Tradições Populares de Loriga


Quadro de Santa Ana

Vamos encontrar na história de Loriga um Quadro em madeira dedicado a Santa Ana, que tem uma história curiosa e que tudo tem a ver e ser relacionando à agricultura.
Relatos antigos dão-nos conta, de uma tradição muito antiga e curiosa, que segundo os mesmos, em tempos de muita seca, os agricultores loriguenses pegavam no quadro dedicado a Santa Ana e passavam-no pelas águas das fontes. No caso de ficar molhado, a chuva estava para breve, mas no caso de ficar enxuto a seca continuava.
Curiosamente, nalguns anos das décadas de 1950-60, voltou a ser implementado em Loriga, a dedicatória a Santa Ana, numa altura em que chovia muito, mas neste caso sem ser utilizado o Quadro de Santa Ana, por estar já muito degradado. Nesses anos sendo a chuva muita e os agricultores vendo as suas colheitas a perderem-se, andavam eles de porta em porta a pedir esmola para ser feito missas para que deixasse de chover, tudo isso com dedicatória a Santa Ana.
O Quadro de Santa Ana ainda hoje existente faz parte da Arte Sacra de Loriga. Todo ele em madeira onde ostenta Santa Ana com o menino ao colo sendo bem visíveis os traços de degradação em que se encontra e, relacionado ao motivo de ser passado muitas vezes pela água das fontes de Loriga.

(Registado aqui - Ano de 2007)


A Sagrada Família

Vem de longe a tradição em Loriga, em que as imagem de São José, de Nossa Senhora e do Menino Jesus, devidamente resguardados num pequeno oratório, percorre as casas da Vila numa verdadeira manifestação de fé.
São algumas as Sagradas Famílias existentes em Loriga, distribuídas por diversas zonas da vila sendo que, durante a permanência em cada casa há sempre a preocupação de a mesma estar iluminada, normalmente utilizando para o efeito uma lamparina.
Habitualmente, a permanência da Sagrada Família em cada casa é de 24 horas e, no seu percurso, as pessoas vão colocando esmolas num pequeno compartimento. Após ter circulado em todas as habitações, uma zeladora encarrega-se de recolher as ofertas que, por sua vez, as entrega à Paróquia para obras de caridade.
Com a população a diminuir, com muitas casas fechadas por motivo de ausência dos seus proprietários e, ainda, pelo facto de muitas pessoas não mostrarem interesse em receber a Sagrada Família, a mesma acaba por estar dias seguidos na mesma casa.
Aos poucos vai-se perdendo uma tradição, ainda na recordação de muitos, em que a Sagrada Família não era entregue à vizinha seguinte da comunidade, sem ser rezado o terço em família.
(Registado aqui - Ano de 2003)

Sagrda Famíliaute;liaute;liaute;liaute;liaute;lia

Sagrada Família numa casa


Quarta-Feira de Cinzas

Hoje é Quarta-Feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma no calendário cristão ocidental. As cinzas que os cristãos católicos recebem neste dia é um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passageira, transitória, efémera fragilidade da vida humana, sujeita à morte.
Ela ocorre quarenta dias antes da Páscoa sem contar os domingos (que não são incluídos na Quaresma) ou quarenta e seis dias
contando os Domingos. Seu posicionamento varia a cada ano, dependendo da data da Páscoa. A data pode variar do começo de Fevereiro até à segunda semana de Março.
Com a quarta-feira de cinzas iniciamos a Quaresma, que é um período de quarenta dias de preparação para a grande festa da Páscoa de Nosso Senhor. As palavras-chave desse período são: Escuta (mais atenta da palavra de Deus), penitência e conversão. Na quarta de cinzas são depositadas cinzas em nossas cabeças para nos lembrar que somos pó e ao pó voltaremos.
O uso litúrgico das cinzas tem sua origem no Antigo Testamento. As cinzas simbolizam dor, morte e penitência.
Alguns cristãos tratam a Quarta-Feira de cinzas como um dia para se lembrar a mortalidade da própria mortalidade. Missas são realizadas tradicionalmente nesse dia nas quais os participantes são abençoados com cinzas pelo padre que preside à cerimónia.
O padre marca a testa de cada celebrante com cinzas, deixando uma marca que o cristão normalmente deixa em sua testa até ao pôr-do-sol, antes de lavá-la. Esse simbolismo relembra a antiga tradição do Médio Oriente de jogar cinzas sobre a cabeça como símbolo de arrependimento perante Deus (como relatado diversas vezes na Bíblia). No Catolicismo Romano é um dia de jejum e abstinência. O objetivo do jejum visa nos conduzir a reflexão e conversão, nos mostrando que somos necessitados dos bens que Deus nos dá

Em Loriga a Quarta-Feira de Cinzas foi desde sempre um dia diferente, tempos houve que era mesmo determinante para todo o tempo da Quaresma. As Missas nesse dia eram por tradição muito convergida pelos fieis que de maneira alguma não queriam faltar a essa liturgia do dia, muito importante e de necessidade na preparação da Quaresma.
O não comer carne e fazer penitência era também rituais muito bem cumpridos nas casas, ou mesmo no normal quotidiano das pessoas, tudo isso já numa preparação bem na ideia presente do período de celebração da Paixão de Jesus Cristo, que principia na Quarta-Feira de Cinzas.

Os Símbolos da Quarta-Feira de Cinzas e a Dor de Cristo no deserto

(Registado aqui - Ano de 2010)


A Ementa das Almas

Na etnografia de Loriga a existência da "Ementa das Almas" é uma tradição muito antiga, perdendo-se mesmo na noite dos tempos, e que se vem mantendo de geração em geração.
Esta prática religiosa tem lugar na noite de Sábado para Domingo, durante a Quaresma depois da 02h00 da manhã. Antes dessa hora os "Penitentes" começam por se reunir no Adro da Igreja. Pouco depois e, enquanto alguns sobem para a torre da Igreja, outros espalham-se pela vila em pontos altos que lhes possibilite ver a torre, para travarem um
"duelo" de cantos, onde evocam e louvam a paixão e morte de Jesus a salvação da Almas. No silêncio da noite os cânticos ecoam pela Vila, acordando os crentes que começam a rezar.

Por meio de badaladas no sino da torre da Igreja anuncia-se a cerimónia.

Bendita e louvada seja,
A paixão do Redentor,
Para nos livrar das culpas
Morreu em nosso favor

*

Acorda, pecador, acorda,
Do sono em que está "dormente",
Lembra-te das benditas almas,
Que estão no fogo ardente.

Estas quadras cantadas com música elegíaca, arrastada, dolorosa, ecoam pelas ruas, despertando os que já dormem, para orem pelas almas dos seus mortos queridos, cobrindo a vila de saudades.

-Vozes dos "Penitentes":- Rezemos com devoção um Padre Nosso e Ave Maria,
-Respondem da torre da Igreja:- Seja pelo Divino amor de Deus, segue-se uma badalada.

Cântico:
Repetidas são as dores,
De contínuo estão gemendo,
Assim são as almas juntas,
No Purgatório ardendo.

-Vozes dos "Penitentes" pela vila:- Rezemos mais um Padre Nosso e outra Ave Maria.
-Respondem os "Penitentes" da torre da Igreja:- Seja pelo Divino amor de Deus.

*

Clamorosa é a recitação do Padre Nosso e da Ave Maria e pungente é a resposta.

*

-Vozes dos "Penitentes" pela vila:- Dai-lhes o Senhor, o eterno descanso em paz.
-Respondem os "Penitentes" da torre da Igreja:- Entre o esplendor e luz perpétua, fazei que descansem em paz.

Vem a seguir a exortação aos crentes que dormem na inconsciência do momento da vida para que não esqueçam os que penam os seus pecados, lembrando-os do efémero que é a vida deste mundo.

Olha cristão que és terra
Olha que há-des morrer
Há-des dar contas a Deus
Do teu bom e mau viver

Uma alma só que tens
Se a perdes que será?
Se cais no mesmo abismo
Nunca mais a Deus verás

Não caias em tentação
Como calma na geada
Que andam a tentar
Os três inimigos da alma

Confessa os teus pecados,
Emenda atua vida,
Que a morte te anda buscando,
De noite e mais de dia.

-Vozes dos "Penitentes" pela vila:- Rezemos-lhe com devoção uma Salvé Rainha.
-Respondem da torre da Igreja:- Seja por seus infinitos louvores.

Quando a manhã começa, os "Penitentes" juntam-se novamente no adro da Igreja para todos juntos fazerem arruada, rezando ainda pelas almas dos seus mortos regressando finalmente ao seus lares, certos do haver cumprido este seu dever sagrado.

***

São muitas as pessoas que a Loriga se deslocam, para ouvir a Ementa das Almas, atraídas pela sua fama. Também a esta Vila se deslocou um dia, Michel Giacometti, grande pesquisador por todo o país, das tradições, dos cantares, dos usos e costumes, aos quais dedicou a sua vida em Portugal.
Esta secular tradição em Loriga, da Ementa das Almas, puderam assim ficar registadas na grandiosa obra desse histórico pesquisador de tradições portuguesas.

(Registado aqui - Ano de 2000)

***

Vídeos

= Ementa da Almas em Loriga

= Arruada em Loriga =


Nota complementar

"Ementa" ou "Amenta" as Almas ?

Ao longo dos tempos, tanto oralmente como na escrita tem tido as duas interpretações, uns considerando "Ementa" outras considerando "Amenta". O certo, é que tanto uma como outra estão correctas, assim e tendo em conta aquele valor dos meus tempos de criança, neste artigo aqui descrito, irei manter "Ementa" por ser assim que ouvia as pessoas mais antigas, assim a expressarem-se


Estudo da Tradição Secular da "Ementa das Almas" em Loriga *

(Síntese da Memória Final da Licenciatura em Ensino - Educação Musical)

Quando Começou ?...

Estes Cânticos que fazem parte da "Ementa das Almas" (Encomendação das Almas, na sua designação mais corrente) existem em Loriga, pelo menos desde o Séc. VIII, de acordo com os testemunhos de alguns dos mais velhos participantes neste ritual.
Entoados nos primeiros tempos por vozes, juntou-se-lhes o instrumental, a partir do momento em que surgiu na vila uma banda de música - 1906.
A "Ementa das Almas" é, no fundo, uma versão popular da "Liturgia dos Mortos" da Igreja Católica. O certo é que, embora com dificuldade, em Loriga, esta tradição vai-se mantendo.
Todos os anos, nas madrugadas de Sábado para Domingo, durante a Quaresma, o silêncio da noite é quebrado pelo ecoar dos Cânticos da "Amenta das Almas", graças à boa vontade de uns tantos (não muitos) Loriguenses, que teimam em manter viva esta tradição.
Durante cerca de 2 horas, entre as quatro e as seis, desenrola-se este diálogo cantado, por vários homens que subindo aos pontos mais altos da vila, despertam o povo que dorme, para a recordação dos que já morreram. Aqui e ali, o diálogo é interrompido por uma badalada do sino da torre da Igreja, onde se encontra um dos participantes neste ritual, seguido de um período de silêncio - o necessário para que se reze um Pai nosso... uma Avé Maria....

Apresentamos aqui a melodia que suporta este ritual (Partitura 1). Para além desta melodia, salientamos na tradição de Loriga "Os Martírios" (partitura 2)1, cantados Sexta Feira Santa.
1 As partituras apresentadas não podem ser vistas como uma reprodução fidedigna do que se canta em Loriga. Até porque, tratando-se de exemplos de canto não medido, como diz Lopes Graça (cit. p.21) e
com um texto tão diverso ao nível da métrica, é muito difícil reproduzir-se em escrita musical. Partitura 1.

*

No final deste diálogo, o grupo junta-se no adro da Igreja e inicia-se uma outra fase deste Rito, a "arruada".
Esta é uma espécie de "Via Sacra" realizada pelo grupo de homens que canta a "ementa" e mais alguns que se lhes juntam, posteriormente, para aumentar o número de vozes e assim, melhor se fazerem ouvir pelos que não acordaram.
Na "arruada", cantam-se os "Passos" dando conta das várias etapas do caminho de Cristo até ao Calvário. Trata-se, como já dissemos de uma espécie de "Via Sacra", cantada pelo grupo, no final da "Ementa". Sexta Feira Santa, durante a arruada canta-se a "Mãe Dolorosa", cântico que lembra as dores que Maria sentiu pela paixão e morte do seu Filho.
Esta tradição mantém-se, independentemente das condições climatéricas. O período quaresmal, normalmente em Fevereiro e Março, é tempo de grandes nevões na região da Serra da Estrela. Mas, nem mesmo os nevões impedem que se cumpra a
tradição. Embora Loriga tenha um razoável numero de população jovem, esta não se mostra muito interessada por estas tradições. Assim é muito natural que venha a
perder-se a curto prazo.

Como Situar a Tradição?

Desde muito cedo, ainda na infância, este ritual marcou-nos de uma forma que, na altura não conseguíamos explicar.
Com o decorrer dos anos, envolvemo-nos com aqueles que, madrugadas dentro cumpriam religiosamente, todos os anos, esta tradição.
Assim, cedo nos apercebemos de que as melodias da "Ementa das Almas" fugiam um pouco à sonoridade que estávamos habituados a ouvir. Pensávamos:- Isto deve estar desafinado!...
Mais tarde, com o evoluir dos nossos conhecimentos musicais, começámos, finalmente, a perceber que não se tratava de desafinação, mas de uma técnica de composição diferente. É aqui que surge a ideia de deslindar a origem desta tradição. Não de uma forma superficial, mas de algo mais profundo, indo mesmo às origens mais remotas.
Para tal, havia que investigar, não só em Loriga, mas noutras terras onde rituais deste género têm lugar. Assim, a simples curiosidade dá lugar a uma pesquisa sistemática de cariz mais científico.
Como ao longo dos anos fomos recolhendo informação sobre este e outros assuntos que se referem às tradições da região serrana, tradições culturais de uma forma geral, mas com especial incidência nas musicais, não é de estranhar que tenhamos optado por tratar este tema logo que surgiu uma oportunidade de fazer uma investigação na área da Etnomusicologia.
Assim, formulámos o seguinte problema nesta investigação:
- Será a "Ementa das Almas" de Loriga uma tradição secular? E quando se terá iniciado?
Para responder a esta pergunta e solucionar o problema que colocámos, há que atender a um sem número de situações que se prendem com a delimitação desta problemática.
Numa primeira análise, verificamos que o âmbito desta investigação atravessa vários domínios das Ciências Sociais.
Desde logo devemos contextualizar este problema numa perspectiva histórica. Há que curar de saber se Loriga ou outro aglomerado populacional poderiam suportar uma tradição deste tipo ao longo de um determinado período histórico. Isto é, para situarmos a origem deste ritual num dado momento histórico, há que saber se existiam os sujeitos e se os mesmos poderiam ser localizados no espaço ou território a que hoje chamamos Loriga.
Por outro lado, cruzámo-nos com a perspectiva antropológica. De que forma ritualizava o homem o culto dos mortos? Quando e em que condições o começou a fazer? Porquê ritualizar este culto? Que crenças lhe estão subjacentes? Qual o papel da religião nesta ritualização? Como evoluiu a crença na vida para além da morte?
A estas e outras perguntas do mesmo tipo tentámos responder ao longo da nossa investigação. Até porque sem estas respostas não conseguiríamos contextualizar, do ponto de vista antropológico, o problema que formulámos.
Por fim surge-nos a perspectiva musical ou para sermos mais correctos a perspectiva etnomusical. E aqui tratámos de procurar pontos de contacto, semelhanças ou diferenças entre técnicas de composição actuais e outras mais ancestrais.
Procurámos fazer a análise de partituras deste e de outros rituais semelhantes e situar as mesmas no tempo e no espaço.
Tínhamos consciência de que seria algo difícil provar com toda a certeza que a tradição da "Ementa das Almas" de Loriga tem origem secular, provavelmente no tempo da Romanização da Península Ibérica.
No entanto, através da investigação e de comparações com melodias e tradições divulgadas por outras fontes, procurámos atingir esse nosso objectivo.
Para atingi-lo, colocámos em cima da mesa várias hipóteses:
Sendo o nosso objectivo situar esta tradição o mais longe possível no tempo, a primeira das hipóteses que colocámos situa-se no período anterior à formação da nacionalidade, na Lusitânia, pois as fontes que consultámos dão-nos conta da existência de uma comunidade no local.
É uma hipótese remota mas nem por isso totalmente descabida, uma vez que, existem vestígios de rituais fúnebres, que remontam a esse período.
Outra das hipóteses, quiçá, a mais credível, situa-se na época da reforma do canto
litúrgico - Séc IX.
Dizemos que será a mais credível atendendo à forma de construção de algumas das
melodias que, em nosso entender, mantém uma certa semelhança com a construção monofónica e execução responsorial típica do "cantochão".
Uma terceira hipótese é aquela que situa o início desta tradição nos Séc XVII ou XVIII.
No entanto, esta, à partida, está provada pelos testemunhos recolhidos em Loriga. O "Ti Zé Garcia" homem para 70 e tantos anos, já falecido, que foi a alma deste ritual há duas décadas, dava-nos conta de que foi iniciado nesta tradição pelo seu pai, que por sua vez havia sido iniciado pelo pai dele. Todos os outros participantes neste ritual afirmavam ter sido iniciados pelos pais e estes pelos avós.
Aprofundámos, no entanto, a hipótese que considerámos mais credível, atendendo às características musicais dos cânticos utilizados ou seja, o Séc. IX. Dos dois cânticos que apresentamos, em ambos os casos a construção afigura-se-nos como modal. Isto é, sendo tonal a música que estamos habituados a ouvir (a música tonal só aparece nos Séc. XVII /XVIII), esta soa-nos aos ouvidos como algo estranho, como se não fizesse parte (como não faz) do nosso quotidiano. É que a música que estamos habituados a ouvir é construída a partir de escalas - tonalidades - porque assentam numa nota que é a tónica. Eis a razão porque se chama tonal.
Na Idade Média, a musica era modal, porque a sua construção assentava em modos. Esses modos eram grupos de sons sobre os quais eram construídas as melodias da época.
Existiam 4 modos chamados Autênticos ou Gregos e 4 modos derivados destes, chamados Plagais ou Eclesiásticos.
A construção melódica dos cânticos que analisámos é tipicamente modal, logo, com origem na época da reforma do cântico litúrgico (Séc. IX). Os Martírios estão construídos no modo Autêntico de Mi, também conhecido por Frígio. A Melodia da "Ementa das Almas" está construída no modo autêntico de Ré, também conhecido por Dórico.
A sua forma responsorial é típica do Cantochão, nome que era dado ao canto Gregoriano dessa época. Os Melismas ( uma só sílaba é entoada ou prolongada pela melodia) também típicos desta época estão presentes em ambos os cânticos com alguma abundância.
Pelas razões apontadas e outras de cariz mais científico, que aqui nos abstemos de abordar, poderemos, efectivamente afirmar que esta é uma tradição que remonta aos primórdios do Cristianismo na Península Ibérica.

"Ementar" ou "Amentar" as Almas?

Outra das pistas que seguimos leva-nos à origem do nome deste ritual.
Em Loriga, desde crianças, habituámo-nos a ouvir falar da "Ementa das Almas". Todos aqueles que cumpriam este ritual a ele se referiam desta forma. No entanto, a partir de uma certa altura, começou a constar em Loriga que o termo correcto seria "Amenta" e não "Ementa".
O curioso desta questão é que uns e outros podem estar certos porque ambos os termos existem e com significados similares.
Segundo Sousa Viterbo2, "amentar", quer dizer: "Quando os pastores da Igreja rezam pelos defuntos".
No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora a palavra "amentar" surge com o significado de "Encomendar as Almas".
No entanto, não quisemos ficar por aqui e fomos procurar a origem das palavras e chegámos a interessantes conclusões.
Segundo o Dicionário Etimológico a palavra "amentar", do Latim amentare surge pela primeira vez na língua Portuguesa no Séc. XVIII e com o significado de "prender com correias, atar".
A mesma fonte refere a palavra "amentar", como tendo origem em mente(lat. Mens mentis) com o significado de intelecto, alma espírito, do Latim Amens amentis com o sentido de que perdeu a mente.
Mas o mais curioso desta nossa procura é que do ponto de vista da origem etimológica do termo, fomos encontrar o termo "ementar", também relacionado com mente, como tendo surgido na língua Portuguesa pela primeira vez no Séc. XIII com o significado de recordar.
Perante estes factos poderemos afirmar que termo "Ementar" é o que vem de encontro à nossa tese de situar o início deste ritual na Idade Média. Por outro lado, os participantes que há duas décadas atrás diziam que estavam a "Ementar as Almas", estavam, do ponto de vista do português, cobertos de razão.
Afinal o que é este ritual senão o recordar as almas do purgatório?
Assim, no caso de Loriga, é mais correcto dizer a "Ementa das Almas" e não "Amenta das Almas".

* Autor:- Joaquim Pinto Gonçalves
2 In, "Elucidário", Sousa Viterbo. Cit. p. Armando Leça, Música Popular Portuguesa, p. 10.

Fonte:- http://trovanossa.blogspot.com/2008/09/ementa-das-almas-em-loriga.html

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Nota:- Magnifico trabalho de pesquisa e de estudo sobre a Ementa da Almas de Loriga, levado a efeito por este bem conhecido loriguense Joaquim Pinto Gonçalves, que desta forma veio enriquecer uma das mais importantes tradições de Loriga.

(Registado aqui - Ano de 2007)


A Quaresma em Loriga

A Quaresma em Loriga, foi sempre um período de verdadeira manifestação religiosa, de muita fé e muita devoção. Mesmo hoje apesar de os tempos serem outros, continua a verificar-se o mesmo espirito religioso, tal como outrora, continuando-se a realizar todos os actos litúrgicos, próprios desta quadra dolorosa da igreja católica que sempre se conheceu. É certo também, que nos tempos passados, a quadra da Páscoa em Loriga era na realidade diferente, como podemos aqui testemunhar e ao mesmo tempo recordar. Recordamos pois aqui, o periodo da Quaresma em Loriga, nomeadamente as duas últimas semanas, onde podemos conjugar o passado e o presente.

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Chegava a ser surpreendente a azáfama da população da Vila de Loriga, com a aproximação da quadra da Páscoa. As pessoas uniam-se em comunidade limpando bem as ruas, as mulheres esforçavam-se numa barrela mais completa às suas casas, ornamentando as prateleiras com papeis coloridos e decorativos, onde os alumínios eram postos a brilhar. As toalhas brancas eram colocadas nas mesas, pois tudo tinha que estar bem esmerado para quando da chegada do Senhor na sua visita Pascal, no domingo de Páscoa.

Espiritualmente, o povo também se preparava, ninguém faltava à chamada "desobriga" até mesmos os menos praticantes não o deixavam de o fazer, toda agente queria cumprir com as suas obrigações para com o Senhor. Nesses tempos a população era muita, por isso para as confissões, vinham sacerdotes das terras vizinhas ajudar o Pároco de Loriga. Por conseguinte as comunhões atingiam também números significativos e bastante elevados.
Durante a semana Santa, nas proximidades dos fornos públicos da Vila, pairava sempre no ar o cheirinho aos bolos:- broinhas; biscoitos; pão de Ló, bolo negro e outros, que eram as doçarias tradicionais feitas exclusivamente para essa altura.
Nos dias que antecediam ao Domingo de Ramos, era quem mais procurava os melhores e maiores ramos, toda a gente queria ter o seu ramo para benzer nesse domingo.
A concentração de toda a gente com os seus ramos era no Largo do Santo António, dali saía em cortejo para a Igreja Paroquial, alguns, mais pareciam autenticas oliveiras, que faziam com que o senhor padre ficasse com um certo mau humor, ao ver entrar na igreja tão grandes ramos.
Horas antes, grupos de jovens e mesmo homens, percorriam os seus ramos pelas ruas da povoação, cantando o "Rogai por Nós" arreliando por vezes os mais desafortunados, um ritual tradicional de tempos passados que hoje fazem parte apenas de recordações.
No Domingo de Ramos, à noite, tinha lugar a Via-Sacra do homens e jovens, que transportando uma grande cruz de madeira, percorriam as principais ruas da Vila, recordando o caminho doloroso percorrido por Cristo a caminho do Calvário. Esta manifestação era de muita devoção e de um verdadeiro sentimento de pesar, de silêncio e de muito sentido respeito, cerimónia esta que nenhum homem queria de maneira alguma faltar. A Via-Sacra dos homens continua hoje a realizar-se
Durante o período da Quaresma, nas noites de sábado para domingo, homens e jovens cantavam a "Amenta das Almas", tradição secular em Loriga, que ainda hoje continua a ser um ritual bem real.
No silencio da noite rompem os cânticos de vários locais da vila, que mais parecem vozes com clamores vindo do Além lembrando ao povo para que reze pelas almas do purgatório e pelos familiares já desaparecidos da vida dos vivos.
"Acorda, pecador, acorda do sono que está "dormente". Lembra-te das benditas almas que estão no fogo ardente ..."
Na Semana Santa as cruzes e os altares da igreja Matriz eram tapados, revestidos de preto ou roxo que só eram retirados na missa de sábado para domingo, ao som das campainhas e sinos, simbolizando a Ressureição de Jesus.
Quinta-Feira Santa realizava-se a procissão do Senhor dos Passos pelas ruas da vila, tornava-se como sempre majestosa, algumas das vezes complementada com um sermão do "encontro" um ritual sempre muito aguardado com ansiedade e com certa fama na região.
No dia seguinte na noite Sexta-Feira Santa, era a vez de ter lugar a procissão do enterro de Jesus também pelas principais artérias de Loriga, e tal como a escuridão da noite o negro das capas da Irmandade era impressionante, incorporando-se todo o povo, com verdadeiro respeito, devoção e muito sentimento.
Chegava finalmente o Domingo de Páscoa, que começava com toda agente a despertar mais cedo, pois não havia tempo a perder. As donas de casa apressavam o almoço e davam os últimos retoques nas respectivas casas. Era preparada e enfeitada a bandeja dos bolos. Dos "guarda-loiças" eram retirados os melhores cálices e copos. Preparavam-se as garrafas do vinho abafado ou vinho do Porto já há muito tempo guardadas, especialmente, para esse dia. Ao meio-dia em ponto dobravam os sinos da Igreja anunciando a saída do Senhor Padre e da Cruz de Cristo para a sua visita Pascal.
Todas as portas eram bem abertas, trocavam-se as visitas de familiares e amigos, era uma azáfama total, com as pessoas a correr de um lado para outro, quando por vezes as visita Pascal condizia numa ou noutra casa ao mesmo tempo. Por norma a visita pascal era realizada por dois padres que percorriam toda a vila, um para o "cimo" outro para o "fundo".

Altar do Calvário na Igreja Matriz de Loriga

A Visita Pascal terminava já com o cair da noite, sendo bem patente nos rostos o cansaço, mas ao mesmo tempo a satisfação do dever cumprido para com o Senhor e com as famílias, mas também acima de tudo sobressaía em todos, a Amizade, a Paz e a Fraternidade.
No dia seguinte as pessoas pareciam sentir já saudade desta quadra então agora terminada, pensando mesmo já no próximo ano para que voltasse bem depressa.

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Celebrações Solenes da Quaresma em Loriga

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Quarta-Feira de Cinzas:- Missa das Cinzas

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Amenta das Almas

Durante a Quaresma, homens e jovens canta esta tradição secular em Loriga, lembrando aos crentes e não crentes as almas do purgatório. Nas noites de Sábado para Domingo, rompem vozes como que vindo do Além que entre muitos canticos este:.

Acorda pecador acorda
no sono que está dormente.
Lembra-te das benditas almas
Que estão no fogo ardente

*

Domingo de Ramos

Procissão dos Ramos para a Igreja Matriz, onde são benzidos - Missa dos Homens e Via-sacra dos Homens (à noite) - pelas principais ruas da Vila, terminando na Igreja Paroquial com uma cerimónia do encerramento a ser cantada por todos, com versos alusivos ao martírio de Jesus, entre muitos este da Mãe Dolorosa.

Mãe de Jesus trespassada
De dores ao pé da cruz
Rogai por nós, rogais por nós - Bis
Rogais por nós a Jesus.

*

Quinta-Feira Santa

Procissão do Senhor dos Passos - pelas ruas da vila, como o "Encontro" no local chamado "Praça" numa grande manifestação de fé e devoção.

*

Sexta-Feira Santa

Procissão do "Enterro do Senhor" - pelas principais ruas da vila, onde é bem demonstrativo o silêncio e o sentido respeito nas pessoas que acompanham ou simplesmente assistem.

Via Sacra dos Jovens - pelas ruas da vila, num figurino bem verdadeiro na arte de representar o caminho doloroso percorrido pelo Senhor até ao Calvário,

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Domingo de Páscoa

Procissão da Ressurreição - pelas principais ruas da vila, Santa Missa e Visita Pascal

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Registos de tempos passados:

-O facto de em determinadas épocas ser apenas um padre em Loriga, um dia só era escasso, para efectuar a Visita Pascal à Vila. Por esse facto chegou a ser realizada em dois dias, Domingo e Segunda-Feira da Páscoa.

(Registado aqui - Ano de 2003)


Domingo de Ramos em Loriga-Via Sacra dos Homens

Via-Sacra dos Homens

O Domingo de Ramos em Loriga é um dia importante onde a tradição continua a manter-se bem viva, tal como nos tempos passados.
Pela manhã, concentram-se as pessoas com os ramos junto à Capela de Nossa Senhora do Carmo, de onde sai a Procissão com destino à Igreja para serem benzidos, seguindo-se depois a Santa Missa. (Antigamente esta procissão realizava-se da Capela do Santo António, existente no Largo com o mesmo nome).
À noite tem lugar a Via-Sacra do homens e jovens, que transportando uma grande cruz de madeira, percorre as principais ruas da Vila, recordando o caminho doloroso percorrido por Cristo a caminho do Calvário. Esta manifestação de fé e de muita devoção, é na verdade de enorme sentimento, de pesar, de silêncio e de muito sentido respeito. Cerimónia esta que nenhum homem quer de maneira alguma faltar.
A Via-Sacra termina na Igreja Paroquial com uma cerimónia do encerramento a ser cantada por todos, com versos alusivos ao martírio de Jesus.

(Registado aqui - Ano de 2005)

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Quinta-Feira Santa - O "Encontro"

Em Loriga de outras eras, as cerimónias religiosas da Semana Santa, todas elas eram algo de impressionante e de muita fé, no entanto, Quinta-Feira Santa era muito especial, havia até quem dissesse, ser um dos dias mais movimentados da semana.
Na procissão de Quinta-Feira à noite, realizava-se o "Encontro" uma tradição que era levada a efeito na rua, numa grande manifestação de devoção para com Jesus. Com os tempos foi acabando, hoje apenas faz parte de recordações de muitos nós.
Pela manhã de Quinta-Feira Santa, era celebrada a última missa entrando a Igreja de luto pesado, com todas as imagens e altares tapados de roxo ou de preto.
A noite aproximava-se e com ela toda a população a preparar-se para a realização da tradicional procissão do Senhor dos Passos ou do "Encontro" como popularmente muitos também assim a chamavam. Toda a gente se incorporava nesta procissão. A Irmandade das Almas, cujo irmãos ostentavam opas pretas e capuz na cabeça, confirmava o aspecto fúnebre e de penitência.

As janelas das casas eram iluminadas com velas ou lâmpadas eléctricas, na própria procissão os fieis levavam também velas, que contribuíam para austeridade do cortejo. Incorporavam-se também jovens vestidos de branco denominados de "penitentes" cuja alvura contrastava com o negrume dos demais fieis.
O cortejo saía da Igreja conduzindo a imagem do "Senhor da Cruz às Costas" que também se denominava de Santo Cristo ou Senhor dos Passos, onde no lugar conhecido por "Praça" aguardava a chegada dos andores com Nossa Senhora e São João, que chegavam um pouco mais tarde. Entretanto, o pregador já se encontrava numa varanda de uma das casas, de onde iria efectuar o sermão.
Épocas ainda mais remotas, dão-nos conta que o tradicional "Encontro" era efectuado no Largo do Poleirinho, recordando-se como curiosidade, o facto de os andores com a imagem de Nossa Senhora e de São João sairem de uma casa ali na vizinhança, para onde tinham sido levado umas horas antes.
Qualquer dos locais que fosse, certo é, que nessa hora as ruas adjacentes, varandas e janelas, ficavam repletas de fieis para assistirem ao sermão que era iniciado logo após a chegada dos andores de Nossa Senhora e São João, era o momento solene do "Encontro" com o pregador a dizer "Mãe: eis aí o teu Filho. Filho: eis aí a tua Mãe" dando assim início à pregação enaltecendo a figura do Mártir, a caminho do Calvário, sermão que era ouvido pela população com toda atenção e respeito, e no silêncio da noite era possível ouvir-se em quase por toda a povoação.
Uma vez o "pregador" atrapalhou-se, fez um trocadilho das palavras no início do sermão, que provocou muitos risos, mas que foram também imediatamente abafados pela austeridade do momento. No entanto, ainda hoje muitos recordam esse episódio, usado até como piada popular em Loriga.
A seguir ao sermão a "Verónica" cantava pela primeira vez dentro do mais profundo silêncio o "Ecce Homo", que ensaiara durante algum tempo, sendo mesmo tratada com "gemadas" para aperfeiçoar a voz e ter forças nos pulmões para poder ser ouvida a grande distância. A representação da "Verónica" era um cargo muito disputado pelas meninas daquelas épocas.

Senhor dos Passos

Depois a procissão seguia rua acima, dava volta pela Amoreira, seguia pelo "Fundo" e regressava à Igreja, tudo no mesmo tom de devoção penitência e silêncio.
Terminava assim um dia diferente em Loriga, com o regresso de todos às suas casas, conscientes de uma fé ainda mais forte ao recordarem o martírio doloroso percorrido por Jesus a caminho do Calvário.
Com os tempos esta cerimónia religiosa do
"Encontro" foi desaparecendo, hoje faz parte de recordações de alguns, em que esta tradição em Loriga, era vivida com muita fé e devoção.

(Registado aqui - Ano de 2003)

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Enterro de Jesus (Foto ano1989)

Sexta-Feira Santa-O "Enterro"

Procissão do Enterro de Jesus pelas principais artérias de Loriga, e tal como a escuridão da noite, é impressionante, o negro das capas com os capuzes na cabeça, que os irmãos da Irmandade das Almas vestem, confirmando assim o aspecto fúnebre e de penitência.
Procissão sempre majestosa que decorre no maior respeito e silêncio, incorporando-se todo o povo numa grande manifestação de fé, devoção e de muito sentimento.
A procissão com a imagem de Jesus deitado no esquife, logo seguido do andor com a imagem de Nossa Senhora, depois de dar a volta à vila, regressa à Igreja sempre no mesmo tom de respeito, penitência e silêncio.

(Registado aqui - Ano de 2003)

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O Domingo de Páscoa em Loriga

O Domingo de Páscoa é um dia diferente em Loriga, apesar de os tempos serem outros, continua na mesma, a viver-se esse dia com muita devoção e entusiasmo.
No entanto, também é bem que se diga que já pouco tem haver com os tempos passados. O Domingo de Páscoa, era na verdade vivido diferente dos tempo de hoje.
O Domingo de Páscoa, começava com toda agente a despertar mais cedo, pois não havia tempo a perder. As donas de casa apressavam o almoço e davam os últimos retoques nas respectivas casas. Era preparada e enfeitada a bandeja dos bolos. Dos "guarda-loiças" eram retirados os melhores cálices e copos. Preparavam-se as garrafas do vinho abafado ou vinho do Porto já há muito tempo guardadas, especialmente, para esse dia. Ao meio-dia em ponto dobravam os sinos da Igreja anunciando a saída do Senhor Padre e da Cruz de Cristo para a sua visita Pascal.
Todas as portas eram bem abertas, trocavam-se as visitas de familiares e amigos, era uma azáfama total, com as pessoas a correr de um lado para outro quando por vezes as visita Pascal condizia numa ou noutra casa ao mesmo tempo. Por norma a visita pascal era realizada por dois padres que percorriam toda a vila, um para o cimo outro para o fundo.
A Visita Pascal terminava já com o cair da noite, sendo bem patente nos rostos o cansaço, mas ao mesmo tempo a satisfação do dever cumprido para com o Senhor e com as famílias, mas também acima de tudo sobressaía em todos, a Amizade, a Paz e a Fraternidade.

Visita Pascal (Foto ano 2002)

Domingo de Páscoa - Os sinos anunciando que o padre está a sair para a sua visita pascal

Vídeos

= Sino - Inicio da Visita Pascal1 =

= Sino - Inicio da Visita Pascal2 =

= Visita Pascal no GDL =

= Visita Pascal - Rua da Oliveira =

= Domingo de Pascoa em Loriga =

(Registado aqui - Ano de 2006)


A "Matraca" em Loriga

A "Matraca" é um instrumento de certa maneira musical de percussão, feito de madeira onde se unem marteletes também de madeira ou de metal, que a nível religioso tem como função substituir as campainhas e sinos na Semana Santa, quando a igreja está de luto e hoje ainda muito usado um pouco por todo o lado.
Conhecem-se várias formas de "Matracas". Em Loriga é feita de madeira revestida nas extremidades em ferro, onde ali vão bater três berloques em gênero de pingentes, que movimentados com o manejar da mão, forma um som característico e original
Nos tempos passados em Loriga, a "Matraca" não era só usada no interior da igreja, como também fora dela, nomeadamente pelas ruas da vila, anunciando dessa maneira as procissões ou para chamar as pessoas para a igreja para os rituais da Páscoa.

Fotos da "Matraca" muito usual em Loriga na Semana Santa (vp)

(Registado aqui - Ano de 2006)


A "Noite dos Chocalhos" em Loriga

A "Noite dos Chocalhos" é uma tradição existente em Loriga que ocorre no dia 11 de Novembro, dia dedicado a São Martinho. Apesar de ainda hoje se festejar, graças à carolice de alguns, já pouco tem haver como em tempos passados, que na realidade era festejado com grande intensidade.
Nessas épocas já distantes, eram muitos os pastores que se juntavam carregados de chocalhos e campainhas com as respectivas coleiras, que enfiavam nos braços e nas pernas e, em marcha acelerada, davam voltas às ruas até altas horas da noite provocando um barulho ensurdecedor que se ouvia por todo o lado e que, segundo relatos antigos, até se ouvia na Portela do Arão. Por isso mesmo, nessa noite, as pessoas pouco ou nada dormiam.

"Noite dos Chocalhos" no Dia São Martinho

Este velho costume dos pastores, que se pensa vir de tempos remotos, que segundo se sabe, destinava-se a festejar o facto de, os pastores estarem nas montanhas a maior parte do ano junto aos seus rebanhos, assim nessa data davam largas ao seu contentamento, aproveitando também para a prova novo vinho.
Esta festa principiava já perto do final do dia, com a chegada dos pastores à "Carreira" onde se reuniam, todos eles carregados com o maior número possível de chocalhos e campainhas. Quando todos estavam presentes, davam inicio à marcha pelas várias ruas da povoação, que terminava muito perto da manhã, já muito bem bebidos, pois levavam a noite inteira a beber uns bons quartilhos de vinho novo.
No ano em que Loriga foi atacada por grave epidemia, as autoridades locais tentaram acabar com esta tradição antiga, o que provocou discordância dos organizadores, tendo o assunto de ser resolvido pela justíça.O Juiz, muito compreensivo, deu esta sentença que ficou famosa
"Cada terra tem seu uso e cada roca tem seu fuso, por isso temos que respeitar as tradições".
À medida que a actividade pastorícia foi diminuindo, com o desaparecimento dos rebanhos e consequentemente dos pastores, esta tradição hoje em dia já não é o que era, no entanto, continua a existir em alguns, a boa vontade, no sentido de conservar esta tradição.

***

Nota:- A origem do chocalho é desconhecida, admitindo-se que tenha sido trazido pelos árabes, e foi usado para conduzir e guardar o gado, utilizando-se peças diferentes consoante se tratava de vacas ou bois, cabras, ovelhas ou gado muar.
Para fazer um chocalho era preciso trabalhar o metal e depois levá-lo a cozer num forno, a altíssimas temperaturas. Todo o trabalho de confecção era natural e cada chocalho demorava horas a fazer. Era preciso talhar a folha de ferro, moldá-la, abrir um buraco para meter o céu (onde se pendura o badalo), enchê-lo de barro, soldá-lo, levá-lo ao forno e afiná-lo no final.
Hoje os Chocalhos existentes em Loriga, são praticamente peças de artesanato, que valem por isso mesmo.

(Registado aqui - Ano de 2005)


1 de Novembro - Dia de Todos os Santos

O Dia de Todos os Santos é um culto muito antigo, aliás, parece ter estado sempre presente em quase todas as religiões, principalmente nas mais antigas. Na prática, na Igreja Católica o Dia de Todos os Santos surgiu como um vínculo suplementar entre vivos e mortos, destinado a todos. O próprio mundo profano, em geral, também aderiu a essa prática. Com o passar do tempo, a comemoração ultrapassou seu aspecto exclusivamente religioso, para revelar uma feição emotiva e de saudade.
Tal como acontece por todo o lado, Loriga não foge à regra, este Dia de Todos os Santos é também popularmente conhecido por "Dia dos Finados" só, que por norma o "Dia de Finados" pertence ser celebrado no dia 2 de Novembro. De qualquer das formas em Loriga, tanto o dia 31 de Outubro, como os dias 1 e 2 de Novembro, são celebrados com muito respeito e também com muita dedicação aos entes queridos, que partiram já desta vida dos vivos, uma data que representa ao mesmo tempo um envolvimento de muitas recordações, de muitas tristezas e de muitas saudades.
As sepulturas no cemitério, são "melhores arranjadas", com flores, velas, lampiões, lamparinas, num cenário de verdadeira fé e pesar, com as pessoas junto das campas dos seus familiares, recolhidas numa verdadeira manifestação de saudade, respeito e sentida dor.
Nesta data dedicada aos "Finados", tradicionalmente, deslocam-se a Loriga muitas pessoas que estão longe, para assim também desta forma e junto das campas dos seus ente queridos, se unirem no espírito de saudade e recordação. Neste dia do culto dedicado aos defuntos, por hábito, as pessoas deslocam-se à Igreja Matriz, juntando-se em Procissão, que o Pároco faz muito perto do final do dia, véspera do dia 1 de Novembro, numa romagem de saudade ao cemitério local, que se enche de gente, chorando os seus familiares mortos, unindo o passado e futuro num só presente.
No dia 1 de Novembro e durante todo o dia, as famílias e amigos, voltam novamente até ao cemitério, visitando de novo as campas dos entes queridos, no mesmo sentimento de saudade e de recordação.

Fotografia Ano 2006

Cemitério de Loriga - Dia dos Finados

(Registado aqui - Ano de 2002)


Novembro - O Mês das Almas

Apesar de existir um piedoso costume de manter durante o ano, os cemitérios floridos, torna-se ainda mais carismático durante o mês de Novembro (Mês das Almas).
O mês da Almas, começa praticamente com o culto aos defuntos, um ritual cristã vindo dos tempos mais remotos, onde será difícil de encontrar um lugarejo onde esta tradição não esteja arreigada até à medula, nos hábitos das famílias e das paróquias.
A Igreja tem esta duradoura tradição que começa logo em 1 de Novembro dia dos Finados, no entanto, o Dia das Almas é em 2 de Novembro, e segue pelo mês todo, onde são lembradas as Almas do Purgatório. Este é um tempo especial durante o ano em que mais se rezam as Santas Missas pelas Almas, lembrando-se sempre delas nas orações pessoais, devoções e sacrifícios.
O mês inteiro de Novembro é consagrado à oração pelas Almas do Purgatório, assim como, todas as segundas-feiras em todos os meses. As Almas do Purgatório que estão passando por esta "purificação" nada podem fazer por si próprias, mas nós podemos ajudá-las através das nossas orações e das nossas boas obras. O grande sinal de amor pelos amados que partiram deste mundo é rezar por eles. Rezemos pelas Almas do Purgatório, seguindo o exemplo de tantos santos que se preocupavam com o sufrágio das almas e pregavam essa devoção marcadamente cristã.
Em Loriga o mês de Novembro dedicado às Almas é muito recordado, sendo mesmo especial nas orações para com os defuntos. Foi desde sempre um mês de muito respeito pelos mortos, existe até uma crença muito forte na maioria das pessoas em visitar o cemitério nos primeiros nove dias do mês, ou então mesmo o fazendo durante todo o mês de Novembro.
No dia 2 de Novembro, é o verdadeiro dia dedicado aos fiéis Defuntos, sendo racionalmente realizada a missa por todas as Almas.


Quadras dedicadas às Almas *

"Alminhas" Junto à Fonte das Almas

Caiem folhas uma a uma
Os ramos ficam despidos...
Tardes frias de Novembro
Lembram mortos esquecidos.

*

Tudo se cala... Silêncio..
Noite fria... Os sinos choram...
Rezam almas neste mundo
Pelas almas que já foram...

*

Como eu sinto as badaladas
Chorando dentro de mim!...
Lá vão elas... Vou com elas
Por um mar que não tem fim...

*

É o mar da nossa Vida...
Onde acaba?... Lá no Céu....
Como chora a badalada
Que o velho sino trangeu...

*

Lembro as noites de Novembro
Do tempo que já lá vai...
E choro... choro... rezando
Por minha mãe por meu pai.

*

Era com eles, à noite
Que sempre depois da ceia,
Rezava pelas alminhas,
À triste Luz da candeia...

*

Ai como os anos passaram!...
Também se foram meus pais...
Ò sino velho da torre,
Não chores, não chores mais..

*

Ò badaladas à noite
Ai que longe ides morrer!...
Almas no Céu a gozar,
Almas na Terra sofrer.

*

Ó badaladas da noite
Calai-vos, não choreis tanto,
Tenho a alma dolorida,
Nadam meus olhos em pranto.

Cala-te, sino, que a Lua
Vai caladinha no Céu...
Que linda noite estrelada!...
Feliz de quem já morreu!...

* Cassiano Guimarães (1960)

(Registado aqui - Ano de 2002)


O Natal em Loriga

A quadra de Natal é a festa da família, apesar de hoje em dia o mundo andar distraído, onde forças do mal se movimenta neste meio das sociedades, que faz pairar uma certa descrença, injustiças, medo, falta de objectividades, enfim, um sem número de coisas que faz viver muitos, sem esperança.
Mas o Natal é o nosso Natal, que pode ser quando um homem quer, onde em Loriga, apesar de tudo, ainda se vive com o mesmo calor de sempre, apesar também, de nada parecer com os tempo passados.
Em tempos idos com a aproximação da quadra natalícia, notava-se uma certa euforia, quase toda a gente fazia o seu presépio em casa, por isso era grande a procura pelos pinhais e soitos, dos melhores musgo, usando até, cestos apropriados, para que ao transportá-los para casa, chegassem o mais bem conservados possível.
Na preparação dos presépios, as pessoas, tinham sempre a preocupação de os tornar o mais lindo possível, ornamentados com figuras de barro e ainda de papel que as próprias pessoas faziam, onde retratavam a serra, a neve, a industria, comércio, pastores, rebanhos, ribeiras, pontes, e até as casas locais.

Com os tempos mais recentes, foi-se perdendo essa tradição, o uso das árvores do Natal, naturais ou artificiais, passaram a ser mais usados simbolizando o Natal, deixando assim de ver-se a um canto da sala, os presépios, onde o Menino Jesus parecia dar um calor diferente de amor e fraternidade a uma casa.
O povo organizava-se em comunidade na procura dos maiores tocos pelos pinhais e soitos, que haviam de arder na fogueira no meio do Adro da Igreja e outra na "Carreira" para, segundo reza a tradição, aquecer o Menino Jesus.
Nesses tempos que já lá vão, o transporte desses tocos era, normalmente, efectuado manualmente, com a ajuda de cordas, para o arrastamento dos mesmos, cujos rastos ficavam bem marcados nas estradas, caminhos e ruas por onde passavam. Outras vezes, o transporte era efectuado em zorras triangulares, feitas com troncos de pinheiros.
Existia até uma certa rivalidade, entre os jovens do "Cimo" e "Fundo" no sentido de manter a fogueira acesa por mais dias. Algumas das vezes aconteceu estarem acesas até passar a passagem do ano.
A hora da consoada era algo de muito especial, onde em todas as casas as famílias se uniam em fraternidade, paz e amor. O tradicional bacalhau não podia faltar, bem como, as filhós. Após a Ceia, era a espera para a Missa do Galo, aguardada com ansiedade por todos e após a mesma muitos se juntavam em redor das Fogueiras, ali passando toda a noite, cantando hinos de louvor e de saudação pelo nascimento do Menino Jesus.
As crianças bem tentavam manterem-se acordadas, o que não conseguiam, para poderem ver o Menino Jesus a ir as suas casa. Era grande a ansiedade para verem a prenda que lhes punha no sapatito, desde muito cedo colocado na lareira ou fogão. Uma simples laranja, umas bolachinhas ou uns rebuçados era o suficiente para ficarem felizes nesse dia, onde o poder da imaginação os levava a pensar mesmo da visita dos Menino Jesus.
Durante a quadra natalícia, cantava-se as Janeiras. Tradição popular em que se juntavam grupos de crianças, jovens e mesmo homens, percorrendo as ruas indo de porta em porta, cantando em louvor do Menino Jesus, lindas quadras de fraternidade e amor, que o povo fazia especialmente para essa quadra, acompanhados pelo simples tanger de ferrinhos, desejando Boas-Festas aos seus moradores.

Presépio porta da Igreja (2003)

(Registado aqui - Ano de 2002)


As Janeiras

Sob uma forma mais ou menos cristianizada, os povos modernos continuam a manter tradições cujas origens pagãs atestam a sua antiguidade. É disso exemplo o cantar das Janeiras que, em Portugal é uma tradição que, segundo alguns, remonta ao século XIV.
Na Vila de Loriga, essa tradição vem-se mantendo através dos tempos, que começa com aproximação do Natal até aos Reis. No entanto, hoje em dia é uma prática mais usual entre grupos de jovens e homens, no sentido de conseguirem algum valor monetário para determinado objectivo em vista.
Está ainda bem viva na lembrança de muitos Loriguenses o cantar das Janeiras, de tempos passados, em que, grupos de crianças, jovens e homens, percorriam as ruas indo de porta em porta, cantando em louvor do Menino Jesus lindas quadras de fraternidade e amor que o povo fez, dedicadas a essa quadra natalícia, acompanhadas pelo simples tanger de ferrinhos, desejando Boas-Festas aos seus moradores.
Nesses tempos, como o dinheiro era pouco, era também muito pouco o valor monetário que os cantadores de Janeiras recebiam. Normalmente as crianças eram contempladas com guloseimas, os homens e jovens recebiam em troca a oferta de filhóses, figos, castanhas secas, chouriço e um copito de aguardente.

O Cantar das Janeiras

*

Ao chegar às portas cantava-se as quadras de apresentação:

Ainda agora aqui cheguei
Já tirei o meu chapéu
A Senhora desta casa
Vai direitinha para o céu

Aqui vimos, aqui vimos
Aqui vimos bem sabeis
Vimos dar as boas-festas
E também cantar os Reis

Ainda agora aqui cheguei
E já pus o pé na escada
Logo o meu coração me disse
Que aqui mora gente honrada

*

Depois destas quadras era aguardado uns momentos, esperando pela gratificação, quando tardava, cantava-se a quadra seguinte:

Levante-se lá minha senhora
Do seu banquinho de prata
Venha-nos dar as Janeiras
Que está um frio que mata

*

Mais uns momentos de espera e quando mesmo assim, nada lhes era dado, cantava-se assim:

Trelinca o martelo
E torna a trelincar
Que as barbas de farelo
Já não tem que nos dar

*

Acabando por o grupo se afastar com destino a outra porta

Era ainda cantada a quadra seguinte que era de esperança para o ano seguinte:

Boas-Festas, Boas-Festas
Boas-Festas queremos dar
E adeus até p´ro ano
Que aqui havemos de voltar

***

Vídeo

= Janeiras em Loriga =

(Registado aqui - Ano de 2001)


O Presépio do Natal em Loriga

O presépio é talvez a mais antiga forma de caracterização do Natal. Sabe-se que foi São Francisco de Assis, na cidade italiana de Greccio, em 1223, o primeiro a usar a manjedoura com figuras esculpidas formando um presépio, tal qual o conhecemos hoje. A idéia surgiu enquanto lia, numa de suas longas noites, um trecho de São Lucas que lembrava o nascimento de Cristo. Resolveu então monta-lo em tamanho natural, numa gruta de sua cidade. O Presépio, tanto como se sabe, teve a sua origem nas celebrações dos rituais litúrgicos ligados ao Natal, encenados no século XIII, na Itália. Assim a idealização de São Francisco de Assis (1182-1226) teve a autorização do Papa Honório III.
Com o passar dos tempos os presépios espalharam-se por toda a europa e a partir daí, para todo o mundo cristão.
O presépio em Portugal, foi adquirindo características próprias, nacionais, sendo tradicionalmente usado o barro, retratando com fidelidade os costumes próprios de cada época e lugar.
Em Loriga, além do presépio feito na Igreja Matriz, foi sempre muito usual na população local, fazer também os presépios nas suas próprias casas, utilizando os musgos naturais. Com o aproximar da quadra natalícia era grande a procura pelos pinhais e soitos, dos melhores musgo, usando até, cestos apropriados, para que ao transportá-los para casa, chegassem o mais bem conservados possível.
Na preparação dos presépios, as pessoas, tinham sempre a preocupação de os tornar o mais lindo possível, ornamentados com figuras de barro e ainda de papel que as próprias pessoas faziam, onde retratavam a serra, a neve, a industria, comércio, pastores, rebanhos, ribeiras, pontes, e até as casas locais.
Com os tempos mais recentes, foi-se perdendo essa tradição, o uso das árvores do Natal, naturais ou artificiais, passaram a ser mais usados simbolizando o Natal, deixando assim de ver-se a um canto da sala, os presépios, onde o Menino Jesus parecia dar um calor diferente de amor e fraternidade a uma casa.
Hoje em Loriga, o presépio se resume praticamente ao da Igreja local ou numa ou noutra casa, feito ainda tradicionalmente com o musgo natural, onde é ornamentado com bonitas e antigas imagens, não faltando a cor e luz que os tornam simples, mas belos.

Presepio da Igreja (2002)

Ano 2003 - Foto do Presépio na Igreja Matriz

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(Registado aqui - Ano de 2003)

O Presépio do Fernando Alves Pereira (Requinta)

Lembro aqui o belo Presépio que o bem conhecido loriguense, Fernando Alves Pereira (Requinta) todos os anos faz à moda tradicional de outros tempos, com os musgos naturais e figuras a retratar o passado e o presente, que encanta todos aqueles que a sua casa o vão admirar, num verdadeiro trabalho de arte e de imaginação, que vale a pena contemplar.

Ano 2008 - Duas Fotos do Presépio Fernando Alves Pereira (Requinta)

(Registado aqui - Ano de 2008)


A Fogueira do Natal em Loriga

Tal como acontece em muitas aldeias e vilas de Portugal, também em Loriga se mantém a tradição da Fogueira do Natal.
Na véspera do Natal, é lançado o fogo aos tocos ou madeiros, previamente colocados no Adro da Igreja, fazendo uma grande fogueira que normalmente se mantem acesa até passar o primeiro dia do novo ano.
Nos primeiros quinze dias de Dezembro, organizam-se grupos de rapazes ou até mesmo homens, na procura dos tocos pelos pinhais e soitos, que haviam de arder no meio do Adro da Igreja para, segundo reza a tradição, aquecer o Menino.
Em tempos que já lá vão, o transporte desses tocos era, normalmente, efectuado manualmente, com a ajuda de cordas, para o arrastamento dos mesmos, cujos rastos ficavam bem marcados nas estradas, caminhos e ruas por onde passavam. Outras vezes, o transporte era efectuado em zorras triangulares, feitas com troncos de pinheiros.
Actualmente o transporte dos tocos ou madeiros, processa-se por meio de transporte de camionetas, sendo hoje em dia utilizados madeiros e troncos dos pinheiros, que pouco têm a ver com os tradicionais "tocos" velhos que em tempos passados se usavam, e, que se encontravam um pouco pelos pinhais e soitos, deitados abaixo pelos ventos fortes que se faziam sentir durante o ano.
Após a Missa do "Galo" e durante a noite da consoada, são muitos os que se juntam no Adro, em redor da Fogueira do Natal, cantando hinos de louvor e de saudação pelo nascimento do Menino Jesus.
Em tempos passados, chegaram mesmo a serem efectuadas duas fogueiras do Natal, em Loriga, a do Adro e uma outra no local chamado "Carreira", tudo isso fomentado por uma certa rivalidade que levava os moradores do "cimo" da vila a quererem também uma fogueira só para eles.
Nos tempos que correm, apesar de esta tradição não juntar tantas pessoas junto à fogueira como nos tempos passados, a Fogueira do Natal de Loriga, continua, no entanto, a ter uma presença bem real e ser uma chama bem acesa de recordações no coração dos loriguenses.

Foto:- Fogueira no Natal
- Ano 2002 -

(Registado aqui - Ano de 2002)


Janeiro mês dos peditórios em Loriga

O mês de Janeiro em Loriga é praticamente todo ele dedicado aos tradicionais peditórios pelas ruas da vila. Por norma todos os fins de semana é efectuado um peditório a reverter para instituições, organizações ou Santos, tradição que vem de longe e que representa para os responsáveis à frente desses organismos uma mais valia, para os fins que tem em programa.
Os peditórios do mês de Janeiro em Loriga, tiveram sempre uma característica e uma originalidade muito própria, que para além das ofertas monetárias era muito usual as ofertas em géneros alimentícios, como feijão, grão, milho, queijos, ovos, broa, pão de milho e até garrafas de bebidas, que após o peditório e já no final da tarde eram leiloados no adro da igreja.

Feijão, grão era dos géneros mais oferecidos

É certo que estes peditórios de Janeiro, hoje em dia, já não têm a dimensão de outras eras, no que diz respeito às ofertas desses artigos, que aos poucos foi perdendo essa tradição como hábito de oferta. Hoje em dia, está praticamente reduzido ao peditório para São Sebastião, que é efectuado com o "Cambeiro" onde as pessoas ainda oferecem e nele penduram, enchidos, presunto, bacalhau e outros, apesar também já não ser como nos outros tempos.
Está ainda na memória de muitas pessoas, tempos à muito passados, quando as ofertas se centralizavam em grande parte nessas ofertas dos géneros alimentícios, também é certo que nessa altura, a agricultura era uma realidade bem presente em Loriga, onde a maioria da população colhia da terra muitos dos géneros, com que faziam muitas das suas ofertas.
"Uma esmolinha para ..............." eram palavras com som sonante que se ouviam todos os domingos logo após as missas da manhã, com os mordomos ou organizadores a percorrerem as ruas, becos, pátios e quintais, tal como ainda hoje acontece, esperando sempre por uma oferta, que mesmo pequena que seja torna-se muito importante.
Como se disse, tradicionalmente os peditórios começam logo no primeiro dia do ano, principia com o peditório para a Banda, com esta a percorrer as ruas da vila no seu peditório anual à população, nesse mesmo dia também ocorre o peditório para a o Nosso Senhor.
Os peditórios vão continuando ao longo do mês e ainda pelo mês de Fevereiro, por norma são efectuados aos fins de semana, recordando-se aqui todos os outros - Irmandade do Santíssimo Sacramento e das Almas, Nossa Senhora da Guia, São Sebastião, Santo António, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora de Fátima e também Nossa Senhora da Ajuda (Fontão).

(Registado aqui - Ano de 2001)


Peditório com o "Cambeiro"

O "Cambeiro" em Loriga

Há mais que uma forma para definir o "Cambeiro". Originalmente, o Cambeiro era um tronco de pinheiro alto e esguio que, em certas noites festivas, se fixava num lugar, atando-lhe ramos que se incendiavam para iluminar o local.
No entanto, em Loriga, trata-se de um mastro alto em madeira ornamentado com pendurais em ferro e que faz parte de uma tradição antiga em honra de São Sebastião.
O
"Cambeiro" sai em Janeiro, para as ruas da vila, sendo transportado em cortejo, e é anunciado à população através de uma campainha levada pela pessoa que inicia o cortejo. Principia no adro vazio e ali regressa depois de dar a volta às ruas já completamente recheado dos donativos ali colocados.
Ao longo do seu percurso as pessoas vão colocando nos respectivos pendurais do
"Cambeiro" as suas ofertas:- Línguas de porco ou vaca, rabos e pés de porco, carne de porco, chouriços de carne, farinheiras, morcelas, bacalhau, presunto, broa de milho e trigo.
Neste peditório para São Sebastião, são ainda oferecidos outros artigos comestíveis, tais como, feijão, grão, milho, queijos, garrafas etc., que os mordomos vão transportando à parte, assim como, também são oferecidos donativos em dinheiro.
É certo que hoje em dia já não tem a dimensão de outras eras, no entanto, continua a manter-se bem viva a mesma originalidade deste peditório e, o
"Cambeiro" lá vai percorrendo as ruas recebendo as ofertas dos artigos comestíveis, que apesar de tudo, mesmo hoje em dia continua a fazer a diferença de outros peditórios.
De regresso ao adro, dá-se início ao leilão de todas essas ofertas, que revertem para o culto e Festa anual de São Sebastião, que actualmente se festeja no mês de Julho.

O "Cambeiro" bem completo de enchidos

(Registado aqui - Ano de 2004)


Jogos Populares e Tradicionais em Loriga

Os jogos tradicionais, fazem parte dos costumes, brincadeiras, passatempos e divertimentos populares, que além de conterem situações muito diferenciadas, utilizam-se matérias fáceis de encontrar. Por isso mesmo, são também muitos os utensílios utilizados para a prática desses jogos populares.
Podendo ser praticados por todas as idades, foram no entanto, desde sempre mais praticados na idade de criança e adolescência e fizeram parte de muitas das gerações já passadas. Por isso também e, compreensivelmente, o facto de muitos até já terem passado ao esquecimento.
Com o aparecimento da Televisão nos últimos anos da década de 1950 primeiro, e depois com o surgimento e desenvolvimento de outros passatempos, foi-se perdendo o hábito de praticar muitos desses jogos populares e tradicionais, os quais foram sendo esquecidos, fazendo hoje parte das recordações de várias gerações.
É certo que ainda hoje e um pouco por todo o lado, se vêm praticar muitos dos jogos tradicionais, só que não com tanta frequência, como em tempos já passados, que fizeram parte da infância de muitas pessoas que hoje os recordam com saudade.
Em épocas já distantes, era na realidade digno de registo o movimento demográfico em Loriga, onde anualmente se registavam largas dezenas de nascimentos de crianças, ultrapassando por vezes a centena.
Por esse facto, era a população jovem que, nas suas brincadeiras e passatempos, praticava os muitos jogos populares, alguns do quais eram tradicionalmente muito próprios de Loriga.
Aqui se registam muitos do jogos tradicionais em Loriga de outras eras, uns mais relevantes e muito mais usuais do que outros:

***

Jogo do Pião

O Jogo do Pião é essencialmente um jogo de crianças, praticado principalmente pelos rapazes.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Com uma baraça ou guita, enrolava-se o pião, começando por enrolar-se de cima para baixo, até ao meio. Ficava apenas uma ponta onde se pegava e se mandava o pião ao chão, de preferência num sítio plano. Ganhava o jogo quem o mantivesse a rodar o máximo de tempo possível.
Em Loriga, na época, havia verdadeiros artistas a jogar este jogo, os quais, ao longo do tempo, tinham aperfeiçoado a técnica de rodar o pião. Faziam várias habilidades que consistiam, por exemplo, em apanhar o pião a rodar, mantê-lo na palma da mão e voltar a pô-lo no chão e, às vezes, colocá-lo na cabeça, sempre a rodar.

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O Jogo do Feijão

Era um jogo muito praticado em Loriga, exclusivamente pelos garotos, sendo a Primavera a época do ano normalmente mais usual na realização deste jogo.
Qualquer garoto tinha uma pequena "taleiga" cheia de feijões que variavam de tipo e de valor no respectivo jogo.
Cada jogador estava munido de uma "bonzura" que era um disco de chumbo, ou ainda uma pedra de lasca ou cerâmica, que muito contribuía para que os bolsos da "jaqueta" e das calças estivessem sempre rotos pelo peso daquele objecto.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
De entre o feijão comum, as "luínhas" que valiam mais, sendo que as "calhoras" eram ainda mais valorizadas. No entanto, era aceite outro tipo de feijão, como feijões brancos, vermelhos, amarelos, pretos etc. Só ninguém recebia os modestos "Chícharos" porque não tinham classificação.
O Jogo consistia em cada participante entrar com um determinado número de feijões que eram amontoados em lugar previamente escolhido, colocando à frente um carro de linhas dos grandes, ou um casulo de milho, que recebia o nome de "Bicho"
Marcada a distância de onde os participantes deviam atirar a "bonzura" era dado o início à disputa, que consistia, cada um por sua vez, procurar acertar o monte de feijões e afastar o "Bicho", ganhando parcial ou totalmente, conforme a distância a que ficavam os referidos discos.
Por vezes, havendo dúvida em relação às distâncias, tanto da "bonzuras" como do "Bicho", era necessário fazer a medição com uma palha.

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Jogo do "Pau do Bico"

Jogo exclusivamente praticado pelos rapazes, tinha a particularidade de ser considerado um jogo de "terror" para os vidros das janelas.
Pensa-se que este Jogo seja um dos mais antigos, e que tenha sido praticado durante dezenas de anos, pela garotada de Loriga. Em registos escritos da década de 1920, vamos encontrar já algumas referências a este Jogo.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Para jogar este jogo era necessário utilizar, um pau de pequenas dimensões mais ou menos de 20 cm., com as pontas aguçadas, bem como um outro muito maior, mais ou menos entre 50 a 60 cm..
No chão, era desenhado um pequeno círculo, com cerca de um metro de diâmetro, que funcionava como o local de partida, e onde era colocado o pau pequeno dos dois bicos.
O jogador com o pau maior, executava um toque numa das extremidades aguçadas, do pau de bicos, fazendo-o elevar-se no ar, dando-lhe, de imediato, uma tacada de modo a alcançar o local que desejava.
Podia ser jogado por dois ou mais participantes. Os jogadores iam jogando alternadamente, sendo vencedor o que conseguisse completar o percurso, previamente designado, no menor número de jogadas.
Quando o jogador, não conseguisse acertar no pau dos bicos, após o elevar no ar, caindo por conseguinte no chão sem lhe tocar, perdia a jogada, dando a vez ao concorrente seguinte.
Era um jogo que poderia não chegar ao fim, de um momento para o outro. No entanto, por vezes, era interrompido bruscamente, com os praticantes a desaparecerem do local o mais rapidamente possível, quando uma tacada um pouco mais forte, era certeira ais vidros e, quando assim acontecia, era ver aquele que fugia mais depressa,
"porque não tinha sido ninguém".

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Jogo "Rede Curre"

Jogo também muito praticado em Loriga, exclusivamente pelos rapazes. Sendo uma variante do jogo do "Pau do Bico"
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
O jogadores com o pau maior, executavam um toque numa das extremidades aguçadas, do pau de bicos, colocado dentro do circulo desenhado no chão (local de partida), fazendo-o elevar-se no ar, dando-lhe, de imediato, uma tacada de modo a lança-lo para um local mais longe possível.
Era depois medida a distância, entre o local onde tinha caído o pau dos bicos, até ao círculo, utilizando para isso o pau maior. Ganhava o jogador que contasse mais medições.

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O Rodízio

Argolas, aros de ferro ou aros de pneus, eram objectos tradicionais muito usuais um pouco por todo o lado, principalmente utilizados pelos rapazes nas suas brincadeiras e divertimentos, aos quais chamavam Aros.
Estes Aros estiveram na origem de mais um jogo popular, a que tradicionalmente se dá o nome de Rodízio.
Em Loriga, estes aros eram vulgarmente apelidados pelos rapazes de "Rendizio" e, durante décadas, deliciou muitas gerações de garotada.
Todos os garotos tinham o seu "Rodízio", que poderia ser de diversos tipos e tamanhos. Os tipos variavam desde uma argola grande, aro de ferro ou de pneu ou, mesmo, aros das pipas de vinho, que eram empurrados e guiados por uma "A gancha", (guiador) de arame, bem resistente, onde às vezes eram colocados carros de linhas vazios, a fim de deslizar melhor e evitar que o arame "emperrasse" nas emendas dos arcos.
O "Rodízio" era como que um automóvel ou uma camioneta, cuja classificação dependia do tamanho que o aro tivesse. Para melhor imitar um automóvel, à noite, colocava-se uma baraça acesa na "A gancha", cujos morrões davam a impressão de dois minúsculos faróis de advertência aos pedestres que estivessem pela frente.
Entre a rapaziada de Loriga existia, até, um método de aprendizagem para a condução do Rodízio, que os habilitava a conduzir com uma certa perícia. Esse método, consistia em conduzir o Rodízio em cima do parapeito da levada da "Carreira" ou na borda do muro da estrada da "Redondinha", considerando-se encartados os que conseguissem superar essa prova.
Estes locais, assim como outros idênticos um pouco por toda a povoação, serviam também para o confronto, na disputa de provas de perícia ou outras competições.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Durante a prova, o condutor não podia parar no trajecto, nem deixar cair o arco porque, para além de perder o jogo, corria o perigo de tomar um banho na levada ou cair para uma das courelas, o que não seria um pequeno tombo. Superava a prova aquele que conseguisse efectuar mais rápido esse percurso, sem cair ou deixar cair o "Rodízio"
Também se fazia um outro tipo de provas que era as "Corridas de Rodízio". O trajecto era designado previamente, e com os participantes posicionados na linha de partida, era dado o sinal para o início da prova. Vencia o participante que conseguisse transpor a meta com o Rodízio, no mais curto espaço de tempo.
Era também disputada uma outra competição, que consistia em desenhar no chão um percurso relativamente estreito. Os concorrentes, com o seu "Rodízio", tinham que percorrê-lo sem parar e sem sair, ou mesmo, sem pisar os limites do percurso delineado.

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Jogo dos "Óculos"

Este jogo, quer pelas suas características, quer pelo envolvimento dos objectos utilizados na sua prática, era muito usual em Loriga, sendo exclusivamente praticado pelos rapazes.
Os "Óculos" era o nome dado a pequenos discos de lata ou alumínio, com um buraco no meio, que eram adquiridos nas fábricas de lanifícios, sendo provenientes das canelas dos fios necessárias para a laboração dos teares de madeira.
Havia dois tipos de pequenos discos (óculos). Os normais de lata e de valor relativo, normalmente (1 por 1) e os discos de alumínio, os quais eram chamados de bonzura, com um valor muito mais elevado, chegando a valer quatro ou mais dos discos normais (lata).
A bonzura era o disco com o qual os concorrentes normalmente jogavam, uma vez que, sendo um pouco mais pesado que os de lata, tinha uma melhor aderência ao jogo.
-Normas e respectivo desenvolvimento:
O objectivo deste jogo era ganhar as peças dos "óculos" aos adversários. O jogador ganhava um "óculo" ao seu adversário quando, ao jogar o seu, o mesmo ficasse a um palmo ou menos do "óculo" do outro concorrente.
Este jogo poderia ser jogado com, ou sem a utilização de uma parede, e por dois ou mais participantes.
Jogado sem a utilização de uma parede, o primeiro participante a jogar, previamente escolhido, lançava o seu "óculo" para um local da sua escolha, seguindo-se os outros participantes.
Ganhava aquele que, ao lançar o seu "óculo", ficasse a um palmo, ou menos, do óculo de outro participante. O jogo recomeçava sempre, com o jogador que ganhasse na jogada anterior a ser o primeiro a jogar.
Jogado com a utilização de uma parede, era também escolhido o primeiro concorrente a jogar. O jogador colocava-se de frente a uma parede contra a qual atirava o seu "óculo", ganhando o jogador que conseguisse ficar a um palmo ou menos de qualquer óculo dos outros concorrentes.
Sendo considerado um jogo com um certo grau de dificuldade, o jogo com a utilização da parede tinha, no entanto, uma característica que era o poder ser jogado recorrendo à ajuda dos pés.
O jogador colocava os seus pés em forma de V junto ao "óculo" do adversário, para melhor acertar. Normalmente esta táctica só era utilizada quando os "óculos" estavam a uma distância relativamente pequena da parede.
Escusado será dizer quão maltratada ficava a parede, que não fosse de pedra, normalmente granito, com a realização deste jogo contra a mesma.
Uma outra característica muito comum deste jogo era a garotada acumular os seus "óculos" enfiados numa baraça, aos quais chamavam "chouriças"

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Jogo do Esconder

Jogo muito usual dos meninos e meninas, é tradicionalmente o jogo mais popular, que faz parte das recordações de infância de quase todas as pessoas.
Em Loriga era um jogo habitual nas brincadeiras das crianças, sendo mesmo um passatempo como que obrigatório.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Um participante previamente designado, fechava os olhos encostando-se contra uma parede. Um outro escondia um lenço ou outro qualquer objecto, num local em redor do qual se desenrolava o jogo.
Depois do objecto escondido era autorizado o jogador de olhos fechados a tentar encontrá-lo. Todos os outros iam dando pistas:
- Frio!... Frio!... -quando se afastava do objecto escondido.
- Quente!... Quente! ... -quando se aproximava.
- A Queimar!... A Queimar!... -quando estivesse muito perto, quase a descobri-lo.
O jogador ganhava ao encontrar o objecto escondido. Caso o não encontrasse e se desse por vencido, perdia o jogo. Por isso era excluído do mesmo.
Ganhava o concorrente que mais vezes encontrasse o objecto escondido.

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Jogo das "Semanas"

Jogo normalmente praticado pelas raparigas, era muito usual em Loriga. Este jogo das "Semanas" era uma variante do tradicional e popularmente chamado Jogo da Macaca, ainda hoje muito praticado pelas crianças e adolescentes, um pouco por todo o lado.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Num local plano, de terra ou de cimento, eram desenhados sete quadrados, chamados casas, respeitantes aos sete dias da semana, por isso o nome deste jogo.
Era necessário uma pedra, de preferência rasa, para uma melhor aderência ao solo, (em Loriga era utilizado um pequeno pedaço de telha).
A jogadora lançava a pedra para dentro do quadrado (casa), começando pelo primeiro. Depois, em pé-coxinho, pulava para dentro desse quadrado (casa) onde se encontrava a pedra e, sempre em pé-coxinho, tinha que jogá-la e sair com ela até ao local onde tinha começado.
Esta operação tinha que ser efectuada por todos os sete quadrados (casa) completando assim a prova. Só era permitido jogar a pedra uma única vez, dentro de cada quadrado (casa).
A jogadora que lançasse a pedra e esta ultrapassasse a casa para a qual era destinada ou, se caísse em cima dos limites dos quadrados, ou se saísse fora desses limites, perdia a jogada, dando a vez à participante seguinte.
Perdia também, quando a pedra lançada ao pé coxinho ultrapassasse a casa seguinte, ou se a jogadora pisasse algum dos riscos. Quando essa concorrente voltasse a jogar, recomeçava no local onde tinha perdido.
Quando uma jogadora pisasse o risco havia uma maneira curiosa de dizer, "Queimastes" o risco.
Era vencedora a participante que ganhasse o maior número de jogos.

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Jogo do Eixo

Jogo tradicional, praticado por todo o lado, normalmente mais usual entre rapazes.
Em Loriga, era dos jogos mais praticados. Em épocas já distantes, bastava reunirem-se alguns rapazes, para logo alguém sugerir jogar este Jogo, que tinham uma maneira própria de praticá-lo.
O número de jogadores era variável, sendo que, quanto maior fosse o número, mais interessante se tornava o jogo.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Um jogador previamente sorteado, colocava-se curvado (amochado), principiando por amochar-se apoiando os cotovelos nos joelhos. Com vista a aumentar o grau de dificuldade do jogo, na segunda volta, apoiava as mãos nos joelhos e, com o desenrolar do jogo, ia ficando menos amochado, chegando mesmo só a ficar com a cabeça ligeiramente curvada.
Os concorrentes tinham que saltar por cima do participante amochado, apoiando as mãos nas costas e as pernas obrigatoriamente abertas.
Havia uma outra maneira de jogar este jogo, que consistia em os participantes saltarem sem colocarem as mãos nas costas do jogador amochado só que, neste caso, este mantinha sempre a primeira posição, ou seja, com os cotovelos nos joelhos.
Perdia o jogador que não conseguisse saltar e, como penalização, ia ocupar o lugar do jogador amochado, ficando na posição que este já tinha.
Era vencedor aquele que saltando mais vezes fosse menos penalizado.
Outra variante do Jogo do Eixo, consistia em saltar sucessivamente sobre todos os participantes, de forma que todos saltassem amochando-se em seguida. Em Loriga, era curioso ver-se a garotada percorrer as ruas da Vila a praticar este jogo, dai resultando tamanha algazarra que, por vezes, irritava os mais idosos.

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Jogo da "Mosca"

Era um jogo muito praticado em Loriga, exclusivamente pelos rapazes que, tanto mais interessante se tornava, quanto maior fosse o número de participantes. Muito praticado também por todo o lado, quase sempre nos tempos de infância, este jogo varia de nome conforme a região.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Apesar de também ser praticado individualmente, este jogo tinha por norma ser praticado entre várias equipas, constituídas por igual número de elementos.
Definida a ordem de participação das equipas e, ainda, a equipa a amochar, esta colocava-se contra uma parede ou muro com os respectivos elementos colocados uns atrás dos outros.
As outras equipas iam saltando para cima da equipa amochada, um elemento de cada vez, (por vezes era obrigatório fazê-lo rápido) e, à medida que cada participante se fixava em cima dizia "mosca".
Todos os elementos participantes tinham que conseguir ficar em cima da equipa amochada, de modo a não caírem ou tocar com os pés no chão.
Desta forma, ia-se constituindo uma espécie de montanha humana, uns sobre os outros, sendo que os jogadores da equipa amochada teriam que suportar sem ceder ao peso.
Se a equipa amochada não suportasse o peso dos adversários, continuava a ser a equipa a amochar.
No caso da equipa que saltava, se não conseguisse colocar todos os seus elementos em cima, ou se, qualquer elemento já em cima, escorregasse ou tocasse com um pé que fosse no solo, essa equipa perdia e passava a ser a equipa amochada.
Este jogo era jogado sempre sobre grande algazarra, para irritação da vizinhança que por vezes não suportava tal barulheira.

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Jogo de Saltar à Corda

Saltar com uma corda, faz parte de uma disciplina de treino, hoje em dia muito utilizado.
O saltar à corda, é também um meio de diversão, que também faz parte dos jogos tradicionais, praticados um pouco por todo lado. O jogo Saltar à Corda, foi igualmente muito usual em Loriga, normalmente praticado pelas raparigas nos seus passatempos e brincadeiras.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
O Jogo de Saltar à Corda, podia ser disputado por várias participantes ao mesmo tempo (corda grande) ou individual (corda pequena).
Numa corda relativamente grande, duas participantes pegavam nas extremidades fazendo-a balançar, em movimento circular (dando à corda).
As participantes, individualmente, entravam na corda e sempre saltando de acordo com o movimento da corda. Tinham que manter-se
dentro durante determinado tempo previamente designado. Pela mesma forma tinham que sair, tudo isto, sem interromper o normal andamento da corda.
Também era jogado com vários concorrentes ao mesmo tempo, que tinham que entrar e sair, sempre saltando, de acordo com o fosse determinado e conforme a ordem de participação dos concorrentes.
Perdia a participante que prendesse a corda, deixando por isso de rodar e, quando isso acontecesse, essa concorrente era penalizada sendo excluída do jogo, podendo ainda ter que tomar o lugar de pegar na corda (dando à corda).
O ritmo do movimento da corda podia variar, dificultando ou facilitando, a tarefa dos saltadores
dentro da corda.
Outra variante do jogo de Saltar à Corda, consistia saltar com a corda pequena (normal jogo de saltar à corda) em que as concorrentes individualmente faziam a prova.
Jogar este jogo, poderia variar consoante o definido: -Saltar com os pés juntos, ou em pé coxinho.
Nestes jogos de Saltar à Corda, ganhava sempre o concorrente que durante as provas tivesse menos faltas.

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Jogo do Anel

Jogo praticado entre as crianças, é um dos jogos tradicionais ainda muito praticado por todo o lado.
Nas suas brincadeiras, as crianças em Loriga, tinham também muito o hábito de jogar o "Jogo do Anel", na maioria das vezes não utilizando propriamente um anel, mas sim outro qualquer pequenino objecto.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Os participantes ficavam uns ao lado dos outros, com as palmas das mãos fechadas, como as do portador do Anel.
O portador passava as suas mãos, no meio das mãos de cada um dos jogadores, deixando cair o anel na mão de um deles, sem que os outros percebessem.
Depois de ter passado por todos os jogadores, o portador perguntava a um de cada vez: -Quem ficou com o Anel?..
Caso o jogador não acertasse pagava a prenda (castigo) que os outros participantes mandassem.
Se o jogador acertasse, passava a ser o novo portador do Anel.

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Jogo do Rapa

Jogo muito utilizado um pouco por todo o lado, era também considerado um jogo de sorte e azar.
Em Loriga era um jogo também muito usado, principalmente pelos rapazes, no entanto, tinha a particularidade de ser necessário ter uma
Piorra de quatro faces, o que por vezes nem todos os garotos tinham.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
A
Piorra tinha em cada uma das faces as letras:- R (Rapa); T (Tira); D (Deixa); e P (Põe). Era jogado a feijões, por vezes a botões, a rebuçados e também muitas das vezes a "palhaços" (cromos) com a figura dos jogadores de futebol.
Os jogadores em número variável, colocavam-se todos à volta num local plano de preferência liso. Cada participante efectuava a sua casadela (colocação da respectiva comparticipação) relacionada ao que fossem jogar. Depois de o jogador movimentar rotativamente através dos dedos indicador e polegar ou médio, o Rapa, este acaba por tombar ficando com uma face virada para cima, indicando assim a sorte do jogador.
-R - Ganhava tudo que estava na mesa
-T - Tirava apenas uma peça
-D - Deixava um peça
-P - Punha lá outra peça (casava)

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Jogo do Lenço

Praticado um pouco por todo o lado, este jogo faz parte dos Jogos tradicionais, muito usual, principalmente em agrupamentos de crianças. Em Loriga era hábito os professores e catequistas praticarem este jogo, nos recreios, como passatempo e divertimento respectivamente na escola e na catequese.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Praticado por meninos e meninas, consistia em os participantes se sentarem no chão, colocando-se em roda com as mãos atrás das costas. O centro da roda era o local de castigo chamado a "choca", ficando ali de cócoras os participantes castigados.
Um participante previamente designado, corria à volta e por fora da roda com um lenço na mão, deixando-o cair atrás de um dos participantes na roda, continuando sempre a correr.
Quando o participante descobrisse que o lenço estava caído atrás de si, apanhava-o e tentava agarrar o outro, que continuando a correr, tentava alcançar o lugar que tinha ficado vago na roda.
Se o novo portador do lenço conseguisse apanhar o anterior, antes de ocupar o lugar vago, este era penalizado indo de castigo para a "choca". No caso que o não conseguir agarrar, continuava o mesmo portador do lenço, a correr atrás da roda deixando o lenço atrás de outro.
Quando o participante que tinha o lenço atrás das costas, disso não se apercebesse, e se o portador que ali o tinha deixado, após dar a volta à roda o reaver, o ocupante desse lugar ia para a "choca" como castigo, continuando o portador do lenço a correr à volta da roda deixando o lenço atrás de outro.
. O jogador que estivesse na "choca", só se livrava dela quando um outro jogador entrasse para lá.
Não era permitido a nenhum dos participantes na roda, avisarem aquele que tinha o lenço atrás das costas e, caso o fizesse era castigado, indo para a "choca".
Este jogo também poderia ser jogado com os participante em pé, que podiam olhar pelo meio das pernas, se tinham o lenço atrás das costas, não sendo, no entanto, permitido virar-se para trás.

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Jogo das Pedrinhas

Jogo muito habitual entre as crianças, normalmente mais praticado pelas raparigas.
Em Loriga era também muito usual a prática deste jogo e, curiosamente, tanto por meninas como por meninos. Para o praticar, procuravam as soleiras das portas, os degraus dos balcões, ou mesmo outros locais de cimento ou mesmo de terra.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Era necessário arranjar cinco pedrinhas, de preferência arredondadas.
Depois de estabelecida a ordem de saída, o jogador iniciava o jogo lançando as cinco pedrinhas ao chão, de forma a ficarem o mais juntas possível. O jogador agarrava uma das pedrinhas, lançava-a ao ar e tinha que a apanhar.
Seguidamente o jogador colocava essa pedrinha nas costas da mão depois, com a mesma mão, agarrava outra pedrinha, lançando ao ar as duas e, com a mesma mão, tinha de as agarrar quando estavam em queda.
Repetia toda esta operação, até conseguir acumular nas costas da mão, com êxito, as cinco pedrinhas.
No caso de falhar, dava a vez ao concorrente seguinte e, quando voltasse a jogar, recomeçava na situação onde tinha falhado.
Depois de ter efectuado e terminado todos os lançamentos com êxito, o jogador teria que pegar as cinco pedrinhas, lançá-las ao ar e apanhá-las nas costas da mão.
Era vencedor o jogador que conseguisse ficar com o maior número de pedrinhas nas costas da mão.

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Jogo da Cabra-Cega

Este Jogo faz igualmente parte dos chamados jogos tradicionais, muito usual por todo o lado, principalmente nos agrupamentos de crianças.
Em Loriga, houve épocas em que era quase obrigatório a inclusão deste jogo nos convívios de crianças e jovens. Estamos a lembrar-nos, por exemplo, nos recreios da escola e da catequese e também em convívios organizados pela JOC.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Era colocada uma venda nos olhos de um participante, para ser Cabra-Cega e, os outros participantes, colocavam-se de mãos dadas formando uma roda.
A Cabra-Cega ficava no centro da roda, de cócoras e com os olhos tapados pela venda, seguindo-se o seguinte diálogo:
-Cabra-Cega, donde vens?..
-Venho da serra.
-O que me trazes?..
-Trago Bolinhos de canela.
-Dá-me um!..
-Não dou.
Dizem depois todos em coro:
-Gulosa, gulosa, gulosa.....
A Cabra-Cega levantava-se e tentava apanhar qualquer outro participante, ao mesmo tempo iam andando à sua volta, tocando-lhe e dizendo: -Cabra-Cega, evitando ser apanhados.
Quando um jogador era apanhado pela Cabra-Cega, esta tinha que o identificar através do tacto. Se o conseguisse identificar passava esse a ser a Cabra-Cega.
No caso de não conseguir identificar o jogador apanhado, continuava o mesmo a ser a Cabra-Cega.
Os participantes tinham que andar relativamente perto da Cabra-Cega, não sendo permitido portanto, deslocarem-se para muito longe,

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Jogo dos "Palhaços"

"Palhaços", era o curioso nome que em Loriga se dava aos cromos que, naquela altura, simbolizavam as figuras dos jogadores de futebol das equipas a disputarem o Campeonato da 1ª. Divisão.
Para quem queria fazer colecção de cromos, havia até cadernetas próprias que, para além de serem raras, nem toda a garotada tinha posses para adquiri-la.
Estes cromos, (palhaços), vinham enrolados em rebuçados, que eram comprados nas
vendas, mercearias ou mesmo em tabernas e, por um tostão (centavo), podiam ser comprados três desses rebuçados.
Normalmente praticado pelos rapazes, este jogo consistia em ganhar ao adversário os cromos, por vezes em falta na sua colecção.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Podia ser jogado por dois ou mais concorrentes. Cada jogador tinha que (casar), colocar um cromo (palhaço). Os cromos ficavam sobrepostos com a face principal virada para baixo.
Os participantes, com a palma da mão ligeiramente curvada, davam um toque subtil nos cromos (palhaços) acumulados, tentando virar a face dos mesmos para cima.
Os concorrentes jogavam um de cada vez, alternadamente. Ganhavam o(os) cromo(os) que conseguissem virar.

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Jogo dos "Aeroplanos"

Este jogo, chamado em Loriga por "Aeroplanos", era mais uma variante do conhecido jogo tradicional da Macaca e do Jogo das "Semanas", praticado nesta localidade.
Praticado normalmente pelas meninas, não se sabe ao certo a origem do nome.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Num local plano de terra ou cimento, eram desenhados no chão diversos quadrados, que também chamavam de "casas",
Era necessária uma pedra, que a jogadora, de costas para o desenho, tinha que lançar começando pela primeira "casa".
De seguida tinha que saltar esse quadrado onde a pedra se encontrava, pulava por todas as outras (só colocando um pé em cada quadrado) até à última, iniciando o percurso inverso do mesmo modo. Chegando onde estava a pedra, tinha que apanhá-la, saltar esse quadrado e pular pelos restantes até sair fora.
A jogadora tinha que efectuar esta operação por todos os quadrados, até completar a totalidade do desenho, que lhe permitia vencer a prova.
A participante perdia quando, ao lançar a pedra, esta saísse fora, ficasse sobre algum risco ou caísse no quadrado que não pertencia. Ao voltar a jogar a concorrente começava no local onde tinha perdido.
A casa onde a pedra se encontrava, de maneira alguma poderia ser pisada.
Era vencedora a participante que ganhasse o maior número de partidas
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Jogo Puxar à Corda

Jogo muito usual em agrupamentos de convívios, praticado por pessoas de várias idades e de ambos os sexos.
Trata-se de um jogo verdadeiramente divertido, ainda hoje praticado um pouco por todo o lado.
Em Loriga, tempos houve em que também era habitual a prática deste jogo, nomeadamente, nos anos áureos da JOC, que até tinha Sede própria e que, na organização de convívios, agrupamentos e passatempos, este jogo constituía um dos divertimentos.
Este jogo, que em Loriga de chamava de "Puxar à Corda", é o mesmo que noutros lugares e, mais tradicionalmente, chamavam de Tracção à Corda"
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Disputado em sistema de equipas, com igual número de elementos, era necessário ter uma corda relativamente grande.
Num local, com espaço livre de obstáculos, era marcado no chão um risco, entre as duas equipas em disputa.
De cada lado do risco e, pegando na corda, colocavam-se os grupos. Ao sinal de partida, cada equipa puxava a corda para o seu lado, ganhando aquela que conseguisse arrastar a outra até o primeiro jogador ultrapassar o risco no chão.
Era também atribuída a derrota à equipa cujos jogadores caíssem ou largassem a corda.
A corda era sempre puxada com as mãos, não sendo por isso permitido que os jogadores a enrolassem no corpo.

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Jogo do "Caracol"

Jogo tradicional, praticado um pouco por todo o lado, tanto por meninas como por meninos, faz parte das brincadeiras e passatempos das crianças.
Ao contrário de muitos dos outros jogos tradicionais, este jogo era de todos o menos praticado em Loriga, sendo apenas usual a sua prática nesta localidade, pelas crianças que vinham de fora passar as férias, talvez pelo facto de fazer parte das suas brincadeiras nos locais onde viviam.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Era desenhado no chão de terra ou cimento, um caracol grande, com apenas um quadrado no princípio do mesmo.
O jogador lançava uma pedra, (de preferência uma pedra rasa para uma melhor aderência ao solo), para o quadrado no início do caracol. O participante, em pé coxinho, vai empurrando essa pedra até conseguir alcançar o centro do caracol, sem que esta saísse do interior do desenho.
Perdia se a pedra saísse do interior do desenho do caracol, dando a vez ao jogador seguinte.
Ganhava o concorrente que conseguisse completar a prova em menos vezes a empurrar a pedra.

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Jogo das Escondidas

Jogo tradicional, praticado um pouco por todo o lado, tanto por meninas como por meninos, faz parte das brincadeiras e passatempos das crianças.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Depois de reunido o grupo dos participantes é escolhido um que fica a contar até cinquenta enquanto os outros se escondem. Depois de contar vai procurar os que estão escondidos. Estes têm que malhar no local onde o outro esteve a contar sem serem vistos. Caso o que esteve a contar descubra alguém e o malhe antes dele o malhar é esse que fica a amochar na vez seguinte. E assim sucessivamente...

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Corrida dos Sacos

Jogo caracterizado como divertimento, é ainda hoje praticado um pouco por todo o lado, normalmente em festas populares e também religiosas.
Apesar de em Loriga, nunca ter sido uma constante o hábito desta corrida, no entanto, chegou a fazer parte das Festas da Vila realizadas nas décadas de 1950, sendo na "Carreira" o local onde se efectuava esta corrida.
-NORMAS E RESPECTIVO DESENVOLVIMENTO:
Era marcado um percurso no chão com uma linha de partida e uma de chegada (meta). Os participantes enfiavam um saco de serapilheira nas pernas até à cintura segurando as abas com as mãos.
Os concorrentes colocavam-se atrás da linha de partida. Após o sinal para a partida, deslocavam-se em direcção da meta, ganhando aquele que chegasse primeiro.

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Jogo da bola - Futebol

Uma outra diversão e esta mais praticada tinham a ver com o jogo da bola de futebol. Este unicamente destinado à classe masculina.
Desde pequeno o gosto do jogo de futebol era como que algo que nascia com os garotos de Loriga, e era ver naqueles lugares com algum espaço mais apropriado os garotos a jogarem à bola, na maioria das vezes com bolas feitas de farrapos, de meias e até curiosamente, muitas das vezes servia a bexiga do porco, no dia da matança e a davam à garotada. Quando aparecia como que por encanto uma bola de borracha, parecia ser festa, já não falando numa "bola de cate chumbo" como se dizia na época ao referir-se a uma bola de couro, esta era só para o campo do futebol, mas passar pela garotada era algo só em sonhos.
Infelizmente, em Loriga, os espaços para a prática deste desporto, era relativamente nulos. Os primeiros passos eram em locais que nada tinha a ver com um campo de futebol. Procurava-se os Largos ou mesmo a estrada para o aprimorámos a técnica nestes campos pelados improvisados de terra batida, que numa disputa mais enérgica lá se ia ao chão e se ganhava algumas mazelas no corpo e nas pernas e nos braços, que se iam curando, com o passar dos dias.
Lembramos o "Terreiro da Lição" Fonte do Mouro" "Carreira", "Redondinha" uma ou outra estrada ou um ou outro local mais, tudo servia para o jogo da bola da garotada. Se bem que existindo um campo de futebol, muito longe da vila, não era para todos os dias aquele privilégio de lá ir jogar.
Por norma na garotada os jogos da bola eram disputados entre os garotos do "Cimo" e do "Fundo" uma rivalidade existente em eras já passadas que dava uma vida diferente a Loriga e àqueles espaços procurados para a prática deste popular desporto.
E diga-se de passagem, que em Loriga houve sempre um verdadeiro potencial futebolístico na garotada e também nos mais velhos, só que os tempos eram outros e portanto ter-se perdido muito desse potencial.

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Outros Jogos que pensamos poder-mos aqui registar numa próxima oportunidade, tais como:

Jogo da "Peçonha" - Jogo do "Rixa" - Jogo da "Apanhada" - Jogo do "Rabisco" - Jogo do "Espeto" - Jogo das "Escondida" - Jogo da "Borrega"

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Matérias mais utilizadas para os Jogos populares
Pedras - Paus - Arames - Trapos - Borrachas - Madeira

Objectos muitos usuais nos Jogos populares
Bonecas de trapos - Bonecas de madeira - Bolas de trapos - Bolas de meias - Bolas de borracha - Carros de madeira - Brinquedos de arame - Brinquedos de cordas - Pião - Guitas - Rodas diversas - Bara
ças.

(Registado aqui - Ano de 2003)


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