Na ideia de documentar-se um período
da história de Portugal, que em certa forma, todas as famílias loriguenses
a ela ficaram ligadas, vamos aqui registar os testemunhos em sínteses de relatos
e registo, de todos esses loriguenses que passaram pela Guerra do Ultramar, período
da nossa história que durou cerca de 15 anos de luta armada e que veio a culminar
no desmoronamento do império português de colonização.
São testemunhos de uma geração loriguense que na idade mais importante
das suas vidas, eram obrigados a lutar por uma causa, por simplesmente serem portugueses,
que fazem parte também da história de Loriga, por isso, solicita-se a
todos aqueles que queiram colaborar nesta ideia, fazerem chegar alguma da documentação
mais relevante, para que assim fique para sempre registado na memória e para
a posteridade, tendo ainda esta ideia como principal objectivo numa homenagem a todos
aqueles loriguenses que viveram este período dificil da nossa história.
Na ideia e como objectividade, em que os relatos e registos aqui documentados se fixem
na originalidade, serão também mencionados os alcunhas das pessoas e
das famílias, para uma melhor identificação, tendo em conta ainda
que os alcunhas popularmente conhecidos, que sempre existiram, existem e existirão
em Loriga, fazem parte da cultura do povo loriguense de que todos nos orgulhamos.
As primeiras mobilizações
de loriguenses para as Colónias Portuguesas por motivo da Guerra
do Ultramar aconteceram, quando começou a luta armada em Angola
precisamente a 4 de Fevereiro de 1961.
Angola: Alfredo Moura Pina António Alves de Oliveira
Carlos Alberto Brito
Fernando Mendes Moura
Fernando Pereira Alves
António Ferreira Penas
Carlos Alves de Jesus José Prata Alves
Armando de Brito Simão
Também no ano de 1961 foram
mobilizados para a Índia (Goa, Damão e Diu) onde estavam
quando a República da Índia invadiu esses territórios
portugueses, no dia 18 de Dezembro de 1961, ficaram então prisioneiros
de guerra durante algum tempo.
Índia: Emílio Jorge Reis Leitão José Brito Ribeiro Carlos Moura Leitão António Alves Luís
Vítimas da Guerra do
Ultramar
De maneira alguma
se pode também esquecer, os loriguenses vítimas do conflito
armada da Guerra Colonial, que constam da Lista inserida no monumento
erguido em memória dos militares do Concelho de Seia, vítimas
desse conflito. Numa homenagem singela aqui recordamos, registando
os nomes do loriguenses vítimas da Guerra do Ultramar.
Mário
Antunes Romano *
(Vítima de doença relacionada
à sua campanha - Falecido em 21.11.1965 já em Lisboa
- sepultado em Loriga)
(* Não consta da Listagem Oficial
dos mortos em campanha do UItramar) Carlos de Moura Fernandes (Vítima de acidente viação
- Falecido em 31.12.1965 - sepultado em Malanje-Angola)
António Santos Moura (Vítima de doença -
Falecido em 2.3.1968 - sepultado em Sacavém)
António Mendes dos Santos
(Vítima de acidente viação
- Falecido 2.11.1973 - sepultado em Loriga) Carlos Augusto Pereira Figueiredo
**
(Vitima por motivo do naufrago do navio
onde viajava, num rio junto à costa de Moçambique, o
seu corpo nunca foi encontrado, considerado como desaparecido - Ano
de 1961)
(* Não consta da Listagem Oficial
dos mortos em campanha do Ultramar) Manual Brito Rega ***
(Vítima de acidente de viação
- Falecido 5.3.1975 - sepultado no Cemitério de Seia)
-----------------------
** Vítima
de doença, pelo facto de ter falecido já em Lisboa, não
consta da Listagem oficial dos mortos do Ultramar.
** O seu corpo nunca foi encontrado, sendo considerado
como desaparecido pelas instâncias militares.
*** Está inserido na Lista dos mais de 300 mortos
em campanha, que não foram sepultados na terra da sua naturalidade.
Na Lista oficial consta como tendo sido sepultado no cemitério
do concelho em Seia, nunca tendo sido divulgado pelas instâncias
militares o número da sepultura.
Lá longe onde o Sol castiga
mais.....
Testemunhos dos Loriguenses na Guerra do Ultramar
Viriato
Simão Mendes* Comissão em Macau 1956 -1958
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa
em 1956, tendo assentado praça no Regimento de Artilharia Pesada
Nr.3 na Figueira da Foz, onde também tirei a especialidade de
condutor de pesados. Ali estive nesta bela cidade junto ao mar, o meu
tempo do serviço militar decorria dentro da normalidade portanto
sem problemas de maior.
Na altura ao entrar para a tropa ainda
o nosso país não se confrontava com a chamada Guerra
do Ultramar, no entanto, dentro do pouco que se ia sabendo era já
notório uma certa agitação politica, de qualquer
maneira nessa época na mente de todos nós ao entrarmos
para a vida militar, era somente poder passar o tempo obrigatório
estando perto da terra e da família, que neste meu caso Figueira
da Foz de certa forma não era assim também muito longe
e por isso parecia-me estar com uma certa tranquilidade.
Ano 1956 Dia da entrada para a vida
milita (Figueira da Foz)
Estava ali já alguns
meses, quando no princípio de Fevereiro de 1956, uma inesperada notícia
chega até mim, ao ser informado da minha mobilização para
Macau, mobilização determinada nos termos de rendição
individual. Foi na verdade com surpresa que recebi essa notícia, assim
como, para a família que para além disso passou a ser também
uma preocupação, até mesmo em Loriga foi uma surpresa
geral visto que na altura a mobilização para as colónias
portuguesas não era uma prática comum.
Ano 1956 - Foto tirada
em Lisboa no Depósito de Tropas do Ultramar, no dia
10 de Fevereiro, com três colegas também mobilizados,
véspera da nossa partida.
Ano 1956
- Foto tirada em Lisboa no Terreiro do Paco, com o loriguense
António Farrancha
Nesse tempo Portugal
ainda não se debatia com o chamado flagelo da Guerra do Ultramar,
conflitos nas nossas colónias espalhadas pelo mundo não
existiam, a presença militar nas nossas colónias ultramarinas
resumia-se de certa forma a um aspecto militar como cumprimento administrativo,
de qualquer forma a minha mobilização para uma das nossa
colónias passou durante largo tempo a ser o tema das conversas
na nossa terra.
Depois dos dias de licença para
me despedir da família, fui enviado de imediato para Lisboa
para o Depósito de Tropas do Ultramar, aguardando ali pela viagem,
o que aconteceu em Março de 1956, embarcando a bordo do navio
"Índia" tendo como rota o Mar mediterrâneo,
para atravessar o Canal do Suez, tendo passado ainda pelo Sirilanca,
Índia, Ceilão Singapura, Hong Kong e finalmente Macau,
onde desembarquei no dia 22 de Abril de 1956
Ano 1956
- Navio "Índia" no dia da partida
Foto 1956 - Vista de Macau
na época, em grande plano sobressai as famosas Ruínas de São
Paulo que são uma referência da cidade de Macau, ruínas
que perteceram à antiga Igreja da Madre de Deus e do adjacente Colégio
de São Paulo, importante complexo do século XVI.
Se por um lado eu e os meus
colegas íamos angustiados por termos que ir cumprir o serviço
militar para tão longe, do outro lado do mundo como se dizia na altura,
foi também uma experiência que ficaria marcada nas nossas vidas,
passei e conheci países, cidades e outras culturas que nunca me tinha
passado pela cabeça que visse alguma vez a conhecer.
Povos diferentes com os mais diversos usos
e costumes, gente que viam em nós os colonizadores com um certo poder
de privilegiados, ao mesmo tempo que também já pensavam que chegaria
o dia de eles também se tornarem diferentes.
Ano 1956 - Foto
tirada na Índia com colegas de viagem
Ano 1956 - Foto
dia 7.Abril tirada na cidade Vasco da Gama na Índia
Chegados a Macau de imediato
entrei em serviço começando assim a minha comissão, que
mesmo parecendo que o tempo não passava, o meu tempo de tropa em Macau
foi decorrendo bem e sem sobressalto algum, como minha primeira missão
foi ser destacado durante 9 meses, para no Farol da Guia, depois fui condutor
dos Oficiais e Sargentos, mais tarde passei a ter como outra missão
a levar a comida à prisão civil, que se veio a prolongar todo
o restante tempo até ao fim da minha comissão.
Ano 1957-
Tirada no Hóspital de Macau
Ano 1957
- Todos os militares na altura em Macau,
foto tirada no Dia de Natal desse ano
Ano 1957
- Manuel o nossso "Mascote" da Unidade
Ano 1957 - Profissão
de Fé em Macau junto da altar da Nossa Senhora
de Fátima
Ano 1957 - Macau
junto do altar da Nossa Senhora de Fátima com um
colega e o nosso "Mascote" Manuel
Ano 1957 - Macau,
Gruta do Camões
Na época o cenário
de guerra não existia em qualquer das províncias do ultramar,
a nossa presença nesta longínqua colónia para lá
de outro mundo era uma presença autoritária num recanto do império
português além-mar, neste meu caso e por lá andando dois
anos tenho a consciência que contribuí com algum tempo da minha
mocidade em prol da Pátria nessas terras que se diziam também
ser Portugal, ao mesmo tempo, que tenho ainda hoje a convicção
de ter também contribuído para o bem-estar dessas terras e suas
populações.
Ano 1957
- Macau procissão das velas da Nossa Senhora de Fátima
Ano 1957 - Macau
um dia de belo descanso
Tendo completado os 2 anos
de comissão, nos finais de Abril de 1958, estava já à
espera da ansiada viagem do regresso. Chegou finalmente o dia há muito
esperado e no princípio do mês de Maio desse ano de 1958, embarco
em Macau a bordo do navio "Niassa" só que nunca esperava ter uma viagem tão
longa como veio a acontecer.
Ano 1958
- Cidade da Beira (Moçambique)
Saímos de Macau
tendo como destino a Hong-Kong, onde estivemos parados, depois o destino
foi Moçambique, mais propriamente à cidade da Beira onde
estivemos também parados, dali o ietenerário foi até
à cidade de Lourenço Marques, capital de Moçambique
onde estivemos alguns dias, ali me encontrei com os conterrâneos
Eduardo Melo, Albano Pereira e novamente com o António Farrancha,
com o qual me tinha encontrado em Lisboa antes de eu embarcar para
Macau.
Depois a paragem seguinte
foi a cidade do Cano na África, onde também estivemos
uns dois dias. No seguimento da viagem e depois de dobramos o Cabo
Bojador, com a entrada no Oceano Atlântico o nosso destino foi
a cidade de Lobito em Angola, onde ali estivemos mais dois dias, ali
me encontrei com o nosso conterrâneo Manuel Pinto "sapateiro".
Daqui e ainda na costa de Angola a paragem seguinte foi a bela cidade
de Luanda onde também estivemos três dias.
Depois da saída de
Luanda e quando pensávamos que a viagem seria directa a Lisboa, uma
nova paragem ainda se tinha que fazer, desta vez na Argélia norte de
África, onde estivemos três dias, depois daqui isso sim a que
foi directamente a Lisboa, onde cheguei no dia 24 de Junho de 1958, tendo o
total da viagem sido de 54 dias, ao longo dela vinha-me por vezes à
ideia e me cheguei até a convencer que esta minha viagem de regresso
nunca mais ia chegar ao fim.
Assim, para registo devo dizer que depois da
minha chegada a Lisboa me deu para contabilizar todo o tempo desde que tinha
partido dois atrás, assim aqui neste meu testemunho registo a impressionante
soma de 2 anos 8 dias 6 horas, da minha campanha por terras do Ultramar.
Nota Complementar
Passados cinquenta
anos desta parte da minha vida, que passei como militar, lá
muito longe ao serviço da pátria, na altura um procedimento
raro de cumprir o tempo da tropa fora do nosso cantinho aqui na Metrópole,
desafiado para aqui também dar meu testemunho, aqui estou a
fazê-lo com uma convicção forte de ter cumprido
com o meu melhor numa terra, que apesar de tudo e depois de dois anos
ali passados, me deixou muitas saudades.
Devo dizer ainda que no meu tempo por
vezes, íamos por rumores tendo conhecimento, que politicamente
nem tudo ia bem, relacionado coma as nossas colónias, por isso
com a minha mobilização ainda pensei que fosse por isso,
no entanto, pouco mais de dois anos passados depois do meu regresso,
a agitação passou a ser uma realidade culminada com o
assalto ao Santa Maria, invasão de Goa Damão e Diu e
o conflito de Angola, tudo isso o principio da Guerra do Ultramar,
que hoje posso dizer que tive sorte de ter cumprido o serviço
militar antes.
Já agora compete-me aqui também
registar que Macau, foi a última província a deixar de
pertencer a Portugal, passando para Região Administrativa Especial
da República Popular da China, na madrugada do dia 20 de Dezembro
de 1999, deixando a partir desse dia de pertencer ao nosso país,
que a colonizou durante mais de 400 anos. No entanto, por aquilo que
conheci enquanto lá estive e por aquilo que hoje sei, a presença
portuguesa irá sempre manter-se enraizada naquela terra que
foi Portugal e hoje é terra chinesa.
* Viriato Simão Mendes (2017)
Carlos
José Brito Moura * Comissão em Angola 1972 - 1974
(Posto militar - Cabo)
Fui alistado no dia
20 de Junho de 1970, quando fui à inspeção a Seia
ocorrida nas Instalações dos Bombeiros Voluntários
de Seia, assim como também a todos os conterrâneos nascidos
em 1950. Como se diz na gíria ficamos todos apurados. Alugamos
um autocarro e como não chegou, também foram alugados
carros de aluguer.
Entrei para a vida
militar em 27 de Julho de 1971, incorporado no 3º turno com destino
ao Regimento de Infantaria nº 12 na cidade da Guarda. No dia de
apresentação e ao responder a tudo quanto fui questionado;
o Sargento ao registar as minhas habilitações de antigo
aluno do Seminário dos Capuchinhos de Gondomar, olhou para mim
e me disse: Tenho para mim que te vais safar com uma boa especialidade.
Obviamente que fiquei surpreendido e também satisfeito. Nos
primeiros dias da minha vida de recruta, fiquei a saber que a incorporação
a que pertencia iria contribuir com um militar para os serviços
religiosos. Assentei praça na semana da Festa de Nossa Senhora
da Guia, e como crente e devoto, sentia que a nossa Padroeira era uma
estrela incandescente e presente que guiava os meus passos e as minhas
aspirações.
Ano 1971 - Guarda - Foto
do meu grupo de recrutas no RI 12, sou o oitavo na primeira fila a contar da
esquerda
Ano 1971
- Guarda - Recruta instrução
Transferi-me no dia
26 de Setembro para o Regimento de Infantaria nº 6 no Porto para
tirar o curso de Auxiliar do Serviço Religioso. Frequentamos
o referido curso 20 militares. No decorrer do curso e à medida
que o tempo ia passando, recebíamos a informação
de que os últimos 12 classificados eram de imediato integrados
nos batalhões que entretanto se preparavam para rumar para as
Províncias Ultramarinas (Colónias). Felizmente, com a
classificação que obtive permitiu-me ir para o Regimento
de Artilharia Ligeira nº 1, situada na Encarnação/Lisboa
no dia 19 de Novembro. Recebi as guias de marcha para viajar de comboio
da estação de S. Bento no Porto para Santa Apolónia/Lisboa
e o pré de dois escudos e cinquenta centavos. Em Santa Apolónia
apanhei o autocarro para a Encarnação e paguei três
escudos e cinquenta centavos. É só para constar que a
Instituição Militar não me deu o suficiente para
chegar ao Quartel. Fui promovido a 1º cabo em 13 de Novembro de
1971.
Muito sinceramente,
comecei a mentalizar-me de que o Ultramar não iria fazer parte
do cumprimento do meu serviço militar que supostamente me estaria
destinado. Normalmente quem não fosse integrado em batalhões,
dificilmente seria mobilizado. Mas, obviamente, que não somos
nós que marcamos o rumo dos acontecimentos e o que parecia inevitável
aconteceu. O Vicariato Castrense de Portugal decidiu reestruturar a
Delegação da Capelania Mor das Forças Armadas
em Angola e mobilizou de uma só vez os restantes oito militares
que frequentaram o meu curso. Este facto foi único na história
de mobilizações de Auxiliares do Serviço Religioso.
Embarquei no aeroporto de
Figo Maduro num Boeing 707 dos TAM (Transportes Aéreos Militares) com
destino a Luanda - Angola, no dia 13 de Março de 1972 em rendição
individual com destino à C C S do Quartel-general de Luanda. Fui colocado
na Igreja de Jesus de Luanda - Igreja Militar.
Ano 1972 - A Igreja de Jesus
de Luanda (Igreja Militar) foto esquerda interior (1972) foto direita fachada
2013)
Ano 1972
- Luanda - Horário das missas nas igrejas militares
de Luanda
Por feliz sorte fui
colocado na Igreja Militar de Luanda. A Igreja de Jesus é um
edifício religioso católico do século XVII, localizado
em Luanda. Construída a partir de 1607 como uma Igreja do Colégio
dos Jesuítas, é a mais antiga do centro histórico
de Luanda. Com a ocupação holandesa em 1641, o colégio
foi transformado em residência do Governador e a Igreja serviu
de Parlamento e Conselho Governamental. Com a reconquista pelos portugueses
em 1648, voltou a ser Igreja. Abandonado pela maior parte do século
XIX foi reconstruído e renovado em 1953.Foi desde o ano de 1962
a 1975 a Igreja Militar e é, desde 1978, a Catedral da Arquidiocese
de Luanda. Situada na parte alta da cidade está interligada
com os edifícios da Arquidiocese de Luanda e com o Palácio
do Governador de Angola (hoje Palácio do Governo da República
Popular de Angola)
Foi nesta Igreja e
na Chefia do Serviço de Assitência Religiosa, um edificio
que faz paredes meias, que desempemhei a minha missão. A assistência
religiosa não se confinava apenas e só aos militares,
funcionava também como uma Paróquia. No minimo eram celebradas
duas missas diárias e no fim de semana quatro. Realizavam-se
também funerais, baptizados e casamentos. Era muito desejada
pela sociedade luandense para celebrações matrimoniais.
Os horários do funcionamento da Igreja, não eram compatíveis
com os horários da C C S do Quartel General da Forças
Armadas. Por tal facto tive que no primeiro mês após a
minha chegada, tratar da burocracia militar para me desarranchar ou
seja deixar de habitar no quartel. Hospedei-me na "pensão Transmontana" junto ao bar das Ingombotas, próxima
da Igreja do Carmo e Parque Militar.
Ano 1972
- Luanda - Horário na Igreja de Jesus
Enlace matrimonial de António
Alves Pereira Júnior (TONECA) e Benilde Pereira, ele filho dos loriguenses:
António Alves Pereira e Laurinda Ascensão Pinheiro. Celebrante
D.André Muaca, Bispo de Auxiliar de Luanda e Bispo de Malange, auxiliado
por mim Carlos José.
Ano 1972 - Luanda Foto esquerda, momento da cerimónia
matrimonial - Foto direita, Festa de casamento no restaurante Restinga à
entrada da Ilha de Luanda (Da esquerda para a direita José Paixão
primo do noivo, eu Carlos José, António Paixão primo do
noivo e um primo Luandense do noivo Toneca
Enquadrado nas funções
que desempenhei, também fui catequista. Aos sábados, pelas 18,00
horas, uma hora antes da missa vespertina, a catequese funcionava para os filhos
dos militares e outros jovenzinhos. Recordo o Capelão Major Manuel Pires
de Campos, acompanhei-o várias vezes ao Centro de Leprosaria da Funda
no Cacuaco em Luanda, a levar assistência religiosa e humanitária
aos doentes. Estas acções eram partilhadas com os Missionários
Espiritanos.
Ano 1972 - Luanda - Leprosaria
da Funda no Cacuaco
Recordo o Capelão Capitão
Alberto de Carcavelos (da Ordem dos Missionários Capuchinhos) já
falecido. Nas missas de exéquias, as suas homilias mais pareciam um
hino de entrada na Pátria Celestial dos militares que pereceram em terras
ultramarinas. Recordo o Capelão Capitão Dr. Almeida um dos mais
directos colaboradores do Reitor da Igreja. Recordo com muita saudade os meus
superiores o Capelão Major João das Neves Bento já falecido
e o Capelão Chefe Tenente Coronel Dr. José Domingos Alves Cachadinha,
Reitor da Igreja de Jesus.
Ano 1972
- Luanda - No Jardim do Palácio, momentos antes do início
de uma celebração litúrgica.
Ano 1972
- Bar da Portugália na baixa de Luanda, nos primeiros
dias da minha chegada a Luanda (José Eugénio,
meu colega, conterrâneo António Pinto Nunes (Tó
Moita) eu e um colega do A.P.Nunes, estes a quatro meses de
terminarem a comissão.
Ano 1972
- Luanda - Confraternizando numa festa de aniversário
com Anabela Sarmento, uma jovem muito piedosa e presença
permanente juntamente com a sua família nas devoções
e celebrações litúrgicas.
Foram muitos os cursos de
especialidades e formações dos três ramos das Forças
Armadas. Embora não tenha tido uma especialidade propriamente virada
para o cenário de guerra colonial, não deixou de ser de extrema
utilidade. Os capelães e seus auxiliares, foram um testemunho de gratidão
aos militares de todos os escalões que dispensaram à assistência
religiosa a mais valiosa colaboração e o mais eficiente apoio.
Efetivamente, os capelães
sacrificaram dedicada e generosamente consagrando o melhor da sua vida à
assistência humana moral e religiosa de todos os soldados de Portugal.
Que pede as Forças Armadas ao capelão? Pois, que seja padre,
que seja um autêntico homem de bem, que dê aos nossos militares
as forças inesgotáveis da Religião e Moral, que, graças
à sua presença e ação, o militar seja melhor militar,
mais consciente e digno, mais responsável e mais humano. A missão
do capelão é útil onde quer que se encontrem militares.
No entanto, a sua presença é mais necessária onde se avoluma
o sofrimento e as preocupações dos homens e se definem os ideais
que irão orientá-los na vida. Assim, a sua presença será
mais necessária e útil nas zonas de combate e mais isoladas,
nos hospitais, nas prisões e nos Estabelecimentos Militares de Ensino.
No meio das maiores dificuldades e sacrifícios, privados de todas as
comodidades, rodeados de emboscadas, tantas vezes com perigo da própria
vida, os nossos abnegados, valorosos e tantas vezes heroicos militares com
os seus dedicados e generosos capelães têm a fé suficiente
para, desde 1961, data da eclosão da guerra colonial em Angola, terem
erguido com o seu trabalho, dedicação e esforço e quase
sempre com o seu dinheiro, centena e meia de capelas, que são o testemunho
da ação civilizadora e missionária de Portugal e do seu
Exército, que, no meio de uma guerra que lhe é imposta, não
deixa ofuscar o sentido espiritual da sua missão.
Ano 1972
- Luanda - Estátua de Vasco da Gama na Marginal
Mons. Cónego
Dr. Cachadinha
Monsenhor
Cónego Dr. José Domingos Alves Cachadinha, um
principe da Igreja Portuguesa e Angolana. Ocupou lugares destacados
inclusivé na instalação da Universidade
Católica de Luanda sendo o seu principal impulsionador,
Presidente da Fundação Evangelização
e Culturas na comemoração dos 5 séculos
de Evangelização de Angola, (hoje Fundação
Fé e Cooperação) fundou paróquias
no Huambo - Angola e inclusivé a paróquia do
Imaculado Coração de Maria em Danbury, cidade
dos Estados Unidos. Nesta data apesar da idade ainda faz parte
da reitoria da Universidade Católica de Angola como
Vice-Reitor e Diretor da Biblioteca.
Ano 1972
- Luanda - na Marginal
Ano 1973 - Luanda
- Grelha de partida do Autodromo Internacional de Luanda
Ano 1973 - Luanda
- Cidadela Desportiva do Futebol Clube de Luanda em construção
Ano 1973
- Luanda - Piquenique no Miradouro da Barra do Cuanza
Ano 1973
- Luanda - Correia
de Pinho e afilhados
Ano 1973
- Luanda - Miradouro da Lua com Madrinha Micaela e afilhados
Tive o orgulho de ter sido
condecorado e louvado. Condecorado - com a Medalha Comemorativa das Campanhas
das Forças Armadas em Angola 1972 - 1974. Contabilizando os prós
e os contras ao ter participado naquela guerra, possibilitou conhecer África.
Pessoalmente, considero um privilégio, e quem bebeu água do rio
Bengo, ficou definitivamente apaixonado por aquele país. Regressei à
Metrópole a 8 de Maio de 1974, tendo passado à disponibilidade
em 5 de Junho de 1974.
Ano 2013 - Loriga - Eucaristia
de Acção de Graças no dia da Inauguração
do Monumento aos Combatentes do Ultramar em Loriga
A Biblia através livro
do Êxodo (16:35) diz-nos que: quarenta anos foi o tempo que o povo de
Israel esteve no deserto, após sair do Egito e esperavam o momento de
tomar posse da terra prometida, chamada Canaã. Dentro desta perspetiva
cristã, quarenta anos depois, em Loriga, no dia da Inauguração
do Monumento Aos Combatentes do Ultramar, assumi com imensa alegria, reviver
e corporizar algumas funções que fazia como Auxiliar do Serviço
Religioso, na Cerimónia da Bênção do Monumento e
na Missa em Ação de Graças na Igreja Paroquial. Transcrevo
as palavras proferidas no início da Santa Missa: "Estamos reunidos nesta
Igreja, que nos viu nascer para a vida da graça, para vivermos e participarmos
na celebração da Eucaristia. Vamos agradecer a Deus pelo dom
das nossas vidas e pela generosidade com que partilhamos os seus bens, em benefício
da nossa sociedade. Agradecemos de um modo muito particular o nosso regresso
para junto dos nossos familiares e amigos. Regresso da missão que nos
confiaram quando ainda muito jovens. Fomos chamados a " Servir a Pátria",
como combatentes na guerra do Ultramar. Lembramos todas as vítimas,
os militares que perderam a vida, muitos deles com certeza, nossos camaradas,
e muito particularmente os que pertenceram a esta comunidade. Lembramos também
os deficientes e todos aqueles que no silêncio sofrem dos traumas que
a guerra colonial lhes causou. Neste dia e no altar do Senhor participemos
nestes sagrados mistérios para que possamos acolher e compreender a
misericórdia divina e retribuir com amor e generosidade à infinita
bondade de Deus".
* Carlos
José Brito Moura (2015)
Nota Complementar
Aqui registo " Retalhos da minha vida militar".
Rendo homenagem a
todos aqueles que tombaram no solo sagrado de Àfrica em particular
de Angola. Tenho plena consciência que dei o melhor de mim mesmo,
por aquela terra e o seu povo. Cumpri com dignidade e dedicação
o serviço militar e também a vertente do serviço
com dimensão de promoção da fé em Jesus
Cristo. Estas e outras fontes de vida como seja: a Família,
o Seminário dos Missionários Capuchinhos, os Escuteiros,
a Cultura Operária, a minha mulher Fernanda e o meu filho Tiago,
ajudaram a fomentar e estimularam acções de voluntariado,
solidariedade, dedicação e serviço. Características
que foram fundamentais para servir de bom grado durante largos e bons
anos o Movimento Associativo e Instituições de Loriga
(Desportivas, Culturais, Recreativas, Musicais, Cooperativistas, Eclesiais
e Assistenciais)
António
José Caçapo de Brito * Comissão em Angola 1972 - 1975
(Posto militar - Capitão
Miliciano)
Fui alistado no dia 26 de
Junho de 1968, quando fui à inspeção a Seia, assim como
muitos outros do meu ano de nascimento 1948. Lembro-me de todos de Loriga,
que fomos à inspeção a Seia nesse ano, apenas ficaram
3 livres, todos os outros e eramos bastantes, ficaram apurados como se dizia
na gíria.
Na altura que deveria ser incorporado para a vida militar, estava a tirar o
Curso Superior de Psicologia (Licenciatura em Psicologia Clínica), profissão
que exerci sempre e ainda hoje continuo a exercer na cidade de Viseu. Por esse
motivo, fui pedindo os respetivos adiamentos, que levou por isso, a ser só
incorporado no ano de 1972, mais precisamente no mês de Outubro.
Entrei para a vida militar
em 9 de Outubro do ano de 1972, tendo como destino Mafra - Escola Prática
de Infantaria para frequentar o 1º. Ciclo (cadetes) 1 estrela do curso
de Oficiais Milicianos (Curso de oficiais milicianos), que se prolongou até
ao dia 22 de Dezembro desse mesmo ano.
Ano 1972 - Mafra - Escola
Prática Infantaria (Recruta)
Frequentei depois
o 2º. Ciclo (cadetes) 2 estrelas, tendo terminado o mesmo em 24
de Março de 1973, no dia seguinte dia 25 de Março, sou
promovido a Aspirante Miliciano de Infantaria. Nessa mesma noite viajo
para Luanda (Angola) num Boeing dos TAM (Transportes Aéreos
Militares) já como Alferes Miliciano, a fim de fazer um estágio
de 4 meses, como adjunto de Comandante de Companhia, tendo seguido
concretamente para Luma Cassai no Leste de Angola.
Ano 1973
- Mafra - Escola Prática Infantaria
Ano 1973 - Luma Cassai,
foram quatro meses que li estive como Adjunto de Comandante de Companhia
Ano 1973 - Contatos populacionais
(Ação Psico) introduzidos nas forças armadas portuguesas,
era uma prioridade na qual os oficiais tinham por obrigatoriedade ser os primeiros
a dar a cara
Ano 1973 - Ações
em prol da comunidade era uma necessidade
Ao fim dos quatro meses (Julho
de 1973) regresso à Metrópole, já como Tenente Miliciano,
voltando novamente para Mafra (EPI) para então tirar o curso de promoção
a Capitão (CPC) na Escola Prática de Infantaria. No final do
mesmo sou então naturalmente promovido a esse posto.
Já como Capitão
fui para o Regimento de Infantaria 14 em Viseu, onde estive como Adjunto
de Comandante da Companhia do então Capitão Silva. Em
Fevereiro de 1974, sou mobilizado, tendo seguido para a cidade de Évora
(Regimento de Infantaria 16) unidade mobilizadora onde foi constituído
o Batalhão de Caçadores 4617, sendo ali ministrada formação
e instrução de especialidade. Por falta de instalações
suficientes o Batalhão foi deslocado para o CIM (Santa Margarida)
onde se acabou de constituir e onde foi ministrada durante duas semanas
Instrução Operacional, a qual não se chegou a
completar em virtude do Batalhão receber ordens de embarque
antecipado, após o "Golpe
Militar" das
Caldas da Rainha em 16 de Março de 1974.
Recordo também que quando fui para Angola, nessa altura já
tinha dois irmãos a fazerem comissão no ultramar, o meu
irmão Cassiano (já falecido) em Moçambique e o
meu irmão Eduardo em Angola, curiosamente no Leste onde me venho
a encontrar com ele. Juntamo-nos assim os três irmãos
na guerra colonial, que de certa maneira num contexto militar, não
poderia ser, mas aconteceu. Podemos assim pensar, quanto não
seria o sofrimento de um pai e de uma mãe, ao verem 3 filhos
no Ultramar.
O Batalhão de Caçadores 4617, como era natural, era composto
por quatro Companhias, CCS, 1ª. Companhia, 2ª. Companhia,
cujo comandante era eu e 3ª. Companhia. Recordo que nessa altura
eu era o Capitão Miliciano mais novo do Exército Português.
A minha Companhia embarcou num avião Boeing 707 dos TAM (Transportes
Aéreos Militares) pois nessa altura e desde de há dois
ou três anos atrás, o transporte das tropas era feito
por este meio. Partimos no dia 6 de Abril de 1974, tendo chegado a
Luanda na madrugada de 7 de Abril, ficamos instalados provisoriamente
no Campo Militar do Grafanil em Luanda.
Ano 1973
- Já como Capitão
Ano 1973 - Alto Chicapa,
momentos de operacionalidade
Ano 1973
- Já como Capitão
Dá-se então
o 25 de Abril de 1974 (Revolução dos Cravos) e caso curioso,
nós só tivemos conhecimento do acontecimento no dia 27
de Abril. É caso para perguntar. Porquê?.. Mas não
vale a pena especular!.. O que é verdade é que no dia
27 de Abril de 1974 em Luanda, no Anfiteatro da Força Aérea
houve um a reunião de todos os oficiais. Pergunta-se novamente:
Porquê?.. E ficamos por aqui.
A minha Companhia é enviada para o Alto Chicapa, com o Comando
do Batalhão a ficar por Dala, tudo isto na região do
Lunda Leste de Angola. A
partir de então passamos a ter uma atividade intensa. Patrulhamentos
ofensivos; Contatos populacionais (Ação Psico); Deteção
destruição de material deixado pelo I.N; Movimentos administrativos
e logísticos; Proteção aos trabalhos da JAEA (Junta
Autónoma de Estradas de Angola) etc. etc..
Devo realçar que a divisa do emblema da minha Companhia era
"Conduta Brava
e em Tudo Distinta".
Dentro deste lema procurou-se sempre que a humanidade, a personalização,
a verdadeira relação entre todos os elementos fosse autêntica
empatia independentemente dos cargos, postos ou galões. Na minha
Companhia, só havia uma cozinha e um refeitório igual
para todos. A comida era igual para o Soldado, Furriel, Alferes e Capitão.
Eu como Capitão e Comandante conversava com os todos os militares,
havia uma grande amizade por todos aqueles com quem passei a privar,
sendo um grande amigo de todos os meus subordinados fossem eles Oficiais,
Sargentos ou Praças.
Em Novembro de 1974, o nosso Batalhão é sediado em Henrique
de Carvalho (Saurimo) no distrito do Lunda, possuindo uma área
aproximada de 13.500 Km² englobando quatro concelhos e seis circunscrições.
Com a minha Companhia ser colocada em Lucapa com dois grupos de combate
e com mais dois grupos de combate a ser colocados em Cacolo.
Foi de facto de relevo a atividade
da minha companhia por onde passou, a boa harmonia com as tropas Catanguesas,
refugiadas em Angola e sediadas em Veríssimo Sarmento foi um facto marcante,
nomeadamente na estreita colaboração com o famoso General Matanael
dessas tropas. O grande apoio que tivemos da Companhia de Diamantes de Angola,
em cujo território nós estivemos sediados, foi também
significativo e marcante.
Também foi bem marcante quando abrimos a Escola Secundária da
Diamang em Lucapa, "Escola
Para Todos", onde eu
era analogicamente "Reitor" da mesma escola, com todos os poderes
administrativos, económicos e pedagógicos. Era uma maneira também
de mostrar e fazer uma nova psico/social.
Já num ambiente da revolução militar concretizada na Metrópole,
a atividade operacional da minha companhia decorria dentro do programado, só
que entretanto, começa-se a verificar-se alterações, tendo
a ver com a sequência dos Acordos de Alvor. Em Janeiro de 1975, surge
a Declaração Conjunta de cessar-fogo e a autorização
de entrada dos Movimentos Independentistas no território, tendo em vista
auto determinação e independência do mesmo. Aos poucos
fomos tendo a noção de que algo estava a mudar, de certa maneira
passamos a viver também numa expetativa grande.
Os Movimentos de Libertação de Angola eram o M.P.L:A. (Movimento
Popular de Libertação de Angola), o F.N.L.A. (Frente Nacional
de Libertação de Angola) e a U.N.I.T.A (União Nacional
para a Independência Total de Angola). Estes movimentos eram os únicos
e legítimos representantes do povo angolano.
Ano 1974 - Lucapa,
com alguns dos militares da minha companhia a posar para o retrato
Ano 1974 - Lucapa,
os militares també têm que comer
Foi bem visível
a ideia já existente de procurar-se que os Movimentos de Libertação
tivessem um clima de atuação igualitário e não
discriminatório. Não posso também esquecer que
uma vez por semana eu almoçava com os chefes dos 3 Movimentos
à mesma mesa e que a minha casa ou mesmos os aquartelamentos
eram "guardados""vigiados" por patrulhas mistas. Resumindo, o meu Batalhão
foi um dos últimos bastiões do exército português
por aquelas terras, decorria então o processo da independência,
com o exército português a começar a sair da província,
deixando assim para trás terras ditas portuguesas com muitos
séculos de história.
Ano 1974
- Lucapa, Com o meu Alferes de operações a idealizarmos
serviço no aquartelamento
Ano 1974
- Cidade do Luso, com o meu irmão Eduardo Alberto em pé, e
com o Fernando "Ginásio" e Tó Vicente
agachados
Como nota de registo
devo o dizer que no Natal de 1974, tive o privilégio de ter
a minha mulher a passar o Natal comigo, estava na altura em Lucapa.
Também nesse ano me encontrei com o meu irmão Eduardo
Alberto, também ele no Leste de Angola, mais precisamente na
cidade do Luso, onde estava a cumprir a sua comissão, assim
como, também me encontrei com outros conterrâneos como
o foi o caso com o Fernando Amaro Santos (Fernando Ginásio)
hoje está na situação de invisual e utente no
Lar da Nossa Senhora da Guia em Loriga e o António Dias Brito
(Tó Vicente), em que tiramos umas fotos para registar esse nosso
encontro.
Em 25 de Maio de 1975, o nosso
Batalhão foi rendido pelo Batalhão de Cavalaria 8322/74, deslocámo-nos
para Luanda, onde ficamos instalados na prisão da ex. GEI (São
Paulo/Luanda) com vista a efetuar o espólio e aguardar embarque de regresso
para Portugal. Tive o orgulho
de ter sido condecorado e louvado - com a Medalha Comemorativa da Campanha
das Forças Armadas. Regressei
à Metrópole no dia 13 de Agosto de 1975, tendo passado à
disponibilidade três semanas depois, ou seja dia 30 de Agosto.
* António
José Caçapo de Brito (2013)
Nota Complementar
Tenho ainda presente
na minha recordação o lema da minha Companhia, "Conduta Brava e em Tudo Distinta". Deus ajudou-nos e todos os elementos da
minha Companhia regressaram à Metrópole com vida e saúde,
por isso ficar feliz. Tenho
orgulho de ter cumprido com as minhas obrigações. Não
fui herói, mas fui Homem… Não fui voluntário,
mas fui obrigado….Enfim, foi um capitulo da minha vida que cumpri
com dignidade, para com uma terra e para com um povo.
Carlos
Lucas Antunes Fernandes * Comissão na Guiné 1967 - 1969
(Posto militar - Cabo)
Entrei para a tropa na 2ª.
Incorporação de 1967, concretamente em Março desse ano
quando dei entrada no Quartel da CICA 4 em Coimbra.
Ano 1967 - Os meus primeiros
tempos da tropa (recruta) Coimbra
No mês de Maio
seguinte, tive como destino Sacavém para ali tirar a especialidade
de Mecânico Auto. Ali estava eu bem, foram uns belos tempos,
na altura nem sonhava que viria a ser mobilizado. Ali estive até
Julho desse ano de 1967.
Ano 1967
- Sacavém a tirar a especialidade
Depois da especialidade voltei
de novo para Coimbra, tendo como estino desta vez o RAL 2 em Coimbra, onde
estive até sair a minha mobilização em Agosto de 1967,
tendo seguido em Setembro de 1967 para o Regimento de Cavalaria 8 em Castelo
Branco, onde fui inserido no Esquadrão de Cavalaria 2350, que tinha
como destino a província da Guiné.
Embarquei para a Guiné
a bordo do navio "Kuanza" em Outubro do ano de 1967, chegando a Bissau
tivemos como destino Bafatá, onde na verdade passei grande parte da
minha comissão.
Ano 1967 - A bordo
do navio "Kuanza" em pleno alto mar
Ano 1967 - Já
no meu aquartelamento (Cavalaria) em Bafatá
Estive destacado em Piche
durante três meses, um local não muito agradável, percorri
parte do norte da Guiné, foram muitas as operações efetuadas
algumas delas levaram dias e noites, sendo o que mais custava era de termos
que dormir no chão e em qualquer recanto, por vezes sítios bastantes
perigosos, que não se sabia como íamos acordar na manhã
seguinte.
Ano 1968 - Numa operação, (região de Piche)
por sinal um dia terrivel que não pude mais esquecer
Ano 1968 - Em Piche,
momentos para descontrair com o CarlosMSantos (Carlos "Barbas"
já falecido)
Ano 1968 - Algures,
ao serviço da comunidade
Ano 1969 - Bafatá,
Formados à espera da visita do general Spinola
Como estava sempre em movimento,
tive o agradável privilégio de me encontrar com muitos conterrâneos,
o Carlos "Barbas" (já falecido) o Carlos Ramalho, o Zézito
"italiano", o Tonito Melo, o José Dias (já falecido),
o João da "Clara" e também com o Zé da "Balázia" o Zé Ramos (já falecido) o José "Grilo" e
Tonito "Vaquitas" só que com estes últimos quatros conterrâneos
que menciono, o nosso encontro não foi registado com foto. Era sempre
agradaveis os nossos encontros com a malta da terra, recordava-mos Loriga,
cada um dizia as últimas notícias e novidades que se iam passando
pela nossa terra, muitos desses nossos encontros eram festejados com alguma
bebidas a escorrer pelas nossas gargantas e pelo meio umas boas "migas".
Ano 1968 - Com
o Zé Augusto Dias (já falecido)
Ano 1968 - Com
o Tonito Melo
Ano 1969 - Bissau, já
no meu final da minha comissao com a malta da terra - da esdquerda para a direita
- Zézito "italiano"; Carlos "Barbas" já falecido;
eu o Carlos Ramalho e o João da "Clara")
Ano 1968 - Bafatá,
distribuição do correio e depois o momento de concentração para ler as cartas da família e dos amigos
Ano 1969 - Bafatá,
Dia da Cavalaria, foi festejado em festa e com rancho melhorado
Ano 1968 - Bafatá
Ano 1969 - Bissau
à civil pela cidade
Passei por alguns perigos,
principalmente, muitas escoltas que fiz por sítios de muita intervenção,
onde era constante o arrebentamento de minas, lembro-me também de um
grande ataque ao nosso aquartelamento, que estivemos sempre em perigo até
terminar todo aquele bombardeamento.
Apesar de estarmos sempre
expostos aos ataques, às emboscadas e em trajetos de picadas com muitas
minas, o meu esquadrão teve de certa forma alguma sorte, ao ter apenas
contabilizou duas baixas, que tiveram a ver com a explosão de material
de guerra.
Ano 1968 - Bafatá,
queda dum Helicóptero junto ao aquartelamrento
*Carlos
Lucas Antunes Fernandes (2013)
Nota Complementar
Regressei à
Metrópole no meio do ano de 1969, passando de imediato à
disponibilidade. Penso ter cumprido o meu dever para com uma terra
e um povo. Posso também dizer que tive a sorte a proteger-me,
gostei da África e da sua magia, por isso quando regressei à
Metrópole, resolvi regressar ao continente africano, para trabalhar,
só que dessa vez para Moçambique, uma aventura de muito
pouco tempo, pois, pois pouco tempo depois regresso novamente à
Metrópole para então ir para o Luxemburgo, onde me radiquei
até hoje.
Eduardo
Alberto Caçapo de Brito * Comissão em Angola 1973 - 1975
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa
na 4ª. Incorporação de 1973, mais precisamente em
Maio desse ano, quando dei entrada no Regimento 12 Guarda.
Em Agosto desse ano 1973 segui para Coimbra, para tirar a especialidade
de enfermeiro, tendo ficado pronto, como se dizia na altura, em Novembro
desse mesmo ano fui colocado em Santa Margarida e logo a seguir, no
mês seguinte, sai a minha mobilização tendo como
destino a província de Angola, sendo inserido no Batalhão
de Infantaria 4517.
Foi uma mobilização, um quanto ou tanto inesperada que
surpreendeu a mim e a toda a família, tendo em conta de já
ter dois irmãos em comissão no ultramar, o Cassiano em
Moçambique e o António José, capitão Miliciano
em Angola e assim nos juntamos os três na Guerra do Ultramar,
que num certo contexto militar isso não podia acontecer, mas
na altura parecia já valer tudo para o regime e para o poder
militar.
Ano 1973
- Primeira foto na tropa
Ano 1973 - Durante a semana
de campo (recruta)
Entretanto, dá-se a
revolução do 25 de Abril e quando pensava que vinha alterar a
minha mobilização, ainda antes do fim do mês de Abril embarquei
para Angola, a bordo de um avião da TAP Boing 747, (nessa altura o transporte
das forças militares para a África, já se procedia de
avião) chegando a Luanda, tivemos como destino o Quartel do Grafanil
(onde se concentrava a grande maioria dos Batalhões e companhias em
transição) ficando ali naquele quartel dois meses.
Ano 1974 - Primeira
foto em Angola (Cangamba)
Ano 1974 - Primeiras
noites em Angola o dormir era pouco
Ao fim de dois meses em Luanda,
o meu Batalhão foi destacado para o Leste de Angola, para Cangamba,
por sinal fomos render o Batalhão ao qual pertencia o conterrâneo
Victor Moura, que estavam em fim de comissão.
Quatro meses depois fui destacado para a cidade do Luso (hoje cidade do Luena)
para fazer serviço no Hospital Militar e Civil desta cidade, onde então
sim, passei a desempenhar uma missão também bem penosa de tratar
dos feridos e acompanhar e auxiliar o também penoso serviço de
autópsias.
Foi sem dúvida um serviço de grande escala, ao qual me tive que
habituar, de princípio não foi muito fácil, mas aos poucos
me fui habituando a esta nova realidade na minha vida a trabalhar em hospital,
onde nem me quero lembrar do que passei e do que fui obrigado a fazer
Ano 1975 - Na cantina, um
momento de descanso para saborear uma boa cerveja
Os 14 meses do resto da comissão
passados no hospital Militar do Luso, portanto não estando na chamada
guerra ofensiva, tive assim o privilégios de praticamente andar vestido
à civil, poucas foram as vezes que usei a farda militar durante esse
tempo, sentindo-me por isso mais confortado e ao mesmo tempo com sorte.
Ano 1975 - Quando não
estava de serviço, também havia algum tempo para desfrutar de
algum descanso passeando pela cidade do Luso
No Luso tive o privilégio
de me encontrar com conterrâneos, como foi o caso de estar quase em sintonia
com o António Dias Brito (Tó Vicente), também ele sediado
num Quartel desta cidade, no destacamento do PAD, unidade de manutenção
de viaturas militares. Estive também com o Fernando Amaro Santos (Fernando
Ginásio) hoje está na situação de invisual e utente
no Lar da Nossa Senhora da Guia em Loriga e ainda também me encontrei
com o Mário Benito (família do Zé Bonito).
O meu irmão António José, capitão miliciano e também
ele em comissão na zona Leste de Angola, veio-me visitar e assim nos
juntamos os quatro loriguenses, num registo bem recordado tirando até
algumas fotos para assinalar.
Ano 1974 - Ladeado
pelo Fernando "Ginásio" (esquerda) hoje invisual a
viver da Casa do Repouso da N.S.Guia e o Tó Vicente (direita)
por altura do Natal do ano de 1974, que passamos juntos.
Ano
1974 - Cidade do Luso encontro de serranos loriguenses,
da esquerda para a direita,
Fernando "Ginásio, eu, meu irmão
António José e Tó Vicente
Ano 1974
- Cidade do Luso, com o Fernando "Ginásio"
e Tó Vicente agachados. De
pé eu e o meu António José
Entretanto, o processo da
independência está a ter forma, fruto da revolução
do 25 de Abril, apanhados nessa embalagem, o meu Batalhão tem ordens
de regresso à Metrópole que ocorreu em Novembro de 1975, precisamente
cerca de quatro meses antes da data da independência de Angola e 20 meses
depois da minha partida para aquela província ultramarina.
* Eduardo Alberto
Caçapo de Brito (2013)
Nota Complementar
Tive a sorte de ter feito uma guerra de retaguarda, apesar de o serviço
de enfermeiro, que sendo um trabalho nobre foi de facto verdadeiramente
desgastante, passei situações que foi preciso ter muita
coragem passa as superar, tendo por isso a consciência tranquila
de tudo o que fiz foi do melhor que estava ao meu alcance.
José
Reis Fernandes Leitão * Comissão na Guiné 1968 - 1970
(Posto militar - Capitão
Miliciano)
Fui incorporado no
serviço militar em Mafra, no 1 de Setembro de 1957, tinha então
nessa data 22 anos, na altura ainda não havia a guerra do Ultramar
o que só veio acontecer alguns anos depois, quando os grupos
armados para a independência das províncias ultramarinas,
desencadearam a guerrilha contra o colonialismo português. Passei
à disponibilidade em 10 de Outubro de 1959.
Fui durante seis meses soldado cadete, como se dizia na altura. Por
portaria de 1 de Abril de 1959 fui promovido a Alferes Miliciano, contando
a antiguidade desde 1 de Novembro de 1958. Por portaria de 1 de Dezembro
de 1966, fui promovido a Tenente Miliciano, contando a antiguidade
desde a mesma data. Em 1967, mais precisamente a 18 de Novembro e também
por portaria, fui nesse dia promovido a Capitão Miliciano, contando
a antiguidade desde essa mesma data.
Ano 1968
- Primeira foto já em terras da Guiné
Entretanto, levando a minha
vida civil dentro de uma certa normalidade, moviam-se em mim certos sentimentos
de injustiça, revolta e discordância, era mais que evidente que
na minha maneira de ser, olhava o regime com uma ideia e opinião contra,
que me valeu começar a ser olhado e a ser referência nas listas
da PIDE, passando a ser mencionado como pertencendo ao PCP.
Fui interrogado, torturado e preso durante nove meses, primeiro na prisão
de Aljube cerca de dois meses e depois mais sete meses na prisão de
Caxias, quando finalmente fui a julgamento fui defendido pelo advogado Dr.
Francisco Sousa Tavares, que deu autêntico nó cego ao pide que
serviu de testemunha, sendo eu então absolvido.
Nessa altura cheguei a ponderar a hipótese de ir para França
ou Argélia, onde estavam muitos dos contra o regime e que não
concordavam com a guerra colonial, nesses tempos eram muitas as vozes que se
ouviam, nomeadamente de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, que eu próprio
subscrevia nesta quadra.
Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não.
A crescente ideia
dentro de mim de cada vez mais contra o regime, fazia-me ver esse regime
cada vez mais autoritário, via também já uma Guerra
do Ultramar em muitas frentes, que ao contrário da propaganda
do regime, sabia que os militares que todos os dias partiam para as
províncias ultramarinas, não iam defender o país,
pois Portugal situava-se na Europa, o que se estava a fazer era defender
interesses alheios a saber: diamantes, café, cacau, açúcar,
madeira, petróleo e outros.
Com o regime a ficar cada vez mais enfraquecido perante as opiniões
internacionais, mas também cada vez mais a querer vincar a sua
soberania nas suas colónias, a necessidade de mais homens para
as forças militares era um dado real, nomeadamente, de patentes
de comando para o terreno, por isso, a necessidade de recrutar oficiais
já na vida civil, o que aconteceu comigo ao ser convocado para
frequentar o CPC em 24 de Julho de 1967.
Fiquei sempre com a ideia
que eu era referenciado como
"suspeito político"
ficando ainda mais com essa convicção, quando em Março
de 1968 fui mobilizado por imposição para a província
da Guiné (um dos piores cenários da guerra colonial) para onde
segui em 23 de Abril de 1968, a bordo de um quadrimotor da Força Aérea,
pois foi considerado necessário eu ir antes da minha companhia, para
receber o material que ia ficar à minha responsabilidade. Já
íamos no ar quando fomos informados que um dos motores tinha deixado
de funcionar, o que pudemos confirmar através das janelas e vimos que
um dos hélices estava mesmo parado.
Uma certa angústia instalou-se a bordo, com o regresso novamente ao
aeroporto já a processar-se, para diminuir o risco de aterragem foi
necessário o avião dar mais algumas voltas sobre Lisboa para
consumir a maior parte do combustível. Já em terra e quando telefonei
à minha mulher a dar conta do que se tinha passado, ela nem queria acreditar
que eu não lhe estava a telefonar a dar notícias da minha chegada
à Guiné, mas sim a telefonar-lhe de uma cabine anónima
do aeroporto da Portela.
A minha companhia foi destacada
para Buba, zona de muita intervenção militar, foi sempre uma
azafama de guerra com que diariamente tínhamos de viver. Nessa altura
naquela zona a maioria das operações desencadeadas contra as
nossas tropas, eram orientadas superiormente pelo então capitão
cubano Pedro Rodriguez Peralta, que veio depois a ser capturado por pára-quedistas
na "Operação
Jove".
Capitão Pedro
Rodriguez Peralta
As voltas que o mundo
dá e como se costuma dizer, como o mundo é mesmo pequeno.
O capitão Pedro Rodrigues Peralta, na altura com 32 anos, era
capitão das forças armadas de Cuba ao serviço
do PAIGC quando, em 18 de Novembro de 1969, no corredor de Guileje,
junto à fronteira com a Guiné-Conacri, foi capturado
pelos militares portugueses, mais precisamente pelo Furriel para-quedista
Ragageles, da companhia para-quedista BCP 12.
Ao ser capturado, foi também
gravemente ferido, sendo transportado para o Hospital Militar Principal
em Lisboa, onde ficou detido até Setembro de 1974. "Viu"
a revolução dos cravos das janelas da cadeia. Sei que
uma das enfermeiras que o tratava era de Loriga, com a qual veio a
casar e com ele foi para Cuba depois de serem resolvidos os acordos
da sua libertação ao ser trocado por um cidadão
norte-americano preso em Havana (Cuba), alegadamente agente da CIA,
Lawrence Lunt.. Segundo sei também, dessa relação
nasceu um filho, que segundo creio vive hoje em Loriga, terra da sua
mãe.
Foto de
Pedro Peralta, ladeado pelos dois militares portugueses que
o detiveram, em 1969
Muita sorte eu tive nos ataques
que sofri no aquartelamento de Buba, igualmente muita sorte tive nas emboscadas
sofridas e também a muita sorte de não ter pisado nenhuma mina
nas numerosas vezes que me deslocava a pé, bem como, a felicidade de
nunca ter sido atingido por qualquer das doenças características
dos países africanos.
Durante a minha comissão não cheguei a disparar um tiro, mesmo
em situações em que estive debaixo de fogo, mas, como é
evidente, não podia impedir que os soldados sob o meu comando se defendessem.
Esta minha opção de não disparar um tiro, enquanto lá
estivesse teve muito a ver com a conversa mantida com o meu colega e amigo,
o poeta Ferreira Guedes, a quem confidenciei o drama que estava a viver em
ir fazer a guerra colonial com a qual não concordava e ele me disse
- "Acho que deves ir
e tenta não fazer nada de que te possas envergonhar"
Ano 1969 - Em Buba, registos
dos bombardeamentos quando fomos atacados com tiros de canhão
Penso ter cumprido na medida
do possível, esse objetivo e disso é testemunho as três
punições com que fui contemplado, respetivamente dez, vinte e
dez dias de prisão disciplinar agravada, ou seja no total 40 dias, que
iria implicar com a perda do comando.
Todas essas punições tiveram a ver com o facto de não
cumprir ordens recebidas, por isso, não atingido os objetivos previstos
nas operações vindas das altas chefias, dando eu como argumento
me ter "perdido", mentiras que em certas situações
foram detetadas quando havia controlo aéreo e que o comando facilmente
comprovava, pois a companhia que eu comandava não estava onde devia
estar, de acordo com a operação.
Houve ainda uma outra operação, estava eu em Farim, em que pura
e simplesmente me recusei a efetuá-la que consistia em efetuar uma operação
do lado de lá da fronteira com o Senegal, jogando eu com o argumento
que as coisas podiam correr mal e com o facto de podermos eventualmente ficar
prisioneiros e nessa altura seriamos dados como "desaparecidos
em combate". Curiosamente,
recusando-me a efetuar esta operação, não sofri dessa
vez qualquer punição.
Depois da terceira punição foi-me retirado o comando da companhia,
fiquei quase exclusivamente a oficial de reabastecimento em Buba (digo quase,
porque em algumas situações era eu o oficial mais graduado e,
como tal era eu o comando militar daquela localidade, conforme aconteceu quando
fomos atacados por um ataque em grande escala orientado e comandado pelo capitão
cubano Peralta).
Ano 1968/69 - Em Buba, sem
dúvida que as crianças são sempre as grande vítimas
da guerra
A nível comunitário
tenho orgulho do que fiz, que me proporcionaram momentos gratificantes. Implementei
no K3 (Farim) aulas para os miúdos da "tabanca" ideia que mereceu elogios do General Spínola.
Arranjei a prestação dos cuidados médicos de enfermagem
a toda a população daquela zona. Inventei um "jornal de parede" extensivo aos militares e população,
em que além de prosa minha, havia também recortes de jornais
e revistas que me eram enviados da Metrópole.
Ano 1969 - Buba, mais gente
da comunidade também sofredora da guerra
Por motivo das punições
que recebi, nunca tive direito a férias, como por norma qualquer militar
deve ter, por esse motivo, a minha mulher foi passar férias à
Guiné (Farim) o que aconteceu no mês de Outubro de 1968.
Ano 1969 - Farim, quando
a minha esposa me foi visitar
Devo já agora também
acrescentar, que defendi sempre os meus homens, evitei severas punições,
como o caso de danificação de material de guerra, por vezes por
descuido outras vezes no decurso de bebedeiras, outro caso também grave
quando um dos militares a fazer um rally com uma viatura GMC, ficou atolada
no lodo, que foi uma trabalheira para dali a tirar e ainda mais outra situações
menos graves, mas que tinham sempre direito a punições.
Ano 1969 - Buba,
no Cais vendo o horizonte
Ano 1969 - Buba,
confortando as crianças
Ano 1969 - Buba,
no Cais posando para o retrato
Tive a sorte por meu lado de regressar
inteiro como se costuma dizer na gíria, tive a mesma sorte de
não ter morrido algum militar que eu tivesse comandado, embora
houvesse naturalmente a lamentar vários feridos, alguns com
alguma gravidade. No entanto, quanto aos traumas psíquicos,
esses nunca podem ser contabilizados.
Regressei à
Metrópole a bordo do navio "Carvalho Araújo"
que estava na lista já algum tempo para ser abatido ao efetivo,
por estar muito velho, no entanto, como era para transportar tropas
e como a tropa é carne para canhão, continuava ao serviço.
De qualquer maneira portou-se muito bem nessa sua viagem para Lisboa,
onde desembarquei em 27 de Maio de 1970, foi um momento de grande emoção.
Vinte e cinco meses após o meu embarque para a Guiné
(quando a comissão normal naquela província era de dezoito
meses) quase sempre no mato e sem direito a férias (por causa
das três punições), regressava assim e por fim
à nossa Lisboa.
Passei à disponibilidade em 2 de Julho de 1970, respirando então
finalmente de alívio e também por finalmente passar á
vida civil.
Ano 1970
- Navio "Carvalho Araújo
* José
Reis Fernandes Leitão (2013)
Nota Complementar
Ao ficar definitivamente
para trás aquela guerra, fico com a ideia de que muitos sobre
o meu comando podiam também desejar não ter que disparar
um único tiro que fosse, a diferença é que eu
podia fazer qualquer coisa, pois exercia funções de comando
e a grande maioria tinha que cumprir ordens.
Em resumo, aquela guerra quando terminou para mim, de positivo ficaram
apenas algumas amizades que se foram fazendo, esquecer o que passei
nem sempre foi fácil, os cenários de guerra que por mais
que se tente esquecer ou colocar de parte, vêm sempre ao de cima.
Por isso, a partir de então passei aproveitar cada dia como
se fosse o último.
Nota de Registo
1º. "Encontro
dos Loriguenses Combatentes no Ultramar"
- O discurso que faltou ser lido -
Quando do 1º.
"Encontro dos Loriguenses Combatentes no Ultramar" realizado
no passado dia 27 de Julho de 2013, estava nos planos do nosso conterrâneo
e amigo loriguense, José Reis Fernandes Leitão, ex. Capitão Miliciano, que fez a sua comissão
na província da Guiné, de fazer um discurso, que, aliás,
levava já preparado para ler momentos antes de ser servido o
almoço de confraternização, mas que, por motivo
da falta de aparelhagem de som, facto que o deixou com um sentimento
de frustração por não ver concretizado esse seu
desejo.
Discurso que merecia ser lido nesse dia a todos os ex. militares e
suas famílias ali presentes, que hoje aqui na minha Página,
me prezo a colocar na íntegra, indo assim ao encontro do desejo
do nosso conterrâneo Zeca Leitão, como assim é
conhecido no meio loriguense.
Julho 2013
- No dia do Convívio
CAROS CAMARADAS, CAROS CONTERRÂNEOS,
CAROS AMIGOS
Desejo em primeiro lugar
agradecer a presença das entidades autárquicas e religiosas que
nos honraram com a sua presença no nosso convívio e lembrar igualmente
aqueles que tiveram menos sorte que nós e não puderam regressar
para junto dos seus entes queridos.
Agora, relembrando tempos passados, permitam-me recuar até ao ano de
1964 quando a PIDE irrompeu pela minha casa com a alegação -
falsa - de que eu era membro do Partido Comunista. Em vão protestei
a minha inocência quanto a essa acusação, assumindo, isso
sim e sem rodeios, que era oposicionista ao regime de Salazar.
Talvez para me castigarem por tamanha "heresia", fui levado para
a sede da PIDE, onde fui submetido à tortura da privação
de sono, ficando de pé, consecutivamente, durante 60 horas. Depois fui
transferido para a prisão do Aljube, onde estive em regime de isolamento
durante dois meses.
Entretanto tinham sido presos 30 estudantes e a PIDE, talvez por eu ser trabalhador/estudante,
resolveu juntar-me a eles para efeito de organização de processo
a levar a tribunal. Fomos todos para a prisão de Caxias, onde permanecemos
sete meses, tempo que demorou a instrução do volumoso processo.
Para o julgamento todos os advogados se ofereceram graciosamente e a mim coube-me
o Dr. Francisco de Sousa Tavares (entretanto já falecido) que deu um
autêntico "nó cego" ao pide que servia de testemunha
de acusação, sendo eu naturalmente absolvido.
Obviamente a minha carreira profissional sofreu algum atraso, que mais se acentuou
quando, quatro anos mais tarde, fui novamente chamado a cumprir serviço
militar - e digo novamente pois já tinha cumprido o serviço militar
"normal" de 57 a 1959 - desta vez para o curso para capitão,
que concluí com êxito, sendo mobilizado para a Guiné, um
dos piores cenários de guerra e, ainda por cima, com a etiqueta de "suspeito
político".
Nessa altura, cheguei a ponderar a hipótese de ir para França
ou Argélia, que então acolhiam os que não concordavam
com a guerra colonial. Era o tempo em que se ouviam as vozes de Zeca Afonso,
Adriano Correia de Oliveira e outros, com as suas canções de
resistência bem conhecidas, de uma das quais lembro esta quadra
Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não!
Face ao dilema que estava a atravessar, pedi a opinião das pessoas que
entendi melhor me poderiam ajudar e foi decisiva a do meu colega de trabalho
e amigo, o poeta Ferreira Guedes que me disse:
" Penso que deves ir, mas procura não fazer nada de que te possas
envergonhar!"
Na ida para a Guiné, num quadrimotor da Força Aérea, apanhei
um susto valente quando um dos hélices deixou de funcionar, obrigando-nos
a regressar a Lisboa, não sem antes se gastar quase todo o combustível,
de molde a permitir uma aterragem em relativa segurança.
Ao chegar à Guiné, era minha firme determinação
não disparar um tiro que fosse e creio ter cumprido na medida do possível
esse objetivo, pois tive três punições com um total de
40 dias de prisão disciplinar agravada, todas por ter optado "perder-me",
evitando assim a morte certa de uma boa parte desses militares. É certo
que, com essa atitude, também corri sérios riscos de poder ser
fuzilado mas tive a sorte e eventual mérito de nunca me ter recusado
a sair e ter dado alguma credibilidade à minha versão do ocorrido
nessas operações que, de algum modo, atenuaram a sua gravidade.
Com a opção de não disparar um tiro, é evidente
que não podia estar a pedir aos militares que comandava para fazerem
o mesmo e nas emboscadas e ataques ao aquartelamento (o mais difícil
de todos, em Buba, orientado superiormente pelo capitão cubano Pedro
Rodriguez Peralta) dei o meu melhor e, com muita sorte à mistura, não
houve qualquer baixa entre os militares que comandava, embora houvesse a registar
vários feridos.
E as voltas que o mundo dá... Esse capitão cubano veio posteriormente
a ser ferido com alguma gravidade e capturado, sendo internado no Hospital
Militar Principal, onde conheceu uma enfermeira por quem se apaixonou e teve
descendência e o curioso é que ela era de Loriga...
Outra situação em que corri grande risco foi a de ter de entrar
no paiol de munições, no qual se encontrava um explosivo plástico
chamado 808 que estava como que "a suar" e eu tinha aprendido que
isso era sinal de iminente detonação. Por isso, houve que transportá-lo
com mil cuidados para um local onde essa detonação não
causasse quaisquer estragos humanos ou materiais.
Naquela guerra, também depressa me apercebi que os oficiais do quadro
permanente faziam a chamada "guerra do ar condicionado" - salvo raras
e honrosas excepções - enquanto que os oficiais milicianos (nomeadamente
os capitães, feitos à pressa, como era o meu caso) eram invariavelmente
enviados para o mato!
Muita sorte tive igualmente em não ter accionado nenhuma mina ou armadilha,
quer nas vezes em que me desloquei a pé (a maioria) quer em viatura.
Ou de não ter contraído nenhuma doença característica
dos países africanos. Ou de ser picado por algum mosquito portador de
qualquer doença. Ou de morrer de sede (às nossas tropas, sem
eu saber bem porquê, não eram fornecidos cantis!). Ou de ...
(nestas reticências cabem milhentas hipóteses que podem acontecer
de mal a uma pessoa na situação em que me encontrava!)
Outra situação que recusei liminarmente foi a de efectuar uma
operação do lado de lá da fronteira com o Senegal, pois
tinha sido alertado que se ela fosse mal sucedida, seríamos dados como
"desaparecidos em combate" e as nossas famílias nem o enterro
nos poderiam fazer!
Quanto a boas recordações, para além de algumas boas amizades,
posso referir o ter implementado aulas para os miúdos da tabanca mais
próxima do aquartelamento, iniciativa que mereceu elogios do Gen. Spínola,
ciente como estava que aquela guerra não se ganhava só com a
força das armas. Com os jornais que me eram enviados da Metrópole,
pus à disposição dos militares e população
um jornal de parede, lembrando-me que um deles aludia à chegada do homem
à Lua...
Por causa das punições que sofri não tive direito a férias
e também, em vez dos 18 meses de serviço, acabei por ter de cumprir
mais sete e assim só então embarquei de regresso à Metrópole
no navio "Carvalho Araújo", o qual, por sinal, já estava
no "Mar da Palha" para ser abatido... Mas portou-se muito bem e para
mim e para todos os militares que me acompanhavam o dia da chegada a Lisboa
- 27 de Maio de 1970 - foi sem dúvida um momento de grande emoção.
Estava (finalmente!) finda a minha aventura na Guiné!
A terminar e como meditação sobre a inutilidade daquela guerra,
deixo-vos com este poema de Reinaldo Ferreira:
Receita para fazer um heroi
Tome-se um homem
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto!
Aos militares que comandei desejei-lhes que, no regresso à vida civil,
"pudessem finalmente e em paz fazer algo de construtivo". Reitero
agora esse voto!
Um abraço para todos do
a) José Leitão (2013)
José
Alves Oliveira * Comissão em Angola 1969 - 1971
(Posto militar - Soldado)
Ano 1969
-A minha primeira foto de militar, tirada na Ponte de Santa
Clara - Coimbra
Sou natural de Loriga
onde nasci em 15 de Agosto de 1947, filho de João Mendes de
Oliveira e de Urbana Alves Pereira, sendo mais conhecido no meio loriguense
por "Zé Ruas". Tal como muitos outros rapazes da minha
idade, saí de Loriga com apenas 11 anos de idade, tendo como
destino Lisboa.
Fui chamado para a tropa na penúltima
incorporação de 1968, assentei praça no dia 5
de Agosto desse ano, tendo como destino CICA 4 (Centro de Instrução
de Condutores Auto) em Coimbra, Fiz primeiro exame psicotécnico
para ver se tinha aptidões para condutor, como eu preenchia
todas as condições, lá fui para condutor, aliás
como os meus dois irmãos mais velhos, que também tiraram
a recruta na CICA 4. Ao principio não foi fácil, pois
os monitores não eram nada meigos, mas com o tempo lá
me fui habituando.
Ano 1969 - O pelotao da
minha recruta, eu estou no lado esquerdo na fila do meio
Depois de sete semanas fiz
o Juramento de Bandeira, tendo então seguido para o Regimento de Infantaria
6, na cidade do Porto, onde tive logo uma grande surpresa, se em Coimbra, uma
cidade tão bonita, o quartel era tão sujo, basta saber, que o
refeitório era no depósito da gasolina, a cidade do Porto que
na época era uma cidade relativamente suja, o quartel RI.6 era um esmero,
que nos podíamos até mirar no chão, a minha especialidade
foi também sete semanas, o tempo que estive na bela cidade do Porto
Logo após ter terminado a especialidade,
fui mobilizado para Angola, seguindo para a cidade de Abrantes, tendo sido
integrado na Companhia 2460 do Batalhão 2859, que ali estava a ser formado.
Ano 1969
- O navio Vera Cruz no momento que partia de Lisboa
No dia 11/01/1969,
parti para Angola no paquete Vera Cruz, foi dura a despedida, embora
eu fiz um truque para não ser tão duro, logo que chamaram
para a formatura, ao que se seguia a entrada para o barco, eu disse
para os meus familiares, que depois da formatura me viria despedir,
só deram conta e disse adeus quando ia já a entrar no
barco. A viagem durou 9 dias até Luanda, onde estive uma semana
no Grafanil. Quartel muito conhecido, pois era ali que se concentravam
os Batalhões e Companhias, quando chegavam e partiam de regresso
à Metrópole.
Ano 1969
- Primeira foto em terras de Angola
logo após chegar ao Grafanil, tempo de lavar a roupa
Ao fim de uma semana o meu
Batalhão teve como destino o norte de Angola, zona de Nambuangongo,
a minha Companhia foi ainda mais para o norte onde ficamos sediados numa fazenda
de café chamada Quixico, uma região rodeada por montanhas a toda
a volta, logo assim que ali chegamos e ainda a companhia que íamos render
não tinha partido, quando se deu um ataque tremendo, logo ali tivemos
para azar de todos nós uma baixa, com a morte de um nosso camarada.
Ano
1969 - Foto tirada no Caxito que ficava a 100Km, de
Nambu
Ano
1969 - Quixico onde ficou sediada a minha Companhia
2460
Existia neste nosso acampamento
uma velha capelinha em honra da Nossa Senhora de Fátima, pela qual tinha
muita fé, para ocupar o tempo pedi autorização para me
ocupar dela visto precisar ser restaurada, disponibilizado todo o material
de pintura e limpeza, entreguei-me de alma e coração e assim
consegui recuperá-la tornando-o mesmo funcional.
Ano 1969 - Quixico,capelinha
de N.S. de Fátima, exterior.
Ano 1969 - Quixico,
capelinha de N.S. de Fátima, interior
Não sei se foi por
motivo de me ter dedicada tanto à capelinha, que um dia fui abordado
pelo padre capelão, onde ele me disse para eu tomar conta de algumas
homilias, eu nem queria acreditar, pois se em pequeno não me deixaram
ir para o seminário, o que eu queria, agora tinha ali uma proposta para
fazer as vezes de padre, bom talvez não seja bem assim, mas o padre
disse como só podia dizer missa ali uma vez por mês, porque tinha
outras quatro companhias para dizer missa, sendo um domingo para cada companhia,
assim ficaria eu incumbido ali de fazer alguns acto da igreja, na verdade assim
foi, depois de ter a capela toda arranjada, comecei a fazer algumas coisas,
comecei por rezar o terço todos os dias, ao principio era olhado de
revés, mas depois comecei a ver todos detrás de mim a pedir se
podiam rezar comigo, claro que não me importei, até gostei.
Ano 1969 - Quixico,com
o olhar no horizonte
Ano 1969 - Quixico,
grupo de condutores que eram umas máquinas.
Ano 1969 - Quixico,
os pensamentos nos levam longe
A vida ia correndo e parecia
estar tudo muito mais calmo, dava tempo para fazer-mos coisas, com exemplo,
colegas meus da companhia, foram construindo na parada um monumento com o emblema
do batalhão e onde figurava o São Judas Tadeu o nosso patrono,
que depois de terminado me pediram para eu o pintar, o que o fiz, ficando um
belo trabalho, que hoje muito gostaria de saber se ainda por lá se encontra
e ainda está em pé.
Ano 1969 - Quixico,
Os construtores de monumento ao patrono do Batalhão, São
Judas Fadeu
Ano 1969 - Quixico,
eu junto do monumento, gostaria de saber se ainda existe
Ano 1969 - Algures
no norte de Angola acabando a construção de
uma jangada para as viaturas atravessarem
o rio
Ano 1969 - Tranquilo
dentro de um rio que nesse momento
não sabia que estava infestado
de corcodilos
Ano 1969 - Quixico, tempo
de uma "miga" com condutores e mecanicos da minha companhia
No primeiro Natal que passamos
em Quixico, resolve-mos e fizemos uma peça teatral, que se traduziu
de êxito, assim como, teve uma sessão de fados que até
deu para eu próprio também cantar o fado, sem dúvidas
iniciativas e criatividades que por lá tínhamos, neste caso para
passarmos o Natal melhor longe da família, em terras em que o sol queimava
mais.
Ano 1969 - Quixico,
momentos da peça teatral, por altura do Natal
Ano 1969 - Quixico,
momentos dos meu dotes de cantar o fado
Ao fim de pouco mais de um
ano, a minha companhia foi transferida para Malange, mais precisamente para
Marimba, tudo isso também no norte, aqui era ainda mais calmo e mais
monótono, durante cinco meses fui o condutor do Comandante, por isso,
passei a fazer muitas viagens a Malange.
Se no Quixico havia pouco que fazer, aqui em
Marimba então não havia nada, sendo condutor do comandante, nem
sempre todos os dias era preciso sair com ele, passei a ter um certo tempo
disponível, que aproveitava para me dedicar aos animais ou então
a pintar sinais indicadores, para serem colocados em cruzamentos, bem como,
fizemos mais um monumento num destacamento, sendo eu também o pintor,
tudo isso trabalhos interessantes e dignificantes, que meu deu muito prazer
fazer.
Ano 1970 - Marimba,
tempo de pintar e ao mesmo tempo de laser
Ano 1970 - mais
um monumento pintado por mim
Como ia muitas vezes a Malange
como condutor do Comandante da minha companhia, também passei a ser
afortunado de me vestir por lá à civil, que dava para passear,
assistir a espetáculos e poder tirar algumas fotos para poder hoje recordar.
Na realidade Malange era uma cidade muito bonita, com jardins de sonho e uma
piscina onde fui muitas vezes nadar.
Ano 1970 - Malange, Simone de
Oliveira, quando foi
ali cantar para os militares
Ano 1970 - Malange, monumento
a Salazar, quando da sua morte
no verão deste ano, foi coberto
de muitos ramos de flores
Ano 1970 - Malange, Mara Abrantes,
quando foi
também ali cantar para os militares
O tempo ia passando e estava-se
aproximar-me o final da comissão, que parecia contarmos os dias as horas
e os minutos, as saudades da família eram já muitas, ia pedindo
à Nossa Senhora de Fátima que o resto do tempo passa-se bem depressa.
Até que o dia esperado chegou numa manhã, quando finalmente chega
a nova companhia que nos vinha render, escusado será dizer que foi uma
alegria imensa e pouco tempo depois lá seguimos viagem para Luanda,
de regresso ao quartel do Grafanil, para esperarmos pelo navio que nos viria
trazer de regresso à Metrópole.
Ano 1970 - Malange,
últimas fotos em Angola
Ano 1970 - Para
me recordar
Ano 1970 - Malange,
mais uma das últimas fotos
Ano 1971 - o navio Uíge
que me trouxe de regresso à Metrópole
Adoeci ainda no Grafanil, mas fiz-me forte
e nem dei mostras de doente, com receio de que não pudesse fazer a viagem
de regresso, que tanto ansiava.
Assim, no dia 28 de Janeiro de 1971, embarcamos de regresso no navio Uíge,
com a viagem a demorar mais três dias do que para lá, com a chegada
ao Cais de Alcântara em Lisboa no dia 10 de Fevereiro, onde toda a família
me esperava o que foi uma festa.
* José
Alves Oliveira (2012)
Nota Complementar
Dentro da normalidade
penso que a minha comissão e o meu dever cumprido correu bem,
se me perguntam se gostei muito de conhecer Angola, claro que gostei,
só que não como militar. Já quando andava na escola
tinha certa adoração a essa terra pela geografia, tinha
até decorado toda Angola, sabia os rios, as serras, províncias,
etc.
Fui obrigado a conhecer essa parte
da Pátria, que nos diziam que era também Portugal, porque
fui também obrigado a isso ao ser enviado para lá, e
assim apesar de tudo tive o previlégio de a conhecer.
Tenho a plena consciência que
dei o melhor de mim por aquela terra lá longe, onde ficaram
dois anos da minha mocidade e recordações, sim essa terra
muito longe do nosso pequeno país na europa, uma terra que nos
marcou e podermos mesmo dizer "terra
onde o sol queimava mais".
Mário
Moura Pires * Comissão na Guiné 1971 - 1973
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa
em Julho de 1970, na chamada terceira incorporação desse
ano, tive como destino a cidade de Elvas onde assentei praça
e tirei a especialidade de atirador de cavalaria. Tendo permanecido
nessa cidade alentejana 5 meses.
Ano 1971 -
A bordo do navio "Uíje"
Em Janeiro de 1971
fui transferido para Castelo Branco, onde permaneci até ao meio
desse ano, entretanto, tinha já saído a minha mobilização
tendo como destino a província da Guiné.
Fui incorporado no ER 3431 (Esquadrão de Reconhecimento de Cavalaria).
Embarquei para a Guiné no navio "Uíge" no dia
15 de Agosto de 1971, com chegada a Bissau no dia 23 desse mesmo mês,
tendo permanecido nesta cidade cerca de uma semana.
Ano 1971 -
Bissau com o José Pereira (Zézito italiano) e
o Zé Gouveia (Zé Bentinha)
Em Bissau quando da minha
chegada encontrei-me com os conterrâneos, José Pereira (Zézito
italiano) e o Zé Gouveia (Zé Bentinha) celebrando este nosso
encontro com uma jantarada e pelo meio recordarmos a nossa Loriga. Segui depois
para Ximé numa fragata da marinha e depois daqui segui em coluna para
Bafatá, onde o meu Esquadrão de Reconhecimento ficou sediado
e onde me mantive um ano. Foi
um ano de intensa actividade, daqui de Bafatá fazíamos protecção
às colunas para Piche, Beruntuma (fronteira com o Senegal) e Pirada,
onde soube que ali tinha feito comissão o nosso conterrâneo José
Augusto Rosa.
Ano 1971 Bafatá
- No meu Destacamento junto do Emblema do Esquadrão feito por
mim
Ano 1971 Bafatá
- Um dia de descanso que me vesti à civil
Fiz parte da minha comissão
numa Zona muito complicada e de muita intervenção, fazia fronteira
com o Senegal e a Guiné Conacri, países que segundo se sabia
era locais de refugio dos grupos inimigo e, durante esse tempo que ali permaneci,
o meu Esquadrão de Reconhecimento 3431, participou em algumas operações
de combate, lembrando-me de uma delas feita de noite, que nos marcou profundamente,
ao termos tido uma baixa (a única do meu Esquadrão) com a morte
do meu colega, soldado Camacho, como assim o chamava-mos e também termos
tido um ferido grave, ao ter um dos nossos companheiros perdido um dos braços,
a golpe de catanada.
Ano 1971 Bafatá
- O meu Grupo do Esquadrão (ER 3431)
Ano 1971 Bafatá
- Em missão de protação a uma coluna
Ano 1971 Piche - Numa
Missão de Reconhecimento
Ano 1971 Bafatá
- Com os meus camaradas na hora da refeição
Ano 1971 Bafatá - Preparando
o material de guerra
Ano 1972 - Beruntuma
-Junto da Fronteira com o Senegal
Ano 1972 Bafaté
- Para comer melhor recorria-se à caça
Ano 1972 Saltinho -
Numa Missão de Reconhecimento
Ano 1972 Bafatá
- Na enfermaria por ter apanhado o Paludismo
Ano 1972 Bafatá
- Com o António Santos (Alvoco da Serra e o Lopes (Moimenta
da Serra)
Ano 1972 Piche - Hora
de os guerreiros comerem
Ano 1972 Bafatá
- Tempo para um convívio e uma "Miga"
Ano 1972 - Algures na Guiné
missões por água e terra
Ao fim de 12 meses de comissão
em Bafatá, fui transferido para a lha Formosa, uma das muitas ilhas
que fazem parte dos arquipélago da Guiné, onde permaneci 9 meses,
onde completei os 21 meses que já levava de comissão. Ali me
encontrei com o nosso conterrâneo José Fonseca.
Ano 1972 - Na ilha
Formosa com o José Fonseca
Ano 1972 - Algures
com o Tó Cabral
Ano 1972 - Com uma
arma apreendida proveniente da China
Ano 1972 - O momentos
de dar noticias à família
Ao fim desses nove meses na Ilha Formosa
fui transferido para Bissau, onde completei o resto da minha comissão
e aguardei embarque de regresso, que tardava a ser marcado. Em Bissau estes últimos meses de comissão
foram já bem melhores. Ali me encontrei
com o conterrâneo o António Palas (Pirola), mas não registamos
em fotografia este nosso encontro.
Regressei à Metrópole no dia 12 de Outubro de 1973 a bordo do
navio "Niassa" regressando enfim, à Metrópole.
Ano 1973 - Foto de família
do fim da comissão
* Mário
Moura Pires (2012)
Nota Complementar
Passei grande parte da minha comissão
em zona de intervenção e perigosa na província
da Guiné. Apesar de tudo posso considerar-me ter tido sorte,
só que completei cerca de 27 meses de comissão, quando
por norma pertencia estar naquela província 18 a 20 meses, mas
o poder militar a que mandavam e por isso estávamos à
vontade dele e do respectivo serviço orgânico, que ao
fim e ao cabo quem saía depois prejudicado éramos nós
os soldados.
António
Cardoso Matias * Comissão em Angola 1966 - 1968
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa
no dia 3 de Abril de 1966, tive como destino a cidade de Coimbra para
ingressar no CICA para tirar a recruta que desde já era um complemento
para a especialidade de condutor. Fui depois para o Regimento de Cavalaria
Nr.6 no Porto para então sim ter o treino "treino de condução nocturna
em estrada e no mato".
Ano 1966 -
Coimbra, primeiros dias da tropa
Depois de pronto como se dizia
na gira militar, no mês de Agosto seguinte fui colocado
no RAL 1 (Regimento de Artilharia Ligeira Nr.1) e foi ali que fui mobilizado
para Angola e em 11 de Setembro sou incorporado no Comando de Agrupamento 1978,
que tinha como destino aquela Província Ultramarina.
Ano 1966 - Coimbra, o meu pelotão
da recruta a possar para a foto família
Ano 1966 - Porto, Na instrução
para condutor auto
Ano 1966 - Coimbra
ainda durante a recruta (primeiros tempos)
Ano 1967 - Emblema
do Comando Agrupamento 1978
Já integrado no Agrupamento
ainda tivemos instrução ligeira e depois foi-nos dado a licença
de mobilização de 26 de Setembro até 5 de Outubro e a
e a 10 de Outubro fomos considerados em condições de embarque.
No entanto, até ao dia do embarque, 23 de Novembro houve instrução
operacional para conhecimento do nível de preparação militar
geral. Veio a perceber-se mais tarde que a "preparação
militar no grupo a que eu estava integrado era bastante deficiente", e este comentário registado pelo comandante
da minha unidade era extensivo aos Batalhões e companhias do Comando
de Sector de que fazia parte.
Ano 1966 - Luanda -
Campo do Grafanil (altar num tronco dum embondeiro
Ano 1966 - Luanda -
Campo do Grafanil primeiros dias da chegada
Embarcamos para Angola a bordo
do navio "Vera Cruz" no dia 23 de Novembro e chegamos a Luanda no dia
02 de Dezembro de 1966. Fomos transportados para o campo militar do Grafanil,
aonde estivemos acampados até ao dia 13 de Dezembro.
Como apontamento adicional posso dizer que foi nesses dias e no Grafanil que
esbocei aquilo que viria a ser a minha profissão "fotógrafo". Quando cheguei ao Grafanil quis mandar para a família
uma fotografia e não havia fotógrafo, aí pensei e melhor
o fiz, comprei a minha primeira máquina fotográfica, uma kodak
INSTAMATIC 50. Tirei fotografias a mim mesmo e fotografei amigos que mais tarde
viriam a ser clientes. A seu tempo comprei um ampliador e mais ferramentas.
Montei com a respectiva autorização do comandante da unidade
o meu pequeno "Laboratório" para revelar as fotografias.
Quibaxe; Fazenda Tentativa, próximo do Caxito;
Ambrizete, actual N'Zeto e Toto,
foram os principais cenários do teatro de guerra que vivi em Angola
na minha comissão que foi desde Novembro de 1966 a Novembro de 1968.
Ano 1967 -
Toto, Aquartelamento da unidade
Ano 1967 - Ambrizete,
serviço "Porta de Armas"
Ano 1967 - Ambrizete,
o Lago a Natureza e eu
Ano 1967 - Ambrizete,
tempo para beber umas boas "Nocal"
Ano 1967 - Ambrizete,
descança o guerreiro tendo ao lado a fotografia da namorada
Ano 1967 - Ambrizete, no Bar
do Aquartelamento "sai
mais um copito para esquecer que se está longe"
Ano 1968 - Ambrizete,
Convívio o Bernardino eu e o Sousa
Ano 1968 - Ambrizete,
Um dia de convívio com colegas
Ano 1968 - Toto, depois de
uma caçada o "Petisco" crecendo o troféu para a fotografia
Tive sempre a paixão
a esculpir com o gesso, até mesmo em Angola e quando tinha tempo disponível
dedicava-me a isso. Fiz vários trabalhos entre eles o Logotipo da unidades,
que me deu imenso gosto elaborar, depois mais tarde esse Logotipo foi moldado
em bronze e cimento.
Ano 1967 -
Ambrizete, esculpindo em gesso o Logotipo da Unidade
Ano 1968 - Fazenda
Tentativa, posar para a foto
Ano 1968 - Ambrizete,
a embalsamar um pequeno corcodilo
Ano 1968 - Toto, junto
ao Lago Toto onde fui tirar fotografias
Ano 1967 - Algures
numa encruzilhada de "picadas" (estradas)
De certa maneira posso-me considerar
de ter sido um soldado cumpridor dos meus deveres, por isso, ter sido reconhecido
todo o empenho dedicado ao trabalho que me era destinado. Foi com certa satisfação
ter sido agraciado com louvor que aqui também registo.
LOUVOR (transcrição)
"Louvo o Sold. António Cardoso Matias, porque servindo há
21 meses nesta província, sempre demonstrou óptimas qualidades
de carácter, camaradagem, educação, bom senso e total
dedicação ao serviço. Chamado a colaborar na Secção
OP/INF. Como desenhador, nos múltiplos trabalhos de que foi encarregado,
sempre depositou a melhor boa vontade, os seus conhecimentos e a sua habilidade.Por tudo quanto fica dito, é o Sold.
MATIAS bem digno do presente louvor, da estima e admiração dos
seus camaradas e do justo apreço dos seus superiores."
Ano 1968 - Quibaxe,
as criancas sempre presentes com a nossa protecção
Ano 1968 - Quibaxe,
as bananas também matavam a fome
Ano 1968 - Quibaxe,
sentado em cima de um "bunquer"
Ano 1967 - Ambrizete,
foto tirada nos preparativos para o Natal
Fomos rendidos em Outubro de
1968, pelo Comando de Agrupamento Nr. 2956, pouco tempo depois rumamos para
Luanda para embarcamos de regresso à Metrópole,
Ano 1968 - Algures pelas "picadas"
de Angola, já na viagem de regresso para Luanda, para se embracar para
a Metrópole
Embarcar-mos em Luanda no dia 21 de Novembro
de 1968 a bordo o navio "Vera
Cruz" curiosamente o
mesmo barco que nos tinha levado para Angola. Chegamos a Lisboa ao cais da
Alcântara no dia 2 de Dezembro de 1968, curiosamente também dois
anos depois de termos desembarcado em Luanda para o inicio da comissão.
Ao chegarmos a Lisboa fomos encaminhados para
a unidade mobilizadora RAL 1, onde então sim passei á disponibilidade.
* António Cardoso Matias (2011)
Nota Complementar
Fiz o meu dever cumprido
em prol de uma terra e de um povo. Foi na vida militar e lá
em Angola que descobri a outra fase da minha vida ao me dedicar à
fotografia que foi importante para a minha comissão, pois paralelo
com o serviço militar, montei um pequeno laboratório
de fotografia amador. Desenhou-se aí aquela que seria a minha
profissão após a desmobilização. Fui durante
os trinta anos seguintes, fotógrafo de artes gráficas
após os quais me reformei.
Antes a minha vida profissional foi
na indústria Textil, tanto em Loriga como em Lisboa, desde 1958
até Abril de 1966, quando então entrei para a tropa.
Pelo meio ainda frequentei a Escola Industrial Afonso Domingues, que
me fez formar ainda mais para a vida.
João
da Silva Pinto * Comissão em Moçambique 1967 -
1969
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa
1966, na 3ª. Incorporação desse ano (Julho) tive
como destino o Quartel do CICA 4 em Coimbra tendo tirado a especialidade
de Condutor. Recruta e especialidade levou-me até Novembro altura
que passei a ser Condutor Motor Auto Rodas. Passando depois para o
Porto onde estive algum tempo.
Ano 1966
- Nos primeiros tempos de tropa
Ano 1966/67
- Mais fotos ainda dos primeiros tempos de tropa (Recruta e
Especialidade)
Em Abril de 1967 sou mobilizado
seguindo em Maio para a Amadora onde fui integrado no Batalhão 1918,
na Companhia CCS, que estava destinado para comissão em Moçambique
e para a região do Niassa
Só embarcamos para Moçambique no dia 3 de Agosto de 1967 a bordo
do navio "Niassa" e tal como sabíamos o nosso destino foi
a zona do Niassa. Apesar de pertencer à CCS do Batalhão fui muitas
vezes para as Companhias 1413 e 1414, as companhias operacionais do Batalhão,
onde estive como adido.
Ano 1967 - Zona
Niassa em plena operação
Ano 1967 - Primeira
foto tirada em Moçambique
Ano 1967 - Preparados
para as operações
Estive em várias regiões
de Moçambique, uma vez integrei uma marcha de L. Marques para "Tenente
Valadi" uma distância de cerca de 4.000Km, que percorremos em 24
dias e 24 noites.
Estive em várias operações, lembro-me até em 1968
véspera da Páscoa termos sido atacados às 23 horas, estivemos
1h45 minutos debaixo de fogo, uma das situações mais perigosa
e complicada, mas que felizmente para mim tive sorte.
Ano 1967 - Num dia
de partida para uma operação
Ano 1967 - Posar
para a foto antes de uma operação
Ano 1967 - Preparar
o campo para se ter visibilidade
Ano 1967 - Prontos
para mais uma operação
Ano 1967 - Numa das operações
e já de regresso ao Aquartelamento matou-se um Gazela
que depois serviu para termos "rancho melhorado"
Fiz serviço durante
também algum tempo a percorrer as companhias de operações
transportando o material para projectar cinema para essas companhias, cheguei
andar cerca de 500 Km numa semana.
Ano-1967 - Descanso dos
guerreiros
Ao fim de cerca de ano e meio na Zona do
Niassa, o meu Batalhão foi transferido para Malema, também zona
de intervenção. Estive
ainda em Ribaué onde estive cerca de 1 ano terminando ali a comissão.
A Companhia CCS à qual pertencia não teve baixas, o mesmo não
podemos dizer das outras companhias operacionais do meu Batalhão que
tiveram significativas baixas, felizmente a mim tudo correu bem e com sorte
nada sofri.
Ano 196 - Nampula
descarregando um aviãocom mantimentos
Ano 1968 - Com os
meus camaradas num dia descanso
Ano 1967 - Envio
de correio desejando uma Páscoa Feliz
Ano 1967 - À
espera de correio da família
Ano 1967 - Postal
de Boas Festas enviado à família
Um dia em Nampula encontrei-me
com o conterrâneo Joaquim "Pistola" e como não podia
deixar de ser era sempre com alegria quando encontrava-mos amigos e conterrâneos.
No termo da comissão encontrei-me com o Zeca "Moita" e com
o António "Pistola" este já falecido.
Em L. Marques encontrei-me com o Horácio
Varão e com o Pedro da Lapa que me foi ali visitar.
Também me em Vila Trigo de Morais encontrei-me com o António
"Farrancha" e com o Eduardo Melo e também com o Manuel Félix.
Ano 1968 - Com mais
alguns camaradas a posar para a fotografia
Ano 1968 - Mais
um momento para escrever à família
Regressei à Metrópole
no dia 12 de Setembro de 1969, embarcamos no porto de Nacala a bordo do navio
"Niassa" a viagem até Lisboa durou 30 dias, desembarcamos
no porto de Alcântara no dia 11 de Outubro.
Ano 1969 - O navio
"Nissa" atracar em Lisboa no dia do meu regresso
Ano 1969 - No barco
pela costa de Moçambique
*
João
da Silva Pinto (2011)
Nota Complementar
Cheguei à Metrópole
ao cais de Alcântara em Outubro de 1969, um dia radiante de sol
que nos deu as boas vindas em Lisboa, fazia precisamente 26 meses que
dali tínhamos saído, para cumprirmos um dever por terras
Moçambicanas, que o fizemos com toda a determinação
e que muito fizemos por um povo e por uma terra que nos diziam ser
portuguesa, quando na realidade era uma terra africana.
Percorri aquele país de norte a sul, tive a felicidade de para
mim ter corrido tudo bem, o mesmo não puderam dizer outros meus
camaradas que partindo não mais regressaram.
António
Pinto Nunes * Comissão
em Angola 1970 - 1972
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa 1969,
sendo chamado para a 3ª. Incorporação desse ano (Julho)
tendo como destino o Quartel de RI.7 em Leiria onde tirei a recruta.
Após a recruta de duração de cerca de dois meses, em Setembro
fui enviado para a cidade Torres Novas, incorporado para tirar ali a especialidade
de atirador de Artilharia pesada.
Depois de terminada
especialidade e antes de ter terminado o ano, fui enviado para o RAL1
em Lisboa, tendo sido colocado com adido eventual em Sacavém
Aquartelamento do Material de Guerra, onde
me mantive até Abril de 1970.
Em Abril desse ano
fui mobilizado tendo como destino a província da Guiné
integrado num Companhia de Artilharia. Entretanto, a minha companhia
ao qual eu pertencia seguiu para a Guiné, ficando eu na Metrópole,
até que depois saiu a ordem de eu embarcar para a Angola em
sistema de rendição individual.
Embarquei para a Angola
em Julho de 1970 a bordo do navio "Príncipe Perfeito",
nessa altura integrado primeiro numa Companhia de Caçadores
dum Batalhão de Caçadores, mas depois e já em
Luanda, tive como destino a Companhia de Artilharia 2671, sediada na
zona Norte/Leste de Angola, região bem ao norte de Henrique
de Carvalho, mais precisamente para o Aquartelamento de Mussuco onde
também estava situada uma Missão Católica de freiras.
Mussuco estava situada
bem junto à fronteira com o Congo, onde estive cerca de 18 meses,
integrado nessa companhia CART 2671, tendo efectuado muitas missões
de reconhecimento, com algumas intervenções a nível
de combate, mas felizmente no que tocou a mim nada sofri.
Ano 1970 - Em Mussuco
(Zona Norte de Angola)
Ano 1970 - Em Mussuco
com a população local
Ano 1970 - Em Mussuco
no Unimog das operações
Ano 1970 - Mussuco
com alguns camaradas
Tivemos também muita
intervenção em serviço das comunidades locais, nomeadamente
construções de pontes, guarda a missões católicas
e outras operações mais ou menos relevantes.
Ano 1971 - Zona
de Mussuco construção de uma ponte
Ano 1971 - Zona
de Mussuco matando a sede
Ano 1971 - Zona
de Mussuco pronto para o combate
Ano 1971 - Quartelamento
de Mussuco um momento de divertimento
Ao fim de cerca de ano e meio
nessa zona, vim para a cidade de Luanda, onde estive cerca de dois meses, então
sim tive o privilégio de encontrar o Tó "Rifona" com
o qual passei a encontrar-me com ele regularmente. Pena foi não termos
tirado uma foto para registar estes nossos encontros.
Ano 1972 - Aquartelamento
de Santa Eulália (Zona Norte de Angola)
Ano 1972 - Em Santa
Eulália posar para a fotografia
Ano 1972 - Em Santa
Eulália, local onde repousaram combatentes
Ano 1972 - Em Santa
Eulália, tratar das crianças
Quando pensava que ficaria
por Luanda até ao termos da minha comissão, visto já estar
com 20 meses, sou enviado desta vez para o norte, para integrar outra Companhia
de Artilharia na zona de Santa Eulália, onde me mantive no resto da
minha comissão, mais de 5 meses e tal, ultrapassando em muito os dois
anos normais de comissão. Finalmente foi grande a alegria, quando ao
fim desses 6 meses e tal, me foi dado ordens de regressar a Luanda para regressar
então à Metrópole.
Ano 1972 - Dia de folga, com
um colega de Aveiro
Ano 1972 - Dia para escrever
à família
Ano 1972 - Dia para dar atenção
às crianças
Ano 1972 - Um dia de convívio
com os meus camaradas
Regressei à Metrópole
em fins de Setembro de 1972, regresso efectuado de avião, pois nessa
altura já era o meio de transporte dos militares nas comissões
ultramarinas. Tendo feito de comissão mais cerca de três meses,
por motivo de a minha comissão ser rendição individual
que implicava na espera de transporte, que se prolongava por vezes por semanas
e meses.
Ano 1972 - Muito perto de regressar
à Metropole
Ano 1973 - No ano seguinte depois
de ter regressado, voltei a vestir o camuflado no dia da Festa de São
Sebastião, cumprindo assim dessa forma uma promessa que tinha
feito antes de partir.
Ano 1972 - Quando regressei à
Metropole
*António
Pinto Nunes (2011)
(1948-2015) **
Nota Complementar
Apesar de ter passado grande parte
da minha comissão na zona norte de Angola, local sempre de intervenção,
posso dizer que tive sorte, devendo registar que as companhias por
onde passei, tiveram baixas significativas tanto a nível de
combate como de doença.
** Falecido
em 27 de Março de 2015
Joaquim
Zacarias Fernandes de Brito* Comissão
na Guiné 1972 - 1974
(Posto militar - Soldado)
Introdução
Sou natural de Alvôco
da Serra, localidade vizinha da vila de Loriga. Fiquei ligado a esta hospitaleira
vila Loriga, pelo casamento com Maria Natália Prata e, que a partir
de então passou a ser mais uma minha terra de adopção,
pela qual também passei a ter um carinho especial e passei gostar dela
como todos os loriguenses dela gostam. Neste enquadramento, junto-me aos loriguenses
nesta rubrica Guerra do Ultramar, para aqui também registar a minha
passagem por essa guerra, tendo em conta de me encontrar muito ligado a esta
linda vila de Loriga.
Ano 1971 - Viseu, meu Pelotão
na recruta
Fui à inspecção
em 4 de Junho de 1970, tinha então 18 anos, como não podia deixar
de ser, fui apurado. Entrei para a tropa no ano seguinte, tendo assentado praça
na última incorporação desse ano, mais precisamente no
dia 18 de Outubro de 1971, tendo como destino o RI.14 na cidade de Viseu. Como
curiosidade quero aqui recordar que o meu ordenado na recruta (pré como
de dizia na tropa) foi de 7$50.
No princípio do ano de 1972, segui para Abrantes para tirar a especialidade
de Atirador de Infantaria, após a especialidade tirada fui de imediato
mobilizado e também de imediato fui fazer parte do I.A.O. em Santa Margarida.
Gozei os 10 dias de licença mobilizadora, recebi 400$00 e ali estava
eu pronto para seguir viagem.
Ano 1971 - Minha
Caderneta Militar
Ano 1972 - Embelema
do meu Batalhão
Ano 1972 - Chegada
à Guiné
Fui mobilizado para a Guiné,
incorporado no Batalhão de Caçadores 3883, ficando a pertencer
à Companhia 3546 e colocado no 4º. Grupo de combate. Embarquei
em Lisboa de avião em 23 de Março de 1972 para Bissau. Quando
cheguei fui para Bolama de Barco, estando lá alguns dias para acabar
de tirar o I.A.O.
De Bolama fui de barco para
o Xime, e segui de coluna para Piche (zona leste) permanecendo nesta zona vinte
e sete meses, repartidos entre Piche, Ponte Caium e Camanjabá (para
fazer segurança à ponte e às colunas que seguiam para
Camajabá e Boruntuma), bem como, intervi em muitas operações
por toda aquele mata da zona leste.
- Piche - era o local aonde estava sediado o meu batalhão, passaram
por lá vários conterrâneos (Zé Gouveia, Tó
Ribeiro, Mário Pires e o meu amigo António Santa de Alvoco da
Serra. - Ponte Caium - Uma ponte com quatro abrigos, dois à entrada no sentido de
Piche e dois à saída no sentido Camajabá, com equipamentos
de defesa ( morteiros 120, 81, 60 e metrelhadoras). - Camajabá - Destacamento já com alguns civis, tendo como missão
(patrulhamento, fazendo segurança à abertura da estrada para
Boruntuma e protecção dos civis).
Ano 1972 - Ponte
de Caium - Onde tinhamos os abrigos e respectivas coberturas
Ano 1972 - Ponte
Caium (uma jangada improvisada)
Ano 1972 - Abrigo
em Camajabá
Ano 1972 - No mato
sempre protegido
Ano 1972 - Em Camajabá
vala de protecção, caso de ataque
Ano 1972 - Andava
sempre bem acompanhado
Ano 1972 - Ponte
de Caium, Morteiro 120
Ano 1972 - Camajabá,
à saída de um pontão
Ano 1972-1973 - Os guerreiros
também dormem, na cama ou em qualquer lugar
Nesta fotografia aqui documentada,
tenho ao meu lado o "Shoné" o cão meu fiel amigo, nosso
mascote (este cão merecia ser condecorado, estava sempre presente na
linha de combate e foi ferido gravemente) algumas vezes salvou a vida de muitos
de nós.
Passei quase a totalidade
da minha comissão na Leste da Guiné, bem dentro da zona de Intervenção,
longe da civilização e em contacto permanente com o perigo que
espreitava a todo o momento, sempre armados até
aos dentes, como se dizia
na gira, porque a nossa defesa eram as nossas armas, as nossas permanentes
companhia, que temos a plena consciência de nos terem sido bem úteis
nalgumas das muitas operações efectuadas, algumas mesmo bem complicadas.
Era em Piche que estava sediado o meu Batalhão, a minha rotina era uma
constante actividade entre Piche, Ponte Caium, Camajabá. A minha Companhia
estava em Camajabá aonde tinha por missão fazermos segurança
à abertura da estrada, para Boruntuma construída pela Tecnil.
Volto novamente para Piche, aonde estava sediado o meu batalhão e a
rotina era vira o disco e toca o mesmo (quando não estava riscado).
Entretanto vim para Bissau pensando que a minha missão estava cumprida,
mas enganei-me …
Ano 1972 - Com a
minha lavadeira
Ano 1973 - Piche, Com o meu amigo Zé Santos
da Guarda (Casado com uma Loriguense) junto à população
local
Ano 1972 - Ponte
de Caium, num dia de folga
Ano 1973 - Comendo
a ração de combate com o
amigo Mateus, numa operação, para os lados
do rio Corubal.
Ano 1973 - Com os
meus amigos Mortágua, Oliveira e Ferreira,
brindando não sei ao quê.....
A maior parte do tempo da
minha guerra, foi sempre metido no mato, pensando eu muitas vezes "que mal fiz eu para merecer este castigo". Sou daqueles que estão incluídos naquele
patamar que podem dizer com angústia "comi
o pão que o diabo amassou".
O meu Batalhão foi bastante afectado
com baixas, só na minha Companhia tivemos seis, por isso, se pode ver
a constante actividade a que éramos sujeitos e zona de guerra onde estavamos.
Entretanto, chega o ano de
1974 e dá-se a Revolução dos Cravos, os ecos do dia 25
de Abril chegam também até nós, a expectativa é
enorme e ansiedade ainda é maior, nota-se o cheiro da liberdade, mas
continuamos atentos, mesmo até com atenção mais desdobrada.
Pensa-se que muito pode mudar, estou no final da comissão e tarda o
regresso, que parece a continuação do pesadelo.
Ano 1973 - Em Piche,
com o meu grande amigo Mateus de Santiago do Cacém
Ano 1973 - Em Camajabá,
conviver com os animais era nosso quotidiano
Ano 1973 - Em Camajabá,
em frente ao abrigo (eram estas as nossas instalações)
Ano 1972-
Postal de Boas Festas - Chegou à Metrópole um mês
depois
Em Bissau estive-mos novamente
em permanente actividade, a nossa missão consistia fazermos a segurança
às principais e mais importantes infra-estruturas da cidade.
Certo é, que as comissões militares na província da Guiné,
por norma eram de um período compreendido de 17 a 21 mês, no entanto,
o meu Batalhão ficou 27 longos meses, que me parecia nunca ter mais
fim.
O momento mais feliz que tive,
foi quando o pesadelo acabou ao receber-se a mensagem que dava conta do meu
regresso à Metrópole, com a viagem de avião programada
para o dia 23 de Junho de 1974. Só
acreditei finalmente terminar todo esse pesadelo, que me acompanhava à
mais de dois anos, quando por fim fiz o espólio no RAI.1, (Encarnação)
em Lisboa, saindo a porta de armas à civil (nem olhando para trás)
finalmente me senti livre tal como um passarinho.
Nota complementar
Este meu registo são
alguns dos meus escritos em papel, que os posso rasgá-los e
esquecê-los.…( ninguém me perguntou se eu queria
ir para a Guerra, fui obrigado a aceitar) como tantos outros.
Mas na minha memória jamais os apagarei, vendo ao meu lado sucumbir
companheiros e eu sem lhes poder valer. A eles presto a minha sincera
homenagem. Dou Graças
a Deus, por ter regressado, para junto de todos, que ansiosamente aguardavam
a minha chegada.
O que é a guerra?..
"Uma profissão de bárbaro em que a arte consiste
em se ser o mais forte em dado ponto." (Conde De Ségur)
* Joaquim
Zacarias F. de Brito (2011)
Carlos
Félix de Moura* Comissão em Angola 1967 - 1969
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa na última incorporação
do ano de 1966, foi no dia 25 de Outubro, que dei entrada no RI12, para tirar
a recruta. Fui depois para Amadora tendo como destino o RI1, onde fui tirar
a especialidade de atirador de infantaria.
Ano 1967 - Amadora final
da especialidade
Ano 1966
- Caderneta Militar
Em 22 de Fevereiro
do ano de 1967, terminei a especialidade e logo no mês seguinte
fui mobilizado, sendo integrado no Batalhão 1908 Companhia 1674,
tendo como destino a província de Angola, para onde embarquei
no dia 15 de Abril desse ano, a bordo do navio "Vera Cruz"
com a chegada a Luanda no dia 24 desse mesmo mês.
Ano 1967
- Chegada a Bom Jesus (Angola)
Fomos colocados no Grafanil
(Luanda) quartel onde eram sediadas os Batalhões e Companhias, que acabavam
de chegar a Angola. Poucos dias depois fomos deslocados para o norte para Bom
Jesus, cerca de 300 Km. de Luanda, onde estive um ano.Era uma zona muito isolada,
principalmente no tempo das chuvas, tínhamos sempre problemas de abastecimento,
que obrigava a ser efectuado por avião.
Foram muitas as operações efectuadas
naquela zona, muitas verdadeiramente cansativas, passamos muito tempo pela
mata, mas felizmente a sorte protegeu-me conseguindo superar todas as dificuldades.
Ano 1967 - Bom Jesus, momentos
de abastecimento por via aérea
**
Ano 1967 - Bom Jesus,
Aquartelamento no meio da mata
Ano 1967 - Bom Jesus,
um dia de camaradagem
Ano 1967 - Registo de dias
de operações algures pelo norte de Angola
**
Ano 1967
- Por vezes era só de Helicóptero, o meio de
transportes para sair do Bom Jesus
Ano 1967
- Registo os meus dotes musicais
Em Abril de 1968, o meu Batalhão
foi deslocado para o sul ficando a minha companhia sediada em Novo Redondo.
Então sim, estávamos muito melhores e quando parecia que tudo
ia bem, passado apenas dois meses de ali estarmos naquele local, fui castigado
juntamente com um Alferes, tendo sido enviado para o Leste de Angola, Alto
Cuíto zona da frente de guerra, onde passei todo o restante tempo da
comissão.
Esse castigo deveu-se, que quando estávamos na Vila D. Maria, perto
de Novo Redondo, eu e o Alferes fomos a uma (tabanca) num "Kimbo"
(Sanzala) tentar comprar galinhas. Entretanto o Comandante formou todo o Batalhão,
onde só faltávamos nós, ao chegarmos, o Alferes ainda
me disse "para dizer que era o condutor dia" só que o Comandante
não engoliu a peta, fomos castigados e tal como disse enviados para
a frente da guerra, onde comi o pão que o diabo amassou.
Ano 1967
- Foto do "Zé LóLó junto a uma "Berliete"
Ano 1968
- Novo Redondo um dia de passeio e de laser
Fiz muitas operações
por terras do Lesta de Angola, por vezes de dias e dias pela mata. Lembro-me
que numa dessas operações que fizemos e quando estávamos
já bastante cansados, sentamo-nos naquilo que pensávamos ser
um tronco, de repente começa a mexer, na verdade era uma enorme Jibóia,
que aqui documento em foto, apanhei cá um susto que durante dias não
me esqueceu. Reagi-mos de imediato
a lai vai fogo matando-a, que veio depois a servir de refeição
aos nativos locais de uma Sanzala ali bem perto.
Ano 196 - Com a Jiboia após
a termos morto
Uma outra complicada situação
quero aqui relatar. Um dia eu e um camarada ao terminarmos o serviço
resolvemos ir à caça para a refeição, não
avisa-mos ninguém pouco depois avistamos uma gazela e lá vai
fogo, os tiros foram ouvidos no Aquartelamento, de imediato foi montado uma
operação de defesa, pensando que fosse um ataque, o que valeu
foi um dos nossos colegas num local do aquartelamento mais bem colocado, nos
ter avistado com a gazela às costas e nos ter reconhecido de imediato
no preciso último momento em que estavam para disparar. Felizmente tudo
acabou em bem para esta atitude irreflectida, claro, que não nos livramos
de uma grande descompostura pelo nosso comandante.
Ano 196 - A famosa Gazela
que nos ia custando a vida
Levei da Metrópole
um cão, que se revelou um autentico soldado, só que era racista,
não podia ver um africano, manifestava-se logo e queria logo atacar.
No entanto. Era um verdadeiro vigilante e quando pressentia alguma coisa, não
ladrava mas fazia tudo para se fazer compreender que algo se passava, acabou
por morrer mordido por um bicho.
Encontrei-me com o conterrâneo "Zé
LóLó" tendo registado esse encontro com a foto que em cima
registo, ele junto a uma "Berliete".
Regressei à Metrópole no navio
"Vera Cruz", precisamente o mesmo barco que me tinha levado para
Angola. Desembarquei em Lisboa no dia 3 de Julho de 1969, um dia lindo radiante
de sol que nos deu as Boas-vindas.
*
Carlos Félix de Moura (2011)
Nota Complementar
Regressei feliz e
contente, tendo feito mais três meses de comissão do que
era supor, tudo relacionado por ter sido castigado e mandado para o
Leste da Angola, apenas e simplesmente por ter ocorrido aquela situação
quando estava na região do sul em Novo Redondo, ao me ter ausentado
do Quartel, juntamente com o Alferes, sem autorização.
Penso no entanto, que o que levou a ser-mos assim severamente castigados,
foi por nessa altura já estar a vigorar com certa rigidez a
chamada guerra psicológica, com o RDM a ser mais regido na sua
aplicação ao militares a cumprirem as comissões
nas Províncias Ultramarinas.
Gabriel
Lopes Pina* Comissão em Moçambique
1971 - 1973
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a recruta
mo RI14 (Viseu) no dia 20 de Outubro de 1970, ficando portanto muito
perto de Loriga. No principio do ano de 1971 fui transferido para o
BC5 em Campolide Lisboa, para tirar a especialidade de Transmissões
de Infantaria.
Nesse mesmo ano de 1971 fui mobilizado pelo RI15 de Tomar, tendo como
destino a província de Moçambique, mais concretamente
METARGULA distrito do Niassa, para ali chegarmos utilizamos o barco,
comboio, camião e lancha visto que era uma ilha.
Ano 1970
- Primeiros tempos da minha vida militar
Embarquei para Moçambique
em Outubro de 1971, viagem efectuada no navio "Niassa". Sabendo que
nesse mesmo barco embarcou também o António José (Senhora
Ilda do talho) marido da Lúcia Lucas, levei cinco dias para o encontrar.
Na maioria das noites dormi ao relento, pois o sitio recomendado e destinado
na viagem era do pior que possam imaginar.
Ano 1971
- "Niassa" o barco da viagem
Adeus terras
da Metrópole
Que eu vou pró Ultramar
Não me chorem, mas alegrem-se
Que eu hei-de regressar
Ano 1971
- Quadra muito usual na época
Na altura o meu primo Tó
Rifona estava em comissão em Luanda (Angola) como se sabia que os barcos
para Moçambique faziam normalmente escala nessa cidade, a minha tia
Palmira (sua mãe) pediu-me para lhe levar umas chouriças, que
me prontifiquei levar. Já no decorrer da viagem diziam-me que havia
um cheiro nauseabundo no sítio da minha bagagem, na realidade isso acontecia,
verifiquei e eram então as chouriças que se estragaram e deitavam
esse cheiro, foi tudo deitado ao mar e até os peixinhos se devem ter
queixado com tão horrível presente.
Ano 1971 - Quartelamento
de Metargula
Ano 1971 - No meu
posto de serviço sempre activo
Ano 1972 - Momentos
de pensamentos para a Irene (namorada)
Ano 1972 - O guerreiro
posando para o retrato
Na chegada a Lourenço
Marques, eu e o António José fomos dar um passeio, nisto vejo
o Carlos "Verdasca" com um familiar, dei conta da minha visão
ao António Zé e ele nem queria acreditar. Entramos no Restaurante
e era mesmo ele na companhia de um familiar, ofereceram-nos o jantar, apanhamos
uma bebedeira que confundimos uma chaminé de uma padaria com o barco,
o que nos provocou um atraso que quase impedia a continuação
da nossa viagem, lá baixaram uma escada de corda e lá seguimos
ainda entrar no barco.
Ano 1972 - Refeitório
(hora do "tacho")
Ano 1973 - Exposição
de minas dos mais variados formatos, já desactivadas e que tinham
estado activadas para aleijaram muitos de nós
Ano 1973 - Não
sendo aviador mas era capaz de colocar
no ar aquele gerigonça do avião
Ano 1973 - Testando
o avião vendo ao longe o horizonte, da Metrópole, só apetecendo
fugir
Ano 1972 - A falar
para a rádio (envio de mensagem)
Ano 1972 - Mina
anti-carro ainda activada trabalhos de desactivação
Passei uma comissão
sem grandes atropelos o meu maior medo era que acontecesse alguma coisa ao
António Zé, pois do sitio onde me encontrava via os ataques ao
quartel dele, e por via rádio recebia muitas vezes más noticias.
Fizemos a viagem juntos até aquela zona em Moçambique, estivemos
em comissão muito próximo um do outro, por estranho que pareça
não tivemos oportunidades de encontrarmo-nos. Mas na única oportunidade
que isso aconteceu passei por ele e não o reconheci, pensei que tivesse
abalado, quando os meus colegas me disseram que ele estava barbudo como o Pai-Natal
e por isso não o reconheci. Por
falta dessas oportunidades não tenho por isso registo de fotografia
com o António Zé (talho).
Ano 1972 - Os guerreiros
também merecem descansar
Nota complementar
Regressei à Metrópole
em Outubro de 1973, precisamente dois anos da minha chegada ali, para
cumprir o meu dever. Tive a felicidade de para mim ter corrido tudo
bem, o mesmo não poderão dizer outros de uma guerra que
nem sabias muito bem o porquê de existir e à qual demos
parte do nosso precioso tempo da nossa juventude. Passei à disponibilidade
em 16 de Novembro de 1973
* Gabriel
Lopes Pina (2011)
José
Mendes de Pina * Comissão em Moçambique
1963 - 1966
(Posto militar - Soldado)
Assentei praça em 5
de Maio de 1963, no RI 5 nas Caldas da Rainha, juntamente como o António
José Leitão e o António M. Pereira (Cebola). Fui depois
para Mafra tirar a especialidade de Transmissões de Infantaria, que
durou um pouco mais de dois meses, onde me encontrei novamente com o conterrâneo
António José Leitão.
Ano 1964 - Com dois camaradas
vaidosos por estramos em pose
Fui mobilizado pelo RAL.1
em Outubro de 1963 tendo como destino a província de Moçambique,
para onde embarquei no navio "Niassa" em 23 de Novembro desse ano.
Fui incorporado na Companhia 561 do Batalhão 562, que foi sediada em
Tete (Furancunco), uma zona que no primeiro ano de comissão não
teve movimentação de guerrilha, que só se veio a manifestar
já no segundo ano em 1965, nessa altura já tínhamos uma
certa experiência, bem conhecedores e integrados a nível ambiental
na região, que foi muito importante e fundamental para um meio de controlo
eficaz a todos os níveis.
Ano 1964 - Trabalhos
comunitários construção
de estradas
Ano 1964 - Trabalhos
comunitários o do centro
é o meu cunhado J. L. Martins que vive em Loriga
Tinha como camarada e com
a mesma especialidade José Luís Martins conhecido pelo (bigodes)
também natural do nosso Distrito da Guarda. Este camarada pede-me para
lhe arranjar uma madrinha de guerra. Aconselhei a minha irmã Isabel,
daí ter nascido o casamento e hoje ser meu cunhado, que veio a ser o
obreiro para a construção do prédio "Cor-de-rosa"
no Bairro das Penedas" em Loriga, onde se radicou, depois do regresso
da França, onde ele e minha irmã estiveram emigrados durante
alguns anos, onde ainda lá vive a filha e netos.
Com estávamos numa Zona em que a guerrilha não era expressiva,
a nossa comissão foi praticamente toda ela dedicada ao serviço
de Psicossocial em prol da população autóctone, que para
além de muitos trabalhos em construção e conservação
de estradas e povoações, algumas das operações
de actividade operacionais efectuadas eram em missão de reconhecimento.
Também fazíamos alguns espectáculos dirigidos à
população civil, onde muitas da vezes coloquei os meus dotes
artísticos, por isso ser conhecido por "Pina do Diabo".
Ano 1965 - Limpeza
das armas
Ano 1965 - O meu
Pelotão da Companhia 561
Os aerogramas era o meio de
correspondência grátis para os militares, muito utilizado para
se corresponder com a família e com outros camaradas. Para o efeito
todas os aquartelamentos, batalhões, companhias, destacamentos etc.,
tinham um número SPM (Serviço Postal Militar) o da minha companhia
tinha o número 1794. Apenas como registo e para recordar, aqui transcrevo
um aerograma, que guardo como recordação e que enderecei ao António
José Leitão em 22/09/1964, que cumpria a comissão na província
do Zambeze.
Alguns apontamentos da
transcrição deste aerogranma
Para: António José Leitão
1º Cabo nº 1484/63 SPM 1694
De José Mendes Pina Soldado nº 966/63 SPM 1794
"Furancungo 18/06/1964: Amigo António José cá recebi
o teu estimado aerograma e nele vi tudo quanto me dizias, o que mais estimei
foi a tua saúde, eu também graças a Deus com boa saúde.
António José recebi o teu aerograma foi coisa que nunca esperava
fiquei muito contente ao receber o teu aerograma pois ao menos já me
fico a corresponder com mais um amigo da terra……….. Já
que te escreves com o "Rápido" e o Ferrão pedia-te
o favor de me mandares as direcções deles. …. Eu também
me escrevo com o José Fontes e para já te envio a direcção.
José Pinto Fernandes 1º Cabo Enfermeiro nº 2253/63 SPM 1814
etc.. etc.. etc.."
***
Regressei à Metrópole
no dia 4 de Abril de 1966, viagem efectuado no navio "Quanza" completando
em Moçambique 28 meses de comissão ultrapassando em muito os
normais dois anos que pertenciam.
Nota Complementar
Regressei do Ultramar
com o dever cumprido, de muito ter feito a favor das populações
locais e ao mesmo tempo de ter regressado em bem. Voltei a Loriga para
o meu trabalho na fábrica de lanifícios Nunes & Brito,
dentro de mim começou a surgir a ideia de emigrar o que aconteceu
em 1969, numa rocambolesca viagem para a França, por culpa de
um passador, queé caso para
dizer, "comi
o pão que o diabo amassou" mas
consegui ir em frente, talvez preparado ainda com muita da minha força
dos meus tempos do Ultramar.
Deixei a França em 1994, regressando a Loriga, explorei o Café
Neve, e entretanto reformei-me. Hoje continuo levando uma vida saudável
com longos passeios pelos caminhos rurais da nossa Loriga, que não
deixo de assinalar com montinhos de pedras, para que outros não
se percam nos matagais.
*José
Mendes de Pina (2010)
José
Brito Calado * Comissão em Moçambique
1971-1973
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa em 5 de
Julho de 1971, assentando praça em Coimbra no RAL 2 CICA4, onde também
tirei a minha especialidade de Condutor de pesados. Fui
mobilizado logo a seguir de tirar a especialidade, tendo como destino a província
de Moçambique para onde segui em 16 de Novembro de 1971.
Ano 1971 - Coimbra, tempos
da recruta
Ano 1971 - Coimbra, dia
do Juramento de Bandeira
Ano 1971 - Coimbra,
meu pelotão
da recruta
Ano 1971 - Coimbra,
Com alguna camaradas da recruta
A viagem para Moçambique
foi já efectuado de avião, nessa altura, o transporte dos militares
já se estavam a realizar via aérea, bem como, o regresso também
foi efectuado por essa via, assim era evitada a longa viagem de navio, que
para aquela província ultramarina chegava a durar cerca de doze a quinze
dias.
Cheguei a Moçambique tendo ficado sediado
na bela cidade da Beira, tendo a especialidade de condutor, como é fácil
de compreender e estando numa cidade, estava sempre em actividade, tendo a
maioria das minhas missões sendo desencadeadas a favor comunitário,
a nível das localidades e suas populações.
Ano 1971 - Cidade
da Beira, o avião
que me transportou
Ano 1972 - Moçambique,
com uma das viaturas que conduzia
Ano 1972 - Moçambique,
numa operação algures por terras Moçambicanas - curioso
já ser tirada a cores esta foto
Na Beira encontrava-se também
a fazer a comissão o conterrâneo José Jorge, que era Policia
Militar e com o qual me encontrava, no entanto, não tenho o registo
em fotografia. Tive uma comissão
por terras Moçambicanas, que de certa maneira poderei dizer não
ter sido muito má, o mesmo não podem dizer muitos de outros nossos
camaradas que nem todos tiveram sorte.
Ano 1972 - Perto da Beira, numa operação
Ano 1972 - Perto
da Beira, ao serviço
da comunidade
O meu irmão António
passou na cidade da Beira em Outubro de 1973, quando da sua viagem de barco
para Macau, onde cumpriu a sua comissão. Estando eu nesta cidade da
Beira, lamentavelmente não nos encontrarmos por falta de alguma informação
que não chegou até mim, nomeadamente de pessoas lá na
Beira.
Ano 1972
- Beira, Com a viatura que conduzia
Ano 1972
- Beira, com um macaquito
Ano 1973
- Beira, usando os meus dotes de culinários
Nota Complementar
Decorria o Ano de 1973, quando
com alguma surpresa recebi a notícia da mobilização do
meu irmão António, para a província de Macau. Segundo
se sabia não podiam ser mobilizados dois irmãos, no entanto,
isso aconteceu na minha família, eu estava em Moçambique e o
meu irmão é também mobilizado, só que o destino
dele foi para o longínquo Macau, onde fez os dois anos da sua comissão.
Por isso se pode compreender, se leis existiam não eram para todos.
* José Brito
Calado (2010)
António
Moura Pinto * Comissão em Angola
1974-1975
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa
em 20 de Outubro de 1973, na Guarda onde fiz a recruta que terminei
em 3 de Janeiro de 1974, seguindo no dia seguinte para Lisboa com destino
ao BC.5 (Campolide) para tirar a especialidade de Transmissões
e onde fiquei até Junho desse ano.
Entretanto, acontece o 25 de Abril a chamada Revolução
dos Cravos, começando então a viver-se uma nova era em
Portugal, começou até já a ser imaginativo em
muitos, que com a mudança politica, provavelmente iria ficar
suspensa o envio das tropas com destino ao ultramar português.
Certo que nada disso se passou e, em Junho sai a minha mobilização,
com destino Angola, tendo em 1 de Julho seguido para Santa Margarida,
no sentido de ser integrado na Companhia de Cavalaria 8440, tendo-me
ali mantido cerca de um mês.
Em 1 de Agosto de 1974, embarquei para Angola num avião da TAP,
nessa altura os transportes de tropas já estavam a ser efectuadas
via aérea, terminando aquele calvário do transporte por
barco, que por norma demorava cerca de 10 dias até chegar àquela
província portuguesa.
Chegamos a Luanda, tendo a
viagem decorrido em cerca de 8 horas, logo à saída do avião
veio-nos o cheiro de África, por momentos parecíamos surpreendidos,
que ainda oito horas atrás estávamos em Lisboa e ali estávamos
nós para enfrentar o desconhecido.
Tivemos com destno o norte de Angola, ficando a minha Companhia 8440, sediada
na Fazenda da "Maria Fernanda" (Carmona) numa zona bem a 100% operacional
e ondei nos mantivemos durante 4 meses.
Ano 1974 - Destacamento
"Fazenda Maria Fernanda" norte de Angola
Ano 1974
- Embelema da Companhia
Ano 1974 - Norte
de Angola com colegas
Ano 1974 - Noma
operação norte de Angola
Foram várias as operações
militares em que entrevi, praticamente todas elas de reconhecimento, no entanto,
a minha Companhia registou 4 baixas mortais, todas elas motivadas por acidente.
Uma das mortes aconteceu mesmo ao meu lado, quando a "Berliete" em
que viajávamos apanhou um buraco, que projectou o nosso furriel e o
fez cair e ser de imediato apanhado pelo rodado da viatura, ficou gravemente
ferido mas morreu logo depois.
Ano 1974 - Norte
de Angola, no posto de vigilia
Ano 1974 - Norte
de Angola, escrevendo dando noticias á família
Ano 1974 - Norte
de Angola, uma viola para matar saudades
Ano 1974 - Norte
de Angola, o dever de proteger a população
Ano 1974 - Norte de Angola,
missão e dever de proteger a população
Ao fim de quatro meses no
norte, fomos transferidos para Nova Lisboa (hoje Huambo) para o Quartel 21,
onde estivemos também cerca de 3 meses (Novembro 1974 a Fevereiro 1975).
Durante a minha comissão não tive a sorte de me encontrar com
colegas militares loriguenses, no entanto, em Nova Lisboa (hoje Huambo) encontrei-me
com o senhor António Moura Pinto, que ali estava radicado, em Luanda
encontrei o nosso bem conhecido conterrâneo José Paixão
que ali vivia e trabalhava.
Ano 1975 - Nova Lisboa,
sempre atendo com o dever de vigiar
Ano 1975 - Quartel 21 em
Nova Lisboa, como é de reparar, curioso é já ter algumas
fotos a cores que na época era um luxo
Os ecos da independência
já se faziam sentir, as negociações já estavam
a decorrer, nós sentíamos já esses efeitos, por isso era
um viver de expectativa e de certa ansiedade, mesmo parecia já termos
sempre presente que já não seria por muito mais tempo que iríamos
estar em Angola.
De Março a Outubro de 1975, fomos enviados para Benguela, mais ao Sul
de Angola, onde passei os restantes 8 meses da comissão, quando nessa
altura já estava em curso as transferências das unidades militares
portuguesas para os Movimentos Revolucionários.
Ano 1975 - Benguela,
momentos de divertimento
Ano 1975 - Benguela,
gozar um tempo de praia
Ano 1975 - Benguela,
lendo as revistas da ocasião
Ano 1975 - Benguela,
gozar o merecido descanso
Ano 1975 - Benguela,
posar para o fotografo
Ano 1975 - Benguela,
com um meu camarada dia de "farra"
Regressei à Metrópole
em 26 de Outubro de 1975, regresso também efectuado de avião,
precisamente quinze dias antes do dia 11 de Novembro de 1975, o dia que foi
proclamada em Luanda a independência de Angola.
* António
Moura Pinto (2010)
Nota Complementar
Pertenci a um dos
últimos bastião da campanha da guerra colonial, passamos
a nossa comissão em terras de Angola já debaixo da Liberdade
que tinha surgido com o 25 de Abril, por esse motivo notamos sempre
uma grande tensão que não sabíamos como iria terminar.
Ouviu-se dizer que o nosso exército perdeu a guerra que se arrastava
acerca de 14 anos, mas não é verdade, a guerra se foi
perdida foi pelos políticos de antes e depois do 25 de Abril,
nós o militares demos tudo o que tínhamos e parte das
nossas vidas com sacrifícios e privações, mas
com a certeza de termos contribuído para o progresso dessas
terras angolanas e suas populações.
Regressamos ao nosso cantinho na Europa, cientes do dever cumprido,
nessa altura vivia-se também pelo nosso país tempos conturbardes,
fruto de uma definição que levou algum tempo a impor-se.
António
Brito Calado * Comissão em Macau 1973-1975
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa
em 6 de Fevereiro de 1973, tendo assentado praça no Regimento
de Infantaria 14 em Viseu. Depois de completar a recruta fui transferido
para Évora para tirar a especialidade de atirador de artilharia
de "obuses" 8-8 e 14.
Após ter tirado a especialidade fui promovido a primeiro-cabo
tendo sido transferido para o RAL1- Rotunda da Encarnação
em Lisboa, onde vim a ser mobilizado.
Quando se entrava para a tropa, nessa altura, na mente de todos nós,
estava sempre presente a ideia de que ao sermos mobilizados lá
iríamos parar a Angola, Moçambique ou Guiné, as
três frentes da guerrilha. Por conseguinte foi com enorme surpresa
ao ser mobilizado para Macau.
Ano 1973
- A bordo do navio "Timor"
Depois da confrontação
de ter com destino o longínquo Macau, seguiram-se os dias de ansiedade
e ao mesmo tempo uma enorme curiosidade, ao mesmo tempo numa certa expectativa
de como me iria dar do outro lado do mundo bem junto à China, países
de outras culturas, de usos e costumes bem diferentes da Europa e África.
Ano 1973 - O "Ti
António Farias" a fazer-me a última barba antes
da partida para Macau
Ano 1973 - Procissao
de S.Sebastião
já mobilizado
Dizia-se na altura, que existia uma lei,
que dois irmãos não se podiam juntar a cumprir comissão
no Ultramar, só que parece que essa lei não era para todos, porque
o meu irmão José ainda estava a cumprir a sua comissão
em Moçambique e eu fui também mobilizado.
Ano 1973 - Viseu, primeiros
dias de tropa, na foto lado direito está também o meu cunhado
António
Embarquei para Macau no navio
"Timor" em Outubro de 1973, sabíamos que iria ser uma viagem
de cerca de um mês com escalas em vários portos ultramarinos.
Uma dessas escalas foi na cidade da Beira (Moçambique) onde se encontrava
o meu irmão a cumprir a sua comissão, por isso, até levava
comigo uma encomenda. Só que por motivos imprevistos e ainda por falta
de colaboração de algumas pessoas, não foi possível
o ver, o que me marcou para sempre e muito lamentei.
Ano 1974
- Macau, Cartão
de Livre trânsito usado em Macau
Ano 1973 - Évora,
a tirar a especialidade
Ano 1974 - Macau,
ainda tempo para acrobacia
Chegamos a Macau em Novembro
de 1973, ficamos sediados no Quartel da Guia o ponto mais alto de Macau, desde
logo notamos a diferença tal como esperavamos, na realidade estavamos
noutro mundo, noutras terras, com outras gentes e outros usos e costumes, que
nada parecia fazer lembrar a Europa.
Ano 1974 - Macau,
Dando tiro de salva (Quartel da Guia)
Ano 1974 - Macau,
Com o Tenente Graca na festa do Natal no Quartel
Ano 1973 - Dili-Timor,
escala nesta cidade ainda houve tempo para um jogo de futebol
Ano 1974 - Macau,
descanso do guerreiro
Ano 1973 - Macau,
pouco tempo depois da chegada
Ano 1974 - Macau,
"taxista" à moda chinesa
Ano 1974 - Executante de
timbalão na Fanfarra Militar
Ano 1974 - Macau,
junto do famoso casino desta cidade
Ano 1974 - Macau,
futebol Futsal entre oa camaradas
Ano 1974 - Macau,
o famoso monumento de referência desta cidade
Ano 1974 - Macau,
era assim o porto-mar
Regressei à Metrópole
em Maio de 1975, onde já há um ano se vivia a liberdade depois
da revolução dos cravos no 25 de Abril de 1974. Viemos encontrar
o país um pouco confuso e ainda sem um rumo definido. Quando partimos
de Macau, tinha-mos já conhecimento que em Timor também já
se estava a viver uma certa instabilidade de fraqueza, que veio a culminar,
quando logo a seguir de o governo português ter dado a independência
nas outras províncias ultramarinas, forças militares indonésias
invadiram a 7 de Dezembro de 1975 aquela antiga colónia portuguesa,
que eu conheci e a passei a recordar por ter ali passado, quando fui para Macau..
Nota Complementar
Não estive
nas províncias com o cenário de guerra. A minha comissão
em Macau resumia-se numa presença militar numa da província
do império português além-mar, neste meu caso bem
lá longe. Contribuí com algum tempo da minha mocidade
a favor da Pátria, em terras que se diziam também ser
Portugal, que apesar de terem usos e costumes diferentes, estou convicto
de em certa forma, termos também contribuído para o bem-estar
dessas terras e suas populações.
Recordo que Macau foi o último bastião do império
português, passando para Região Administrativa Especial
da República Popular da China, nos primeiros momentos da madrugada
do dia 20 de Dezembro de 1999, deixando a partir desse dia de pertencer
a Portugal que a colonizou durante mais de 400 anos. No entanto, por
aquilo que conheci enquanto lá estive, estou certo que algo
da presença portuguesa se manterá para sempre enraizada
naquela antiga província portuguesa hoje terra chinesa.
* António
Brito Calado (2010)
Carlos
Alves Brito * Comissão em Angola 1967-1969
(Posto militar - Soldado)
Assentei tropa na
Guarda em Abril de 1967, onde fiz a recruta. Fui depois para Amadora
para o Regimento de Infantaria 1, onde tirei a especialidade de armas
pesadas (MG) de Artilharia.
Fui mobilizado em Setembro de 1967,
tendo seguido para Torres Novas para ser integrado na Companhia de
Artilharia 1764, do Batalhão de Artilharia 1928 "Os Arietes",
que tinha como destino a província de Angola, para onde embarcamos
no navio "Niassa" no dia 10 de Outubro desse ano, tendo desembarcado
em Luanda no dia 22 desse mês.
Alguns dias em Luanda no Quartel do
Grafanil e no dia 29 foi efectuada a viagem do nosso Batalhão
com destino para a região São Salvador, norte de Angola,
ficando a minha Companhia 1764 sediada em Pangala zona fronteiriça
com a RDCongo.
Tinha-mos a responsabilidade
de uma área extensíssima (um losango com eixos de 50x40 Km.),
sem informações houve que desenvolver um esforço de cobertura
com saídas permanentes em normalizações e emboscadas de
tal ordem, que durante o período se consumiram cerca de 18.000 rações
de combate em 16 meses.
Ano 1967 - Simbolo
do Batalhão 1924
Ano 1967 - Acampamento
de Pangala
Ano 1968 - Numa
operação algures no norte de Angola
Ano 1968 - Perto
de Pangala com meus colegas Lopes e Raimundo
Não foi só na
zona da nossa responsabilidade que fazíamos operações,
como também, executamos outras várias operações
e algumas de grande duração na falda W da Serra da Canda, o que
granjeou à Companhia o cognome de "Os Arietas do Canda"
Mesmo assim a actividade da minha Companhia por aquela paragem do norte de
Angola, não se limitou no campo operacional, apesar do pouco tempo disponível
para outras actividades, mesmo assim, executamos várias obras que contribuíram
para o nosso bem estar e das populações, como foi o caso da instalação
eléctrica, esgotos (reparação sanitárias), tanques
para a lavagem de roupa, cozinha, captação de água, postos
de vigilância (reparação de alguns e feitos outros), colocação
de arame farpado etc..
Ano 1968 - Pangala,
ao serviço da comunidade
Ano 1968 - Pangala,
serviço de Rádio único contacto
com o mundo
Ano 1968 - Pangala, hora
do banho no rio
Ano 1968 - Pangala, lugar
simbólico que construímos no nosso aquartelamento
Em Março de 1969 fomos transferidos
para Beu, passando a minha Companhia 1764, a ter a responsabilidade de uma
ZA totalmente diferente de onde estávamos. Com uma área aproximada
a 5.000 Km2 (aproximadamente a área do Minho) e uma população
na ordem das 20.000 almas dispersas por cerca de 120 Sanzalas, houve que nos
adaptarmos à nova área o que não foi fácil.
Ano 1968 - Pangala,
lavando a roupa
Ano 1968 - Pangala,
os lençois já lavados
Ano 1968 - Pangala,
água potável
Ano 1969 - Beu, Com os colegas
da secção
Ano 1969 - Beu,
Fazer a "tosquia"
Ano 1969 - Pangala,
num Gipe a precisar de reparação
Ano 1968 - Pangala,
perto do aquartelamento
Apesar de termos estado sempre
em Zonas de grande intervenção, a minha Companhia apenas teve
duas baixas, com a morte de dois dos nossos colegas por acidente, aliás,
o total da baixas ocorridas no nosso Batalhão foram 5 e todas elas de
acidente. Dois na minha Companhia 1764, dois na Companhia 1763 e um na Companhia
1765.
Quando termina-mos a comissão, todos os da minha Companhia chegamos
à conclusão de nos dar-mos por felizes de só terem morrido
dois dos nossos colegas, tendo em conta a campanha de muitas operações
pelos matos, frequentes colunas de reabastecimento por perigosas "picadas",
com várias missões de risco e combate e também de muitas
rações de combate que tivemos que comer, não há
dúvidas que a minha Companhia foi feliz.
De regressei à Metrópole e ainda em Luanda encontrei-me ali com
o Tó Pina, filho do senhor Joaquim Almas e em Dezembro de 1969 chegava
a Lisboa a bordo do navio "Império".
* Carlos
Alves Brito (2010)
Nota Complementar
Quando cheguei à
Amadora encontrei-me com o amigo Adelino Pina "Palha" na
altura já mobilizado e prestes a embarcar com destino a Angola,
de onde eu acabava de chegar.
Só depois de já estar na Metrópole, a que comecei
a recapitular todo o passado desde há dois anos para atrás,
quando do meu embarque de Lisboa, como que parecia estarmos a dar um
"salto" para o desconhecido e como iria decorrer a nossa
permanência em Angola.
Nessa dúvida que tínhamos à partida e que pairava
em todos nós sobrepunha-se numa certeza, de que estávamos
dispostos a dar tudo por tudo, a oferecer o melhor do nosso esforço
e boa vontade, do nosso poder e saber, fosse onde fosse e fosse em
que circunstâncias fossem, em prol da Paz e do Progresso de Angola
e Portugal. Realizamos impossíveis, ultrapassando-nos a nós
próprios, sofremos sacrifícios inumeráveis, suportamos
privações de toda a ordem, mas a fundamental missão
que nos foi confiada cumprimo-la, temos a certeza disso, com honra
e galhardia e orgulhosamente atingimos o termo de dois anos de comissão
em plena consciência do dever cumprido.
António
José Cabral Leitão * Comissão em Moçambique
1963-1966
(Posto militar - Cabo)
Entrei para a recruta
na Caldas da Rainha em Maio de 1963 juntamente com o Zé Pina
(Sabanico) e o António Pereira "Cebola". Um quartel
impecável novo com boas louças das Caldas, muita limpeza
e também muito suor durante toda a recruta. Dali parti para Mafra para tirar a especialidade,
foi um tremendo choque, quartel velho, escuro, húmido, com uma
taxa de ocupação tremenda e muito má comida. Ali
me encontrei com o Zé Alberto Urtigueira e também e uma
vez mais com o Zé Pina "Sabanico".
Tinha a especialidade de transmissões. Todas as estradas daquela
região de Mafra foram por mim calcorreadas de arma e rádio
na mão em muitos exercícios intermináveis, muita
fruta surripiamos por todas aquelas quintas de noite e de dia. Como
era de esperar depois da recruta e feita a especialidade fui mobilizado,
sendo enviado para Cavalaria 7 na Ajuda. Depois foram dez dias de instrução
nocturna entre a Trafaria e a Fonte da Telha, para estarmos prontos
para a guerra colonial.
O meu Batalhão era
o 571, do qual também faziam parte o Abílio "Rápido"
e o António Ferrão. Embarcamos no dia 10 de Outubro de 1963 no
navio "Pátria", mas só soubemos que o nosso destino
era Moçambique, quando estávamos em pleno alto mar.
Ano 1963 - Partida
de Lisboa do navio "Pátria"
Ano 1963 - Emblelema
do Batalhão
Ao fim de 10 dias uma paragem
em Luanda, e então sim sintimos pela primeira vez o cheiro da África.
No outro dia seguimos viagem para Moçambique onde chegamos no dia 28
a Lourenço Marques, tendo aí ficado o António Ferrão,
que como era condutor, ficou ali para se treinar no trânsito pela esquerda
e nós lá seguimos ao longo da costa com destino a Nacala.
Ao desembarcarmos em Nacala aguardava-nos uma terrível trovoada tropical,
que nos obrigou a refugiarmo-nos debaixo do comboio ficando com as nossas malas
de cartão desfeitas. Nova viagem de comboio de longas horas até
Iapala e depois novo transbordo desta vez para machibombos.
Por caminhos lamacentos e cheio de buracos atravessando rios e riachos e pontes
e pontões lá chegamos finalmente. Tendo o Abílio "Rápido"
ficado no Alto Molocué onde ficou a sua companhia 568, a 1ª. do
Batalhão, seguindo eu para Mocuba onde fcou sediado o Comando do Batalhão
- "Mocuba terra de
raça onde os caminhos se cruzam e a Zambézia se abraça".
Ano 1963 - Hospital
de Mocuba
Ano 1964 - Mocuba
com um Tigre
Ano 1964 - Mocuba
dando noticias à família
Ano 1965 - Mocuba
fui Àrbitro num desafio futebol Norte-Sul (1-3) auxiliares
Juvenal e Barros
Ano 1964 - Mocuba
no refeitório
Ano 1964 - Mocuba
ano da Taças das Taças que o Sporting ganhou
No Alto do Molocué
havia um Hospital de Leprosos onde estava um loriguense Artur Pinto, na altura
Frade. Em Mocuba vivia o loriguense António Ribeiro e estava ali sepultado
o seu irmão Fernando Ribeiro que tinha morrido num acidente de motorizada,
assim como, também vivia ali um senhor irmão do senhor João
Galvão de Valezim, que sendo comerciante de sapataria era muito popular
e muito entusiasta de desporto local como árbitro e dirigente. Tinham
duas filhas muito simpáticas, que frequentavam a vida social local.
Felizmente na zona onde estava-mos sediados, a guerrilha foi pouco expressiva,
aliás, desde que chegamos e durante um ano ainda não se tinha
manifestado, o que só aconteceu já no meio da nossa comissão,
nessa altura toda a nossa experiência e ambientação à
região foi de facto fundamental para levarmos sem problema o resto da
comissão. No entanto, o meu Batalhão registou dois colegas mortos,
um de doença e outro de acidente.
Ano 1964 - Ponte
Lugela com António Ferrão
Ano 1964 - Mocuba
lendo o Jorna "A Neve"
Ano 1964 - Ponte
Lugela sobre o rio Lugela
Ano 1965 - Mocuba
assistindo a um jogo de futebol
Ano 1964 - Mocuba
servindo na Messe dos Oficia (Dia de Festa)
Ano 1965 - Quilimane
apoiando a Académica de Coimbra de visita a esta cidade
Ano 1965 - Despedida
ao Sargento Pereira
Ano 1964 - Mocuba
Uma Sanzala vizinha
Ano 1964 - Mocuba
Limpeza às camas (caça aos Percevejo)
Na altura na região
nasceram duas crianças gémeos
siameses, tendo a noticia
circulado bem depressa, os médicos militares e locais viram-se assim
perante uma situação, que na altura os meios ainda não
eram avançados, para fazer a operação de separação.
Foi levada a efeito a operação por um grande médico de
Moçambique auxiliado pelos médicos militares, na realidade, era
uma situação muito complicada e de alto risco. A operação
veio a confirmar esse risco, terminou sem êxito com as crianças
a falecerem pouco depois.
Foto das criançasgémeos
siameses
Quando fomos para o Ultramar
e começamos a nossa comissão, na altura, ainda não se
usavam os fatos camuflados, que só os viemos a ter já íamos
com mais de um ano de estarmos em Moçambique.
Ano 1965 - Mocuba,
confraternização com os meus camaradas
Ano 1965 - Mocuba,
quando começamos a usar o camuflado
Se para Moçambique
tínhamos ido três loriguenses, eu, António Ferrão
e Abílio "Rápido" na viagem de regresso viemos seis,
pois também regressaram connosco o Alferes José Carreira hoje
no Brasil, o António Simão agora na América e José
Fontes emigrante na Holanda.
Na viagem de regresso passamos pela Beira, eu e o António Ferrão
tínhamos à nossa espera o nosso conterrâneo Zé Ferreira
filho da senhora Júlia, na altura a prestar serviço militar na
Força Aérea. Fomos também visitar o senhor Ramiro, casado
com a senhora Filomena Moita, que trabalhava nos caminhos de ferro, que nessa
altura já ali se encontrava sozinho, visto que a sua mulher e filhas
já algum tempo que tinham regressado para Loriga.
O barco fez escala em Luanda, aproveitamos e visitamos alguns conterrâneos,
o senhor Albano Neves e esposa, o senhor José Amaral e encontramos também
o Guilherme Firmino, que nos levou a casa da sua prima D. Aurora Prata, que
não só teve a gentileza de nos convidar para o almoço,
como nos mostrou a linda cidade no seu "Carocha" .
Chegamos a Lisboa no dia 1 de Março de 1966.
Último convívio
realizado em Sines 02/05/2009
Hoje os convívios anuais estimulam os tempos passados cheios de recordações.
***
* António
José Cabral Leitão (2010)
Nota Complementar
A minha guerra começou
em 1962, quando os nascidos em 1942 se juntaram em Loriga, para o dia
da inspecção.
Nesse ano houve a primeira inovação, pois o António
"Abelha" resolveu alugar uma camioneta para o dia da inspecção,
seguindo-se uma segunda inovação, de pela primeira vez,
que eu me lembre, não houve foguetes à chegada a Loriga,
porque todos concordamos que tendo começado a guerra em Angola
o mais provável era a nossa mobilização para as
várias frentes que se pensava que viessem a surgir noutras colónias.
O dinheiro que se havia de gastar nos foguetes foi gasto num beberete
na cave do Café "Neve" do "Ti Zé Maria".
Regressamos ao nosso cantinho na Europa, após cumprirmos a missão
que a Pátria pedia para sacrificarmos as nossas vidas, fizemos
as nossas famílias sofrer, ganhamos amizades e eternas, que
hoje os convívios anuais estimulam.
Nós não perdemos a guerra, demos tempo a que os políticos
de antes e depois do 25 de Abril, pudessem resolver o conflito a bem
da Comunidade Lusíada. Conseguiram-no?.. "Cada um terá
a sua resposta a História ainda não foi escrita...."
António
Brito Mendes * Comissão
em Angola 1967 -1969
(Posto
militar - Soldado)
Entrei
para a tropa em 3 de Maio de 1966, fiz a recruta na
Carregueira linha de Sintra. Fui depois tirar a especialidade
de Rádio Telegrafista ao Porto onde estive até
Agosto.
Depois da especialidade fui colocado em Sacavém
a dois passos de casa, onde ia dormir a quase todos
as noites. Para isso tinha diariamente a respectiva
autorização. Só que um dia pensei
que não valia a pena estar a pedir a autorização,
desenfiei-me, pois foi um erro, correu mal e fui apanhado
em falta. Tendo então apanhado 10 dias de detenção
que foram suficientes para não ser promovido
a Cabo com me competia, o que penso ter sido uma injustiça,
só por causa de apanhar esse castigo.
Fui mobilizado em Abril de 1967 e no mês seguinte
embarquei no navio "Angola" com destino a
Angola, fui em rendição individual, por
isso mesmo, a minha comissão só começou
a contar quando cheguei aquela província ultramarina.
Estive no Zala norte de Angola, sendo incorporado na
companhia de caçadores 1582 pertencente ao Batalhão
de Caçadores 1892. Mais tarde seguimos para
o Leste de Angola onde fiz todo o resto da comissão.
Ano
1968 - Posto Rádio em Hemrique Carvalho.
Ano
1968 - Posto Rádio de destacamento de Chiluage.
Foram muitas
as operações efectuadas por terras do Leste de
Angola, apesar de termos tido alguns problemas, felizmente
tudo correu bem à minha companhia e mesmo aos pelotões
nos quais também estive integrado. Lembro-me até
de um dia termos tido um tiroteio infernal em Cangamba, mas
felizmente não tivemos baixas nem feridos.
O mesmo se não poderá dizer das outras companhias
do Batalhão 1892, que durante a comissão tiveram
3 baixas, mas nenhuma delas em combate, uma de acidente e as
outras duas por doença.
Ano
1968 - Com um Pelotão em patrulha de reconhecimento no Dala.
Ano
1968 - A transmissão de ocorrência em plena operação
algures no Leste de Angola.
Ano
1968 - Em Chiluage com o Alferes Pinto de Sousa
comandante do destacamento.
Ano
1968 - Em Chiluage com um Pelotão da Companhia Caçadores
1582, num momento de descanso.
Só
me lembro ter encontrado um conterrâneo loriguense, creio
que foi em Balacende, só que não me recordo já
bem do nome, mas penso que se chamava António Cardoso,
infelizmente não registamos esse nosso encontro em fotografia.
Ano
1968 - Em Henrique Carvalho com dois dos meus melhores
Amigos Miguel (Penacova-Coimbra) e Costa do norte.
Ano
1968 - Na cidade do Luso (hoje Luena)
Ano
1968 - No destacamento de Chibuage, o Pelotão
num momento de descanso com o Comandante Alferes Pinto
de Sousa a tocar viola.
Ano 1968
- No Descamento do Cangamba, refrescando as gargantas para
matarmos a solidão e o isolamento.
Ano 1968
- Na passagem de nível na cidade do Luso (hoje Luena)
na estrada que seguia para Henrique Carvalho. Conhecia esta
cidade muito bem onde ia muitas vezes em serviço de
escolta.
**
Regressei
à Metrópole em Julho de 1969 (nesse mês
descia na Lua o primeiro homem - Neil Alden Armstrong), a viagem
de regresso foi no navio "Vera Cruz" que demorou
9 dias de viagem até Lisboa. Cumpri 26 meses de comissão,
as companhias por onde andei já tinham regressado por
terem terminado a comissão, mas eu como era de rendição
individual ainda andei integrado por outros lados até
terminar o meu tempo. Por isso, ter tido mais dois meses e
tal de comissão quando o normal pertencia 24 meses.
*
António Brito Mendes (2010)
Nota
Complementar
Poderia
ter sido pior a minha comissão de serviço
na guerra do Ultramar, como era Telegrafista tive que
alinhar em muitas operações pela mato
e muitas das vezes estar destacado em destacamentos
isolados, em que o único contacto que tínhamos
com outros lugares era através das comunicações
pela via Rádio Telegrafista.
No entanto, marcou
a minha vida militar aqueles 10 dias de detenção,
quando o sistema era lesto a castigar, mas era lento
a dar o valor e não reconhecendo como valor
o tempo que passamos nas nossas comissões, muitas
vezes em operações pelos matos desconhecidos
e a convivermos de perto com o perigo e porque não
mesmo com a morte.
António
Brito Mendes
(Rádio Telegrafista)
José
Nunes Dias * Comissão em Moçambique
1966-1968
(Posto militar - Soldado)
Fui para a tropa em
Abril de 1966, assentei praça em Coimbra, depois da recruta
o meu destino foi o Porto onde tirei a especialidade de condutor. Ao
terminar a especialidade tive como destino Lisboa, para na Fábrica
de Braço de Prata, onde fiz serviço de impedido. Ainda
nesse ano de 1966 fui mobilizado para Moçambique, para onde
embarquei em Outubro no navio "Império".
O meu destino foi o norte de Moçambique, integrado na Companhia
de Caçadores 1618 conhecida como "Toupeiras da Selva".
Quando chegamos a Moçambique seguimos ainda de barco até
ao Porto Amélia e depois fomos para a região de Cabo
Delgado - Mutamba dos Macondes (Mueda).
Foram muitas as operações que realizamos pelas terras
do norte de Moçambique, foi nessa altura que teve iniciou o
conflito em Moçambique. Durante a permanência naquela
região tivemos 5 baixas sofridas em combate e ainda uma outra
morte de mais um colega (este por acidente morto por um colega) e também
tivemos 3 feridos 2 em estado muito grave.
Ano 1966 - Acampamento
de Mutamba dos Macondes.
Ano 1966 - No "meu"
camião para o transporte em operações.
Ano 1967 - Alguns momentos
de operações
algures no norte de Moçambique.
Em Mueda encontrei-me com
o nosso conterrâneo Joaquim "Pistola" e depois mais tarde também me encontrei com
mais dois nosso conterrâneos o António José da "Maria
Teretesita" e também com o Carlos Melo. Um
encontro também muito saudade foi aquele quando me encontrei com o senhor
Ramires, radicado em Moçambique, marido da senhora Filomena Moita e
pai da Irene, Lurdes e Zeca Moita, todos eles na altura já a viverem
em Loriga. Destes encontros aqui descritos, infelizmente não
tenho o registo fotográfico.
Ano 1967 - Numa
picada perto do Mueda.
Ano 196 - Simbolo
da nossa Companhia.
Ano 1967 - Num momenmto
de divertimento.
Ano 1967 - Com o
meu amigo "Chico" um macaquinho encantador.
Ano 1967 - Caçamos
uma cobra que andava por ali tão perto.
Ano 1966 - Com os
meus dotes de alfaiate, arranjando a minha roupa.
Com 5 baixas sofridas pela
nossa companhia em combate e com a morte de mais um colega (este por acidente
morto por um colega) e também 3 feridos 2 em estado muito grave, dava
direito sermos transferidos para zonas mais calmas, o que veio a acontecer
com a mudança para o Dondo perto da Beira, onde permanecemos cerca de
13 meses, os últimos da comissão.
Já na Beira tivemos ainda uma outra baixa de um colega, natural de Penafiel,
ao ser comido por um crocodilo quando tomava banho num rio. Uma situação
que nos chocou muito e que levou algum tempo a sarar esta ferida.
Ano 1967 - A prevenção
era essencial para nos mantermos sempre em vigilância, fosse qual fosse
a especialidade que tivessemos.
Ano 1967 - Operação
de evacuamento com o Helio em plena mata depois de um ataque.
Ano 1967
- Com o meu amigo "Chico"
Ano 1967
- Grupo dos Condutores da Compahia 1618 (Toupeiras da Selva).
Ano 1967
- Costuma-se dizer em Loriga o que tapa o frio tapa o
calor.
Ano 1968 - Até
serviço de secretaria fiz
Ano 1967 - Na pista
de aterragem no norte de Moambique
Regressei à Metrópole
a bordo do navio "Niassa" em Dezembro em Dezembro de 1968, ao fim
de mais de dois anos de comissão, tendo sentido bem no fundo o termo
guerra.1968,
Nota Complementar
Com a especialidade
de condutor nem tudo era fácil, o primeiro ano na zona de intervenção,
o constante rotineiro do transporte de colegas para as zonas de combate,
era de estar sempre em constante aviso, no entanto, dou-me por feliz
ter tudo terminado bem para mim, o mesmo não o podem dizer as
famílias dos meus colegas que tombaram em combate e dos outros
meus colegas feridos.
* José
Nunes Dias (2010)
Carlos
Mendes da Costa * Comissão em
Angola 1971 -1973
(Posto militar - Soldado)
Entrei para a tropa
na Guarda em 1971 tendo tirado a especialidade de atirador. Logo após
tirar a especialidade fui mobilizado no Batalhão 3856 passando
a pertencer à Companhia 3440. O destino do nosso Batalhão
foi Angola para onde embarcamos no navio "Vera Cruz" em Setembro
de 1971.
Chegados a Angola fomos para a "Funda" zona de Catete, onde
tiramos ainda um outro i00. Para depois sim seguirmos para a região
do Leste de Angola, uma das zonas, na altura, mais activa militarmente.
Estivemos muito tempo em Chimbila.
Estive sempre praticamente em campanha de
guerra. Foram muitas as comissões pelo mato, normalmente todas elas
bem sucedidas. Devo confessar que alguns tiros me passaram ao lado por vezes
muito perto, mas graças a Deus tive sorte.
1971 - Com
o José Freire de Brito do Muro-Vide
1971 - Com
a minha arma inseparável com o diagrama e respectivo
cartucho balista
1971 - Numa
operação em "Bico do Pato" (Lumege)
Tenho para mim o momento mais
marcante quando no dia 1 de Maio de 1972, morreram 9 dos nossos camaradas pertencentes
à companhia CCS do Batalhão, que caíram numa emboscada
e foram apanhados desprevenidos. Primeiro uma granada de fumo para logo de
seguida um fogo infernal de todos os lados que não deu hipótese
de reacção e assim perdemos os nossos colegas.
Nessa altura a minha companhia estava também
em operação nessa zona e foi com grande tristeza e revolta ao
termos conhecimento do que se tinha passado com os nossos camaradas, da companhia
CCS do Batalhão.
1972 - Com o veiculoo
chamado arrebenta minas
1971 - Fotografia
antes de partirmos para uma operação.
1971 - Em
Barraca (Catete).
1972 - Em
Chimbila.
1971 - No
navio "Vera Cruz" na ida para Angola.
1972 - Com o meu
colega Manuel Martins da Silva (de camuflado) natural de Apólia, que morreu
junto a mim perto do Dala, saltou do "Unimogue" para
salvar todos os seus camaradas.
1972 - Junto do
monumento dedicado aos tombados em combate.
O melhor tempo que passei
da minha comissão foi quando estive no Luso (hoje Luena) a passar um
mês de férias, por ter recebido um prémio do "O soldado
mais bem comportado da companhia".
Foi um mês inesquecívelmuito e bem passado, onde me encontrei
com o amigo Adelino "Palha" o Cabo Pina como assim era muito conhecido
por toda a cidade. Passamos belos momentos e a quase todos os dias tínhamos
as nossas "Migas". Nessa estadia na cidade do Luso estava adido à
Enfermaria militar no Hospital da cidade, fazendo serviço de "maqueiro"
ocupação que me marcou por ter que conviver com feridos e mortos.
Um dos encontros com gente
de Loriga que eu recordo com emoção, foi quando eu e o Adelino
Pina "Palha", encontramos o senhor António Benito, motorista
da Tecnil e da JAE, que trabalhava na construção de estradas.
Recordo as palavras quando me viu "Ó
Lóló dum raio também andas por aqui". O "Ti António
Benito" era já
uma pessoa castiça naquela região, ele deslocava-se para todo
o lado sem precisar de escolta, era já muito conhecido. Na altura chegou-m
a dizer "Estou com ideias
de regressar para a Metrópole, porque aqui já me anda a cheirar
muito à pólvora".
Pois ele sabia o que dizia, porque na realidade passado poucos anos tudo modificou.
E ele regressou mesmo, segundo creio em 1975/76.
1971 - Com
um "Cafeco" a minha lavadeira da roupa.
1971 - Na
cidade do Luso com o amigo Adelino Pina a refrescarmos a garganta.
1971 - O navio "Vera
Cruz" que me levou para Angola.
Regressei à Metrópole em 12
de Dezembro de 1973 viagem de avião, demoramos cerca de 8 horas em contraste
com a ida que demoramos 9 dias de barco.
Nota Complementar
Passei uma comissão
em sobressalto, as missões militares sucediam-se umas atrás
às outras e nos primeiros anos de regresso à Metrópole,
pareceu-me viver sempre comigo tudo por aquilo que passei, o barulho
das armas a disparar sempre na minha mente e imaginação
que me parecia lembrar estar ainda na África, tudo isso parecia
custar a desaparecer.
Recordo aqui um episódio que passei ainda em 1990, portanto
cerca de 15 anos depois de ter regressado da guerra. Estando eu a trabalhar
em Israel numa fábrica de Textil, um dia quando aviação
israelita andava em manobras, aquele barulho de guerra fez-me por momentos
voltar a Angola e quando dou por mim estava escondido debaixo de uma
das máquinas onde me refugiei, como muitas vezes aconteceu quando
em Angola caiamos debaixo de fogo inimigo.
* Carlos
Mendes da Costa (2010)
António
Dias de Brito * Comissão em Angola 1973-1975
(Posto militar - Cabo)
Assentei praça
em Agosto de 1972 no CICA 4 em Coimbra. Fui mobilizado para Angola
e viajei para essa província ultramarina no ano seguinte 1973,
viagem de avião, pois a partir do ano anterior eram assim o
meio de transporte dos militares.
Fui para o Leste de Angola para a cidade do Luso (hoje Luena) com destino
ao PAD, instalada nesta cidade, unidade de manutenção
de viaturas militares.
Curiosamente ao chegar a esta cidade eu parecia-me já familiarizado
com ela, ainda em Loriga e em conversa com o Adelino Pina (Palha) que
tinha acabado de chegar daquelas paragens, deu-me praticamente a conhecer
a cidade do Luso, porque também tinha sido ali que cumpriu a
sua comissão.
Tive a minha guerra como militar
de retaguarda, devo dizer que tive a sorte de ter passado uma boa comissão.
No entanto, reconhece que tal sorte não tiveram outros meus camaradas
de tropa, principalmente os que andavam em operações, por aquilo
que via quando recebíamos na unidade as viaturas bastantes danificadas
por motivo das explosões de minas.
Ano 1973 - Descanso
do guerreiro.
Ano 1973 - Na unidade
junto ao refeitório
Ano 1974 - Ajuda
comunitária
Ano 1974 - A posar
para a fotografia
Encontrei-me com alguns conterrâneos
que aqui registo alguns desses encontros com fotografias. Já sabia que estava radicado nestas paragens
do Leste de Angola o senhor António Benito, motoristas da Tecnil na
construção de estradas. Um belo dia encontrei-me com ele e como
se poderá adivinhar foi uma festa. Foi pena não
ter registo de fotografia desses nosso encontro.
Era já uma pessoa muito conhecida, sabendo-se até que se movimentava
por todo o lado sem escolta, numa maneira prática de se ter consciência
que os nosso inimigos eram dele amigos.
Voltou para a Metrópole também nessa altura do meu regresso e
poucos anos depois faleceu.
Ano 1974 - Com o Fernando
"Ginásio" hoje invisual a viver da Casa do Repouso da N.S.Guia,
o Eduardo "Boto" e eu, por altura do Natal que passamos juntos.
Ano 1974
- Cidade do Luso encontro de serranos loriguenses
Fernando "Ginásio, Eduardo "Boto" e seu
seu irmão António José e eu.
Ano 1974 - Cidade
do Luso Fernando "Ginásio e eu, agachados.
De pé os irmãos "Boto" Eduardo e António
José que era capitão.
Ano 1974 - Na cantina
como coelgas refrescando as gargantas.
Ano 1974 - Num jardim
da cidade do Luso com um colega.
Ano 1974 - No Sanzala "Kimbo"
Mandrebo em convívio com a comunidade.
Ano 1974
- Com o meu amigo Jamba.
Ano 1973
- Com o Fernando "Ginásio" a passear-mos numa
rua do Luso.
Ano 1973
- No rio Luena os "Cafecos" a banharem-se.
Durante algum tempo fiz parte do Canto Coral
da igreja local. Uma ocupação complementar que tanto eu como
os meus camaradas gostamos imenso de ter, que nos fez estar espiritualmente
sempre com Deus e importante nesta fase das nossa vidas.
Ano 1973 - Grupo do canto
Coral da Igreja local.
Nota Complementar
Regressei à
Metrópole em 25 de Abril de 1975, também de avião
uma depois de ter acontecido a revolução dos cravos e
a queda do regime fascista. Quando saí de Angola em alguns lados
já estava em marcha alguma confusão que veio a culminar
com a guerra civil, que viria assolar durante muitos anos aquela província.
António Dias de Brito
1º. Cabo do PAD cidade do Luso (hoje cidade do Luena)
* António
Dias de Brito (2010)
Carlos
Florêncio Palas (1948-1991) Comissão em Angola 1970-1972
(Posto militar - Soldado)
A morte arrebatou
à vida era ainda muito novo, apenas com 43 anos. Foi um combatente
da Guerra do Ultramar, fazendo a sua comissão por terras de
Angola. Aproveitando esta rubrica "Guerra do Ultramar" quero
aqui homenagear a memória de meu pai, com estas fotos que a
família guarda religiosamente e com muitas saudades. Recordo
que o meu pai assentou praça em Aveiro e foi para Angola em
1970.
* Maria da Guia
Pala Coutinho
Ano 1969 - Em Aveiro
ainda na recruta com o Pedro "Santinho"
Ano 1970 - Já
em Angola desmantelamento de uma mina.
Ano 1970 - Nos primeiros
tempos em Angola.
Ano 1970 - Ainda
nos primeiros tempos em Angola.
Ano 1971 - Na cidade
do Luso (hoje Luena)
Ano 1971 - Na cidade
do Luso com o Adelino "Palha".
Ano 1971 - Acompanhado
com a lavadeira como era costume nos militares
Ano 1971 - Com os
seus camaradas em trabalhos no acampamento.
Ano 1970 - Em serviço
de solidariedade para com a comunidade local.
Ano 1970 - Em operações.
militares pelas terras do Leste de Angola.
Ano 1971 - Foto no Aquartelamento
no Leste de Angola.
***
Nota Complementar *
Fui amigo do Carlos que o
recordo com saudade. Está em mim ainda presente o dia que fomos à
inspecção (1968) e a nossa alegria de termos ficado apurados.
O Carlos "Pirola" como popularmente era assim chamado era daqueles
verdadeiros amigos, que nos deixam algo e o Carlos deixou-nos aquela maneira
própria de brincalhão, a sempre contagiante boa disposição
e ainda a sua bondade.
Quis o destino que o encontrasse em Angola, quando cumpria-mos a comissão
por terras do Leste dessa província. O Carlos estava de passagem pela
cidade do Luso (hoje Luena), inclusive, durante toda a nossa comissão
em Angola estivemos sempre em contacto um com outro, através da correspondência
que regularmente trocava-mos. Lembro até que no ano de 1970 o Carlos
fez parte com a sua assinatura na carta que enviei, ao senhor Padre Barreiros,
numa mensagem recordando a Festa da Nossa Senhora da Guia, que depois o senhor
padre teve a amabilidade de ler na cerimónia da missa nesse dia da Festa
da Senhora da Guia.
Carlos Florêncio
Palas
(1948-1991) **
A sua passagem pela
cidade do Luso, deu-se porque a sua companhia estava exausta de tanto
lutar pelas terras do Leste, ao fim de muitos meses, por isso e merecidamente,
foram transferidos para zona menos perigosa e foi nessa movimentação
de mudança que com ele me encontrei nessa cidade, onde eu cumpria
a minha comissão e assim passamos uns belos momentos de convívio
e de amizade, que ficaram registados nas nossas vidas através
das fotografias que tiramos e que fazem hoje parte de recordações
e saudade.
Lembro os seus relatos impressionantes das operações
pelo mato, vivendo diariamente lado a lado com o perigo, por isso ele
e os seus camaradas tinham sempre presente o que era muito usual em
guerra, o lema de "viver
um só dia de cada vez".
Foi um choque, quando em 1991, estando eu em terras distantes soube
do falecimento do amigo Carlos, que nos deixou cedo demais. Veio-me
à recordação os nossos tempos de meninos, de adolescentes
e depois homens. Mais chocante foi que ao voltar a Loriga, meses mais
tarde, notar a falta do amigo Carlos "Pirola", aquele vazio da sua presença, aquele
sorriso e o abraço de amizade que nos unia e que a partir de
então deixamos de dar.
* APina (2010)
** Falecido em 27 de Dezembro
de 1991
José
Pinto Lages* Comissão na Guiné 1968-1970
(Posto militar - Soldado)
Assentei praça em Vila
Real (Trás os Montes) no 23 de Outubrode 1967 em Vila Real de Tràs
os Montes no R.13 com o número mecanográfico 082057/67.
Passei depois pela Póvoa de Varzim no 1ºGrupo C.A.M., seguindo
para o Batalhão de Telegrafistas em Lisboa, com passagem pelo B.C.5
em Campolide.
Tirei a especialidade de cozinheiro, fui mobilizado para a Guiné em
Maio de 1968 tendo embarcado em 11 de Agosto de 1968, no navio "Uige".
Fiquei em Bissau capital da Guiné onde me mantive durante toda a comissão.
Posso considerar de privilegiada a minha comissão na província
ultramarina na altura a mais complicada militarmente falando.
A minha especialidade era cozinheiro sendo o meu local de luta a cozinha e
as minhas armas as panelas e tachos. Fui depois escalado para o Depósito
de Géneros de Abastecimento, que como se pode compreender passei a estar
ainda melhor, então sim estava nas minhas "sete
quintas".
Ano 1968 - Descascar as batatas,
fazer a comida, ensinar os mais novos e ter as panelas e tachos sempre aprumados e
esmerados, era o lema que se tinha que ter.
Estando eu na cidade de Bissau, ponto
central das movimentações militares na Província da Guiné,
escusado será dizer que me encontrei com muitos amigos e conterrâneos
e assim podemos passar belos momentos dos quais tenho gratas recordações.
Um outro conterrâneo com quem me encontrei foi com o Zé "Bentinha"
só que não tenho o registo de fotografia.
Ano 1969 - Com o José Brito
Ramos (falecido em Março de 1994) foi meu cunhado e com quem passei belos momentos
na Guiné e, do qual tenho gratas recordações. O Zé Ramos,
era sem dúvida diferente, em que a sua sempre boa disposição contagiava
todos os seus colegas e amigos.
Ano 1969 - O Carlos
Ramalho, eu e o João da Clara
Ano 1969 - Eu com
o Carlos "Verdasca"
Ano 1969 - José
Augusto Dias, José de Canas, eu e um amigo do Zé Canas
Ano 1969-Eduardo Domingos, Tonito
Melo, eu, Zé "Canas" e Carlos "Verdasca"
Ano 1970 - Bissau,
junto de um monumento
Ano 1969 - Numa
"Miga" com os meus camaradas
Nesse período da minha comissão,
a Guiné era na altura, a província ultramarina mais complicada da Guerra
do Ultramar, segundo se sabe era onde se registava mais baixas para o exército
português, quase diariamente isso acontecia. Era governador e comandante-chefe
das Forças Armadas da Guiné, o General António Spinola, que apesar
das tentativas para minorar a situação, parecia que nada a fazia alterar.
Em Bissau era corrente ouvir-se os mais variados relatos das lutas travadas pelos matos,
muito significativo eram as comissões junto das fronteiras dos países
que faziam fronteira, inclusivamente, o nosso exército por várias vezes
chegou a fazer incursões para lá do limite da fronteira, o que criou
mesmo alguns dissabores ao governo português.
Ano 1969 - Também eram um
dever o serviço à Comunidade local.
Ano 1969 - Em serviço ocasional
e momento de posar para a fotografia .
Ano 1969 - Em serviço
ocasional
Ano 1969 - Numa
"Miga" com uns amigos.
Ano 1960 - O navio "Uige"
que me levou à Guiné.
Nota Complementar
Regressei à Metrópole
mais própriamente ao R.S.S. em 3 de Outubro de 1970. Infelizmente nem
todos tiveram a sorte que eu tive, em fazer a comissão sem preocupações
e sem necessidade de andar pelos matos, no entanto, devemos recordar todos
aqueles outros que não tiveram tal sorte.
José Pinto Lages
Soldado 241 (1967-1969)
* José Pinto Lages (2010)
José
de Moura Carreira * Comissão em Moçambique (1964/1966)
(Posto militar - Alferes Miliciano)
Dei entrada na Escola Prática
de Infantaria Infantaria - EPI, no dia 20 de Janeiro de 1963 em Mafra, a fim de iniciar
o Curso de Oficiais Milicianos - COM, o que me forçou a abandonar os estudos
no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, onde fui calouro com o Engº Carlos
Jorge Reis Leitão, loriguense, destacado técnico da Junta Autônoma
de Estradas, a quem devemos, em grande parte, a construção da Estrada
que da Portela do Arão que segue para a Torre.
O Serviço Militar Obrigatório, acrescido de uma inusitada situação
vivenciada nas antigas Colônias, então denominadas de Províncias
Ultramarinas - por razões meramente eufemísticas - arrancava-nos dos
nossos sonhos, forçando-nos a defender interesses outros, no mais das vezes
escusos. Após seis meses de intensiva preparação militar e de
uma especialização em Transmissões de Infantaria, fui promovido
a Aspirante a Oficial Miliciano, em Julho desse mesmo ano, tendo sido designado para
permanecer em Mafra, onde deveria dar uma Recruta, aos soldados recém entrados
naquele quartel.
Para quem estava habituado a uma vida de estudante, e pouco afeito a atividades físicas,
afora uma úlcera duodenal hemorrágica que me perseguia desde os 17 anos,
foi um tempo difícil, que a memória teima em não esquecer. Não
bastasse a úlcera, que não foi suficiente para me livrar do Serviço
Militar, em uma Junta Médica, fui vítima de uma Pleurisia, quando nas
Manobras Militares de fim de Curso, o que me obrigou a passar exatos 100 dias no Hospital
Militar da Estrela. Volvidos esses 100 dias, recebo ordens para, novamente, me apresentar
em Mafra. Lá chegando, fui informado que deveria seguir, de imediato, para Évora,
mais propriamente para o RI-16, onde o meu Batalhão aguardava embarque. Ledo
engano, o Batalhão de Caçadores 558, ao qual me deveria juntar, havia
partido de Tavira para Lisboa, na manhã desse mesmo dia, a fim de embarcar no
Niassa, rumo a Moçambique, no dia seguinte, pela manhã, informação
que me foi repassada pelo Oficial de Dia, Tenente Varão, quando a ele me apresentei
na Sala de Oficiais, pelas 14 horas desse 22 de Novembro de1963.
Simultaneamente à informação
de que o Batalhão estava a caminho de seguir viagem para Moçambique,
escutamos, todos os que na Sala de Oficiais se encontravam - através
da Emissora Nacional - uma notícia que haveria de abalar o Mundo. O
Presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy havia sido brutalmente assassinado,
em Dallas.
Com a partida do Batalhão, entrei de licença, por 10 dias, a
fim de me despedir dos familiares, e adquirir o fardamento próprio do
Ultramar. Decorrido o prazo da Licença, retorno a Évora, e, uma
vez lá, passo a aguardar embarque, o que viria a ocorrer a15 de Janeiro
de 1964, no navio Império.
De 22 de Novembro de 1963 a 6 de Janeiro de 1964, permaneço em Évora,
com a obrigação de cumprir alguns "Oficiais de Dia"
, algumas "Rondas", afora a lavratura de um "Inquérito
de Corpo de Delito" que me coube levar a efeito, pelo menos enquanto lá
estive.
Em Évora, posso afirmá-lo, levei uma vida mansa. Aproveitei para
conhecer a cidade, seus Museus e Igrejas, e, por que não dizer, algumas
belas e gentis moças eborenses, tão do agrado da gente da minha
faixa etária.
No que respeita a acomodações, o quarto destinado aos oficiais,
no RI-16, era amplo. Tinha duas camas, duas mesinhas de cabeceira e dois armários.
além de uma mesa que servia de secretária Fui o segundo a ocupá-lo,
pois já lá estava o Aspirante Milº António, que por
coincidência era de Sazes da Beira, e, como havia frequentado os Seminários
do Fundão e da Guarda, conhecia, praticamente, todos os estudantes seminaristas
de Loriga. Senti-me, logo, desnecessário será dizê-lo,
em casa. Pouco, bem pouco, foi o tempo que convivemos, pois, em menos de 10
dias seguiu para o Ultramar, mais propriamente para a Guiné. Ao retornar
do Ultramar, soube pela minha tia Aurora - que havia conhecido a Mãe
do Aspirante António, creio que num dos Cursos de Cristandade - que
ele havia sido morto em combate, na Guiné. Que o Senhor Deus o tenha
em paz, lá onde se encontra!
Um soldado, conhecido pelo nome de Loriga, fazia parte do contingente do RI-16.
Logo que soube que eu estava de Oficial de Dia, no dia seguinte à minha
apresentação, dirigiu-se a mim, contando as peripécias
que havia aprontado, razão pela qual fora punido pelo Capitão
Comandante da sua Companhia, punição essa que o impedia de sair
do quartel por um sem-número de dias. Logo entendi a sua intenção
e apressei-me a assinar uma "Autorização de Saída",
não sem que antes lhe determinasse que não me colocasse em "check",
de vez que eu estava desfazendo as ordens do Capitão.
Foi sempre gente fixe, esse tal soldado Loriga, que, hoje, volvidos mais de
46 anos, não consigo identificar. O capitão, de castigo, colocara-o
no Rancho, que, a meu ver, era onde mais se trabalhava, no quartel. Do soldado
Loriga, não mais tive notícias, exceto pelo fato de haver dito
ao meu saudoso tio Zé Moura, que o Aspirante Carreira havia sido um
"gajo porreiro", com ele, quando serviu no RI-16.
A viagem, não fosse o mau tempo
que pegamos de Lisboa para a Ilha da Madeira, e do péssimo que tivemos ao dobrar
o Cabo da Boa Esperança - para nós mais Bojador que da Boa Esperança,
por razões óbvias - não deixou de ser maravilhosa, face o inusitado
da mesma, pese embora o destino final e a saudade que carregávamos na alma.
Funchal, São Tomé, Luanda, Benguela, Moçamedes e Cape Town foram
as cidades a que aportamos, antes de chegarmos a Lourenço Marques, hoje, Maputo.
Em São Tomé encontrei o Furriel Milº Crisanto, um colega de Colégio,
em Coimbra, que lá cumpria a sua Comissão. Em Luanda, um emissário
do meu saudoso primo António Moura (ex-dono da Cabana do Pastor e da Albergaria
Nª Sª do Espinheiro, que se encontrava fora daquela cidade, a serviço),
procurou-me para me entregar um belíssimo isqueiro Ronson, gravado com o meu
nome, o qual, ainda hoje, enfeita uma das estantes de minha casa. Em Luanda, como de
praxe, reunimo-nos no Café Paris, ponto de encontro do pessoal dos diversos
Cursos de Oficiais Milicianos, onde obtivemos as primeiras e mais consentâneas
informações da Guerra em Angola, já que as que eram publicadas,
nos jornais, não nos mereciam confiança. Em Cape Town - cidade bastante
desenvolvida, com traços acentuadamente europeus - meio desconfiados e temerosos,
observávamos, de longe, aquelas esculturais mulheres negras, já que o
rígido Apartheid assim o impunha, conforme prévia orientação,
recebida, no navio, de tarimbados tripulantes, afeitos à arte da sedução.
Chegado a Lourenço Marques
tive como destino o Norte da Província, mais exatamente, a Mueda, Cabo Delgado,
a uns 60 km de Tanganica, hoje Tanzânia. Em decorrência do exposto, deveria
viajar, dentro de três ou quatro dias, no mesmo navio Império, até
Porto Amélia, onde aguardaria a chegada do Niassa, que trazia duas Companhias
de Caçadores, a CCaç 607 e a CCaç 613, que integrariam o Batalhão
de Caçadores 558, do qual eu viria a ser o Oficial de Transmissões, Batalhão
de Caçadores 558, cujo lema era "Forte, porém Justos". E assim
foi. Novamente embarco no Império, rumo a Porto Amélia, com escalas na
cidade da Beira, Ilha de Moçambique e Nacala.
Em Porto Amélia, banhei-me pela primeira vez nas águas do Índico,
na enorme e bela baía de mesmo nome. Ainda em Porto Amélia, comecei a
sentir os primeiros calafrios do que viria a ser uma fortíssima malária
que quase acabou comigo, não fora os cuidados e a competência profissional
do, então Alferes Miliciano Torres dos Santos, médico da CCS do Bat.
Caç 558. Após uma semana em Porto Amélia, hoje Pemba, novamente
embarco no Niassa, que me levaria a Mocimboa da Praia, último porto antes da
minha chegada a Mueda, o que ocorreu no dia 22 de Fevereiro de 1964.
Vista aérea do Quartel
da Mueda (1964)
Vista aérea do Quartel
da Mueda (1964)
A rigor, Mueda circunscrevia-se ao
Quartel, ao Campo de Aviação, ao Posto Administrativo, a uma Escola e
pouco mais. Em meio a cerca de 800 militares, descobri que apenas conhecia um Alferes
Miliciano, um Sargento e um Cabo, afora um civil. O Alferes Milº Antunes, meu
companheiro do Curso de Oficiais Milicianos, o Sargento Romano, o Cabo Aparício,
da CCaç 607, e o Mecânico Farrancha, todos loriguenses, à exceção
do primeiro.
Tendo em vista havermos chegado a Mueda por volta da meia-noite, somente no dia seguinte
tomei contato com o meu Pelotão de Transmissões, bem como com os demais
integrantes da Companhia de Comando e Serviços.
Ano de 1964 - Algures no norte de
Moçambique com o Pelotão, numa Operação de Reconhecimento.
Meu pelotão era, como disse,
composto da brava e boa gente, oriunda das planícies alentejanas, possuidora
de fino trato, sempre pronta a bem servir, mesmo em condições as mais
difíceis. Sabiam, como ninguém, revertê-las com o hábil
uso de suas palavras ou de seus graciosos gestos. A eles, devo, sem dúvida,
boa parte dos momentos mais agradáveis que em terras de Moçambique passei.
Do Pelotão de Transmissões, faziam parte dois Furriéis Milicianos,
meus braços-direitos: o Furriel José Marques e o Furriel Rogério
Duarte, ambos muito atenciosos. O Zé Marques, natural do Porto, e, o Rogério,
de Elvas. Com eles tive o melhor relacionamento possível, pois foram sempre
cumpridores dos seus deveres, quer quando desenvolveram atividades nas Telecomunicações,
quer quando trabalharam no Centro Cripto. Graças ao desvelo e competência
profissional de ambos, nunca tive, com eles, qualquer tipo de problema.
Ano 1965
Numa Operação
de Reconhecimento com o guia Lázaro.
Ano 1965
Ano de 1964 - Uma pausa numa
Operação de Reconhecimento.
Ano 1965
Dois dentes de Elefantes resultado de uma bem sucedida caçada, comandada
pelo Sgt. Romano, loriguense de 7 costados.
Muito embora sentíssemos que
o clima começava a tornar-se pesado, no que dizia respeito ao relacionamento
com a população - cada vez mais arredia - nossa Comissão ia sendo
levada sem maiores problemas até Agosto 1964, data considerada como o início
da luta armada no território moçambicano. A morte do Padre Daniel, da
Missão de Nangololo, próximo a Mueda, a 24 de Agosto, em consequência
de um ataque da guerrilha, promovido pela FRELIMO, foi, indubitavelmente, o estopim
da Guerra em Moçambique.
Em uma das Operações Militares, conjuntas, Exército-Aeronáutica,
um outro loriguense, o Cabo Paraquedista José Pinéia, nome pelo qual
era conhecido em Loriga, esteve conosco em Mueda. Filho de um primo de meu Pai, foi
uma satisfação revê-lo, naquele fim de mundo, e com ele trocar
impressões.
Ano 1965
Com o Oficial de Ligação com a Força Aérea, a caminho
de Nampula, juntamente com o Ten. David (da FAP) e o Alferes Oliveira.
Ano 1965
Em Nampula, com oficiais do SPM. À minha esquerda, o Asp. Milº
Neto, que, no início da década de 60, foi chefe dos Correios
de Loriga.
À medida que o tempo passava,
os ataques guerrilheiros tornavam-se mais freqüentes e ousados, obrigando o Batalhão
e suas Companhias Operacionais a esforços redobrados, sem, contudo, evitar o
incremento de nossas baixas. Volvidos 12 meses, o Batalhão estava moral e fisicamente
abalado, com um saldo de 17 mortos (2 Furriéis Milº; 6 Cabos e 9 Soldados),
além de 70 feridos (6 Alferes Milº, 1 Sargento, 7 Furriéis Milº,
9 Cabos e 47 Soldados), o que determinou o seu remanejamento para Vila Pery (CCS),
Lourenço Marques (CCaç 607) e Dondo (CCaç 613), em Agosto de 1965.
Em Manica e Sofala, longe das agruras de Cabo Delgado.
O Batalhão aos poucos refez-se moral e fisicamente, aguardando o embarque para
a Metrópole, o que veio a ocorrer a 10 de fevereiro de 1966, data em que a Companhia
de Comando e Serviços do Bat. Caç. 558 desfilou no Estádio do
Clube Ferroviário de Lourenço Marques, juntamente com outros agrupamentos
militares, após o que embarcou no navio Vera Cruz.
Ano 1965
Com o Fur. Milº da FAP, Luís Fernando, que respondia pela
Logística do Destacamento da FAP, em Mueda.
Ano 1965
Com o "Jóia" mascote do Batalhão, a exigir-me o boné
Ano 1965
Com o "Jóia" numa Instrução de Armamento.
As Companhias operacionais CCaç.
607 e CCaç. 613, permaneceram, ainda, em Moçambique, na Praia Vermelha
(L. Marques) e no Dondo, próximo à cidade da Beira, aguardando embarque,
o que veio a ocorrer em meados do ano de 1966. Fazendo parte de outros Batalhões
ou Companhias independentes, foram meus companheiros de viagem o Cabo Tó Zé
Cabral Leitão, o Cabo Ferrão e o Cabo Joaquim Dentinho, como conhecido
em Loriga, estes dois últimos, meus companheiros da quarta classe, da turma
de 1954, do saudoso Prof. Marques.
Quando de passagem pela cidade da Beira, a caminho de Lourenço, visitei, e acabei
ficando hospedado por uns quatro dias, em casa dos meus primos Terezinha e Manuel Rebelo,
onde fui tratado como um príncipe. Ela farmacêutica e professora de Química
do Colégio Sacré Coeur - filha de meu primo Artur Paulo - e ele, alto
funcionário dos Caminhos de Ferro da Beira, ambos já falecidos A Nelinha,
filha deles, estava às vésperas de viajar para Lisboa, onde iria freqüentar
o Instituto Superior Técnico, enquanto que o Fernando Manuel, no auge dos seus
14 anos, bem vividos, permaneceria na Beira, para satisfação das meninas
daquela cidade. À exceção da Nelinha, que a vi uma vez, em Loriga,
e que nos deu a satisfação de estar conosco, em Belém do Pará,
em 2004, não mais os vi, desde então.
Ano 1965
No jeep da Administração, com o Administrador e os alferes Oliveira
e Diamantino, este, velho companheiro de Coimbra.
Ano 1966
Na Festa do 2º Aniversário da Comissão, em Vila Pery, com
o Ten. Capelão, o Alferes Oliveira, o Capitão Cmdt. da CCaç
de Vila Manica e um Alferes daquela Companhia.
Ano 1964
Bem acompanhado na Boîte do Navio Império
Ano 1965
Bem acompanhado, numa das praias de Benguela
Foi ao alvorecer do dia 1 de Março
de 1966, que avistamos a tão sonhada Costa do Sol, Lá estavam, como que
a saudar-nos, as cidades de Cascais e do Estoril, o Farol de São João
da Barra, e inúmeras outras praias, antes de aportarmos na Doca de Alcântara,
em Lisboa, onde inúmeros familiares e amigos aguardavam por nós. O primeiro
a ser avistado foi o meu tio Zé Moura, que distante dos demais, a eles se juntou,
sempre com o chapéu erguido bem alto, para que eu melhor pudesse acompanhá-lo,
na sua trajetória. Na ânsia de não o perder de vista, pedi emprestado
os binóculos do Padre Capelão, e do convés do Vera Cruz - que
havia lançado suas amarras para o porto - revi, um a um, todos quantos por mim
aguardavam. A festa só não foi completa, em face da ausência de
meus pais e irmãos, nessa altura, radicados no Brasil. Ao desembarque e aos
cumprimentos seguiu-se o desfile militar. Eram já 12 horas, quando nos dirigimos
para o apartamento dos meus tios, na Oscar Monteiro Torres, onde fui brindado por um
lauto banquete, a que não faltou o melhor dos vinhos e o melhor Champanhe francês.
À tardinha, partimos de Santa Apolónia para Évora, onde se processou
a nossa desmobilização.
***
A 17 de Agosto parti para o Brasil,
a fim de rever meus pais, irmãos e demais familiares, tendo em mente retornar
a Portugal, um mês após. Por essa razão, deixei de trazer os endereços
de meus companheiros de arma, o que me impossibilitou manter, com eles, qualquer tipo
de contacto.
Somente volvidos 42 anos, consegui
contato com alguns deles, graças aos avanços tecnológicos, proporcionados
pela Internet. Foi, novamente, uma enorme satisfação ouvir deles a voz,
e sabê-los bem, muito embora, todos eles, como eu, em parte alquebrados pelo
peso da idade. Em particular, enorme satisfação, foi, sem dúvida,
escutar a expressão de espanto do Alferes Antunes - hoje Coronel, reformado,
da Guarda Nacional Republicana, e ex-Comandante do Batalhão de Gouveia, a quem
a Guarda de Loriga estava subordinada - quando exclamou: "Ó
Carreira, em vão, procurei-te por toda a parte!...". Alegria imensa foi, igualmente, o contato telefônico
que tive com os Furriéis Milicianos de Transmissões, com quem mais de
perto convivi, nesses dois longos anos de Comissão. Com o Alferes Neto - hoje,
Juiz Conselheiro, jubilado, do Supremo Tribunal de Contas e do Supremo Tribunal de
Justiça - e com sua esposa, Maria Helena (na casa de quem almocei, inúmeras
vezes, em Mueda e em Vila Pery), tenho tido permanente contato, recordando o gesto
de amizade que sempre me dispensaram, e as delícias dos manjares preparados
por Maria Helena, bem diferentes dos que, cotidianamente, "saboreava" na
Messe de Oficiais.
Nota Complementar
Nem todos os "velhos"
companheiros de Comissão permanecem, ainda, entre nós.
Quis Deus levar alguns deles para a sua Mansão Celestial, de
onde, certamente, intercedem a nosso favor. Que o Senhor Pai do Céu
lhes conceda o Eterno Descanso, como prêmio maior, por tudo quanto
de bom souberam semear, ao longo de suas existências.
Aqui registo "Retalhos de Minha Vida Militar", não
sem que antes renda homenagem a todos aqueles que tombaram no sagrado
solo de África, em particular de Moçambique, e, mui especialmente,
em terras do Planalto dos Macondes.
José de Moura
Carreira
(Alferes 1964/1966)
* José de Moura Carreira (2009)
Nuno
Mendes Alves Pereira * Comissão em Moçambique
(1970/1972)
(Posto militar - Soldado)
Foi em Janeiro
de 1969, que assentei praça no Regimento de Caçadores
Pára-quedistas em Tancos. Durante três meses frequentei
o tempo de recruta, seguindo-se o curso de pára-quedismo,
também com a frequência de três meses.
Aconteceu o meu primeiro salto em pára-quedas no dia
10 de Junho de 1969, no campo de Arripiado, um espaço
de saltos entre as margens do Rio Tejo e Vila Nova da Barquinha.
Foi com uma certa alegria e também com um certo orgulho
que consegui a "Boina Verde" e o respectivo brevet,
uma meta que todos os pára-quedistas desejavam alcançar.
Ainda no ano de 1969 frequentei um curso de combate com uma
grande e elevada exigência com uma preparação
física realmente invulgar, foram grandes marchas nocturnas
com uma G3 mas mãos e mochila às costas e vários
exercícios físicos com pesados troncos de madeira
que nos deixavam de rastos.
Antes do final desse ano e princípios do ano 1970, fiz
um curso de transmissões que culminou na mobilização
para o Ultramar para a comissão em Moçambique
que aconteceu no dia 4 de Abril tendo com o destino o norte
dessa província ao BCP 32 sediado em Nacala.
Quero aqui também recordar, momentos de amizade com
outros militares loriguenses com os quais me encontrei em Tancos.
- Ernesto Ramalho, Carlos Ferrão, o Toneca e o Carlos
Cardoso, este conterrâneo Loriguense/Alvocence.
Aproveito e conto até
um episódio passado com o Carlos Cardoso que quando
estávamos em Tancos, foi bafejado com a sorte no Totobola,
ganhando um prémio, oferecendo a mim e ao Ernesto um
passeio de fim-de-semana a Loriga.
Embarquei no aeroporto de
Figo Maduro no dia 4 de Abril de 1970 num potente DC da Força Aérea
avião de carga com escala na Guiné-Bissau onde estive algumas
horas, de seguida mais uma etapa até Luanda Angola, para mais uma escala,
aqui a estadia foi um dia e como levava comigo um postal como referência
da Praça Serpa Pinto mesmo no coração da bela cidade de
Luanda, fui procurar e assim conviver algumas horas com o amigo Zé Paixão
radicado nesta bela cidade de Luanda e, com ele fui visitar a marginal de Luanda.
Ano 1969 em Tancos
(Recruta)
Com o Ernesto Ramalho e Carlos Ferrão
Ano 1969 - Dia
do meu primeiro salto
Ano 1970 em Moçambique.
Já muito perto do chão
num
dos saltos de uma comissão
No dia 6 de Abril de 1970,
aterrava na bonita cidade de Lourenço Marques, capital de Moçambique,
após longas horas de voo. Por casualidade encontrei-me com outro loriguense
António Ferreira , polícia de profissão e radicado nesta
cidade e, na paragem que fiz na cidade da Beira tive também o ensejo
de conviver com outros dois loriguenses mais o António Prata Figueiredo
o "Tó Vicente" e o Tó Ambrósio ambos dois garbosos
pára-quedistas. É pena, mas não tenho registo em fotografia.
Durante dois anos de permanência
no norte de Moçambique, ficaram sempre gravados na minha memória
bons e maus momentos. Gostei de conhecer a cidade de Tete quando numa operação
militar para os lados de Dingoé e Estima, onde se situa a gigantesca
barragem de Cabora Bassa e o grande Rio Zambeze. Também gostei de conhecer
a bela cidade Porto Amélia com a sua encantadora baía.
Ano de 1970 -
Norte de Moçambique
Várias ocasiões estive no planalto dos Macondes
no grande agrupamento militar e teatro de guerra
onde se encontrava um quadro afixado numa
parede que aterrorizava, quem ali chegasse de
novo "Mueda,
terra de guerra, aqui trabalha-se,
luta-se e morre-se".
Ano de 1970 -
Mueda
Também aqui encontrei outro loriguense
o alferes António Ambrósio.
No ano de 1971 participei
na grande operação, talvez a maior operação militar
realizada em todo o Ultramar, que foi a operação "Nó-Górdio"
, nela participariam milhares de militares dos três ramos das Forças
Armadas apoiados também por uma força militar aérea e
super visionada pelo então general Kaúlza de Arriaga, sempre
com a visão de acabar ou desmoralizar a vontade dos Moçambicanos
que combatiam e lutavam pela libertação do seu país, que
veio depois acontecer com a alvorada dos 25 de Abril de 1974, conseguida através
da nossa própria liberdade e que abriu o caminho à verdadeira
democracia, que hoje todos nós podemos livremente viver.
***
***
Foram muitas as operações
militares realizadas pelo meu pelotao no norte de Moçambique e aqui
algumas documentadas nestas fotos. Lugares como Sangal, Chicôa, Pundanhar,
Palma, Nangololo, Estima, Fingoé, Mocimboa da Praia etc., testemunham
lutas de combate, de sofrimento, suor e lágrimas, que por isso ficarão
para sempre gravados no meu espírito. Mesmo com o cansaço estampado
nos nossos rostos o lema era sempre o mesmo "Seguir sempre em frente..."
***
Ano 1970 - Acampamento
do Sagal
Ano 1971 Cabo
Delgado/Naugololo
No fundo uma antiga Missão Holandesa
Ano 1971 Sagal
Com o meu amigo "Loriga Sagal"
Ano 1971 Cabo
Delgado
Material capturado numa operação
Ano 1972 Nampula
Guarda de honra ao presidente do Malawi Dr.Bamda
Pouco antes de terminar a
minha comissão e estando para breve o regresso à Metrópole,
ainda vi chegar ao quartel e ao meu pelotão o loriguense Álvaro
Mendes Pina, já falecido onde lhe dei toda a minha amizade, para se
sentir confortável e com a boa vontade de iniciar uma sempre difícil
guerra colonial.
Em 16 de Abril de 1972 embarquei em Lourenço Marques de regresso a Lisboa,
um vôo com a duração de oito horas, uma grande diferença
a contrastar com as mais de 20 horas que levei de Lisboa a Moçambique,
dois anos antes
Nota Complementar
O tempo passou, as marcas desse tempo ficaram para toda a vida, marcas
cruéis para muitas famílias, que perderam os seus filhos
e muitos feridos para sempre. Etapasda
nossa vida, que nunca esquecem...
José
Mendes Gouveia* Comissão na Guiné (1970/1972)
(Posto militar - Cabo)
Tinha 14 anos quando
NERU invadiu a "Índia Portuguesa" e vivemos intensamente
esta história porque três conterrâneos meus tinham
ficado prisioneiros de Guerra. Lembro a chegada deles á Terra
e não gostei da forma como vinham vestidos, achei que mereciam
muito mais que aquilo que lhes deram. Política à parte,
deve ter começado aqui a minha aversão a fardas militares.
Pouco depois começam os embarques para Angola, Moçambique,
Guiné, e cada ano que passa mais próximo fica de mim.
Em 1967 fui apurado e logo ali meti os papéis para ficar de
fora uma vez que era amparo de mãe.
Fui incorporado em Outubro de 1968, fiz recruta no RI10 Aveiro segui
para os Rangeres em Lamego (obrigado) dei baixa ao hospital militar
do Porto e de seguida sou enviado para o Regimento de Transmissões
no Porto (Janeiro de 1969) onde tirei a especialidade de Radiotelegrafista,
"esteve ali comigo o Loriguense Carlos Ramalho"
Fim de Junho de 1969 Sou colocado no Batalhão de Transmissões
da Graça (Lisboa) e dai a meu pedido para o RAL 1 para ficar
mais próximo da família.
No RAL1 é mobilizado
o sobrinho do Segundo Comandante e o pai ofereceu-me 500 contos para
ir no lugar do filho para a Guiné, respondi que pró dinheiro
nenhum, ainda subiu a parada mas mantive o não. Passados 10
dias saiu a minha mobilização, ai pensei que não
queria o dinheiro ia de borla. (sabemos o país que temos) Andei
furioso, quis fugir, revoltei-me, invoquei o amparo de mãe,
nada feito, em Fevereiro de 1970 lá vai ele no HUIGE.
Encontrei na Guiné o tal sobrinho e fiquei um pouco melhor na
minha revolta
Não foi por Ela que
fui à Guerra, foi pelo medo de não a voltar a ver: Quem fugia
separava-se de tudo mesmo daqueles que mais amava, e a ditadura já ia
em 40 anos e estava de pedra e cal. E por isso era necessária muita
coragem para fugir, não cheguei a tanto, mas era o melhor que fazia
era fugir.
Quero aqui agradecer aqueles
que acreditaram e tentaram servir a guerra, é talvez a eles que devo
o meu regresso intocável: mas a minha admiração vai para
aqueles que fugiram e disseram NÃO á guerra. Só para que
conste, o meu amparo de mãe foi rejeitado porque a casa da minha mãe
tinha frigorifico, televisão, uma casa rica. Gostava de ver onde vivia
o oficial que lá foi? Em quatro anos de tropa só conheci dois
oficiais do quadro que mereceram o meu respeito: Capitão Almeida (Aveiro)
Capitão Cordeiro (Guiné). È
evidente que ressalvo aqui os milicianos.
Sou o terceiro da esquerda
da mesa.
Ainda hoje não sei porque tive direito a um camarote, mas a maioria
ia num porão, muito escuro, sem ar, tudo vomitado, efeitos da viagem,
as camas eram umas tábuas onde só era possível deitar
- deitado (difícil) a palha toda moída, fiquei doente só
de ver. E vi porque um amigo de Manteigas preferia dormir ao relento, o que
despertou a minha curiosidade. Nem
aos ratos desejei tal habitação.
Lá
se vai a carne, o frango era só ossos,
Fome, Peste e Guerra. Talvez não vos pareça
mas o da Esquerda sou EU.
Como é que há homens que gostam disto????
Tinha
os meio "Rádios colocar musica na caserna era canja.
Só emitia relatos de Futebol e canções
proibidas. Vampiros e não só. Zeca e Adriano
sSEMPRE
Era a minha vingança e um hino à Liberdade
Emissores" Tinha o gravador as cassetes...
Bem sei que na morte
todos somos uns santos etc.. etc… Só espero que compreendam que
fui condenado ao degredo, pior a um sofrimento permanente sem fazer mal a ninguém.
Fiz Festa, FIZ. Arrependido não estou. Faria o mesmo hoje. Só
estou a ser sincero espero que me perdoem a franqueza.
Cidade de Bissau
Loriguenses - Eu, Zézito
Italiano e Mário Amaro
Aqui passei 8 meses da minha
vida, na casinha assinalada onde apesar de tudo era REI. Mas as imagens que
vêem são deste quartel, PICHE - GUINÈ a morte estava sempre
presente, todos os dias havia cadáveres na capela, e só lá
colocavam os brancos. A força inimiga já era muita, mas não
foi por isso que ganharam como "ELES" "PAIGC" dizem. Ganharam
porque os nossos militares ganharam consciência do seu papel nesta guerra,
e só lutavam em ultimo recurso.
Agradeço ao Combatente
do PAIGCV que conseguiu colocar 40 morteiradas em volta do posto de Rádio
e não feriu ninguém: isto valeu-me o regresso a Bissau. O comandante
mostrava os postos de rádio ao General Spínola e aquele estava
parado, no seu orgulho deu-me voz de prisão, e EU tirando proveito da
presença do General fiz-lhe cumprir a palavra, e vim para Bissau no
mesmo HÉLI. Claro que não fui preso. A culpa era do "TURRA".
Deixei Bissau em Março
de 1972 após 26 meses de comissão e ainda tive que me fazer maluco.
A foto em cima não está aqui por vaidade que não tenho,
mas porque tem uma historia que de certo modo tem a ver com Loriga. O Rapaz
de amarelo foi caixeiro-viajante e ia muito a Loriga, perguntava pelo AMIGO
Gouveia e ninguém conhecia, até que um dia foi à Junta
e o saudoso Tó "Pisoeiro" lhe deu o meu contacto e falamos
ao telefone muitas vezes. Mas esta vida é madrasta e no dia que eu ia
para me deslocar a Cantanhede para visitar o GASPAR recebi a triste noticia
do seu falecimento, digamos que é aqui o reencontro que não tivemos.
PAZ á sua ALMA. Na Tropa Gouveia, em Loriga
Zé "Bentinha"
***
- Já gora devo dizer que me encontrei
também na Guiné com o Zé "Grilo", e o Antonio
"Cuco" só que não tenho registado em fotos.
- Chamo-me
José Mendes Gouveia, em Loriga Zé "Bentinha
" II
O Zé Bentinha II e o
Zé Bentinha I de boné
Adelino
Manuel M. de Pina* Comissão em Angola (1970/1972)
(Posto militar - Cabo)
Entrei para a vida militar
em Janeiro de 1969, fiz a recruta no RI 10 (Aveiro), cidade que me deixou gratas
recordações. O meu primeiro vencimento (o Pré como se
dizia na gira) foram 28 tostões, sim repito 28 tostões, que fui
meter numa caixa das esmolas numa igreja da cidade. Pertenci à arma
de Artilharia, com a especialidade de Amanuense e fui mobilizado para Angola
pelo RAL 1 (como rendiação individual) em Agosto de 1969, mas
só viria a embarcar em Fevereiro de 1970, depois de ter 13 embarques
marcados e logo a seguir desmarcados. Finalmente no dia 7 de Fevereiro de 1970,
foi mesmo o dia da partida, viagem efectuada num barco de apoio de guerra chamado
"São Brás". Viagem atribulado que durou mais de um
mês, com avarias e uma explosão da caldeira do barco em pleno
alto mar, com desvio forçado para a Madeira, onde ficamos 10 dias para
reparação do barco. No seguimento da viagem fomos parar a Cabo
Verde onde estivemos 3 dias, e pelo meio e em pleno alto mar o surgimento de
uma doença contagiosa, que levou alguns a estar de quarentena durante
dias.
Por fim a chegada a Angola em Março de 1970, fui parar à cidade
do Luso (hoje Luena) situada no Leste de Angola, onde fiz toda a minha comissão
no CZML (Comando da Zona Militar Leste) . Posso dizer que fui um privilegiado
em ter ficado por ali e sendo a cidade do Luso um ponto estratégico
do Leste, tive a sorte de me encontrar com muitos amigos e conhecidos e também
alguns amigos loriguenses os quais irei aqui registar.
Escusado será dizer que era sempre uma alegria quando nos encontrávamos
os loriguenses e no meio de umas frescas bebidas refrescando a garganta, vinha
a nós as recordações da nossa terra, principalmente recordando
os nossos tempos de meninos. É precisamente neste prisma que aqui faço
este meu síntese de registos, recordando principalmente gente de Loriga,
mas muito mais e mais fica por contar dessa minha passagem pela Guerra do Ultramar.
No Barco tendo ao fundo
a cidade do Funchal-Madeira
- Já agora conto o que passei em Cabo Verde
na ilha de São Vicente, na cidade do Mindelo, onde estive a quase às
portas da morte. Numa "patoscada"
e perante tanta lagosta à minha frente, ignorei a grave e grande alergia que
tenho ao marisco e daí não me contive e comi tão bom petisco
à minha frente. E pronto, foi a quase o fim da minha vida. Devo aqui recordar
como agradecimento os magníficos médicos que iam no barco "São
Brás" que levado a toda à pressa para lá me conseguiu salvar,
ao fim de algumas horas.
- No serviço militar era simplesmente
conhecido por PINA, no entanto, tinha por hábito dizer que quando passassem
na minha terra e me quisessem procurar, seria importante dizerem que eu pertencia à
família dos "Palhas"
porque assim era mais fácil a identificação e chegar até
mim, aliás, isso várias vezes aconteceu.
Eu e o Carlos Conde no
Luso (1970) O primeiro loriguense
que encontrei, estava eu ainda à poucos dias no Luso.
Pertencia a uma companhia de engenharia e estava a poucos meses de acabar a
comissão. Sabendo que no nosso refeitório se comia mal, logo
no domingo
seguinte veio buscar-me para ir comer na sua unidade, onde se comia lá
bem
e por sorte nesse dia havia até rancho melhorado. Pois nesse domingo
consolei-me, visto que já algum tempo que não comia tão
boa refeição.
Numa Sanzala perto do
Luso (1971) Uma ajuda à comunidade
ajudando a moer
a mandioca para o"pirão"
Com o amigo Carlos Palas (Pirola)
já falecido. Com a deslocação
do Batalhão do Carlos para outras Zonas, de passagem pelo Luso lá fui
à procura do amigo Carlos e lá o encontrei e como tal foi uma festa.
Estivemos poucas horas juntos, mas foi o suficiente para ainda tirarmos esta foto e
podermos conversar muito, recordarmos Loriga e as pessoas, em que a sempre boa disposição
do Carlos contagiava tudo em seu redor e assim passamos um belo momento que recordo
com saudade.
Dondo 1970 Eu com o macaquinho que
era um encanto.
Com o Adriano Amaral
(Luso 1971) O Adriano estava de passagem
pelo Luso e
por sorte veio ter ao CZL, a minha unidade, onde
nos encontramos e registamos o nosso encontro.
Com o Carlos Costa (Luso
1971) Passei alguns dias com
o Carlos no Luso,
onde estava também de passagem.
Belos momentos que passamos juntos e era
raro dia que não fazíamos uma "Miga"
Com O Luís "da
Marta" (Luso 1970) O nosso encontro foi uma
coincidência e deu-se
no cinema do Luso. A companhia do Luís estava
de passagem, pois já tinha sofrido bastante no
mato naquela zona do Leste, por isso mereciam
ir para o interior locais não abrangidos com a guerra.
Foi o Luís que me disse que trabalhava naquela região
Ti António (Benito) e não é que eu e ele o fomos procurar
e descobrir numa localidade muito perto do Luso.
Foi uma festa para ele ao encontrar seus conterrâneos.
O Ti António (Benito) era motorista na empresa de
construção de estradas em Angola.
Com o Fernando Conde (Luso 1971) Coincidências do destino
passado um ano de me encontrar com o Carlos Conde, veio parar ao Leste o seu irmão
Fernando e o destino o trouxe até ao Luso, para internamento na Enfermaria militar
do Hospital da cidade, quase todos os dias o lá ia ver, inclusive, com não
se comia bem lá no hospital, levava-lhe eu alguma coisa para comer. Como era
proibido levar coisas para dentro do Hospital, ia pelas traseiras e dava-lhe pela janela
e assim o amigo Fernando lá se consolava. Depois de restabelecido lá
voltou para a sua companhia no mato, nunca mais o voltei a ver por lá, só
ao fim de muitos anos o voltei a ver em Sacavém.
Junto ao rio na cidade
do Luso (1971)
"Venham a mim as criancinhas"
Momento para a leitura
lendo uma carta
de uma madrinha de guerra das várias que tinha.
Os militares também
comem e na hora das refeições
as mesas eram requintes da ocasião, como se vê,
eram mesas chiques com as melhores louças. Mas
não é que nos sabia bem comer nestes pratos de alumínio.
Com um militar Catanguês,
meu companheiro de
viagem de Luanda ao Luso, numa altura que me
desloquei a Luanda para ali levar os corpos
de 4 camaradas militares falecidos em combate na
Zona Leste, para os seus corpos seguirem para a Metrópole.
Foram dois dias de viagem e apesar do militar catanguês
só falar francês, lá nos entendemos e ficamos até
amigos.
Luso 1970
Esta foto foi tirada no dia que estava para seguir
para Luanda em missão, levando os corpos
de 4 camaradas mortos em combate na Zona Leste
Luso Ano de 1970
Nessa altura fumava muito, mas era só para
entreter e para passar o tempo, nunca cheguei a ter verdadeiro vício
CZML Ano de 1970
Apesar de ter uma arma distribuida nunca a utilizei.
Eu com outro colega chamado Rocha
- Cidade do Luso Ano de 1971
Durante algum tempo cheguei a acumular trabalho civil,
trabalhando no Café, Bar e Restaurante do Cinema Luena.
Era de aproveitar certas oportunidades e eu aproveitei.
***
Alguns registos mais
- Em 1970, de passagem por Nova Lisboa (hoje Huambo) e sabendo
que viviam ali a senhora Floripes do Fermino e marido senhor António, lá
arranjei maneira e fui ter com eles à praça onde vendiam, foi uma alegria
ver pessoas de Loriga, ficando para mim as gratas recordações de me terem
dado da melhor fruta que lá tinham, que me fizeram bastante jeito na viagem
que ainda tinha pela frente. O senhor António, marido da senhora Floripes faleceu
poucos anos depois.
- Um certo comércio de mercado negro de diamantes era uma prática de
negócio no Leste de Angola, nomeadamente no Luso (hoje Luena), sendo do nosso
conhecimento grandes fortunas que existiam conseguidas através desse meio. Em
certa forma, os militares também se envolveram nesse negócio, apesar
do risco que se corria, sabendo-se até de alguns militares, que com alguma sorte
chegaram a ganhar bom dinheiro.
Como conhecimento de causa, eu próprio posso falar nisso, por me ter também
envolvido chegando ao ponto de em determinada fase andar mesmo obcecado, conhecia até
praticamente todos os "passadores" aqueles que compravam os diamantes e depois
levavam para Luanda onde eram depois também vendidos a outros negociantes, enfim,
era um negócio arriscado e de certo secretismo, ainda cheguei a fazer uns negociozitos,
infelizmente em pequena dimensão, que ao fim e ao cabo deu apenas para umas
"migas" ou umas pequenas lembranças que trouxe depois para Metrópole.
Pelas Sanzalas ou "kimbos" como assim se dizia relacionado aos bairros periféricos
do Luso (Luena) tinha até muitos conhecimentos e amizades que me procuravam
de dia ou de noite, no entanto, a sorte não era comigo. Lembro até uma
vez, que um desses conhecimentos me procurava pela cidade, perguntou então a
um colega por mim, este sabendo que a procurarem-me representava alguma coisa, por
meio de umas bebidas conseguiu que esse lhe entregasse a mercadoria, por uma bagatela.
Era apenas uma pedra e dias depois vim a saber que lhe rendeu bom dinheiro. Escusado
será dizer que ainda nos zangamos, mas depois tudo passou e tudo foi esquecido.
Era assim a vida dos militares em que a amizade por vezes superava tudo.
Nessa altura estava tão familiarizados com as qualidades das pedras, que sabia
até distinguir o que era bom e mau, claro que, depois era confirmado por meio
de alguns teste tradicionais que se faziam. Certo é, ter ficado nas minhas memórias,
que pelas minhas mãos me passaram algumas pedras preciosas, que depois lapidadas
em diamantes, provavelmente, foram parar a pessoas finas e abastadas.
- Também me encontrei no Luso em 1971 com o José Mário (Benito)
e em Luanda em 1972 encontrei-me com o Horácio Simão, que estava a chegar
e eu estava já de regresso à Metrópole, só que nestes casos
não tenho registo de foto.
- No Natal de 1971 falei na Televisão nas mensagens de Natal, é de calcular
a alegria que foi para a família, por isso também posso dizer que já
apareci na televisão.
Nota complementar
- Ao fazer aqui este minha
síntese de registo, resolvi fazê-lo sintonizando a maioria em
gente de Loriga, documentando assim recordações. É evidente
que muito mais ficou por contar, dessa feita noutra dimensão, no entanto,
estes meus registos fazem parte da minha passagem pela Guerra do Ultramar na
cidade do Luso (hoje Luena) onde passei mais de dois anos da minha vida (Março
de 1970 até Abril de 1972), que apesar de tudo tenho ainda na recordação.
- Regressei à Metrópole nos finas de Abril de 1972, viagem de
regresso efectuada em avião. Depois de uns dias na Amadora onde vivia,
fui a Loriga visitar a restante família. Cheguei num Sábado dia
de feira, de imediato voltei a ver uma imagem que desde o dia de São
João de 1968 me acompanhava os pensamentos a todos os momentos e, que
o destino fez que passasse a estar ao meu lado até hoje, ou seja a minha
mulher Lena
que também aqui merece figurar, como minha homenagem.
- Por várias razões
não foi ainda possível saber-se ao certo quantos os loriguenses que passaram
pela Guerra do Ultramar, tendo em conta da falta de uma Lista oficial.
- Por alguns dados concretos conhecidos de contagens espontâneas a nível
particular, leva a crer terem sido mobilizados para fazerem a campanha da Guerra do
Ultramar, mais de 300 loriguenses, um número significativo que projeta Loriga
como a freguesia do concelho de Seia, que mais contribuiu para essa campanha do Ultramar.
- Na impossibilidade da existência de Lista oficial, foram sendo elaboradas Listas
conhecidas, que de acordo com os números contabilizados, ficavam bastante longe
das 3 (três) centenas de loriguenses na Guerra do Ultramar, por isso as listas
existentes estão muito incompletas.
- As fontes mais significativas para uma contabilização até à
data actual, foram relatos verbais de amigos e pessoas de família, colegas de
armas nos mesmos percursos percorridos, temos também um significativo registo
concreto, que foi feito através da rubrica Partidas e Chegadas no Jornal "A
Neve" que mesmo assim ficou muito aquém visto não serem mencionados
ali todos os loriguenses.
- Também se deve ter em conta o facto de não se ter conhecimento como
concreto e oficial todos os Loriguenses que fizeram a Guerra do Ultramar, visto que
muitos loriguenses residentes em Lisboa ou em outras partes do país, nunca terem
sido contabilizados em Loriga.
- Outro facto e também importante e ter-se em conta de muitos loriguenses terem
deixado Loriga e fixarem-se em vários locais do país, num número
mais abrangente em Lisboa, que por terem deixado de ter qualquer contacto com a sua
terra Natal, foi sempre difícil saber se fizeram a Guerra do Ultramar.
*** Nota Final
No desenvolvimento de uma pesquisa
aprofundada fui conseguindo elaborar uma Lista, com o número de 236 loriguenses
que fizeram a Guerra do Ultramar, o número mais elevado conhecido numa só
lista, que mesmo assim longe dos 300
oumais,
que se supõe ser esse o número dos loriguenses que fizeram a campanha
do Ultramar a todos os níveis.
Mas não vai ficar por aqui a pesquisa que me comprometi comigo mesmo de levar
em frente e conseguir elaborar uma Lista com muitos e muitos mais loriguenses, que
até então não estão mencionados, nessa Lista que consegui
elaborar onde consta os 236 já ali registados.