueda (1964)

Vista aérea do Quartel da Mueda (1964)

A rigor, Mueda circunscrevia-se ao Quartel, ao Campo de Aviação, ao Posto Administrativo, a uma Escola e pouco mais. Em meio a cerca de 800 militares, descobri que apenas conhecia um Alferes Miliciano, um Sargento e um Cabo, afora um civil. O Alferes Milº Antunes, meu companheiro do Curso de Oficiais Milicianos, o Sargento Romano, o Cabo Aparício, da CCaç 607, e o Mecânico Farrancha, todos loriguenses, à exceção do primeiro.
Tendo em vista havermos chegado a Mueda por volta da meia-noite, somente no dia seguinte tomei contato com o meu Pelotão de Transmissões, bem como com os demais integrantes da Companhia de Comando e Serviços.

Ano de 1964 - Algures no norte de Moçambique com o Pelotão, numa Operação de Reconhecimento.

Meu pelotão era, como disse, composto da brava e boa gente, oriunda das planícies alentejanas, possuidora de fino trato, sempre pronta a bem servir, mesmo em condições as mais difíceis. Sabiam, como ninguém, revertê-las com o hábil uso de suas palavras ou de seus graciosos gestos. A eles, devo, sem dúvida, boa parte dos momentos mais agradáveis que em terras de Moçambique passei. Do Pelotão de Transmissões, faziam parte dois Furriéis Milicianos, meus braços-direitos: o Furriel José Marques e o Furriel Rogério Duarte, ambos muito atenciosos. O Zé Marques, natural do Porto, e, o Rogério, de Elvas. Com eles tive o melhor relacionamento possível, pois foram sempre cumpridores dos seus deveres, quer quando desenvolveram atividades nas Telecomunicações, quer quando trabalharam no Centro Cripto. Graças ao desvelo e competência profissional de ambos, nunca tive, com eles, qualquer tipo de problema.

Ano 1965
Numa Operação de Reconhecimento com o guia Lázaro.

Ano 1965
Ano de 1964 - Uma pausa numa Operação de Reconhecimento.

Ano 1965
Dois dentes de Elefantes resultado de uma bem sucedida caçada, comandada pelo Sgt. Romano, loriguense de 7 costados
.

Muito embora sentíssemos que o clima começava a tornar-se pesado, no que dizia respeito ao relacionamento com a população - cada vez mais arredia - nossa Comissão ia sendo levada sem maiores problemas até Agosto 1964, data considerada como o início da luta armada no território moçambicano. A morte do Padre Daniel, da Missão de Nangololo, próximo a Mueda, a 24 de Agosto, em consequência de um ataque da guerrilha, promovido pela FRELIMO, foi, indubitavelmente, o estopim da Guerra em Moçambique.
Em uma das Operações Militares, conjuntas, Exército-Aeronáutica, um outro loriguense, o Cabo Paraquedista José Pinéia, nome pelo qual era conhecido em Loriga, esteve conosco em Mueda. Filho de um primo de meu Pai, foi uma satisfação revê-lo, naquele fim de mundo, e com ele trocar impressões.

Ano 1965
Com o Oficial de Ligação com a Força Aérea, a caminho de Nampula, juntamente com o Ten. David (da FAP) e o Alferes Oliveira.

Ano 1965
Em Nampula, com oficiais do SPM. À minha esquerda, o Asp. Milº Neto, que, no início da década de 60, foi chefe dos Correios de Loriga.

À medida que o tempo passava, os ataques guerrilheiros tornavam-se mais freqüentes e ousados, obrigando o Batalhão e suas Companhias Operacionais a esforços redobrados, sem, contudo, evitar o incremento de nossas baixas. Volvidos 12 meses, o Batalhão estava moral e fisicamente abalado, com um saldo de 17 mortos (2 Furriéis Milº; 6 Cabos e 9 Soldados), além de 70 feridos (6 Alferes Milº, 1 Sargento, 7 Furriéis Milº, 9 Cabos e 47 Soldados), o que determinou o seu remanejamento para Vila Pery (CCS), Lourenço Marques (CCaç 607) e Dondo (CCaç 613), em Agosto de 1965. Em Manica e Sofala, longe das agruras de Cabo Delgado.
O Batalhão aos poucos refez-se moral e fisicamente, aguardando o embarque para a Metrópole, o que veio a ocorrer a 10 de fevereiro de 1966, data em que a Companhia de Comando e Serviços do Bat. Caç. 558 desfilou no Estádio do Clube Ferroviário de Lourenço Marques, juntamente com outros agrupamentos militares, após o que embarcou no navio Vera Cruz.

Ano 1965
Com o Fur. Milº da FAP, Luís Fernando, que respondia pela Logística do Destacamento da FAP, em Mueda.

Ano 1965
Com o "Jóia" mascote do Batalhão, a exigir-me o boné

Ano 1965
Com o "Jóia" numa Instrução de Armamento.

As Companhias operacionais CCaç. 607 e CCaç. 613, permaneceram, ainda, em Moçambique, na Praia Vermelha (L. Marques) e no Dondo, próximo à cidade da Beira, aguardando embarque, o que veio a ocorrer em meados do ano de 1966. Fazendo parte de outros Batalhões ou Companhias independentes, foram meus companheiros de viagem o Cabo Tó Zé Cabral Leitão, o Cabo Ferrão e o Cabo Joaquim Dentinho, como conhecido em Loriga, estes dois últimos, meus companheiros da quarta classe, da turma de 1954, do saudoso Prof. Marques.
Quando de passagem pela cidade da Beira, a caminho de Lourenço, visitei, e acabei ficando hospedado por uns quatro dias, em casa dos meus primos Terezinha e Manuel Rebelo, onde fui tratado como um príncipe. Ela farmacêutica e professora de Química do Colégio Sacré Coeur - filha de meu primo Artur Paulo - e ele, alto funcionário dos Caminhos de Ferro da Beira, ambos já falecidos A Nelinha, filha deles, estava às vésperas de viajar para Lisboa, onde iria freqüentar o Instituto Superior Técnico, enquanto que o Fernando Manuel, no auge dos seus 14 anos, bem vividos, permaneceria na Beira, para satisfação das meninas daquela cidade. À exceção da Nelinha, que a vi uma vez, em Loriga, e que nos deu a satisfação de estar conosco, em Belém do Pará, em 2004, não mais os vi, desde então.

Ano 1965
No jeep da Administração, com o Administrador e os alferes Oliveira e Diamantino, este, velho companheiro de Coimbra
.

Ano 1966
Na Festa do 2º Aniversário da Comissão, em Vila Pery, com o Ten. Capelão, o Alferes Oliveira, o Capitão Cmdt. da CCaç de Vila Manica e um Alferes daquela Companhia.

Ano 1964
Bem acompanhado na Boîte do Navio Império

Ano 1965
Bem acompanhado, numa das praias de Benguela

Foi ao alvorecer do dia 1 de Março de 1966, que avistamos a tão sonhada Costa do Sol, Lá estavam, como que a saudar-nos, as cidades de Cascais e do Estoril, o Farol de São João da Barra, e inúmeras outras praias, antes de aportarmos na Doca de Alcântara, em Lisboa, onde inúmeros familiares e amigos aguardavam por nós. O primeiro a ser avistado foi o meu tio Zé Moura, que distante dos demais, a eles se juntou, sempre com o chapéu erguido bem alto, para que eu melhor pudesse acompanhá-lo, na sua trajetória. Na ânsia de não o perder de vista, pedi emprestado os binóculos do Padre Capelão, e do convés do Vera Cruz - que havia lançado suas amarras para o porto - revi, um a um, todos quantos por mim aguardavam. A festa só não foi completa, em face da ausência de meus pais e irmãos, nessa altura, radicados no Brasil. Ao desembarque e aos cumprimentos seguiu-se o desfile militar. Eram já 12 horas, quando nos dirigimos para o apartamento dos meus tios, na Oscar Monteiro Torres, onde fui brindado por um lauto banquete, a que não faltou o melhor dos vinhos e o melhor Champanhe francês. À tardinha, partimos de Santa Apolónia para Évora, onde se processou a nossa desmobilização.

***

A 17 de Agosto parti para o Brasil, a fim de rever meus pais, irmãos e demais familiares, tendo em mente retornar a Portugal, um mês após. Por essa razão, deixei de trazer os endereços de meus companheiros de arma, o que me impossibilitou manter, com eles, qualquer tipo de contacto.

Somente volvidos 42 anos, consegui contato com alguns deles, graças aos avanços tecnológicos, proporcionados pela Internet. Foi, novamente, uma enorme satisfação ouvir deles a voz, e sabê-los bem, muito embora, todos eles, como eu, em parte alquebrados pelo peso da idade. Em particular, enorme satisfação, foi, sem dúvida, escutar a expressão de espanto do Alferes Antunes - hoje Coronel, reformado, da Guarda Nacional Republicana, e ex-Comandante do Batalhão de Gouveia, a quem a Guarda de Loriga estava subordinada - quando exclamou: "Ó Carreira, em vão, procurei-te por toda a parte!...". Alegria imensa foi, igualmente, o contato telefônico que tive com os Furriéis Milicianos de Transmissões, com quem mais de perto convivi, nesses dois longos anos de Comissão. Com o Alferes Neto - hoje, Juiz Conselheiro, jubilado, do Supremo Tribunal de Contas e do Supremo Tribunal de Justiça - e com sua esposa, Maria Helena (na casa de quem almocei, inúmeras vezes, em Mueda e em Vila Pery), tenho tido permanente contato, recordando o gesto de amizade que sempre me dispensaram, e as delícias dos manjares preparados por Maria Helena, bem diferentes dos que, cotidianamente, "saboreava" na Messe de Oficiais.


Nota Complementar

Nem todos os "velhos" companheiros de Comissão permanecem, ainda, entre nós. Quis Deus levar alguns deles para a sua Mansão Celestial, de onde, certamente, intercedem a nosso favor. Que o Senhor Pai do Céu lhes conceda o Eterno Descanso, como prêmio maior, por tudo quanto de bom souberam semear, ao longo de suas existências.
Aqui registo "Retalhos de Minha Vida Militar", não sem que antes renda homenagem a todos aqueles que tombaram no sagrado solo de África, em particular de Moçambique, e, mui especialmente, em terras do Planalto dos Macondes.

José de Moura Carreira
(Alferes 1964/1966)

* José de Moura Carreira (2009)


Nuno Mendes Alves Pereira *
Comissão em Moçambique (1970/1972)

(Posto militar - Soldado)

Foi em Janeiro de 1969, que assentei praça no Regimento de Caçadores Pára-quedistas em Tancos. Durante três meses frequentei o tempo de recruta, seguindo-se o curso de pára-quedismo, também com a frequência de três meses.
Aconteceu o meu primeiro salto em pára-quedas no dia 10 de Junho de 1969, no campo de Arripiado, um espaço de saltos entre as margens do Rio Tejo e Vila Nova da Barquinha. Foi com uma certa alegria e também com um certo orgulho que consegui a "Boina Verde" e o respectivo brevet, uma meta que todos os pára-quedistas desejavam alcançar.
Ainda no ano de 1969 frequentei um curso de combate com uma grande e elevada exigência com uma preparação física realmente invulgar, foram grandes marchas nocturnas com uma G3 mas mãos e mochila às costas e vários exercícios físicos com pesados troncos de madeira que nos deixavam de rastos.
Antes do final desse ano e princípios do ano 1970, fiz um curso de transmissões que culminou na mobilização para o Ultramar para a comissão em Moçambique que aconteceu no dia 4 de Abril tendo com o destino o norte dessa província ao BCP 32 sediado em Nacala.
Quero aqui também recordar, momentos de amizade com outros militares loriguenses com os quais me encontrei em Tancos. - Ernesto Ramalho, Carlos Ferrão, o Toneca e o Carlos Cardoso, este conterrâneo Loriguense/Alvocence.

Aproveito e conto até um episódio passado com o Carlos Cardoso que quando estávamos em Tancos, foi bafejado com a sorte no Totobola, ganhando um prémio, oferecendo a mim e ao Ernesto um passeio de fim-de-semana a Loriga.

Embarquei no aeroporto de Figo Maduro no dia 4 de Abril de 1970 num potente DC da Força Aérea avião de carga com escala na Guiné-Bissau onde estive algumas horas, de seguida mais uma etapa até Luanda Angola, para mais uma escala, aqui a estadia foi um dia e como levava comigo um postal como referência da Praça Serpa Pinto mesmo no coração da bela cidade de Luanda, fui procurar e assim conviver algumas horas com o amigo Zé Paixão radicado nesta bela cidade de Luanda e, com ele fui visitar a marginal de Luanda.

Ano 1969 em Tancos (Recruta)
Com o Ernesto Ramalho e Carlos Ferrão

Ano 1969 - Dia do meu primeiro salto

Ano 1970 em Moçambique. Já muito perto do chão num
dos saltos de uma comissão

No dia 6 de Abril de 1970, aterrava na bonita cidade de Lourenço Marques, capital de Moçambique, após longas horas de voo. Por casualidade encontrei-me com outro loriguense António Ferreira , polícia de profissão e radicado nesta cidade e, na paragem que fiz na cidade da Beira tive também o ensejo de conviver com outros dois loriguenses mais o António Prata Figueiredo o "Tó Vicente" e o Tó Ambrósio ambos dois garbosos pára-quedistas. É pena, mas não tenho registo em fotografia.

Durante dois anos de permanência no norte de Moçambique, ficaram sempre gravados na minha memória bons e maus momentos. Gostei de conhecer a cidade de Tete quando numa operação militar para os lados de Dingoé e Estima, onde se situa a gigantesca barragem de Cabora Bassa e o grande Rio Zambeze. Também gostei de conhecer a bela cidade Porto Amélia com a sua encantadora baía.

Ano de 1970 - Norte de Moçambique
Várias ocasiões estive no planalto dos Macondes
no grande agrupamento militar e teatro de guerra
onde se encontrava um quadro afixado numa
parede que aterrorizava, quem ali chegasse de
novo
"Mueda, terra de guerra, aqui trabalha-se,
luta-se e morre-se"
.

Ano de 1970 - Mueda
Também aqui encontrei outro loriguense
o alferes António Ambrósio.

No ano de 1971 participei na grande operação, talvez a maior operação militar realizada em todo o Ultramar, que foi a operação "Nó-Górdio" , nela participariam milhares de militares dos três ramos das Forças Armadas apoiados também por uma força militar aérea e super visionada pelo então general Kaúlza de Arriaga, sempre com a visão de acabar ou desmoralizar a vontade dos Moçambicanos que combatiam e lutavam pela libertação do seu país, que veio depois acontecer com a alvorada dos 25 de Abril de 1974, conseguida através da nossa própria liberdade e que abriu o caminho à verdadeira democracia, que hoje todos nós podemos livremente viver.

***

***

Foram muitas as operações militares realizadas pelo meu pelotao no norte de Moçambique e aqui algumas documentadas nestas fotos. Lugares como Sangal, Chicôa, Pundanhar, Palma, Nangololo, Estima, Fingoé, Mocimboa da Praia etc., testemunham lutas de combate, de sofrimento, suor e lágrimas, que por isso ficarão para sempre gravados no meu espírito. Mesmo com o cansaço estampado nos nossos rostos o lema era sempre o mesmo "Seguir sempre em frente..."

***

Ano 1970 - Acampamento do Sagal

Ano 1971 Cabo Delgado/Naugololo
No fundo uma antiga Missão Holandesa

Ano 1971 Sagal
Com o meu amigo "Loriga Sagal"

Ano 1971 Cabo Delgado
Material capturado numa operação

Ano 1972 Nampula
Guarda de honra ao presidente do Malawi Dr.Bamda

Pouco antes de terminar a minha comissão e estando para breve o regresso à Metrópole, ainda vi chegar ao quartel e ao meu pelotão o loriguense Álvaro Mendes Pina, já falecido onde lhe dei toda a minha amizade, para se sentir confortável e com a boa vontade de iniciar uma sempre difícil guerra colonial.
Em 16 de Abril de 1972 embarquei em Lourenço Marques de regresso a Lisboa, um vôo com a duração de oito horas, uma grande diferença a contrastar com as mais de 20 horas que levei de Lisboa a Moçambique, dois anos antes

Nota Complementar

O tempo passou, as marcas desse tempo ficaram para toda a vida, marcas cruéis para muitas famílias, que perderam os seus filhos e muitos feridos para sempre.
Etapasda nossa vida, que nunca esquecem...

Nuno Mendes Alves Pereira
(1º. Cabo Pára-quedista 232/68)

* Nuno M.A.Pereira (2009)


José Mendes Gouveia *
Comissão na Guiné (1970/1972)

(Posto militar - Cabo)

Tinha 14 anos quando NERU invadiu a "Índia Portuguesa" e vivemos intensamente esta história porque três conterrâneos meus tinham ficado prisioneiros de Guerra. Lembro a chegada deles á Terra e não gostei da forma como vinham vestidos, achei que mereciam muito mais que aquilo que lhes deram. Política à parte, deve ter começado aqui a minha aversão a fardas militares. Pouco depois começam os embarques para Angola, Moçambique, Guiné, e cada ano que passa mais próximo fica de mim. Em 1967 fui apurado e logo ali meti os papéis para ficar de fora uma vez que era amparo de mãe.
Fui incorporado em Outubro de 1968, fiz recruta no RI10 Aveiro segui para os Rangeres em Lamego (obrigado) dei baixa ao hospital militar do Porto e de seguida sou enviado para o Regimento de Transmissões no Porto (Janeiro de 1969) onde tirei a especialidade de Radiotelegrafista, "esteve ali comigo o Loriguense Carlos Ramalho"
Fim de Junho de 1969 Sou colocado no Batalhão de Transmissões da Graça (Lisboa) e dai a meu pedido para o RAL 1 para ficar mais próximo da família.

No RAL1 é mobilizado o sobrinho do Segundo Comandante e o pai ofereceu-me 500 contos para ir no lugar do filho para a Guiné, respondi que pró dinheiro nenhum, ainda subiu a parada mas mantive o não. Passados 10 dias saiu a minha mobilização, ai pensei que não queria o dinheiro ia de borla. (sabemos o país que temos) Andei furioso, quis fugir, revoltei-me, invoquei o amparo de mãe, nada feito, em Fevereiro de 1970 lá vai ele no HUIGE.
Encontrei na Guiné o tal sobrinho e fiquei um pouco melhor na minha revolta


Não foi por Ela que fui à Guerra, foi pelo medo de não a voltar a ver: Quem fugia separava-se de tudo mesmo daqueles que mais amava, e a ditadura já ia em 40 anos e estava de pedra e cal. E por isso era necessária muita coragem para fugir, não cheguei a tanto, mas era o melhor que fazia era fugir.

Quero aqui agradecer aqueles que acreditaram e tentaram servir a guerra, é talvez a eles que devo o meu regresso intocável: mas a minha admiração vai para aqueles que fugiram e disseram NÃO á guerra. Só para que conste, o meu amparo de mãe foi rejeitado porque a casa da minha mãe tinha frigorifico, televisão, uma casa rica. Gostava de ver onde vivia o oficial que lá foi? Em quatro anos de tropa só conheci dois oficiais do quadro que mereceram o meu respeito: Capitão Almeida (Aveiro) Capitão Cordeiro (Guiné). È evidente que ressalvo aqui os milicianos.

Sou o terceiro da esquerda da mesa.
Ainda hoje não sei porque tive direito a um camarote, mas a maioria ia num porão, muito escuro, sem ar, tudo vomitado, efeitos da viagem, as camas eram umas tábuas onde só era possível deitar - deitado (difícil) a palha toda moída, fiquei doente só de ver. E vi porque um amigo de Manteigas preferia dormir ao relento, o que despertou a minha curiosidade.
Nem aos ratos desejei tal habitação.

Lá se vai a carne, o frango era só ossos,
Fome, Peste e Guerra. Talvez não vos pareça
mas o da Esquerda sou EU.
Como é que há homens que gostam disto????

Tinha os meio "Rádios colocar musica na caserna era canja. Só emitia relatos de Futebol e canções proibidas. Vampiros e não só. Zeca e Adriano sSEMPRE
Era a minha vingança e um hino à Liberdade
Emissores" Tinha o gravador as cassetes...

Bem sei que na morte todos somos uns santos etc.. etc… Só espero que compreendam que fui condenado ao degredo, pior a um sofrimento permanente sem fazer mal a ninguém.
Fiz Festa, FIZ. Arrependido não estou. Faria o mesmo hoje. Só estou a ser sincero espero que me perdoem a franqueza.

Cidade de Bissau

Loriguenses - Eu, Zézito Italiano e Mário Amaro

Aqui passei 8 meses da minha vida, na casinha assinalada onde apesar de tudo era REI. Mas as imagens que vêem são deste quartel, PICHE - GUINÈ a morte estava sempre presente, todos os dias havia cadáveres na capela, e só lá colocavam os brancos. A força inimiga já era muita, mas não foi por isso que ganharam como "ELES" "PAIGC" dizem. Ganharam porque os nossos militares ganharam consciência do seu papel nesta guerra, e só lutavam em ultimo recurso.

Agradeço ao Combatente do PAIGCV que conseguiu colocar 40 morteiradas em volta do posto de Rádio e não feriu ninguém: isto valeu-me o regresso a Bissau. O comandante mostrava os postos de rádio ao General Spínola e aquele estava parado, no seu orgulho deu-me voz de prisão, e EU tirando proveito da presença do General fiz-lhe cumprir a palavra, e vim para Bissau no mesmo HÉLI. Claro que não fui preso. A culpa era do "TURRA".

Deixei Bissau em Março de 1972 após 26 meses de comissão e ainda tive que me fazer maluco.
A foto em cima não está aqui por vaidade que não tenho, mas porque tem uma historia que de certo modo tem a ver com Loriga. O Rapaz de amarelo foi caixeiro-viajante e ia muito a Loriga, perguntava pelo AMIGO Gouveia e ninguém conhecia, até que um dia foi à Junta e o saudoso Tó "Pisoeiro" lhe deu o meu contacto e falamos ao telefone muitas vezes. Mas esta vida é madrasta e no dia que eu ia para me deslocar a Cantanhede para visitar o GASPAR recebi a triste noticia do seu falecimento, digamos que é aqui o reencontro que não tivemos. PAZ á sua ALMA.
Na Tropa Gouveia, em Loriga Zé "Bentinha"

***

- Já gora devo dizer que me encontrei também na Guiné com o Zé "Grilo", e o Antonio "Cuco" só que não tenho registado em fotos.

- Chamo-me José Mendes Gouveia, em Loriga Zé "Bentinha " II
O Zé Bentinha II e o Zé Bentinha I de boné

Nota complementar:

…………………….. SOFRI MAS VENCI!

* José Mendes Gouveia (2008)

http://www.youtube.com/watch?v=aWQOqalOIkE&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=qqpA_8OVsL4&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=wrpS3h_ydIU&feature=related

http://zecafonso.com.sapo.pt/Jose%20Afonso.html

http://marius708.com.sapo.pt/Cantores%20de%20Intervencao.html


Adelino Manuel M. de Pina *
Comissão em Angola (1970/1972)

(Posto militar - Cabo)

Entrei para a vida militar em Janeiro de 1969, fiz a recruta no RI 10 (Aveiro), cidade que me deixou gratas recordações. O meu primeiro vencimento (o Pré como se dizia na gira) foram 28 tostões, sim repito 28 tostões, que fui meter numa caixa das esmolas numa igreja da cidade. Pertenci à arma de Artilharia, com a especialidade de Amanuense e fui mobilizado para Angola pelo RAL 1 (como rendiação individual) em Agosto de 1969, mas só viria a embarcar em Fevereiro de 1970, depois de ter 13 embarques marcados e logo a seguir desmarcados. Finalmente no dia 7 de Fevereiro de 1970, foi mesmo o dia da partida, viagem efectuada num barco de apoio de guerra chamado "São Brás". Viagem atribulado que durou mais de um mês, com avarias e uma explosão da caldeira do barco em pleno alto mar, com desvio forçado para a Madeira, onde ficamos 10 dias para reparação do barco. No seguimento da viagem fomos parar a Cabo Verde onde estivemos 3 dias, e pelo meio e em pleno alto mar o surgimento de uma doença contagiosa, que levou alguns a estar de quarentena durante dias.
Por fim a chegada a Angola em Março de 1970, fui parar à cidade do Luso (hoje Luena) situada no Leste de Angola, onde fiz toda a minha comissão no CZML (Comando da Zona Militar Leste) . Posso dizer que fui um privilegiado em ter ficado por ali e sendo a cidade do Luso um ponto estratégico do Leste, tive a sorte de me encontrar com muitos amigos e conhecidos e também alguns amigos loriguenses os quais irei aqui registar.
Escusado será dizer que era sempre uma alegria quando nos encontrávamos os loriguenses e no meio de umas frescas bebidas refrescando a garganta, vinha a nós as recordações da nossa terra, principalmente recordando os nossos tempos de meninos. É precisamente neste prisma que aqui faço este meu síntese de registos, recordando principalmente gente de Loriga, mas muito mais e mais fica por contar dessa minha passagem pela Guerra do Ultramar
.

No Barco tendo ao fundo a cidade do Funchal-Madeira

- Já agora conto o que passei em Cabo Verde na ilha de São Vicente, na cidade do Mindelo, onde estive a quase às portas da morte. Numa "patoscada" e perante tanta lagosta à minha frente, ignorei a grave e grande alergia que tenho ao marisco e daí não me contive e comi tão bom petisco à minha frente. E pronto, foi a quase o fim da minha vida. Devo aqui recordar como agradecimento os magníficos médicos que iam no barco "São Brás" que levado a toda à pressa para lá me conseguiu salvar, ao fim de algumas horas.

- No serviço militar era simplesmente conhecido por PINA, no entanto, tinha por hábito dizer que quando passassem na minha terra e me quisessem procurar, seria importante dizerem que eu pertencia à família dos "Palhas" porque assim era mais fácil a identificação e chegar até mim, aliás, isso várias vezes aconteceu.

Eu e o Carlos Conde no Luso (1970)
O primeiro loriguense que encontrei, estava eu ainda à poucos dias no Luso.
Pertencia a uma companhia de engenharia e estava a poucos meses de acabar a
comissão. Sabendo que no nosso refeitório se comia mal, logo no domingo
seguinte veio buscar-me para ir comer na sua unidade, onde se comia lá bem
e por sorte nesse dia havia até rancho melhorado. Pois nesse domingo
consolei-me, visto que já algum tempo que não comia tão boa refeição.

Numa Sanzala perto do Luso (1971)
Uma ajuda à comunidade ajudando a moer
a mandioca para o"pirão"

Com o amigo Carlos Palas (Pirola) já falecido.
Com a deslocação do Batalhão do Carlos para outras Zonas, de passagem pelo Luso lá fui à procura do amigo Carlos e lá o encontrei e como tal foi uma festa. Estivemos poucas horas juntos, mas foi o suficiente para ainda tirarmos esta foto e podermos conversar muito, recordarmos Loriga e as pessoas, em que a sempre boa disposição do Carlos contagiava tudo em seu redor e assim passamos um belo momento que recordo com saudade.

Dondo 1970
Eu com o macaquinho que era um encanto.

Com o Adriano Amaral (Luso 1971)
O Adriano estava de passagem pelo Luso e
por sorte veio ter ao CZL, a minha unidade, onde
nos encontramos e registamos o nosso encontro.

Com o Carlos Costa (Luso 1971)
Passei alguns dias com o Carlos no Luso,
onde estava também de passagem.
Belos momentos que passamos juntos e era
raro dia que não fazíamos uma "Miga"

Com O Luís "da Marta" (Luso 1970)
O nosso encontro foi uma coincidência e deu-se
no cinema do Luso. A companhia do Luís estava
de passagem, pois já tinha sofrido bastante no
mato naquela zona do Leste, por isso mereciam
ir para o interior locais não abrangidos com a guerra.
Foi o Luís que me disse que trabalhava naquela região
Ti António (Benito) e não é que eu e ele o fomos procurar
e descobrir numa localidade muito perto do Luso.
Foi uma festa para ele ao encontrar seus conterrâneos.
O Ti António (Benito) era motorista na empresa de
construção de estradas em Angola.

Com o Fernando Conde (Luso 1971)
Coincidências do destino passado um ano de me encontrar com o Carlos Conde, veio parar ao Leste o seu irmão Fernando e o destino o trouxe até ao Luso, para internamento na Enfermaria militar do Hospital da cidade, quase todos os dias o lá ia ver, inclusive, com não se comia bem lá no hospital, levava-lhe eu alguma coisa para comer. Como era proibido levar coisas para dentro do Hospital, ia pelas traseiras e dava-lhe pela janela e assim o amigo Fernando lá se consolava. Depois de restabelecido lá voltou para a sua companhia no mato, nunca mais o voltei a ver por lá, só ao fim de muitos anos o voltei a ver em Sacavém.

Junto ao rio na cidade do Luso (1971)
"Venham a mim as criancinhas"

Momento para a leitura lendo uma carta
de uma madrinha de guerra das várias que tinha.

Os militares também comem e na hora das refeições
as mesas eram requintes da ocasião, como se vê,
eram mesas chiques com as melhores louças. Mas
não é que nos sabia bem comer nestes pratos de alumínio.

Com um militar Catanguês, meu companheiro de
viagem de Luanda ao Luso, numa altura que me
desloquei a Luanda para ali levar os corpos
de 4 camaradas militares falecidos em combate na
Zona Leste, para os seus corpos seguirem para a Metrópole.
Foram dois dias de viagem e apesar do militar catanguês
só falar francês, lá nos entendemos e ficamos até amigos.

Luso 1970
Esta foto foi tirada no dia que estava para seguir
para Luanda em missão, levando os corpos
de 4 camaradas mortos em combate na Zona Leste

Luso Ano de 1970
Nessa altura fumava muito, mas era só para
entreter e para passar o tempo, nunca cheguei a ter verdadeiro vício

CZML Ano de 1970
Apesar de ter uma arma distribuida nunca a utilizei.

Eu com outro colega chamado Rocha - Cidade do Luso Ano de 1971
Durante algum tempo cheguei a acumular trabalho civil,
trabalhando no Café, Bar e Restaurante do Cinema Luena.
Era de aproveitar certas oportunidades e eu aproveitei.

***

Alguns registos mais


- Em 1970, de passagem por Nova Lisboa (hoje Huambo) e sabendo que viviam ali a senhora Floripes do Fermino e marido senhor António, lá arranjei maneira e fui ter com eles à praça onde vendiam, foi uma alegria ver pessoas de Loriga, ficando para mim as gratas recordações de me terem dado da melhor fruta que lá tinham, que me fizeram bastante jeito na viagem que ainda tinha pela frente. O senhor António, marido da senhora Floripes faleceu poucos anos depois.

- Um certo comércio de mercado negro de diamantes era uma prática de negócio no Leste de Angola, nomeadamente no Luso (hoje Luena), sendo do nosso conhecimento grandes fortunas que existiam conseguidas através desse meio. Em certa forma, os militares também se envolveram nesse negócio, apesar do risco que se corria, sabendo-se até de alguns militares, que com alguma sorte chegaram a ganhar bom dinheiro.
Como conhecimento de causa, eu próprio posso falar nisso, por me ter também envolvido chegando ao ponto de em determinada fase andar mesmo obcecado, conhecia até praticamente todos os "passadores" aqueles que compravam os diamantes e depois levavam para Luanda onde eram depois também vendidos a outros negociantes, enfim, era um negócio arriscado e de certo secretismo, ainda cheguei a fazer uns negociozitos, infelizmente em pequena dimensão, que ao fim e ao cabo deu apenas para umas "migas" ou umas pequenas lembranças que trouxe depois para Metrópole.
Pelas Sanzalas ou "kimbos" como assim se dizia relacionado aos bairros periféricos do Luso (Luena) tinha até muitos conhecimentos e amizades que me procuravam de dia ou de noite, no entanto, a sorte não era comigo. Lembro até uma vez, que um desses conhecimentos me procurava pela cidade, perguntou então a um colega por mim, este sabendo que a procurarem-me representava alguma coisa, por meio de umas bebidas conseguiu que esse lhe entregasse a mercadoria, por uma bagatela. Era apenas uma pedra e dias depois vim a saber que lhe rendeu bom dinheiro. Escusado será dizer que ainda nos zangamos, mas depois tudo passou e tudo foi esquecido. Era assim a vida dos militares em que a amizade por vezes superava tudo.
Nessa altura estava tão familiarizados com as qualidades das pedras, que sabia até distinguir o que era bom e mau, claro que, depois era confirmado por meio de alguns teste tradicionais que se faziam. Certo é, ter ficado nas minhas memórias, que pelas minhas mãos me passaram algumas pedras preciosas, que depois lapidadas em diamantes, provavelmente, foram parar a pessoas finas e abastadas.

- Também me encontrei no Luso em 1971 com o José Mário (Benito) e em Luanda em 1972 encontrei-me com o Horácio Simão, que estava a chegar e eu estava já de regresso à Metrópole, só que nestes casos não tenho registo de foto.

- No Natal de 1971 falei na Televisão nas mensagens de Natal, é de calcular a alegria que foi para a família, por isso também posso dizer que já apareci na televisão.

Nota complementar

- Ao fazer aqui este minha síntese de registo, resolvi fazê-lo sintonizando a maioria em gente de Loriga, documentando assim recordações. É evidente que muito mais ficou por contar, dessa feita noutra dimensão, no entanto, estes meus registos fazem parte da minha passagem pela Guerra do Ultramar na cidade do Luso (hoje Luena) onde passei mais de dois anos da minha vida (Março de 1970 até Abril de 1972), que apesar de tudo tenho ainda na recordação.

- Regressei à Metrópole nos finas de Abril de 1972, viagem de regresso efectuada em avião. Depois de uns dias na Amadora onde vivia, fui a Loriga visitar a restante família. Cheguei num Sábado dia de feira, de imediato voltei a ver uma imagem que desde o dia de São João de 1968 me acompanhava os pensamentos a todos os momentos e, que o destino fez que passasse a estar ao meu lado até hoje, ou seja a minha mulher
Lena que também aqui merece figurar, como minha homenagem.

* Adelino MM Pina (2008)

http://LesteDeAngola.weblog.com.pt/

http://www.guerracolonial.org/

http://LusoLuena.home.sapo.pt/Dedicatoria.htm


LORIGUENSES
NA GUERRA DO ULTRAMAR *

- Por várias razões não foi ainda possível saber-se ao certo quantos os loriguenses que passaram pela Guerra do Ultramar, tendo em conta da falta de uma Lista oficial.

- Por alguns dados concretos conhecidos de contagens espontâneas a nível particular, leva a crer terem sido mobilizados para fazerem a campanha da Guerra do Ultramar, mais de 300 loriguenses, um número significativo que projeta Loriga como a freguesia do concelho de Seia, que mais contribuiu para essa campanha do Ultramar.

- Na impossibilidade da existência de Lista oficial, foram sendo elaboradas Listas conhecidas, que de acordo com os números contabilizados, ficavam bastante longe das 3 (três) centenas de loriguenses na Guerra do Ultramar, por isso as listas existentes estão muito incompletas.

- As fontes mais significativas para uma contabilização até à data actual, foram relatos verbais de amigos e pessoas de família, colegas de armas nos mesmos percursos percorridos, temos também um significativo registo concreto, que foi feito através da rubrica Partidas e Chegadas no Jornal "A Neve" que mesmo assim ficou muito aquém visto não serem mencionados ali todos os loriguenses.

- Também se deve ter em conta o facto de não se ter conhecimento como concreto e oficial todos os Loriguenses que fizeram a Guerra do Ultramar, visto que muitos loriguenses residentes em Lisboa ou em outras partes do país, nunca terem sido contabilizados em Loriga.

- Outro facto e também importante e ter-se em conta de muitos loriguenses terem deixado Loriga e fixarem-se em vários locais do país, num número mais abrangente em Lisboa, que por terem deixado de ter qualquer contacto com a sua terra Natal, foi sempre difícil saber se fizeram a Guerra do Ultramar.

***
Nota Final

No desenvolvimento de uma pesquisa aprofundada fui conseguindo elaborar uma Lista, com o número de 236 loriguenses que fizeram a Guerra do Ultramar, o número mais elevado conhecido numa só lista, que mesmo assim longe dos 300 ou mais, que se supõe ser esse o número dos loriguenses que fizeram a campanha do Ultramar a todos os níveis.

Mas não vai ficar por aqui a pesquisa que me comprometi comigo mesmo de levar em frente e conseguir elaborar uma Lista com muitos e muitos mais loriguenses, que até então não estão mencionados, nessa Lista que consegui elaborar onde consta os 236 já ali registados.

Adelino Pina
Novembro de Ano 2019


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