Nossa Senhora da Guia


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Nossa Senhora da Guia
Padroeira dos Emigrantes
Festa Anual que se realiza no 1. Domingo de Agosto


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Senhora da Guia
Nossa Mãe clemente
Protegei Loriga
Iluminai sua gente.

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-A devoção a Nossa Senhora da Guia começou a ter uma maior implantação em Loriga, nos anos antecedentes a 1884, ano da construção da primeira capela.
-Os negociantes Loriguenses de lã, nas suas viagens pelo Minho, viram junto à Foz de um rio uma ermida em honra dessa Virgem e desde logo pensaram também poderem ter na sua terra uma capela em sua honra.
-O local onde está situada a capela de Nossa Senhora da Guia, era outrora conhecido pelo monte de "Gemuro"
-A primeira festa em honra de N.S.da Guia foi realizada em 6 de Outubro do ano 1884, e desde então passou a ser realizada todos os anos no 1º. Domingo de Agôsto.
-Apenas no ano de 1939 a festa não foi realizada, por motivo de um contencioso existente entre o Pároco da época e os seus paroquianos.


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Pintura em honra a Nossa Senhora da Guia (2003)
Autora:-Maria do Anjos Fernandes Gomes Antunes


Nossa Senhora da Guia - Padroeira do Emigrantes

A Imagem da Virgem da Nossa Senhora da Guia de visita à Igreja Paroquial, o que acontece uma vez por ano, quando da Festa em sua honra.


Hino em Homenagem a Nossa Senhora da Guia

Verso 1
Vós sois o lírio mimoso
Do mais suave perfume
Que ao lado do Casto Esposo
A castidade resume

Verso 2
De vossos olhos e pranto
É como gota de orvalho
Que dá frescura e encanto
À flor pendente de galho

Verso 3
Se em vossos lábios divinos
Doce sorriso desponta
Nos esplendores dos hinos
Nossa alma aos pés se remonta

Coro
Ó Padroeira amorosa
Clara estrela Mãe Pia
Dai-nos a Benção bondosa
Virgem Senhora da Guia

Verso 4
Vós sois a flor da inocência
Que nossa vida embalsama
Com suavíssima essência
Que sobre nós se derrama

Verso 5
Quando na vida sofremos
A mais atroz amargura
De vossas mãos recebemos
A confortável doçura

Verso 6
Vós sois a ridente Aurora
De divinais resplendores
Que a luz de fé revigora
Em nossas lutas e dores

Verso 7
E lá da Celeste altura
De vosso Trono e luz
Dai-nos Paz e ventura
Do vosso Amado Jesus

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Breve Apontamento da História deste hino à Nossa Senhora da Guia *

O cântico "Ó Padroeira Amorosa" cantava-se e ainda hoje se canta à Senhora da Nazaré na cidade de Belém-Pará-Brasil.

A história da introdução do cântico "Ó Padroeira Amorosa" na Festa da Nossa Senhora da Guia em Loriga remota ao ano de 1950.
Nesse ano e de visita à sua terra, o loriguense Sr. António Nunes Brito, emigrado na cidade de Belém -Pará, em conversa com o Senhor António Pinto Ascensão, então maestro da Banda Filarmónica de Loriga, falou no referido cântico, e desde logo surgiu a ideia de o adaptar à Nossa Senhora da Guia.
O Senhor António Pinto Ascensão escreveu-o para a Banda e passou desde então a cantar-se "Ó Padroeira Amorosa" Hino da Nossa Senhora da Guia.
Apenas foi alterado o refrão de "Senhora de Nazaré" para "Virgem Senhora da Guia", mas as estrofes são iguais.

Em Belém-Pará Brasil canta-se assim:
Ó Padroeira amorosa
Fonte de amor e de fé
Dai-nos a benção bondosa
Senhora da Nazaré

Em Loriga canta-se assim:
Ó Padroeira amorosa
Clara Estrela, mãe pia
Dai-nos a bênção bondosa
Virgem Senhora da Guia

* Registo de Arquivo de António Pinto Ascensão.


Recinto da Nossa Senhora da Guia no tempo

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Recinto da Nossa Senhora da Guia - 1986

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Canção dedicada à Nossa Senhora da Guia

Só, a fé em Vós, aqui nos traz
Junto do andor, Virgem Maria
Vós sois a bondade e sois a paz
A luz que brilha e nos guia
Nossa Mãe, Senhora da Guia.

Avé, Avé, doce Mãe
Agora que estamos Convosco
Unidos na Procissão
Nós seguimos-te com devoção

Avé, Avé, doce Mãe
Vós sois alegria e a bonança
A Santa Mãe de Jesus
Nossa guia e nossa esperança

Avé, Avé, doce Mãe
Aqui juntos à profia
Escutai a nossa mensagem
Neste dia de festa e romagem

A infância, outrora, aqui passada
Sempre nos levou a recordar
Vossa bela imagem imaculada
Por todos nós venerada
No Andor ou no Altar.

Ave, Avé, doce Mãe
Que a Vossa estrela brilhante
Ilumine o nosso povo
E também os nossos emigrantes.

Avé, Avé, doce Mãe
Dai-nos um coração p´ra amar
Saúde e sabedoria
E o pão nosso de cada dia.

Avé, Avé, doce Mãe
É tempo de testemunhar
Que somos todos irmãos
E a todos unir nossa mãos.

Avé, Avé doce Mãe
Agora e pela vida inteira
Protegei a nossa Terra
Mãe do Céu, nossa Padroeira.

Versos do Loriguense Carlos. A. Pinto (Agosto 1988) - Adaptados à música da canção "Joana" de Marco Paulo


Verso a Nossa Senhora da Guia*

Antes de adormecer
Louvo-te em sons musicais
Como canto de pardais
Que oiço ao amanhecer

É em ti que me protejo
Se me sinto sem abrigo
Sei que estás sempre comigo
Dás a mão quando fraquejo

Para mim és mais que guia
És a luz no meu dia-a-dia
Está em tudo que faço

Se vejo teu rosto sorrir
Vou como criança a fugir
Abrigar-me em teu regaço.

* Agosto de 2005 - Adélia Lopes


Loas a Nossa Senhora da Guia

É secular a Festa em honra de N. S. da Guia que todos os anos se realiza nesta localidade.
A primeira festa realizou-se no dia 6 de Outubro de 1884 e, a partir daí passou a ser realizada sempre no primeiro domingo de Agosto, fazendo atrair a Loriga muitos forasteiros, principalmente muitos dos Loriguenses ausentes por outras paragens.
Com a aproximação desta festa é tradição as pessoas na Vila cantarem as Loas que o povo um dia fez à sua padroeira.
Das muitas Loas existentes aqui se recordam algumas delas:

Estando eu em minha casa
Assentada a uma janela
Deitei os olhos ao longe
Vi uma linda capela!...

Nossa Senhora da Guia
Dizei-me onde morais?!
-Moro p´ra além da catraia
No meio dos pinheirais

Nossa Senhora da Guia
Mandou-me agora chamar
Deixa-me lá ir depressa
A ver o que me quer dar

Nossa Senhora da Guia
À vossa porta cheguei
Tantos anjos me acompanharam
Como de passos eu dei

Nossa Senhora da Guia
Quem vos varreu o terreiro?!
-As meninas de Loriga
C´um raminho de loureiro

Nossa Senhora da Guia
A vossa ladeira mata
Dai saúde os brasileiros
Que deram a cruz de prata

Nossa Senhora da Guia
Ela lá vem no andor
Com o seu menino ao colo
Que parece um esplendor

Nossa Senhora da Guia
Ficou à porta a chorar
Recolhei-vos, Mãe de Deus
Qu´inda cá hei-de voltar!..

Nossa Senhora da Guia
Rosa branca em botão
Dai saúde aos brasileiros
Que deram o pavilhão.

Nossa Senhora da Guia
Sois uma estrela brilhante
Dai saúde aos portugueses
São um povo navegante.

Nossa Senhora da Guia
Rosa branca encarnada
Até ao cimo da França
Chega a vossa nomeada.

Nossa Senhora da Guia
Arrendai a Carvalhinha
Arrendai-a por dinheiro
Que a sombra dela é minha.

Nossa Senhora da Guia
Tem o manto a fazer
Cheio de pérolas d´oiro
Ai tão lindo que há-de ser!..

Nossa Senhora da Guia
Mandai-nos tempo alegre!..
Há quatro dias que chove
Água fria como a Neve.

Nossa Senhora da Guia
Tem um tear à janela
Dá-lhe o vento, dá-lhe a chuva
Todo o fiado lhe quebra...

Nossa Senhora da Guia
Ai minha boa Mãezinha!..
Eu já fui a vossa casa
Vinde Vós agora à minha

Nossa Senhora da Guia
Quem te deu esse vestido
Foi um homem em Lisboa
Que no mar se viu perdido.

Vi uma linda capela
Procurei de quem seria
Um anjo me anunciou
Que era da Senhora da Guia

Nossa Senhora da Guia
Que dais a quem vos vem ver?!
-Aos casados, paz e alegria
Aos solteiros, bom viver

Nossa Senhora da Guia
Tem o caminho de giestas,
Bem podias vós, Senhora
Tê-lo de rosas abertas

Nossa Senhora da Guia
Hoje aqui vos venho ver
Já que me destes saúde
Estando eu para morrer

Nossa Senhora da Guia
Quem vos varreu o balcão?!
-As meninas de Loriga
C´um raminho de sarpão

Nossa Senhora da Guia
Tem uma redoma de vidro
Que lha deu um brasileiro
Que andava no mar perdido

Nossa Senhora da Guia
Tem uma estrela na mão
Que lha deu uma menina
No dia da comunhão

Nossa Senhora da Guia
Precisais lá de um jardim
Uma fonte para o regar
Um repuxo de marfim.

Nossa Senhora da Guia
Sois uma roseira branca
Quando nascestes no mundo
Logo foi para ser Santa.

Nossa Senhora da Guia
Por detrás do seu altar
Tem garrafinhas de vidro
Deitando águas ao mar.

Nossa Senhora da Guia
Pequenina e Airosa
Vem a gente de tão longe
Só p´ra vêr tão linda Rosa.

Nossa Senhora da Guia
Arrendai o pinheiral
Arrendai-o por dinheiro
P´ra ajuda do arraial.

Nossa Senhora da Guia
Ela lá em cima vem
Com o seu menino ao colo
Seus cabelos ao desdém.

Nossa Senhora da Guia
Mandai sol quer chover
Que se molham os efeitos
Das moças que vos vão ver.

Nossa Senhora da Guia
Combatida pelo vento
Tem as suas portas viradas
P´ro Santissimo Sacramento.

Nossa Senhora da Guia
Sois a mais bela das flores
Lembrai-vos sempre de nós
Terra Mãe dos pecadores.

Estas Loas à Nossa Senhora da Guia foram publicadas em 1958


Medalha do Primeiro Centenário das Festas em Honra de Nossa Senhora da Guia

Loriga 1884-1984

Centenário N.S.Guia.S.Guia.S.Guia.S.Guia.S.Guia.S.Guia.S.Guia

Centenário N.S.Guia.S.Guia.S.Guia.S.Guia.S.Guia.S.Guia.S.Guia


Centenário da Festa da N. S. da Guia (dias 2, 3, 4 e 5 de Agosto de 1984)

Aqui se documente como registo a Mordomia (1982-1986) da Nossa Senhora da Guia, quando da celebração do Centenário das Festas (1984)

1 - Orestes Gomes Aparício
2 - António Ferreira Penas
3.- Carlos José Brito Moura
4 - Joaquim Lemos Conde
5.- José Jorge Romano
6.- José Mendes Dias Aparício
7.- José Simões Moura
8.- António Ferreira da Silva
9.- Carlos Lucas Antunes Fernandes
10.- Emílio Lopes Brito
11.- Adelino Manuel Martins de Pina

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Mensagem Centenária do Pároco de Loriga *
(Aquando das Comemorações do Centenário da Festa)

É numa hora de sublime exultação e de extraordinária alegria que vos dirijo a minha palavra de Pároco e pastor das vossas almas.
Na verdade, se todos os anos vemos aproximar-se o primeiro Domingo de Agosto com a nossa alma a transbordar de Fé e de Júbilo, desta vez os nossos sentimentos de confiança e amor à Virgem Nossa Senhora da Guia crescem de forma incomensurável. É que se vão completar 100 anos desde que a festa a Nossa Senhora da Guia começou a celebrar-se em Loriga.
E, logo no inicio, vós tomastes por Vossa Padroeira, Padroeira dos Emigrantes, Padroeira dos Emigrantes, que então como ainda hoje, mourejáveis em grande número por Terras de Santa Cruz.
Depois, por circunstâncias da vida, muitos vos ausentastes para outros países e para outras terras do nosso Portugal. Mas a vossa devoção a Nossa Senhora da Guia não esmoreceu; ela tem crescido sempre nas vossas almas, Loriguenses Amigos, os que emigrastes e os que ficastes.
Pedimos por vós à Senhora da Guia, lembraremos as vossas necessidades espirituais e corporais, sobrenaturais e naturais, as vossas mais urgentes intenções, em especial na Santa Missa da festa.
Como Nossa Senhora ficará contente e vos proporcionará a sua celestial protecção e bênção ao celebrardes piedosamente a sua festa pela centésima vez!
Ela nos trouxe Jesus, o "Caminho, a Verdade e a Vida", e continua agora a encaminhar-nos a Ele. Sempre chegamos a Jesus por Maria. Pois que, nesta altura de tão solene e grande centenário da Sua Festa - se Ela é nossa extremosa Mãe, mostremos nós ser seus verdadeiros e devotos filhos, sejamos quem formos e seja onde for que nos encontraremos.
Que o nosso amor, a nossa devoção e dedicação, a nossa fé e confiança para com Ela cresçam nesta festa centenária!
E Ela continuará também a ser sempre a nossa Mãe, tão boa que quer e tão poderosa que pode encher-nos de todas as graças do Senhor.
Não são bons os momentos que atravessamos. Mas com Ela que poderemos temer?
Saúdo-vos a todos, com a maior estima e dedicação, o vosso Pároco sempre muito amigo nos Corações de Jesus e Maria.

* Padre Francisco Borges de Assunção

http://nsdaguialoriga.com.sapo.pt/n_s_guia.htm

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O Pavilhão e a Sineta da Senhora da Guia e o Fogueteiro
(Aquando das Comemorações do Centenário da Festa)


A "Comissão do Santuário de Nossa Senhora da Guia", de Loriga, pediu-me que escrevesse umas palavras para um opúsculo a publicar pela Mordomia em exercício, considerando ela completar-se neste ano de 1984 um século desde a primeira vez que a Vila de Loriga celebrou a Festa de Nossa Senhora da Guia, Padroeira dos Emigrantes.
Não estou devidamente documentado para escrever sobre o assunto de tamanha responsabilidade como este do "Centenário de Nossa Senhora da Guia".
As palavras voam, os escritos ficam. Assim diziam os latinos: "
Verba volant, scripta manent". O nosso povo "agarrou" este sábio provérbio (acaso noutro sentido) e diz com profunda sabedoria: "Palavras, leva-as o vento.
É mais difícil serem levados pelo vento os escritos, embora possa parecer o contrário.
Mais difícil ainda, serem levadas pelo vento as obras.
Quantas obras realizadas nestes cem anos de vida por tantos Loriguenses, por tão grande número de emigrantes! Olhemos para esses fontanários da Vila de Loriga. Contemplemos nas procissões da nossa Terra aquela famosa
"Cruz de Prata" que enche de orgulhosa alegria os Loriguenses. Fixemos os olhos naquela venerada Imagem de o Santa Maria Maior, Orago da Freguesia de Loriga, oferecida pelo senhor Augusto da Costa Madeira, que conheci. Olhemos para o belo altar de mármore da Capela de Nossa Senhora da Guia, e para o enquadramento desse altar.
Fixemos ainda os olhos naquela antiga placa de ferro fundido que nos habituámos a ver no coreto da Senhora da Guia, desde pequenos. Placas como esta e com outros nomes de Loriguenses que amaram a sua terra e manifestaram entranhado amor a Nossa Senhora da Guia, poderiam multiplicar-se. Quantos anónimos na história de Loriga!
Ainda hoje lemos comovidamente os nomes gravados naquela placa colocada no coreto da esplanada da Senhora da Guia. MAS eu prefiro usar a linguagem dos recuados dos tempos da minha infância e dizer como diziam então os meus companheiros daqueles bairros da nossa Velha Loriga desde a Redondinha ao Porto, passando pela Carreira, Bairro de São Ginês, Fonte da Almas, Amoreira, Reboleiro, Praça, Pelourinho, Terreiro do Fundo, Fonte do Vale, Vinhô e Lages.
Todos falávamos do
"letreiro" que estava no "pavilhão" do "terreiro da Senhora da Guia". Esse letreiro começava a ser lido por nós, pequenitos, a título da experiência para ver se já éramos capazes de dar provas de que o Senhor Professor Pedro Almeida e sua distintíssima filha Senhora Dona Alice ensinavam, de facto, a ler. E ensinavam.
Às vezes, depois da leitura do "letreiro do pavilhão", dizia um dos "leitores", esfregando as mãos contentes e dando saltos de alegria: Eh! Rapazes! Eu já sei ler os letreiros do pavilhão!
Começava a descoberta de um mundo novo atrás da leitura, E quem ensinava a descobrir esse mundo novo? O Professos, a Professora de Instrução Primária. Foram alguma vez devidamente apreciados os professores que no nosso País ensinam as primeiras letras? Feliz a criança que encontrou no seu caminho um bom professor de Instrução Primária! Toda a sua vida escolar ficou facilitada.
Mas, como crianças que éramos, logo deixávamos o
"letreiro do pavilhão" e voltávamo-nos para aquela sineta da capela da Senhora da Guia. Fazíamos dela o nosso "carrilhão" festivo, quando se aproximavam as Festas de Nossa Senhora da Guia. A sineta estava alta. O acesso não era fácil. Mas a "necessidade aguça o engenho". E nós sentíamos necessidade de tocar naquela sineta. Era a nossa maneira de nos exprimirmos. Entretanto, por toda a parte, nas casas, nos campos, na ribeira, e às vezes, até nas fábricas de lanifícios, povo de Loriga cantava "a Senhora da Guia". As loas que o povo de então cantava com grande entusiasmo, ainda hoje algumas Loriguenses as vão cantarolando por aí.
O folclore religioso que acompanhava, em certa medida ao ritmo da Liturgia, as festas da Igreja, era uma das grandes riquezas da nossa Vila de Loriga.
E a alegria que sentíamos quando chegava o
"fogueteiro" para preparar o "arraial? Os da minha idade lembram-se como eu me lembro. Então é que a sineta nunca mais parava. E quantas vezes se ouvia a voz de uma mãe que dizia: "Credo"! Aquela sineta nunca mais se cala! E deve ser o meu rapaz que anda prá lá, pró terreiro da Senhora da Guia. Se calhar até lá comeu com o fogueteiro. Ah! Velhaco! Quando chegares a casa, eu te coçarei! E, às vezes, assim era.
De uma coça que levei, por ocasião da festa, me lembro eu. Quem ma deu foi minha mãe, que Deus haja.
Eu era pequeno de 8 ou 9 anos. Gostava dos meus amigos e vizinhos. Mas, já dizia alguém,
"ele há horas do Diabo!" E há mesmo. Eu, miúdo tive uma dessas horas por ocasião da Festa de Nossa Senhora da Guia. Numa dessas horas do Diabo, tirei a minha mãe umas moedas e lá fui para a Senhora da Guia com alguns amigos e vizinhos, entre os quais o Hermínio do Senhor José da Cabreira, que em paz descanse. Convidei-os para irmos ao "botequim" que estava circulando a carvalha junto da casa do fogueteiro. E lá comprei uns comes e bebes, sobretudo para os "meus convidados". Eu, valha a verdade, pouco comi, e quase nada bebi, mas um dos meus amigos ficou de tal maneira que estando em frente de uma garrafa começava a ver duas. Eu, não cheguei tanto.
O que eu
"comi" foi em casa uma forte bofetada justamente dada por minha mãe, e uma fortíssima repreensão cheia de bom senso e de ternura que me ficou na memória para toda a vida.
Fui diferente do meu primo Padre Herculano. Ele, quando criança, tirou à mãe dois tostões para os dar a São Sebastião. Eu, tirei à minha mãe para me
"banquetear" com os meus amigos na festa da Senhora da Guia.
Que saudades desses tempos que já lá vão!

Como eu gosto de cantar esta canção:

"Oh minha terra onde eu nasci!
Quantas saudades eu tive de ti!
Amor redobra com as saudades.
Tu és pr'a mim o doce toque das Trindades!"

E como gosto da quadra seguinte, que me recorda esses tempos de menino meu padrinho e avô materno carinhosamente me fazia os piões com que eu gostava de jogar!

" Eu quero ouvir os teus pardais ao desafio!
Quero sentir a sombra amiga do estio!
E teus folguedos reviver com emoção.
Ó pião da minha infância, vem de novo à minha mão."

Quantas coisas eu teria para dizer desses tempos de criança quando, com outras crianças e em Loriga, eu jogava o meu pião feito pelas carinhosas mãos de meu avô!
Vou ficar por aqui na escrita, sem saber se fui ao encontro do que me pediram os Mordomos.
Mas então - deixei vós - um padre, e não falou da festa religiosa nem da santidade? Não, porque não era esse o assunto para agora.
Todavia, deixo aqui as palavras daquele frade franciscano que, passeando no belo claustro do convento do Varatojo por ocasião das Festas de Santo António, e ouvindo os acordes da Banda de Música que tocava lá fora, e os foguetes e morteiros que subiam ao ar, o bom frade, de olhos baixos, e as mãos metidas nas mangas do seu hábito de franciscano, repetia estas palavras saídas do coração de um contemplativo: "Ó meu Jesus! E tudo isto, por causa da Santidade!"

* Cónego Abranches
22. IV. 84

http://nsdaguialoriga.com.sapo.pt/n_s_guia.htm


Quadras dedicadas à Nossa Senhora da Guia

Viva a festa, viva a festa
De Nossa Senhora da Guia
Para a gente de Loriga
Não há melhor romaria

Todo o mundo vem para a rua
Há foguetes a estoirar
A Banda já está no adro
Os sinos estão a tocar

Na praça está tudo cheio
Nem sequer há um lugar
São muitos os emigrantes
A procissão vai passar

Das janelas enfeitadas
Com colchas multicolor
Lançam pétalas douradas
Que vão cair no andor

A Banda sempre a tocar
Sua música de eleição
Dá mais encanto à festa
E brilho à procissão

Vós sois a bonança
Que o mundo conduz
A nossa esperança
A mãe de Jesus

Senhora da Guia
Encanto e luz
A vossa magia
Só amor traduz

O povo cheio de fé
Ao ver passar o andor
Acompanham a procissão
Cantando com mais fervor

Vós que sois a guia
E a padroeira
Abençoai Loriga
Pela vida inteira

Estas quadras foram elaboradas para o Primeiro Centenário da Festa de Nossa Senhora da Guia (1984)


As Doações
À Nossa Senhora da Guia

O amor, a adoração, a fé e devoção para com a Nossa Senhora da Guia, ao longo dos anos, é sem dúvida o mais eloquente dos sentimentos que move os loriguenses para com a Padroeira dos seus emigrantes, que leva uma enorme vontade de contribuir com as mais diversas dádivas, que possa configurar como mais-valia em prol dum todo envolvimento em redor da Virgem Nossa Senhora da Guia, e que tem sido de importância vital para grandiosidade desta referência religiosa em Loriga.

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Emigrantes no Brasil
Grandes Beneméritos de N.S. da Guia

São vários os Beneméritos em prol da Nossa Senhora da Guia, que vamos encontrar na história desta Virgem na Vila de Loriga, considerada a Padroeira dos Emigrantes.

A Comunidade Loriguense em Pará do Brasil, que se foi formando ainda antes de meados do século XIX foi, desde sempre, de um grande bairrismo, sendo bem visíveis os vários contributos para com a sua terra e que ficarão, para sempre registados na história de Loriga.
Esses contributos traduzem-se em obras edificadas um pouco por toda a Vila, nomeadamente os fontanários, sendo ainda impulsionadores de muitas iniciativas bastantes significativas. A benemerência desta comunidade Loriguense no Pará, Brasil, que apesar da distância, não esqueceu a sua Vila e a sua Padroeira, é sobretudo dirigida a favor de Nossa Senhora da Guia, onde vamos encontrar muitas dessas obras e contributos, das quais me apraz aqui registar algumas.

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Terreno do Recinto da Nossa Semhora da Guia

O terreno onde se encontra situado o Recinto de nossa Senhor da Guia, outrora chamado monte "Gemuro", em 1880 pertencia a uma família loriguenses chamada Marques Guimarães. Nessa altura o povo resolveu apoderar-se daquele local para ali construir uma capela em honra de Nossa Senhora da Guia, que originou um certo conflito entre esta família e o povo.
Após ultrapassado todo esse conflito verificado, finalmente a família
Marques Guimarães, deu a sua anuência à ideia, considerando-se assim os primeiros Benemérito de Nossa Senhora da Guia.

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Coreto do Recinto da Nossa Senhora da Guia

Foi mandado edificar em 1905, por um grupo de emigrantes Loriguenses no norte do Brasil, para a Filarmónica ali tocar em dias de Festa. Os nomes dessas pessoas constam na placa ali fixada.

De acordo com a placa colocada no mesmo e com data de 1905, foram beneméritos para a sua construção:

- Joaquim Fernandes Gomes
- António Duarte Pina,
- Augusto da Costa Madeira
- José Lopes de Brito,
- João de Brito,
- José Alves Nunes Pina
- Manuel dos Santos Silva,
- José de Moura Galvão
- José dos Santos Portela

Coreto no Recinto da Nossa Senhora da Guia

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Guião Vermelho
Oferecido em 1888, por
Loriguenses da Comunidade no Pará, tendo um pau muito alto que seria depois cortado quando da inauguração da electricidade em Loriga.
(É desconhecida a Lista dos nomes que contribuíram nesta iniciativa)

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Cruz de Prata e Caldeirinha

Sempre com um verdadeiro sentimento religioso, era grande a devoção dos emigrantes Loriguenses no norte do Brasil pela sua igreja em Loriga e pela Nossa Senhora da Guia que era Padroeira dos navegantes e que passaram a chamar também a sua Padroeira por quem tinha verdadeira fé e sempre presente nas suas orações.
Esta oferta foi uma ideia surgida em 1905, de imediato levada em prática, que consistia na aquisição da Cruz e uma Caldeirinha, para o Santíssimo Sacramento, não só para ser usada na procissão da Nossa Senhora da Guia, como também em todas as outras procissões a realizar em Loriga. Assim no ano seguinte (1906) foi possível tornar-se em realidade essa ideia, que passou depois a ser muito admirada nas procissões,
Como registo aqui se mencionam os nomes de todos aqueles que contribuíram para a respectiva aquisição e que constam de um mapa, impresso na cidade do Pará orlado de vinheta e encimado com a Coroa (Escudo) nacional e que diz:
"Relação dos Benfeitores que concorreram para o beneficio de uma Cruz de Prata, oferecida ao S. Sacramento pela Colónia Loriguense residente no Pará em 1905": Oferecida em 1906 pelos loriguenses sediados em Manaus, sendo benzida oito dias antes da festa da N.S. da Guia.
"Francisco Aparício Pereira; Manuel Ferreira da Silva; José Jorge de Abreu; Manuel Gomes Aparício; António Gouveia; Manuel Nunes Ferreira; José Martins; António Gonçalves de Pina; Joaquim de Brito Prata; António Alves Ano Bom; José dos Santos Moura; Albano Mendes Ribeiro; António Pinto de Moura; Augusto de Moura Galvão; José Macedo Junior; José Gomes Aleixo; João dos Santos Manulito; José Nunes Amaro; José de Brito Antunes; José Mendes Cardoso; Manuela Lopes; José Aparício de Brito; António de Brito Macedo; Joaquim Fernandes Conde; José Elias Correia Júnior; António Cardoso de Moura; José Paixão; José Mateus-Fontão; José Gomes de Abreu; Fernando Lucas; António Pinto Luiz; José Pinto Luiz; António Oliveira; Emidio dos Santos Manulito; José Luiz Amaro; Emidio Gomes Lages; António Lopes Vide; José Lopes de Pina; António de Moura Pina; José dos Santos Ferrito; José de Brito Lourenço; António Gomes de Melo; João Aparício Carvalho; António Luiz dos Santos; Sebastião Fernandes; José Fernandes Prata; António Gomes Lages; António Pinto Caçapo Junior; João Gomes Francisco; Augusto Ribeiro; Francisco Gonçalves Pina; Plácido da Cruz Arrifana; António Duarte Gouveia; Manuel Fernandes Caçamelho; Pedro António Calado; Augusto Cardoso de Pina; José Cardoso de Pina; António João Luiz; Joaquim João; António de Brito Crisóstomo; Augusto Fernandes Conde; António Aparício de Brito; António Ramalho da Costa Brito; José Duarte Pina; Plácido Gomes Aparício; António Luiz do Banco; Plácido dos Santos Ferrito; António de Brito Braga; José Lemos de Moura; Augusto Duarte dos Santos; António Duarte dos Santos; Emidio Gomes Cazalho; António da Silva Sampaio; João Diogo Gouveia; José da Costa Serralheiro; Manuel dos Santos; António Alves Ferreira; António Nunes de Pina; Luciano dos Santos Aparício; José Lopes de Brito Antunes; Augusto Pinto e Francisco Martins da Mota"

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Guião Azul da Nossa Senhora da Guia
Oferecido em 1908, por
Loriguenses da Comunidade no Pará, bastante interessante e belo.
(É desconhecida a Lista dos nomes que contribuíram nesta iniciativa)

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Altar da Capela

Mandado edificar em 1953 este belo altar a retábulo de mármore com motivos alegóricos à Ladainha da Virgem.
É digno de realce e digno de admirar este belo altar em honra de Nossa Senhora da Guia, obra valiosa e artística. Toda uma fachada de parede da capela feita em mármore com oito painéis onde destaca aquele belíssimo altar.
Iniciativa a cargo do Centro Loriguense em Belém do Pará. Sendo extensa a Lista de oferta desta briosa e bairrista Colónia de Loriguenses residentes no norte do Brasil, onde todos quiseram contribuir com o seu donativo para a colocação de um altar na capela da sua padroeira.

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Bandeira Processional

Foi de verdadeira devoção, a oferta desta rica e artística Bandeira Processional para a N. S. da Guia, cuja imagem foi pintada com grande fidelidade no estandarte. Esta doação foi feita em 1960 quando de uma das suas visitas à sua terra, por Sr. Joaquim Dias da Silva e sua esposa D. Carolina Mendes da Silva, emigrantes Loriguenses em Belém-Pará.
Tinham sido também estes Loriguenses que numa das suas anteriores visitas a Loriga, tinham oferecido uma linda toalha pintada, para o altar da N. S. de Fátima na igreja matriz.

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Ouro da Nossa Senhora da Guia

Através dos tempos, tem sido de realce as acções beneméritas, doações e as mais variadas ofertas, que são endereçadas para a Nossa Senhora da Guia, que têm sido de importância vital para grandiosidade desta referência religiosa em Loriga. Significativo também tem sido desde sempre as ofertas de artigos de ouro, nomeadamente, fios, correntes, anéis, brincos etc., que os fiéis e devotos da Nossa Senhora da Guia em Loriga doam à sua Virgem, de certa forma no cumprimento de promessas que hoje em dia se traduz num valioso espólio, de verdadeira magnificência.
Sabe-se também que estes géneros de ofertas continuam ainda bem presentes no nosso povo, no entanto, parece não restar dúvidas que já não tem amplitude como aconteceu nas décadas de 1950/60/70 e 1980, que como se sabe teve uma maior relevância, sendo também do conhecimento geral que todo esse espólio, como natural, estar sempre na posse do Pároco de Loriga.
Recorde-se que todo este espólio do ouro da Nossa Senhora da Guia, que durante anos esteve sempre à guarda do Pároco de Loriga, alguns anos a esta parte passou a ser guardado na caixa forte do Banco Santander Totta, onde ali permanece.

Aqui se documenta as Listas existentes de todo o ouro contabilizado até aos Anos de 1986

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Aqui se documenta as Fotos existentes do inventário do ouro que reporta até aos anos de 1986

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Novo Lustre
Da Capela da Nossa Senhora da Guia

Foi uma oferta do loriguense, Mário Pinto Lucas, radicado em Belém - Pará - Brasil, que no ano de 1983, duou para a Capela de Nossa Senhora da Guia, este grandioso e brilhante lustre de cristal.
O Lustre foi escolhido e adquirido numa casa de especialidade na Baixa Lisboeta, pelo saudoso Reverendo Padre António Abrantes Roque Prata, antigo pároco de Loriga.
O antigo Lustre que foi retirado da Capela de Nossa Senhora da Guia, foi oferecido pela Comissão para a Capela de Nossa Senhora do Carmo. Era Pároco de Loriga o Reverendo Padre Francisco Borges de Assunção.

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O altar no alpendre
Da capela da Nossa Senhora da Guia

O altar em granito edificado no alpendre da capela da Nossa Senhora da Guia, foi oferecido pela Câmara Municipal de Seia, no ano de 1984, quando era festejado o 1º. Centenário das Festas, sendo atendido o pedido idealizado pela Mordomia na altura.

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Oferta de um terreno adjacente ao Recinto

Maria de Lurdes Duarte Gouveia, proprietária de um terreno com uma área de 1.250 (m2) adjacente ao Recinto de Nossa Senhora da Guia, cedeu gratuitamente esse terreno à Mordomia, conforme consta da Declaração que foi inserida no Jornal "A Neve" Nr. 463 de Outubro de 1997, que aqui se transcreve.

Declaração

"...Mais declaro que nesta data, dia dois de Julho de 1997, cedo gratuitamente o referido terreno à Mordomia de Nossa Senhora da Guia, destinado ao seu uso e alargamento do Recinto do Santuário e outras finalidades que a Mordomia quiser dar-lhe, nomeadamente para o desvio da canada pública existente no recinto do Santuário.
Logo que oportuno e em colaboração com a Junta de Freguesia de Loriga e a Mordomia de Nossa Senhora da Guia, proceder-se-á à legalização do referido prédio".

Loriga, 02 de Julho de 1997
A Declarante
Lurdes Duarte Gouveia


Nossa Senhora da Guia Padroeira dos Emigrantes

A devoção a Nossa Senhora da Guia em Loriga, remota ao século XIX. Na altura verificava-se já com alguma regularidade, a saída de loriguense para o Brasil, passando a emigração de Loriga a ser uma realidade.
Os emigrantes loriguenses para o Brasil, começaram a ver na Virgem Nossa Senhora da Guia a sua Padroeira. Através dos tempos foi-se reforçando essa devoção passando mesmo a ser a Padroeira de todos os emigrantes loriguenses.

Carta de um Emigrante a Nossa Senhora da Guia:

"Desculpa, Virgem-Mãe , Nossa Senhora, que te escreva, esta carta, em que te diga o que mais quer dizer-te, nesta hora, o filho mais humilde de Loriga.
Da minha terra vim para o deserto, porque é sempre deserto a terra alheia. Mas, se te lembro, sinto-me tão perto, como se fosse ver-te à minha aldeia.
Sei que, ao longo da vida, não me esqueces. Sei que não me abandonas um só dia. Ouves, no céu, a voz das minhas preces. Mesmo a distância, O teu olhar me Guia.
Não me larga a saudade. Quando penso no velho lar beirão em que nasci, Logo molho de lágrimas o lenço, como posto a chorar ao pé de ti.
Porque faz bem chorar na dor sofrida. Porque faz bem chorar na solidão, recordando o altar da tua ermida a que nos anda preso no coração.
Daqui te evoco à sombra do pinhal, saindo à rua sobre o teu andor, ou eu já não trouxesse Portugal a cantar-me no sangue, em teu Louvor.
Mas o que o berço deu, jamais se apaga. O que aprendemos a rezar outrora é que nos cura o mal de cada chaga que se nos rasga pelo mundo fora.
O trabalho não custa. O que nos pesa, o que mais cá por dentro nos arrasa é comermos o pão da nossa mesa, sem que seja ao calor da nossa casa
Mas tu não faltas. É contigo apenas que nos juntamos em família amiga, como nas claras tarde das novenas, ao replicar dos sinos de Loriga.
Faz, Senhora, que um dia volte a ver-te, como nos tempos em que minha mãe me levava a teus pés, para dizer-te o que não te diria mais ninguém.
Se longe estou, que seja passagem e depressa regresse ao teu pinhal, para florir de novo a tua imagem, e nunca mais sair de Portugal".

11.VII.82
P. Moreira das Neves


Recortes de história da Festa da Nossa Senhora da Guia

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- Ano de 1935 - Uma controvérsia comissão

Neste ano e pela primeira vez, surge um grupo de pessoas intitulando-se como comissão para organizar a Festa de N. S. da Guia, contrariando como até então se procedia, em que as festas religiosas estavam a cargo do Pároco local
Foram mesmo espalhadas em Loriga e freguesias vizinhas uma publicação com a programação seguinte:

"Tradicionais e grandiosos festejos em honra da Virgem N.S. da Guia pela comissão das festas da Vila de Loriga. Realisam-se nos dias 3 e 4 de Agosto as importantes Festas da Vila à Virgem N. S. da Guia, padroeira dos Loriguenses ausentes, indubitavelmente uma das mais concorridas deste distrito, constando o seguinte programa:

Dia 3 - às 12 horas - Serão queimados foguetes e morteiros anunciando as festas. Às 16 e ½ horas - Seguirá para a Avenida Augusto Luiz Mendes a Filarmónica loriguense onde deverá fazer-se uma recepção à Banda humanitária de Bombeiros Voluntários de Cascaes pelas 17 horas, queimando-se uma salva de morteiros. Às 17 horas - Haverá venda da flôr. Às 21 horas -Entrada das duas filarmónicas no recinto das festas, sendo queimada uma salva de 21 tiros. Às 22 horas - Será queimado um vistoso fogo de artificio, fornecido por um dos melhores pirotecnicos da Barquinha. O arraial estará lindamente ornamentado e iluminado a luz elétrica. As bandas executarão as melhores peças dos seus vastos reportórios.

Dia 4 - Diversos divertimentos mundanos, bem como várias surpresas que acabam de movimentar a festa."
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(curiosamente não era feita nenhuma referência a culto religioso)

Escusado será dizer que perante isto, surgiu um contencioso entre o Padre Lages, na altura Pároco de Loriga e os membros dessa comissão e também alguma população, sendo dado conhecimento e mesmo enviado o respectivo programa ao Senhor Bispo da Guarda, que por sua vez enviou ao Pároco de Loriga a seguinte Portaria:

"Tendo sido publicado um programa com o titulo Tradicionais e grandiosas festas em honra da N.S. da Guia pela comissão das festas da Vila de Loriga, realisam-se nos dias 3 e 4 de agosto; indicando-se nesse programa o arraial e (diversos divertimentos mundanos, bem como varias surpresas), com exclusão de qualquer acto culto; Havemos por bem prohibir a celebração nesses dias de qualquer festividade religiosa naquela Vila, podendo essa festa ser adiada para quando o Rev.do Paroco julgar conveniente, com a condição, porém, de que limitará unica e exclusivamente a actos religiosos, com exclusão de qualquer parte profana.
Seja esta Portaria remetida ao Rev.do Paroco de Loriga, para que lhe dê exacto cumprimento, sob pena de suspensão ipso facto, devendo acusar-nos a sua recepção dentro de cinco dias.
Caldas da Felgueira, 24 de Julho de 1935
JOSÉ, Bispo da Guarda" *

* Documentos transcritos na integra,

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- Ano 1939 - O Ano em que não houve Festa

Desde à quatro anos atrás que continuava a existir um certo contencioso, entre o Padre Lages e alguma população, com esta a não conformar-se pela proibição existente de não ser permitido arraiais populares nas festas de cariz religioso.
Este contencioso teve maior proporção, neste ano de 1939, que levou a não ser realizada a Festa em honra de Nossa Senhora da Guia.
Consta que na noite anterior à Festa da N.S. da Guia, por volta da meia-noite, alguns populares dirigiram-se para o recinto da festa deitando alguns foguetes, chamando a atenção da população, para que ouvissem os seus protestos.
Foi dado disso conhecimento ao Senhor Bispo da Guarda, que por sua vez fez chegar ao Senhor padre Lages o seguinte comunicado:
"Revm. Sr.
Queira dizer-nos:
1º. O que se passou na noite de Sábado último?
2º. O que resolveram fazer: fizeram ou não a festa religiosa?
3º. Justifiquem o que tiverem feito.
4º. Será preciso interditar os promotores do que se fez? Houve realmente promotores? E quantos?
Deus guarde Va. Reva.
Guarda, 7 de Agosto de 1939
Assinado) José Bispo da Guarda" *

* Documento transcrito na integra,

Nota:- Consta no entanto que 15 dias depois houve uma celebração na capela, ao que parece, em substituição da festa.


O asfalte da ladeira
Da Nossa Senhora da Guia

Foi na década de 1980 que a Câmara Municipal de Seia, finalmente resolveu proceder ao asfalte da ladeira, ramal do cemitério até ao recinto, que de certa forma era uma das maiores carências que existia naquele local e que há muito os loriguenses reivindicavam.
Foi a Mordomia de 1983/84/85/86, na altura do centenário das festas, aquela que mais se empenhou para que fosse asfaltado a ladeira que vai do cemitério ao recinto da Nossa Senhora da Guia, que veio a ser recompensada com a realização desse trabalho, que passou então a ser um bem vital para o acesso ao belo recinto da Nossa Senhora da Guia de Loriga.

Antes do asfalte

Depois de colocado o sfalte


Painel na Catraia da Nossa Senhora da Guia
Painel em honra da Nossa Senhora da Guia, construído no principio da descida da catraia que leva ao Recinto da Nossa Senhora da Guia, inaugurado em Agosto de 2008, idealizado pela comissão da mordomia da Festa da N. S. da Guia (2007-2008).


Trovas à Nossa Senhora da Guia *

Nossa Senhora da Guia
Tem um Menino na mão
Tem um Menino a que, um dia
Deu todo o seu coração.


Nossa Senhora da Guia
Mostra ao seu povo uma estrela.
Causa da nossa alegria
Não há Senhora mais bela.


Nossa Senhora da Guia
Foi num pinhal que se ergueu.
E no pinhal, à porfia
Cantam as aves no Céu.


Nossa Senhora da Guia
Jamais esquece ninguém.
Trás sempre o olhar de vigia
A quem lhe reza do Além...


Reza-lhe tu, emigrante
Reza-lhe tu e confia.
Nunca te larga um instante
Nossa Senhora da Guia

* Padre Moreira Neves


Capela da Nossa Senhora da Guia

A veneração à Nossa Senhora da Guia nesta localidade de Loriga, surgiu nos meados do século XIX, ideia trazida pelos "Cartagenos", nome dado aos negociantes de lã que iam por outras terras do país; nomeadamente pelo norte, vender as peças tecidas manualmente.
Esses "Cartagenos", nas suas andanças comerciais viram no Minho, mais precisamente em Vila do Conde junto à foz do Rio Ave, uma ermida em honra de Nossa Senhora da Guia, padroeira dos pescadores. Quando em Loriga se pensou construir uma capela em louvor da Virgem, como nessa altura os Loriguenses começavam a sair, emigrando para o Brasil, o nome escolhido foi o de N.S.da Guia, que passou a ser, nesta vila, a padroeira dos emigrantes.
Nos primeiros anos da década de 1880, sendo o povo de Loriga muito devoto, de muita fé e de muita coragem, quando se procedia às obras da reconstrução da Igreja matriz destruída em consequência de um abalo de terra verificado nesta região da Beira, de imediato o pensamento da construção da capela tomou ainda maior forma. O monte "Gemuro", que emerge da ribeira de São Bento foi o escolhido. Situado a nordeste da povoação, a pouco mais de um quilómetro do centro da Vila, era porventura o local mais indicado. No entanto, não foi uma escolha pacifica, originando muitos conflitos e confusões, que só o tempo viria a saldar.
Aquele lugar conhecido por "Gemuro", era uma passagem dos proprietários dos pinhais e que servia também de caminho de acesso à freguesia da Cabeça, sendo terreno plano, soalheiro e de boas vistas. Ali se juntava o povo aos domingos, nas tardes de verão, para descansar dos rudes trabalhos da semana sendo, ainda, um verdadeiro miradouro para o monte do Colcorinho, sobretudo no domingo do Espírito Santo e quando da celebração da festa de N.S. das Preces em Vale Maceira.
A família Marques Guimarães, proprietários daquela terra e pinhais, não via com bons olhos o ajuntamento de estranhos nas sua terras. Mas o povo, cada vez mais sentia-se atraído por aquele local, para os seus convívios familiares, de lazer e descanso. Quanto mais os donos procuravam defender os seus direitos, mais o povo parecia tomar conta daquele lugar e, movidos pela ideia da construção da capela, começaram mesmo a derrubar os pinheiros e a terraplenar o terreno. Nem mesmo as autoridades administrativas locais conseguiram demover o povo a desistir do fim que tinha em vista, passando desde logo esse lugar a chamar-se por Senhora da Guia. Nessa época, era paroco de Loriga o Sr.Padre Matias.
Em 1884, foi concluída a construção da capela, feita de pedra de xisto. Esta capela durou cerca de 40 anos e tinha a entrada principal virada para a povoação. A primeira festa em honra de N.S. da Guia realizou-se nesse mesmo ano, em 06 de Outubro, para depois passar-se a realizar sempre no primeiro domingo de Agosto.
No inverno, aquele local era frequentemente assolado por ventos fortes e enxurradas de águas, o que fez com que a capela primitiva fosse ficando muito degradada. Em 1917-18, como não parecia oferecer segurança, após mais de três décadas de existência, pensou-se na sua demolição tendo, para o efeito, sido constituída uma comissão, com a finalidade de dar início à construção de uma nova capela. Foi então demolida a primitiva capela e edificado uma outra que ficaria concluida por volta do ano de 1921.
É esta a capela que chegou até aos nossos dias, com as medidas de 9,30 X 6,90 metros, tem ao longo de todos estes anos de existência, conhecido várias transformações tendo já pouco a ver com a inicialmente edificada.
Os relatos da época dizem, que a festa realizada após a construção da nova capela, foi de verdadeira emoção e alegria. Era então pároco de Loriga, o Monsenhor António Gouveia Cabral e, no rosto de todos os presentes, era bem visível esse contentamento por terem proporcionado uma digna capela à Virgem que, do seu andor, parecia dizer ao menino que olhava sua Mãe:- "Vê como meus filhos me amam"
O recinto da N.S.da Guia é, na verdade, hoje em dia, a "coroa" da Vila de Loriga e digna de ser vista por todos os visitantes. A capela de N.S. da Guia e a Virgem tem, sem dúvida, o grande afecto dos emigrantes Loriguenses espalhados pelo mundo.

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A imagem da Virgem, tão bela e expressiva foi feita para os lados de Braga e data da construção da primitiva capela. Chegou até bastante antes da capela estar concluída.
Existe uma outra imagem - Nossa Senhora da Guia pequenina - que devia vir para Loriga por volta de 1901-1902. A razão desta segunda imagem é a seguinte:
O dia da festa, excepto o primeiro ano (1884), sempre se realizou no primeiro domingo de Agosto. De manhã, muito cedo, a imagem vinha em procissão da Capela para a Igreja, regressando para a sua capela cerca do meio dia. Acontecia que muitos romeiros, alguns de longes terras, vinham até à capela cumprir as suas promessas e dar as suas esmolas e não encontravam a Imagem da Virgem o que bastante os desconsolava. Foi por isso que se mandou fazer outra imagem que substituísse, na ausência, a primitiva imagem de Nossa Senhora da Guia, como hoje ainda isso acontece.

Festa em honra de Nossa Senhora da Guia

A Festa em honra de Nossa Senhora da Guia, realiza-se anualmente no primeiro Domingo de Agosto.
Para além do acto religioso em que é relevante a magestosa procissão e missa campal, tem como complemento também a parte musical, que decorre normalmente no recinto e também na vila.
É a maior Festa que se realiza em Loriga e a que mais visitantes atraia a Loriga, nomeadamente os Loriguenses espalhados pelo país e pelo mundo.
As mordomias nomeadas, levam a efeito vários eventos, tendo ao longo do ano a preocupação de angariar receitas, não só para a realização da Festa anual, mas também ter sempre presente fundos para despesas pontuais, obras e restauro da Capela, Coreto, Casa do Fogueteiro e ainda a conservação de toda a área envolvente do recinto e rampa de acesso.



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